Undead Revolution escrita por caarol


Capítulo 25
Colapso


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura! (;



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Localização: Interestadual 80 - Residência da família Cross

10 dias após o Surto.



Num instintivo impulso, Germany rapidamente foi de encontro à saída do quarto; não sem antes agarrar a arma de fogo encostada ao móvel de madeira. Saiu tempestuosa do cômodo de Spencer e dirigiu-se para a escada, deixando o segundo andar com pressa.

Os passos alarmados da morena não passaram despercebidos aos ouvidos de Sam, que, ainda deitado na cama, apoiou-se nos cotovelos com certa dificuldade para espiar pela fresta da porta do quarto onde estava.

– Ger? Ger, você tá aí?

O silêncio que se prosseguiu do segundo andar, com apenas ruídos de disparos de armas preenchendo o ar a sua volta, o perturbaram profundamente. Germany não respondera seu chamado, o que implicava que os passos apressados que ouvira eram, de fato, os dela.

Entre gemidos entrecortados, Sam levantou-se com esforço da cama e conseguiu sentar-se à beirada do colchão, seus olhos colados à janela aberta à sua frente. Arrastou-se forçadamente em direção a ela, procurando espiar o que ocorria lá embaixo. Pôde visualizar claramente os rapazes – Road Runner, Molotov e Hollywood –, cada qual empunhando suas armas de fogo, atirando veementemente às pessoas cambaleantes que se aproximavam deles e disparando maldições ainda mais ferozes a cada corpo que caía na grama batida. Javier Mirrez e Frank Cross não se encontravam muito longe deles e acompanhavam os mais novos nas investidas.

A cena era demasiadamente aflitiva. A escuridão que se formava no horizonte, com uma chuva evidente se aproximando, parecia que logo engoliria a casa e a todos ali presentes com sua torrente, sem dó nem piedade com os vivos que lutavam por sobrevivência. Somadas à brisa gélida de prelúdio à tempestade, mais criaturas se aproximavam lentamente, uma maré de diversos traços enegrecidos se movimentando, incansáveis, pela grama alta. A mistura de gritos, dos vivos e dos mortos, do som de disparos perfurando a pele apodrecida, o cheiro e a cor do vermelho que tingia o chão, os corpos, as roupas, os rostos, tudo transformava aquele quintal em um grotesco e cruciante campo de batalha.

Ainda assim, até o momento, aparentemente nenhum dos não-vivos conseguira efetivamente se aproximar dos sobreviventes e agarrá-los com seus dentes e unhas enegrecidos – mas até quando haveria munição o suficiente para mantê-los a uma distância segura? Mesmo aparentando não deixar a morte tomar vantagem, Sam podia ver que aqueles homens já estavam exauridos; a tensão que endurecia seus músculos e latejavam em suas têmporas, tensão de estarem tão próximos daquelas criaturas ambulantes, os desgastava mais a cada segundo. O colapso de cada um deles, a qualquer momento, era iminente.

Espichando um pouco mais o pescoço, Sam pôde visualizar um pouco melhor a lateral do casarão, mas ainda assim não visualizou nem Red Rock, nem Germany. Como vira Red juntamente do irmão há alguns minutos atrás, imaginou que a ruiva provavelmente estaria por ali, na varanda, dando cobertura para os rapazes e para impedir que qualquer zumbi mais atrevido se aventurasse em direção à casa. Quanto à Germany, não fazia ideia de onde estaria. Permaneceu observando o quintal por mais alguns segundos, seus olhos atentos a tudo o que ocorria no tiroteio lá embaixo, mas não viu a morena se aproximar dos rapazes para ajudá-los, ou algo do gênero. Lembrou-se também que a intenção da garota ter ficado no segundo andar da casa era justamente auxiliá-los lá de cima – então porque simplesmente abandonaria seu posto sem explicações? Não haviam recebido nenhuma chamada no walkie-talkie requisitando sua presença lá embaixo.

Sam vasculhou rapidamente com os olhos os seus arredores e não encontrou o aparelho em lugar algum. O walkie-talkie ainda estava com Ger e o garoto não conseguiria contatar os rapazes para perguntar se sabiam dela. Uma sensação gelada se instalou em seu estômago – o que quer que estivesse acontecendo, não aparentava ser nada bom. O sumiço da morena o apreendeu ainda mais, justamente pela falta de explicações e por ele agora se encontrar sozinho no segundo andar do casarão. Apesar dos esforços dos sobreviventes lá embaixo, não se sentia exatamente seguro ali em cima. A possibilidade de algum morto-vivo conseguir entrar na pousada não era exatamente nula.

Cogitou sair do quarto, chamar por Germany e espiar pelas janelas dos outros aposentos procurando por ela (e vasculhando a possível presença de zumbis), mas seu tornozelo esquerdo ainda latejava profundamente. O analgésico que tomara ajudara a aliviar debilmente a dor, mas a sensação de algumas agulhadas lancinantes ainda se depositava sob os tendões do garoto. Imaginou, também, que a morena não ficaria exatamente satisfeita em vê-lo perambulando pela casa naquele estado e com tamanho perigo recaindo sobre todos.

Com um engolir em seco e alguns gemidos de dor, o garoto se sentou abaixo da janela, recostando-se na parede fria e tendo seus pensamentos turbulentos sendo embalados pela sinfonia agourenta que se desenrolava no descampado dos Cross.

Germany escancarou a porta da entrada do casarão com violência. Correu varanda afora e pulou os pequenos degraus da escadinha de uma só vez. Enquanto se dirigia apressadamente à lateral esquerda da casa, lançou um breve olhar sob os ombros – e pôde ver de relance, às suas costas, o quintal de Frank Cross transformando-se num instantâneo cemitério de mortos-vivos pelas mãos de seus amigos sobreviventes. Percebeu, também, um franzino corpo feminino, também de costas para ela, com uma cabeleira alaranjada desalinhando-se com algumas lufadas de vento. Red estava um pouco mais próxima da varanda do que o restante do grupo, mas não menos determinada a pôr abaixo os poucos zumbis que passavam despercebidos aos olhos dos rapazes. A ruiva, concentrada em seus tiros, não pareceu reparar na morena que corria desenfreadamente para o outro lado da casa.

Germany desviava seu olhar para todos os ângulos possíveis, à procura de qualquer visitante indesejado. Aparentemente aquela porção do quintal ainda estava livre da presença mórbida dos mortos-vivos, mas ela sabia que não por muito tempo. O descampado da fazenda se estendia por longos quilômetros, e a qualquer momento novos zumbis poderiam brotar de quaisquer horizontes possíveis.

A morena mordia o lábio inferior com tamanha força que um gosto ferroso invadira sutilmente sua língua. Deu seus últimos passos até deixar a varanda para trás e avistar a parede lateral da casa. As muitas janelas do piso inferior, completamente vedadas por vigas de madeira, entraram em seu campo de visão e apenas uma, solitária, no segundo andar, apresentava as venezianas abertas – a mesma janela na qual Savannah Cross se jogara com a filha nos braços.

Arfante, a garota estancou os pés na grama úmida próxima do exato local metros abaixo daquela janela. Seus olhos, num apagado verde de tensão misto ao avermelhado de cansaço, se arregalaram em horror. Apoiou-se trêmula na parede externa da casa, um refluxo involuntário queimando seu esôfago e fazendo-a tossir violentamente, o gosto de bile em sua garganta quase provocando uma náusea indesejada. Tapou a boca com uma das mãos, apertando com força seus olhos marejados, uma sensação de ardor em suas retinas proporcionada pela rápida visão que tivera.

Engolindo em seco, arriscou abri-los novamente, voltando a fitar involuntariamente o que se encontrava em sua frente.

O corpo de Savannah jazia retorcido no chão batido, e o da menina rolara alguns centímetros para longe. Uma poça do sangue enegrecido de Spencer, misturado ao do vermelho fresco da mãe, respingara por toda a grama mal-aparada e tingia as roupas de ambas. O corpo cinzento e franzino da menina estava jogado de lado, como se ela houvesse apenas desmaiado; o de sua mãe, por outro lado, foi o real motivo de Germany quase desfalecer.

Apesar da altura relativamente grande, a queda da janela aparentemente não seria fatal; mas a maneira como as pernas e tronco da mulher se prostravam, era nítido perceber que se fraturara severamente. Uma de suas antepernas estava com uma fratura terrivelmente exposta, seus braços estavam dobrados desajeitadamente, possivelmente quebrados, e sua cabeça projetava-se muito para trás, os tendões do pescoço estirados ao máximo e o queixo alto apontando para o céu, como se suas vértebras estivessem esmagadas umas sobre as outras. Um sorriso fraco era a única coisa que iluminava o rosto mortificado da mulher, os olhos que se apagavam paulatinamente diretamente apontados para o corpo da menina próxima de si.

Alguns segundos após o choque da visão, Germany sentiu uma urgência de correr em direção à mulher, certificar-se se ainda estava viva, se ainda respirava... Mas seu corpo pareceu não lhe obedecer. Só o fato de cogitar aproximar-se do que restara da loira a fez sentir um novo refluxo. Não poderia simplesmente abandoná-la ali, especialmente se ela não estava morta, mas ela não conseguia ver-se ajoelhada ao lado daquele corpo desfigurado. Arriscou dois passos para frente, uma das mãos ainda apoiada na parede fria, mas barulhos de tiros a sobressaltaram, fazendo-a estancar novamente.

Lágrimas involuntárias escaparam de seus olhos, uma ansiedade brutal crescendo em seu peito – o que faria naquele momento? E se Savannah estivesse viva, como cuidariam dela naquele momento tão inoportuno? E se estivesse morta, simplesmente a deixaria ali, apodrecendo ao ar livre? ...Como contaria para Frank Cross que sua filha cometera suicido e virara uma massa disforme de pele e ossos?

O pranto silencioso da morena aumentava gradativamente, como se subitamente toda a tensão que acumulara durante aqueles dias estivessem se manifestando em uma enxurrada de lágrimas raivosas. Lágrimas que simplesmente não cessavam, por mais que a garota enxugasse seus olhos e desviasse o olhar do corpo à frente.

Era uma nova morte, apenas mais uma, dentre tantas que presenciara. Nos últimos tempos não se abalava mais com a presença de corpos humanos inanimados à sua frente, pelo menos não tanto quanto imaginava - então porque tamanha emoção inundando sua mente e seu rosto daquela maneira, por conta daquela especificamente? Mantivera-se fria o suficiente durante as últimas horas, os últimos dias, para enfrentar o que quer que estivesse ameaçando a ela e a seus amigos, e porque justo naquele momento não encontrava forças para sequer mexer um único músculo

Então algo subitamente esclarecera-se em sua mente. Vira a morte, sim, mas de quem já estava morto. Vira tantos morrerem por suas mãos, morrerem à sua frente, agonizarem em lamúrias agourentas, mas que já nem mais sentiam seus corações baterem ou seus pensamentos fluírem. Já a morte de pessoas vivas foram poucas que passaram por seus olhos; apenas a de Dustin, a de Spencer e, agora, a de Savannah Cross.

E foi exatamente aquilo que a atingiu como um soco no estômago. Mesmo a contragosto aquilo a afetara profundamente.

Uma ojeriza crescente adicionava-se a seu pranto. O cheiro de sangue subia às suas narinas mais uma vez, a visão da loira se jogando do segundo andar mesclando-se à de Dustin sendo atacado e a de Spencer atacando o pequeno Sam...

Sam. Deixara-o no andar de cima. E ela mesma ainda deveria estar lá, zelando por ele e por seus amigos. Precisava ajudá-los, ajudar Frank e Javier Mirrez, impedir que novas mortes de vivos ocorressem à sua volta. Enxugou mais lágrimas com rapidez e respirou fundo. Teria tempo o suficiente para choramingar quando aquilo tudo estivesse acabado.

O que foram poucos mais de alguns segundos, do momento que parara ao lado da casa e observara Savannah pela primeira vez até aquele dilema turbulento, pareceram-lhe durar incontáveis minutos. Já nem mais reparava nos sons de disparos que zuniam pelo ar, tamanho o latejo que pulsava em suas têmporas e a força que fazia para seus olhos cessarem o inundar em suas bochechas. Um último olhar de relance para Savannah foi tudo o que conseguira antes de desencostar-se da parede e empunhar novamente sua arma de fogo, virando as costas com dificuldade para a cena.

Ela se fora. Ela e sua filha. Era impossível estar viva. Não havia mais o que ser feito. A garota não conseguiria evitar que a mulher se jogasse da janela, não importava o que dissesse para ela. Nada serviria de consolo para a mãe que acabara de perder a filha... A morena apenas desejava que fosse mais bem sucedida em consolar o pai que perdera ambas na mesma tarde.

Não fazia ideia de como comunicar a Frank o que ocorrera, mas naquele momento não haveria tempo para tanto. Se o homem descobrisse o que acabara de acontecer, desmoronaria de vez – e ocasionaria na perda de um aliado importante naquela batalha. Com um nó formado na garganta, tamanha a dúvida do que faria com os corpos das mulheres Cross, Germany se afastou vagarosamente, voltando a andar em direção à aresta que desembocaria na varanda. Não sabia mais se era culpa, agonia ou pavor o que sentia em seu coração acelerado.

Antes que sofresse de maiores arrependimentos pelo o que estava fazendo, um bipe familiar a fez atentar os ouvidos e levar uma das mãos instintivamente para o bolso de seus shorts.

A luz vermelha do walkie-talkie piscava insistentemente. Germany pressionou o botão com certa hesitação e levou o aparelho para mais próximo de seu ouvido.

–- Germany?!

Uma voz esganiçada chiou pelo outro lado do dispositivo. Era Hollywood.

–- Ger, não tô te vendo na janela! Onde você tá? A gente precisa de você, agora!

– Eu... – sua voz saiu pesarosa, trêmula. – Me desculpem, eu já... já estou voltando. Aconteceram... várias coisas no segundo andar e...

–- Ger, você tá chorando? Tá tudo bem? Aliás, o que diabos aconteceu dentro dessa casa pra tar todo mundo pálido feito fantasma aqui fora? – O rapaz falava com rapidez, arfante, e tiros ecoavam ao som de sua voz. Possivelmente parara de abrir fogo contra mortos-vivos para falar ao walkie-talkie. – Lógico que não era pra estarem com caras melhores devido a essa merda toda, mas é sério, o Road tá com uma cara que eu nunca vi antes.

– Depois... depois nós contamos, Hollywood, só se preocupem em atirar. – Germany já corria para a varanda e adentrava a casa com velocidade, sem sequer olhar para o acontecia ao redor. – Já estou voltando pra janela, câmbio, desligo!

Apertou o botão para desligar o aparelho e colocou-o de volta no bolso. Correu escadaria acima, a arma de fogo pesando em seus braços trêmulos, e irrompeu no quarto em que Sam estava, sobressaltando-o violentamente. Uma enxurrada de perguntas vindas do menino atingiu a morena instantaneamente, mas ela, ignorando-o, só conseguira se apoiar no parapeito da janela para voltar a mirar contra os não-humanos metros abaixo. Por mais que quisesse explicar a Sam o que acontecera, não encontrava voz para fazê-lo. Sabia que, se começasse a contar o que vira, seria acometida pela mais profunda depressão.

Percebendo o semblante mortificado da garota, o menino deduziu que algo realmente ruim ocorrera no outro quarto. Como não obteve respostas, optou se calar-se, mesmo a contragosto. Encolhera-se no canto da parede, um choro abafado escapando de seus lábios arroxeados, enquanto seus olhos grudavam à figura esguia de Germany, que apertava ferrenhamente o gatilho de sua arma.




Hollywood voltava cambaleante para mais perto de seus colegas, vociferando de nervoso, consigo mesmo, por não conseguir recarregar devidamente sua arma - presença próxima de um par de zumbis truculentos piorava seu nervosismo. Molotov disparava perguntas e xingamentos para o loiro, perguntando de Germany, da casa, do que diabos estava acontecendo e porque a morena não estava mais no segundo andar.

– Eu vou lá em cima! – Gritava o moreno, trincando os dentes.

– Ela disse que já vai voltar pra lá, caramba! – Respondia Hollywood, o cenho completamente franzido, uma das mãos bloqueando a partida do amigo.

– Mas o que é que aconteceu afinal?!

– E eu vou saber, porra?!

Um disparo zuniu acima da cabeça dos dois rapazes, acertando um dos zumbis abaixo do pescoço. Ambos levantaram os olhares para a janela do segundo andar, e viram a morena acenando brevemente com a cabeça para eles. Apesar da distância, podiam perceber o quão pálida ela estava – o que perturbou Molotov profundamente.

– Merda! Eu tenho certeza que aconteceu alguma coisa com ela. – Balbuciou o rapaz.

– Ela está lá em cima, não está?! E está bem e está nos ajudando! Se aconteceu alguma coisa, agora não é hora pra esclarecer isso!

Molotov encarou profundamente o amigo por longos segundos. Hollywood percebia o quanto o outro estava exausto e completamente desorientado em relação ao que acontecia no quintal e dentro da casa – o moreno apenas queria largar tudo o que estava acontecendo e correr ao segundo andar para abraçar Germany.

O loiro deu um leve tapa encorajador nas costas do amigo e abriu um fraco sorriso.

– Vai ficar tudo bem. – Balbuciou alegremente, apesar da explícita falta de confiança em suas palavras.

Molotov suspirou sutilmente, anuindo rapidamente a contragosto. Voltou a empunhar a arma, desta vez com mais dificuldade – seus dedos doíam, tamanha a força que depositava no disparo e repetindo o momento tantas vezes seguidas. Apesar de estar se saindo bem com a prática recém aprendida, seus músculos e tendões ainda não haviam se acostumado totalmente com o exercício exigido. Percebeu Hollywood soltando um viva! animado a seu lado, por ter conseguido recarregar a arma com sucesso.

E foi então que, subitamente, para o espanto de todos, Javier Mirrez caiu de joelhos na terra batida, rogando pragas arfantes em sua língua nativa. Todos os outros homens ali voltaram seus olhos assustados para o latino – e os mortos ali próximos também perceberam a vulnerabilidade daquela presa em potencial, meia dúzia se dirigindo com velocidade para atacá-lo enquanto estava no chão. Frank e Hollywood correram em direção ao homem, o loiro dando cobertura ao mais velhos, e Cross tentando levantar seu amigo com certo esforço.

Javier retorcia-se de dor. Apesar de Frank estar dando apoio a seu corpo, as pinçadas lancinantes em seu corpo faziam lágrimas de dor escaparem de seus olhos.

– Javier, caralho! – Vociferava Frank, desviando o olhar ora para as criaturas a poucos metros de si, ora para o corpulento amigo em seus braços. – Levante-se, homem, não é hora para fraquejar!

Mi... minha hérnia, Frank!

O velho soltou um novo xingamento, não passando despercebido aos ouvidos de Hollywood. Frank estava histérico, ansioso, sentindo seu coração e sua pressão sanguínea cada vez mais elevados. A imagem de sua neta recentemente transformada em zumbi, e depois com um buraco de bala na testa feita por suas próprias mãos, voltava em flashes em sua mente, somava ao cemitério de corpos cinzentos à sua frente e aos urros doloridos de seu vizinho. Tudo borbulhava em seu cérebro de maneira confusa e angustiante, penas aumentando sua urgência de acabar com tudo aquilo - para depois apenas deitar em sua cama e chorar o fim de sua família no silêncio de seu quarto.

– O que tá acontecendo?! – Perguntou o loiro, antes de desferir uma coronhada em um adolescente magricela que não tinha metade estrutura mandibular.

– Ele tem hérnia de disco!

Road Runner apareceu inesperadamente ao lado dos três, auxiliando Frank a levantar Javier.

– Ele tem hérnia! – Repetiu Frank para o ruivo.

Déjame ir, yo... yo posso continuar! – Gritava o latino.

– Pare com isso, homem! Precisamos tirá-lo daqui! – O velho Cross endureceu o olhar para o mais jovem, uma súplica explícita envolvendo suas palavras.

Forçar Javier a esforçar-se ainda mais contra os zumbis ia apenas prejudicá-lo ainda mais – antes ele deitado em uma cama, recuperando da dor em suas costas, do que morto no meio do quintal do vizinho.

– Não podemos mais continuar assim. – Proferiu Road, com a voz grave. – Não temos condições de passar a madrugada inteira atirando contra esses merdas!

– Mas não podemos desistir agora! – Retrucou Hollywood, virando o pescoço para olhar o amigo.

– Se baixarmos a guarda eles vão invadir minha casa, seu moleque! É isso que você quer?! – Frank cuspiu as palavras com amargura, o corpo de Javier balançando abaixo de um de seus braços.

– Ninguém falou em desistir, porra! – Respondeu Road, fitando intensamente o mais velho. – Precisamos de um outro plano, uma abordagem mais efetiva! Não vamos ter munição, nem forças para o resto da noite! Javier já se esgotou, não falta muito para qualquer um de nós ser o próximo.

– E o que sugere que façamos?! Até levarmos Javier daqui, eles já invadiram a merda da minha varanda!

– Eu tenho uma ideia.

Uma outra voz masculina sobressaiu sobre as de Frank e Road. Os dois voltaram seus olhares para Molotov, que acabara de prostrar-se ao lado de Hollywood para manter os mortos-vivos afastados.

– Antes de mais nada, precisamos levar Javier daqui, ele não vai aguentar por muito tempo. – Continuou Molotov, calmamente.

– O que você pretende fazer?! – Esganiçava Frank.

– Vá até a varanda, Frank, Red está lá – interrompeu Road, percebendo a urgência da situação e não pretendendo deixar Frank arruinar o que quer que Molotov tinha em mente com mais um de seus ataques de histeria – ela irá te ajudar com Javier.

– Mas o quê-

– Confie em mim, senhor Cross. – Molotov se virou para o homem, fitando-o intensamente. Tentava passar o máximo de segurança possível ao dono da casa. – Apenas leve Javier daqui. Nós cuidados de tudo.

Frank entreabriu e fechou os lábios ressecados diversas vezes. Seus olhos pequenos, quase escondidos por entre as linhas de expressão e o cenho franzino, desviava-se continuamente pelos três rapazes à sua frente – o loiro, de dentes trincados e mira contínua sobre os invasores de seu quintal, o ruivo, de semblante indecifrável e lábios trêmulos (provavelmente pela falta de nicotina) e o moreno, com os olhos brilhantes de cansaço e ansiedade para colocar sua ideia em ação e acabar logo com tudo aquilo.

O velho suspirou. Ajeitou o corpo de Javier abaixo do seu – recebendo gemidos de desaprovação em resposta – e anuiu a cabeça para Road, calidamente demonstrando que levaria o vizinho dali. Os dois mais novos que ainda sustentavam o olhar de Cross repetiram seu gesto, assentindo com a decisão do mais velho.

– Espero que saibam o que estão fazendo. – Murmurou Frank. Molotov abriu um rápido sorriso. – Vou deixar Javier lá dentro e já volto para dar cobertura. Ou ajudo a mocinha lá de cima, não sei. ...Só acabem com isso tudo o mais rápido possível. – Voltou a colocar um dos braços de Javier por volta de seus ombros, ajudando-o a se posicionar para andar para fora dali. – Boa sorte.

Road assentiu com a cabeça, calado.

Frank e um cambaleante Javier saíam dali rápida e desajeitadamente, entre tropeços, e sempre olhando por cima dos ombros para garantir que nenhum morto-vivo os seguia. Molotov voltava a ajudar Hollywood nos tiros, ambos procurando acertar seus alvos quando estes estavam na mesma proximidade dos anteriores, tentando formar uma barreira de corpos para atrasar a caminhada do restante.

Os mortos estavam esparsos – não vinham em milhares de uma só vez, e sim apareciam espaçados uns dos outros, uns mais rápidos, outros de caminhar mais dificultoso, mas sem cessar sua perambulação em direção às presas vivas. Ainda assim, pela visão geral do gramado até o horizonte, ainda estavam em uma quantidade muito vantajosa em relação aos sobreviventes – e não pareciam se intimidar nem um pouco pela já enorme quantidade de corpos de outros zumbis que se espalhavam por ali.

A situação piorava a cada segundo, e cada um dos rapazes sabia disso.

Road prostrou-se no meio dos outros dois, o rifle ainda em riste.

– O que faremos, afinal? – Murmurou ao moreno.

– Preciso que me deem cobertura tempo o suficiente para eu chegar à caminhonete.

O ruivo lançou um olhar desconfiado de esguelha para o outro.

– O que você quer na minha caminhonete?

– Não foi fazer nada com ela, Road, fica sossegado. – Molotov abriu um sorriso de canto.

Podia sentir os pares de olhos dos dois amigos depositando sob si, olhos fitando-o com a mais completa apreensão.

– Espero que aquela cabana não tenha mais nenhum valor sentimental pro Frank – continuou o moreno – porque pretendo colocar tudo aquilo abaixo, e levar boa parte dessas coisas – cuspiu a palavra com nojo enquanto fazia um buraco grande na altura do diafragma de um morto-vivo – com ela.

– E como vamos fazer isso? – Perguntou Hollywood.

O moreno olhou de esguelha para os outros dois. Levou uma das mãos rapidamente para seu bolso e tirou de lá seu isqueiro Zippo prateado. Os olhos de Road e Hollywood vagaram para o objeto e ambos rapidamente entenderam o que aquilo significava.

Molotov abriu um sorriso sombrio.

– Com fogo.


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Notas finais do capítulo

PS: A configuração de paragrafação das primeiras linhas não estão ficando corretas -.- Prometo que tentarei consertá-las o mais rápido possível, peço desculpas pela desconfiguração!



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