Undead Revolution escrita por caarol


Capítulo 23
Mãos de Sangue - Parte II


Notas iniciais do capítulo

Okay, se preparem que as notas inicias serão grandes, ahahahaha! (E quando não foram?)
Primeiramente, gostaria de agradecer, do fundo do meu coração, os leitores lindos que recomendaram a história! Três recomendações no mesmo mês, quase caio dura aqui, ahahahahaha!
Ana Paula foi a primeira, e há muito tempo já mandou uma recomendação, mas nem por isso perdeu a importância. Foi uma das maiores inspirações que tive para continuar, muito muito muito obrigada, Ana!
E agora, Mari Silken, Cadu e Ines Marques, vocês são lindos, sério! ahahahaha Adorei cada uma das recomendações, fiquei mais do que feliz em recebê-las. O carinho de vocês é mais do que importante para mim, e por isso dedico este e os próximos capítulos para vocês também!
Peço desculpas a todos vocês pela demora para a atualização - mas não se repetirá, prometo. Inclusive, o próximo capítulo não tardará a ser postado!
Mais envolvimento na situação dos Cross nesse capítulo, e o 'começo do fechamento' no próximo... este ficou mais parado, mas tem todo o drama familiar, ahahahahahaha
Espero que gostem, de qualquer maneira.
Boa leitura!
PS: Vou refrescar suas memórias sobre os acontecimentos finais do último capítulo, haha!
"(...)Savannah, então, quebrou o tenso silêncio soltando um urro longo e doloroso e desabando de joelhos no piso frio. Spencer caiu com um baque em cima das pernas de Sam, o corpo de pele fria e acinzentada agora inerte.(...)
(...)E, em suas mãos envelhecidas, a espingarda ligeiramente levantada ao peito exibia dois canos que fumegavam à frente de seu corpo."



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Localização: Interestadual 80 - Residência da família Cross

10 dias após o Surto.



Savannah Cross cedeu em suas próprias pernas à frente de todos, voltando a cair de joelhos. Tapou a boca trêmula com uma das mãos sujas de um vermelho escuro e apertou os olhos com força, deixando escapar grossas lágrimas por seu rosto. Cravou as unhas na calça, o sangue da filha tingindo-lhe o tecido. O cheiro ferroso provavelmente a deixou nauseada, pela tosse seca que a acometeu instantes depois.

O silêncio aterrador continuou a envolver todos que estavam ali, com apenas alguns soluços da mulher loira compondo uma sutil sinfonia de terrível pesar.

Sam, então, se manifestou com um baixo gemido, se contorcendo levemente e levando as mãos ao tornozelo esquerdo com um esgar de dor. Os outros baixaram os olhos para o garoto e o observaram por alguns instantes, como se temerosos a sequer se moverem. Todos num transe involuntário acometido pelo o que acabara de acontecer.

Foi Germany, com a respiração pesada e as sobrancelhas arqueadas, quem finalmente tomou coragem e desceu o restante da escada a passos vacilantes para ajudar o menino. Estancou brevemente ao corpo de Spencer e ao lado de Savannah, esta ajoelhada e balançando-se de um lado para o outro inconsolavelmente. A morena mordeu o lábio inferior. Mais uma reclamação de Sam voltou sua atenção para ele. Aproximou-se dele rapidamente, agachando-se a seu lado e repousando uma das mãos no ombro do menino, num casto gesto de consolação.

Red grudou os arregalados olhos verdes às costas de Germany. Lentamente baixou-os à mulher loira e deu alguns passos para trás involuntariamente. Sentiu-se subitamente enfraquecida, nauseada, e um frio intenso se espalhou por seu corpo. Os ruídos de disparos desferidos lá fora ecoavam em seus ouvidos, o cheiro de sangue já lhe subia às narinas, o choro de Savannah castigava sua mente... A total vulnerabilidade que os envolvia, fosse pelas consequências do corpo inerte de Spencer que jazia no piso frio, fosse pelos mortos que se aproximavam ao longe e acompanhavam o enegrecer do céu - que logo cairia acima das cabeças de todos -, fez a garota perder os últimos fios de confiança que tinha... De confiança, de esperança e de perspectiva de uma fuga bem sucedida daquela circunstância aterradora.

Uma premonição agourenta invadiu sua mente, envenenando-a conforme seus olhos se desviavam paulatinamente para o corpo da menina Cross. Aquela família estava destruída, como sua e a de tantos outros também fora. Será que todos estariam destruídos - física, psicológica e emocionalmente - até o final daquela noite? Até o final daquela semana?

...Ou será que nem vivos mais estariam nas próximas horas?

Viu o corpo de Savannah se remexer, a cabeça loura apoiada contra o chão e as mãos em garras agarradas aos cabelos. Ela estava naquele estado esmorecido já fazia longos segundos. O choque da morte da menina a assolou de uma maneira desesperadora e terrível - fora pelas mãos do próprio avô.

Savannah subitamente se calara. Passou a se levantar lenta e sofregamente, as pernas tremendo violentamente e os cabelos totalmente bagunçados. A ruiva arriscou um olhar de esguelha para Frank. Pôde ver o velho com a espingarda pendendo de uma de suas mãos ao lado de seu corpo, o semblante senil num indecifrável franzir de cenho e envolto numa palidez severa.

A mulher finalmente se empertigara e novamente recebeu os olhos verdes assustados de Red, bem com os de Road. O rosto enrubescido molhado de lágrimas, os olhos completamente avermelhados e os lábios torcidos num soluço preso à garganta davam à loira tamanho ar de sofrimento que a ruiva arregalara os olhos instantaneamente. Uma sombra de amargura cobria-lhe as feições antes bem apresentáveis, e agora lhe compunham um aspecto desvairado e possesso. Os olhos castanhos escuros se recaíram sobre a figura de seu pai e ela logo crispou os lábios, tentando refrear novas lágrimas.

– Pa-papai... Por quê... O quê... – Balbuciava ela, entre ofegos e arqueares de sobrancelha. – Como você pôde... fazer isso?

As palavras ligeiramente voltavam a sair com força da garganta de Savannah, a voz antes contida se pronunciando com uma fúria crescente ao pai.

– C-como você foi capaz de fazer isso com ela? – Continuou ela, mais firmemente, mesclando as frases com soluços. – Como você... pôde matar a sua própria neta?!

Road e Red se entreolharam. Germany, agachada ao lado de Sam, também levantou os olhos para encarar a cena. Frank sustentava o olhar dissimulado da filha com uma calada apreensão, seus pensamentos difíceis de serem lidos através das rugas em seu rosto.

– Você tem noção do que você fez?! – A loira fechou os punhos com força, seu rosto se contorcendo em esgares das mais diversas emoções – raiva, dor, agonia, insanidade. – Spencer, Spencer está... Minha filha está...

Savannah voltou a soluçar, o pranto impedindo-a de continuar a cuspir suas palavras amarguradas. O velho Cross assistiu tudo em silêncio, a máscara impassível e carrancuda voltando a se formar em seu rosto e um suspiro pesaroso saindo de sua garganta.

Germany lançou um olhar expressivo para os irmãos ruivos, num tácito pedido por ajuda para retirar Sam dali – e também por não estar exatamente confortável perante a situação que se desenrolava, desejando retirar-se dali o mais rápido possível. À sua frente, Savannah começara a dar hesitantes passos em direção ao pai, rogando palavras encharcadas de raiva.

– ...Você é um monstro, um monstro! – Exaltou a loira, arqueando as sobrancelhas e caindo em prantos novamente. - Como pôde, c-como pôde? Você não tem coração, seu...!

Road encontrou o azulado dos olhos de Germany, ao som das palavras vacilantes da mulher Cross, e chacoalhou a cabeça, procurando espantar o desnorteio. Largou rapidamente a espingarda no chão e foi de encontro a ela - deixando para trás Red, que apenas desviava os olhos surpresos ora para Frank, ora para Savannah. Arriscou acompanhar o irmão, mas os gritos proferidos pela mulher a sobressaltavam a ponto de paralisá-la em seu lugar.

Road se ajoelhou ao lado da morena, aproximando seus rostos e sussurrando para ela com uma voz grave e pesarosa.

– Você pode tirá-lo daqui?

A garota encontrou o olhar dele, ambos se fitando por alguns segundos. Era visível no semblante dos dois que aquele dia não estava exatamente se desenrolando da maneira como planejavam. Rugas de preocupação brotavam no cenho do ruivo e Germany mantinha os lábios crispados o tempo todo.

– Sim. – Respondeu ela, num baixo tom. Pôde perceber Sam se remexendo de dor novamente. – Vou ficar com ele lá em cima. Eles ainda devem estar precisando de ajuda lá fora.

Road apertou os olhos, se lembrando de que Molotov, Hollywood e Javier ainda estavam lá no descampado, no quintal da pousada dos Cross – que provavelmente já estava sendo preenchido por pessoas mortas ambulantes, já que alguns tiros estavam novamente audíveis. Mortos-vivos cercando a casa, seus companheiros sobreviventes precisando de ajuda, e eles ali dentro, presenciando um drama de família digno de dramaturgia.

A morena pôs-se em pé, os olhos verdes do ruivo seguindo seus movimentos, e parou às costas do garoto, apoiando um dos braços dele ao redor de seus ombros e impulsionando-o para cima. Sam guinchou mais uma vez, apertando os olhos de dor e não conseguindo apoiar a planta de seu pé esquerdo no chão. Road, então, se levantou num movimento rápido e se aproximou dos outros dois, afastando delicadamente o braço de Sam dos ombros da morena e pegando o menino no colo.

Germany entreabriu os lábios para protestar, já que também estava ali para auxiliar o menino, mas o rapaz já subia as escadas com Sam entre os braços. A garota lançou um rápido olhar para os donos da casa e logo acompanhou o ruivo para o segundo andar.

– ...E olhe só o que você fez! Oh, Spencer, minha Spencer querida... – A loira soltou um soluço e olhou para a menina por cima do ombro.

Spencer agora jazia, de olhos fechados, com uma maior palidez do que anteriormente. A mãe se aproximou lentamente e tomou-a nos braços, afundando o rosto nos embaraçados cabelos loiros da filha. Permaneceu assim por incontáveis segundos.

– ...O que foi que você fez com ela? - Continuou a mulher. - Olha só a desgraça que trouxe pra essa casa!

– Vocês trouxeram a desgraça para si mesmos.

A voz de Road ressoou pela sala e calou a loira no mesmo instante. Savannah, Frank e Red levantaram os olhos para o segundo andar, encontrando o ruivo parado à escada, fitando a cena com uma expressão no mínimo furiosa.

– O que... quer dizer com isso? – Os olhos cansados do velho recaíram sobre o mais jovem, sua voz se manifestando pela primeira vez em minutos. – O que ele quer dizer com isso, Savannah?

– Ela estava bem, ela ia ficar bem! Ela ia se curar! – Continuou a mulher, seus olhos pregados ao rapaz a poucos metros de si.

– Se curar? Se curar do quê, Savannah?! – A voz grave de Frank ecoava com força pelo cômodo. - Você em momento algum me disse que ela estava doente!

– Ela não... E-ela não estava doente! Ela ia ficar bem, ela-

– Tem razão – continuou o ruivo – ela não estava doente. Estava pior do que isso, ela estava...

– Não ouse dizer isso dela! – A mulher voltou os olhos faiscantes para jovem, a cabeça da filha aninhada entre seus braços. – Ela só estava mal, nada demais! Só estava com um mal estar, com um...

– E o machucado na perna dela? – Road parou ao último degrau, a poucos centímetros do corpo de Spencer e da mulher Cross ajoelhada ao lado da filha. Ela o fitava com um visível ódio em seu semblante. - Hein? E o machucado? Tem a ver com o mau estar dela também?

– CALE A BOCA!

– Machucado? Que machucado, Savannah? Do que ele está falando? – Frank voltou os olhos para filha, arregalando-os em surpresa.

– Ah... esqueceu de contar isso pra ele também? – Continuou o rapaz.

– Seu pai... não sabia? – A voz de Red finalmente se fez ouvir. Fraca e trêmula, mas audível o suficiente para Savannah voltar o olhar para ela.

– Seus... moleques... Saiam daqui, saiam! Deixem-me em paz!

O Senhor Cross deu um passo à frente, o suficiente para intimidar a filha.

– O que está acontecendo aqui?! – Um vermelho característico se apoderara do semblante de Frank. Sua voz ecoou pelo cômodo. – O que eles sabem que eu não sei, Savannah?

– Eles não sabem de nada, são só um bando de enxeridos! Não aconteceu nada demais, Spencer ia ficar ótima!

– Pare de mentir, Savannah. – Murmurou Road.

– E-eles nunca deveriam ter entrado aqui, eles que trouxeram isso para nós! Eles são uma ameaça para minha filha, uma ameaça para nós!

Red crispou os lábios e franziu o cenho. Sentiu a urgência de dizer algo pela primeira vez naqueles longos minutos.

– Vocês que nos ameaçou, Savannah.

Os três mais velhos levantaram os olhos para a ruiva. Savannah levantou-se lentamente, a cabeça da filha jazendo novamente no piso frio; as manchas vermelhas do sangue de Spencer que salpicavam por seu rosto, suas mãos, sua roupa, apenas lhe davam uma aparência ainda mais ameaçadora – mas Red a fitou com tamanha intensidade, que a mulher perdera a intimidação que criara sobre a garota.

– Você que ameaçou a mim, a meu irmão, a meus amigos e à sua própria família no momento que levou para frente seu... – a ruiva baixou os olhos brevemente para Spencer – segredo.

– Segredo? – Frank franziu o cenho.

– Um segredo egoísta que resultou em tudo isso que está acontecendo agora. Você nos expôs e... ainda está nos expondo a um perigo muito grande. – A voz fina de Red assumia um tom de confiança cada vez mais forte a cada palavra. Mal se reconhecia ao sentir aquelas frases escapando de seus lábios, pensando que apenas seu irmão fosse capaz de mostrar tamanha determinação – viu-se, então, cada vez mais parecida com ele. – Se tem alguém que é um m-monstro aqui... esse alguém é você, Savannah!

– Eles claramente sabem de coisas que eu não sei – interrompeu Cross, virando-se lentamente para a filha. – e eu não tô gostando nada disso! Quero saber o porquê de eu ser o último a saber o que aconteceu com Spencer, eu exijo que você me conte o que está acontecendo!

A loira levantou os olhos para o pai. Seu rosto exibia rastros brilhantes das grossas lágrimas que lhe escapavam dos olhos, e que se misturavam ao avermelhado das marcas de seus dedos em suas bochechas.

– Quem é você para exigir alguma coisa?! Não vê o que acaba de fazer? – Explodiu a mulher, enquanto gesticulava. Alguns tiros desferidos ao lado de fora da casa a sobressaltaram brevemente. – Não vê que você que atirou, que você que é culpado pelo o que acontec-

– Pelo visto a única culpada aqui é você! – Frank exaltou a voz grossa novamente, recebendo os pares de olhos verdes dos irmãos também sobre si. Nunca haviam visto o velho com tamanha cólera no olhar. – Culpada porque não me deixou a par do que acontecia abaixo do meu próprio teto! – Bateu o próprio dedo indicador no peito, enfatizando sua frase. Seus lábios finos tremiam. - O que é isso que vem escondendo de mim, que resultou na morte da menina? E que perigo é esse que você está nos expondo?

– Vai acreditar no que eles falam, então? – A mulher apontou para o rapaz na escada, a mão tão trêmula quanto suas pernas. – Prefere acreditar nesses imbecis do que em mim, sua própria filha?!

– Diga logo o que aconteceu, Savannah. – Proferiu o velho, sombrio.

Frank agora não exibia mais a mesma surpresa e temor de quando acontecera a fatalidade há poucos minutos – pelo contrário, parecia tão insultado e raivoso quanto a filha. A visão do corpo da menina, que jazia, parcialmente negligenciado, ao chão do salão apenas inflava ainda mais sua exaltação. O pouco de remorso que há poucos segundos se estampava em seu rosto deixou-lhe o semblante por completo; se ainda o sentia, não mais o deixou transparecer em seus olhos fundos.

– Mas vocês estã-

– Fale de uma vez o que você fez. - Continuou Frank.

– Não vê que-

– SAVANNAH!

Seu nome proferido com tamanha intensidade pelos lábios de seu velho pai fez a mulher engolir um soluço e trincar os dentes. Percebeu rapidamente que não conseguiria mais contornar a situação – apesar da filha estar deitada atrás de si, morta, com um buraco de bala em sua testa pálida, seu pai não cederia a seu sofrimento.

– Vai... vai mesmo querer discutir isso agora? Não... não v-vai ao menos querer conversar sobre isso depois, não vai... respeitar a presença de sua neta? – Titubeou a mulher, direcionando a mão ao corpo da menina.

– Ela não era mais minha neta.

As palavras de Cross pairaram categóricas pelo salão. A loira se calou no mesmo instante, arregalando os olhos apavorados, e sentiu as pernas falharem levemente. Road Runner e Red Rock se entreolharam, apreensivos.

Savannah fitou seu pai com tamanho desespero que Red desviou seu próprio olhar, desconfortável. Road, a passos fortes, se aproximou da irmã com uma aura visivelmente protetora, como se temeroso do que a mulher Cross pudesse fazer caso perdesse o pouco que restava de sua sanidade.

– Assim que a vi ali em cima – continuou o velho Frank, elevando um de seus dedos enrugados para apontar ao início da escada no segundo andar – com aqueles olhos, aquela pele branca, eu vi que não era mais minha neta. Não era mais a Spencer.

– Pare de falar isso... – Balbuciou a mulher, agarrando a gola de sua camisa e curvando-se ligeiramente como se sentisse fortes dores no peito.

– Ela não estava mais viva, Savannah. Ela era um deles, cacete!

– Chega, papai...

– Não percebe?! – Exaltou o homem, arqueando as sobrancelhas como se surpreendido pela negação da filha a aceitar a realidade. – Não percebe que ela ia atacar, matar o menino? E quem sabe o que faria com o resto de nós?

– Ela estava doente, papai... doente! – Savannah trincou os dentes, colérica. – Doente, mas estava viva! Já disse que ela estava para ficar bem, eu a estava medicando!

Road franziu o cenho, visivelmente surpreendido com as palavras da loira. Baixou os olhos para a irmã, que o fitava de volta. O silêncio sufocante que transbordava dos orbes verdes da garota ruiva foram o suficiente para o irmão confirmar o que pensava sobre aquela situação.

– Não, Savannah. – Disse o pai da mulher. - Ela estava... morta e havia virado um deles. Porque não enxerga isso?

– Como pode dizer isso assim, sem mais nem menos?! – A loira deu alguns passos vacilantes para frente. – Ela é um ser humano, pelo amor de Deus!

Era um ser humano. – Interrompeu Road, recebendo o olhar de ambos os Cross. – Olha, não quero me intrometer nisso, que com certeza vem a ser uma tragédia grega, mas... uma horda de zumbis está para invadir esta casa a qualquer minuto. Nossos amigos estão lá fora, sozinhos, combatendo os mortos bastardos que estão chegando enquanto estamos... bem, enquanto estamos aqui.

Savannah contorceu seu rosto em uma careta de desgosto conforme as palavras saiam dos lábios do ruivo. Frank soltou um suspiro.

– O rapaz tem... razão. – Disse ele, visivelmente a contragosto. – Então vamos terminar logo com isso. Diga logo o que se passava por debaixo de meu nariz, Savannah, diga por que Spencer virou uma daquelas criaturas, vamos, desembucha!

A loira passou as costas da mão nas bochechas, no intuito de limpar as lágrimas. Seus lábios se crisparam em amargura e os olhos castanhos desviavam constantemente de Frank, embaraçada de sustentar o olhar inquisidor do pai.

– Se ela não vai falar... falo eu. – Red deu dois passos hesitantes à frente, franzindo o cenho para a mulher. Road levantou uma das sobrancelhas para a reação da irmã e Frank paulatinamente desviou os olhos da filha para a garota. – E-estamos em um perigo mais do que óbvio aqui e não temos tempo pra conversa, droga! – Titubeou ela, um soluço preso à garganta.

Savannah levantou os olhos para a garota num fuzilar penetrante. O cheiro de sangue tornava-se insuportável dentro da sala, mas aquela parecia ser a última coisa com a qual a mulher se importava.

– Senhor Cross, eu... encontrei uma coisa lá na cabana. – Red baixou o olhar para o velho, que o sustentou com um semblante confuso. – Tem um... cachorro escondido lá, escondido e bem ferido.

– Um cachorro?! – Frank arregalou os olhos, a incredulidade tomando espaço em seu rosto.

– Sim, um Rottweiler, ele-

– Jacky? – O velho voltou-se rapidamente para a filha. A mulher desviou o olhar para os próprios pés. – Jacky está viva?!

– Então... o cachorro é mesmo de vocês. – Afirmou Road, franzindo o cenho.

– Ahn, sim, sim, ela... foi um presente meu para Spencer... – Frank parecia desnorteado, desviando os olhos rapidamente para todos os lados. – Mas ela foi mordida por zumbis da última vez que apareceram aqui, e ela também foi morta por eles!

Red e Road se entreolharam.

– Ela... ainda está viva. – Continuou a ruiva. – Muito ferida, mas viva. Só que parece que não vai aguentar por muito tempo... Mas ainda assim está sendo medicada, e fortemente sedada.

– Medicada? Sedada?! – O velho Cross voltou a encarar a filha. – Savannah, você que andou fazendo isso?

– Eu estava cuidando dela, papai, é tão d-difícil entender isso?! – Respondeu a loira, ácida.

– Cuidando de um cachorro mordido por zumbis? Aonde pensa que ia chegar com isso?

– Ela estava se curando, papai, estava se curando lentamente! Eu estava cuidando do ferimento e-

– Ela está morrendo, Savannah. – Interrompeu Road. – Red a viu e disse que não aguentará mais do que poucas horas.

Frank e a filha voltaram a fitar a ruiva.

– Ela está muito machucada, senhor Cross... Mesmo com os medicamentos, não parece que está melhorando muito.

– Está sim! Eu estava cuidando dela – a loira apontou para si com um dos indicadores manchados de sangue seco - eu sei como ela está e eu que sei se ela vai melhorar ou não!

– Calada, Savannah! – Exasperou Frank. – O que tem na cabeça? O que estava pensando? Porque está mantendo Jacky lá, a ponto de virar uma merda de um cachorro zumbi? E porque me fez acreditar que ela já estava morta?!

– Porque eu sei que a mataria se soubesse que tinha sobrevivido! – Respondeu a mulher, entre soluços. – Sei o quanto você odeia essas... esses... – Ela fungou e passou as costas da mão novamente pelo rosto. - Sei que não a deixaria viver e que a mataria assim que visse as mordidas!

– E tem razão, eu realmente a mataria! – Afirmou Frank, recebendo um olhar incrédulo da filha. – Ela não seria mais nossa Jacky, assim como essa não era mais nossa Spencer e aqueles lá fora não são mais os humanos de algum dia! Não entende que uma vez que se transformam nisso, acabou, não tem mais volta?!

– Não é assim, papai! Eu estava cuidado da Jacky, eu estava cuidando dela e ia provar pra você justamente o contrário! Ela ia se curar dessa doença e voltaria a ser a mesma de antes!

– Assim como você pensou que seria com Spencer? – Manifestou-se Road, anuviado.

Savannah se calara no mesmo instante.

– Zumbis não são mais humanos. – Continuou o rapaz, conforme dava passos lentos em direção à mulher. - Não pensam mais, não amam mais. São apenas cascas vazias com sede de matar, com sede de sangue e de-

– Cale essa boca! – Gritou a loira. – Você não sabe o que está dizendo, vocês não sabem de nada! Pensam que eles se vão pra sempre, mas não! Ela ia melhorar, minha filha ia melhorar! Ela estava se curando, ela ia sarar da perna, ela...

A mulher levou uma das mãos ao rosto, tapando a boca e caindo em novos soluços.

– O machucado da perna. – A voz de Frank voltara a pairar pelo cômodo. – Vocês disseram que Spencer estava ferida... e quem fez isso nela foi...?

Os irmãos ruivos assentiram.

– E você – o velho se virou para a filha – mantinha sob seus cuidados o animal que machucou e envenenou minha neta com essa merda de infecção.

– Não, papai, eu... As duas iam melhorar, eu ia salvar Jacky e ia salvar Spencer e...

– Como Jacky a mordeu?

– O quê? – Savannah levantou os olhos para o pai, assustada.

– Como a cachorra a mordeu, se neste dia, da suposta morte de Jacky, Spencer estava aqui dentro, escondida?

– E-ela... nós... nós encontramos J-jacky lá fora assim que nos livramos dos... – A loira sorria vez e outra, os olhos marejados num arregalar desvairado – Nós vimos que Jacky estava machucada... Temi por você descobrir e querer matá-la também, por ter sido m-mordida e então... Então eu disse para Spencer que cuidaríamos dela em segredo e esperaríamos ela melhorar para voltarmos a soltá-la, para você ver que ela estava bem e que tudo aquilo não se passava de algo passageiro!

– Você permitiu que minha neta chegasse perto de um cachorro infectado por zumbis, é isso? – Frank se aproximou de Savannah rapidamente, ficando a poucos centímetros dela. Não pôde evitar um rápido olhar para a menina morta a seus pés.

– P-papai, eu... Entenda, eu queria ajudá-la, ela ia ficar boa, Spencer também queria ajudar e acho que chegou perto demais e assustou Jacky, então...

– Basta. – Exaltou Frank, olhando a filha profundamente nos olhos. Ela se encolhia involuntariamente. – Não se atreva a voltar a falar comigo.

– O-o quê? Papai, eu...

Savannah segurou Frank por um dos pulsos, mas ele rispidamente soltou-se do aperto.

– Não encoste em mim, Savannah.

O velho Cross deu as costas para a loira e já se dirigia para o hall de recepção a passos rápidos.

– P-papai, espere, papai, por favor! Entenda, elas iam se curar, eu só estava cuidando delas!

Frank deixara o cômodo em silêncio. Red e Road se entreolharam. Os sons de disparos e os gritos de Savannah eram os únicos ruídos que preenchiam aquele salão.

– Pai, volte aqui! Volte aqui, agora! Porque não vê que isso tem volta, que ela ia ficar boa, que minha filha ia ficar viva?

Road se aproximou, hesitante, de sua espingarda antes deixada no chão do salão e a pegou rapidamente, os olhos desvairados de Savannah acompanhando seus movimentos. No instante seguinte, os ruivos também se retiravam da sala. Red afundara o rosto nas mãos pequenas, não podendo evitar as lágrimas perturbadas que teimavam em escorrer. O rapaz pressionou levemente o ombro da irmã com uma das mãos, sua mandíbula cerrada com força e uma dor persistente latejando em suas têmporas.

– Não me deixem aqui! Voltem, não me deixem aqui! Ajudem minha filha, me ajudem!

Completamente sozinha, Savannah soluçou convulsivamente por mais alguns segundos. Fincando as unhas nas palmas das mãos, não conteve um urro de ódio, um urro de aflição, de amargura, de dor. Embalada apenas pelo silêncio, sentou-se ao lado da filha novamente, levantando os olhos para uma das janelas da sala na esperança de ver seu pai - e apenas encontrando as vigas de madeira colocadas para proteção da casa.

Num esgar de tristeza, deitou a cabeça no colo da filha e apertou os olhos, voltando a cair no pranto.


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Notas finais do capítulo

É, meus amigos, drama familiar, a horda se aproximando... ahhahaha
Como será que essa história finalmente vai acabar? E Hollywood e Molotov, como será que estão se virando do lado de fora do casarão? Fiquem ligados para os próximos capítulos ;)
Espero que deixem reviews, comentários, críticas... eles me motivam muito a continuar a escrever!
Obrigada e até o próximo!