Undead Revolution escrita por caarol


Capítulo 20
À Espreita


Notas iniciais do capítulo

Vejam só, chegamos ao vigésimo capítulo... Nem acredito que já cheguei até aqui! Uma subida lenta, mas muito vitoriosa pra mim! Primeira vez que consigo levar um projeto tão denso como UR tão longe.
E tudo graças aos leitores lindos! Se não fossem por vocês, me incentivando, curtindo a história, deixando comentários, ou mesmo lendo na surdina (haha!), não sei se teria a mesma inspiração e vontade para continuar a escrever.
Mas aqui estamos, e eu tenho muito que agradecer a vocês!
Espero que continuem me acompanhando até os próximos mais que estão por vir! Feliz ou infelizmente, não estamos na metade da história... acho que sequer estamos perto disso, haha!
Bom, chega de falação. Tudo isso para trazer um capítulo sem muita ação para vocês... mas que espero que gostem.
Boa leitura!



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Localização: Interestadual 80 - Residência da família Cross

10 dias após o Surto.



Red e Sam adentraram a pousada de maneira brusca e tempestiva, trocando palavras arfantes; no entanto, se calaram imediatamente assim que encontraram os olhares assustados de Savannah e Frank Cross, ambos sentados nas acolchoadas cadeiras do hall de recepção.

O dono da casa e sua filha tinham armas de fogo dispostas numa mesinha de centro à sua frente e, pelo semblante sobressaltado do velho ao ser pego de surpresa pela entrada repentina, eles provavelmente estavam ali à espera dos mortos-vivos das redondezas que logo menos poderiam alcançar a casa.

Os quatro se encararam por longos segundos, a ruiva e o menino ainda com olhos arregalados e ofegos entrecortados, Frank cruzando os braços em repreensão e Savannah aumentando o aperto ao redor da xícara fumegante em suas mãos e cerrando a mandíbula.

– Meu Deus, mas o que aconteceu pra vocês chegarem desse jeito? – Perguntou o homem, ora olhando para Red, ora para Sam.

– Nós... nós fomos... – a ruiva apoiou as mãos nos joelhos por alguns instantes, procurando recuperar o fôlego – buscar mais... munição...

– Disso eu sei. Eu que falei pra vocês irem para lá, droga. – Retrucou Frank, impaciente. – Quero saber se aconteceu alguma coisa pra esse desespero todo!

Red sorriu nervosamente. Sam continuava agarrado às caixinhas de papelão que continham as balas, a palidez em seu rosto não parecendo se esvair com tanta facilidade.

Frank franziu o nariz. Aparentava interessado também em algo às costas dos dois, já que desviava os olhos por sob os ombros da garota a todo o momento, como se procurando visualizar pelo vão da porta se mais alguém se aproximava lá de fora.

Já Savannah fitava-os com uma intensidade dissimulada. Permaneceu calada, as mãos grudadas na caneca, e exalando tamanha tensão pelos olhos que não passou despercebida a Red Rock.

A loira mostrava-se aflita ante a possibilidade de sua casa ser invadida novamente por zumbis, algo que com certeza não contribuía para a paz de espírito de qualquer um da pousada; porém, a maneira como ela os olhava parecia trazer consigo uma aflição muito além daquilo.

– Nós... pensamos que eles já estavam aqui. – Respondeu Red, enfim, recebendo um levantar de sobrancelhas de Frank.

– Eles? Os zumbis? – Perguntou o velho.

– É. – Disse Sam, num tom de voz trêmulo.

– Mas ninguém deu nenhum aviso de zumbis.

Red trincou os dentes. Cross iria inundá-los com mais afirmações ácidas, em seu tom de voz intransigente - que derrubariam qualquer desculpa que inventassem.

Ignorando o comentário com um sorriso amarelo, a garota se aproximou de Sam e, com um rápido movimento, pegou as caixas de suas mãos, levando-as em direção ao dono da casa. Os olhos atentos da filha do homem a acompanhavam, minuciosos.

– Encontramos a munição pelo menos.

– Hm. Ok, obrigada. – Frank recebeu as caixas com certa indiferença e as revirou nas mãos por alguns instantes. – É, me lembro dessas aqui. Te disse, Savannah, que tinha mais lá na loja.

– Sim, papai. – Respondeu lentamente a loira, austera.

– Faça outro favor pra mim – continuou o velho para a ruiva – e leve para a outra garota, a morena, pra colocar com as outras armas, sim?

Red acenou positivamente com a cabeça e voltou a segurar as caixinhas. Antes que pudesse se afastar dali, a voz estranhamente tranquila da mulher a interrompeu.

– Me diga só uma coisa, querida – desviou os olhos lentamente para a garota, que hesitou em sustentar o olhar atento – vocês encontraram mais alguma coisa por lá?

Mesmo de costas para Sam, Red sabia que ele havia arregalado os olhos e tensionado todos os músculos do corpo. Savannah pareceu também perceber a reação do menino, pela rápida olhadela que lançou para ele.

– Não. – Respondeu a ruiva, categórica. – Apenas muita poeira.

– Aquela merda não vê uma vassoura há meses. – Frank soltou um muxoxo.

– Nada mesmo? – A mulher tomou um gole da xícara com os dedos trêmulos, o cenho franzido e os olhos ainda na garota.

– Nada.

O semblante por trás da sutil fumaça quente do chá subitamente se suavizou e Savannah Cross sorriu, um sorriso falsamente gentil, expressando certa satisfação com a resposta da garota – fosse por imaginar que eles realmente não houvessem encontrando algo mais na loja, fosse saber que conseguiu intimidá-los o suficiente para calá-los.

Red respondeu com um rápido sorriso de canto. Virou-se para Sam, chamando-o com os olhos para saírem dali, e os dois se retiraram rapidamente do hall, deixando para trás uma nova conversa frívola engajada por Frank com sua calada filha; que apenas se levantou, perdida em pensamentos, e caminhou lentamente em direção à porta, fechando-a com um movimento hesitante.




Apertando o passo, Red puxava Sam pelo braço com uma das mãos, agarrada à caixa de munições com a outra, e lançando olhares por cima do ombro para o cômodo que acabaram de deixar para trás.

Pararam, sutilmente ofegosos, na sala de estar, com os olhos ainda no hall.

– Porque ela perguntou aquilo? – O menino sussurrou, agoniado.

– Ela deve ter percebido que nós encontramos o cachorro.

– Não seria melhor perguntar sobre ele de uma vez então?

A garota crispou os lábios, pensativa.

– Tem coisas mais importantes pra pensar, Sam. Adoraria, adoraria de verdade descobrir o que aquela oxigenada de uma figa tá escondendo, mas a gente precisa se preocupar com os zumbis que estão vindo. – Red inclinou-se ligeiramente para frente, ficando com os olhos à altura dos do garoto, e afrouxando o aperto em seu braço. – A gente avisa os outros sobre isso mais tarde, está bem?

Sam arqueou as sobrancelhas e acenou positivamente com a cabeça.

Os dois se retiraram da sala de estar e se direcionaram para a cozinha, onde era possível escutar um burburinho de vozes gradativamente crescente - que instantaneamente reconheceram ser de Germany, Hollywood e Molotov.

Chegando ao cômodo, puderam ver que os outros três jovens, sentados em uma das pequenas mesas dali, conversavam em tom baixo e confidente, exibindo semblantes sérios e concentrados. Pareciam discutir algo relacionado à invasão que possivelmente se aproximava – já que tinham algumas armas, tanto de fogo quanto brancas, dispostas pela mesa e espalhadas a seus pés, bem como o binóculo e algumas lanternas às mãos.

Red logo percebeu que a postura comedida que sustentavam era graças à presença de Javier Mirrez - o vizinho latino de Cross que chegara à casa há poucas horas, com a terrível notícia da invasão de sua fazenda por uma horda de mortos, horda que inclusive atacou sua família.

Javier se encontrava em pé, à frente de uma das compridas pias da cozinha, apenas fitando o copo de água que tinha em mãos – ao menos concluiu ser água pela transparência do líquido, porém o odor alcoólico que pairava pela cozinha fez a ruiva repensar sobre o que ele estava bebendo.

As janelas que se prostravam acima da pia, com suas cortinas decoradas, tinham suas aberturas não mais exibindo a paisagem lá fora, mas sim apenas a cobertura de madeira feita ao lado de fora; ainda assim, o homem levantava os olhos para as toras de madeira vez e outra, como se imaginando o que se passava lá fora – se sua família se aproximava cada vez mais conforme os minutos passavam.

Red e Sam se dirigiram rapidamente para a mesa com os outros.

Os dois morenos se encontravam de costas para a entrada da cozinha, as cadeiras relativamente próximas, e uma das mãos do rapaz repousando suavemente no joelho da garota. Logo viraram suas cabeças para trás, assim que Hollywood, à frente deles, percebeu a chegada dos outros dois.

– Finalmente! – Exclamou o loiro, abrindo um sorriso. – A gente pensou que vocês tinham se perdido por lá.

– Quase isso. – Respondeu Red, franzindo o cenho, e depositando as caixas acima da mesa. Os três sentados acompanharam o movimento com os olhos. – Aqui estão as balas.

– Obrigada, Red. – Disse Germany, voltando a olhar para a outra. – Estamos discutindo como vamos nos organizar para proteger a casa e tudo o mais. E a divisão das armas também, daí vocês podem ver o que... Red? Você tá me ouvindo?

A ruiva, antes fitando a mesa, imersa em pensamentos, entreabriu os lábios e desviou o olhar novamente a morena.

– Ah, sim, divisão, entendi.

– O que aconteceu, Red? – Perguntou Molotov, levantando uma sobrancelha. – Vocês dois chegaram com uma cara assustada.

– Tá tudo bem? Sam? – Foi a vez de Hollywood se manifestar, olhando para o menino, que havia se sentando sorrateiramente à mesa. Este sustentou o olhar do loiro e permaneceu calado, sorrindo muito sutilmente.

Red lançou um olhar de esguelha para Javier. Ele continuava absorto, quase em transe. As rugas que começavam a se destacar em seu rosto cansado e de meia idade se aprofundavam na testa alta e ao lado dos olhos amendoados. Estava mais do que alheio aos jovens e há uma distância suficiente para não conseguir escutar o que conversavam caso cochichassem – e, mesmo se escutasse, não aparentava estar exatamente dando atenção a qualquer coisa a seu redor; a não ser para o copo em suas mãos, que constantemente era levado aos lábios.

– Lá na loja – começou Red, recebendo os olhares dos outros – nós descobrimos uma coisa... estranha.

– Coisa estranha? – Hollywood, se debruçou mais na mesa, franzindo o cenho.

– Na verdade, várias coisas estranhas e que eu acho que os Cross estão escon-

Passos adentrando a cozinha fizeram a ruiva se sobressaltar e se calar imediatamente.

Savannah Cross estancou na entrada do cômodo assim que avistou os jovens ali. Red virou-se bruscamente em direção à mulher, procurando evitar que ela visse as caixas de remédio colocadas no bolso traseiro de sua bermuda. Sam encolheu os ombros à visão da loira e os outros três apenas a encararam, confusos.

– Oh, uma reunião na cozinha e nem nos chamaram! – Proferiu a mulher, alegre e abrindo um sorriso.

Os jovens retribuíram o gesto, ainda que com hesitação.

Savannah se aproximou da pia maior, depositando a xícara antes em suas mãos com lentidão no mármore. Voltou-se para Javier, prostrado a seu lado com um semblante vazio, e repousou uma das mãos no ombro graúdo. Percebendo o toque, o homem finalmente desviou os olhos injetados de seu copo para a loira. Passaram a conversar tristemente – na verdade, o vizinho apenas concordava com a cabeça, abatido, para todas as palavras que lhe eram dirigidas.

Red praguejou mentalmente. Com a mulher ali, próxima, a conversa complicaria.

– Escuta – disse ela, sustentando o olhar em Savannah – onde tá meu irmão?

– Acho que no quarto. – Respondeu Hollywood. – Não sei se ele tinha ido tomar banho ou alguma coisa.

– Banho? Tá me zoando? Justo agora?

– Você, melhor do que nós, sabe que ele é especial. – Proferiu Molotov, irônico, sorrindo de canto para a ruiva.

A garota pareceu pensar por alguns instantes. Desviou os olhos novamente para Savannah, percebendo que ela ainda se focava em Javier, e rapidamente se despediu dos outros dizendo precisar conversar com Road. Sam fez menção de se levantar da mesa para acompanhá-la, mas ela fez um gesto para que ele ficasse. Os outros três se entreolharam, ainda sem entender o que acontecia.

– A propósito, Red – chamou Germany, levantando os olhos para a outra – o que é isso no seu bolso?

– Depois eu explico. – A garota olhou de esguelha para a loira.

Com passos rápidos, deixou a cozinha para trás, recebendo pares de olhos confusos às costas – um, em especial, mais interessado nela do que nos olhos latinos amendoados próximos de si.




Red atravessou a sala de estar e o corredor dos quartos da pousada com uma pressa impaciente. Mordendo o lábio inferior com força, verbalizava para si mesma seus pensamentos turbulentos.

Dirigiu-se diretamente para o banheiro principal, abrindo a porta destrancada e não encontrando ninguém ali. Um sutil vapor que subia do grande box denunciava seu uso recente. Decidiu, então, procurar o irmão no quarto onde ele dormiu na noite passada.

Escancarando a porta com determinação, já lançando palavras atropeladas, levantou os olhos para o aposento e encontrou o ruivo, sem camisa, encarando-a com surpresa enquanto levantava as calças na altura das coxas.

– Caralho, Red! – Esbravejou o rapaz, puxando o jeans com rapidez para cobrir a cueca visível. – Bate na porta, droga!

A garota arregalou os olhos e rapidamente desviou o olhar, mais por medo da reação repreensiva do irmão do que por vergonha de vê-lo seminu.

– Desculpa, Road! – A ruiva ainda repousava uma das mãos na maçaneta, e com a outra formou uma concha ao lado dos olhos para impedir sua visão do irmão. – É que preciso falar com você, é importante!

– É bom que seja mesmo, sua nanica maldita. – As palavras do ruivo eram seguidas de tilintares do zíper da calça e da fivela de seu cinto.

– Já flagrei você em situação muito pior. - Retrucou ela, bufando.

Road revirou os olhos.

Red espiou pelo vão da porta o corredor do outro lado, certificando-se de que ninguém se encontrava por ali. Então, com um movimento rápido, fechou a porta do quarto e deu alguns passos em direção ao rapaz.

O ruivo murmurava algo para si mesmo enquanto a camiseta escorregava por seus braços e cobria seu tronco esguio. Passando as mãos rapidamente pelos cabelos e ajeitando a camisa, olhou rapidamente para a irmã e se dirigiu para sua cama, onde organizava alguns revólveres, maços de cigarro e lanternas.

– Desembucha, Red.

– Fui lá na cabana, Road, pegar mais munição. – Começou a garota, observando-o revirar as coisas enquanto ela remexia nervosamente nas próprias mãos.

– A Germany falou.

– Então, achei a munição e... outras coisas também.

Road levantou os olhos para ela. Red pegou uma das caixinhas do bolso de seu shorts e esticou a mão em direção ao rapaz. Com um franzir de cenho, e abandonando a lanterna que segurava, ele se aproximou e revirou a caixa nas mãos.

– O que é isso?

– Remédio. Para animais. – Respondeu a garota, apreensiva.

– Animais?

– Estava numa sala separada lá na loja... tem muitos outros de onde esse veio. – Ela baixou os olhos para a embalagem.

– Isso aqui é um analgésico?

– Tinha de tudo lá! – Continuou ela. - Inclusive sedativos – retirou outro objeto do bolso, uma pequena ampola vazia – como esse. Os Cross tem vários remédios veterinários, além de soníferos e antibióticos muito fortes! Mas... não foi só isso o que eu descobri.

– Tem mais? – O ruivo franziu o cenho.

– S-sim.

Red engoliu em seco e Road a fitou.

– Todos esses remédios... estão sendo usados. – Ela baixou o tom de voz inconscientemente. – Em um cachorro.

– Um o quê?

– Tem um cachorro lá, Road... um baita dum Rottweiler! Só que ele tá ferido... muito ferido, na verdade.

– Mas estão dando remédios pra ele. – Continuou o ruivo. A irmã assentiu, calada. – Os Cross estão mantendo um cão doente, é isso?

– Basicamente sim. E ele está coberto de... mordidas. – Red sussurrou a última palavra.

– Mordidas? Mas o que é que poderia ter mordido el-

O rapaz se calou subitamente, arregalando os olhos para a garota. Ela sustentou o olhar e arqueou as sobrancelhas, confirmando silenciosamente o que acabara de iluminar na mente dele.

– Calma. Pera aí, Red, você tá me dizendo que eles estão mantendo um cachorro zumbi?

– Isso se as mordidas forem realmente de zumbi, né! – O ruivo soltou um muxoxo de desdém enquanto a garota gesticulava. - Estou te contando tudo isso mas... nem sabemos se foi isso o que realmente aconteceu! - Ela baixou os olhos, passando os dedos trêmulos por uma mecha dos cabelos ondulados. – Ele ainda está vivo, mas eu não acredito que vá ficar por muito tempo. Ele parece bem mal, acho que o tratamento que estão dando pra ele não está adiantando... e olha que ele deve tar tomando uns remédios bem fortes!

– Você disse que ele tá sendo sedado.

– É. – Murmurou a garota.

– Porque alguém sedaria um cão prestes a morrer? Se ele tá mal do jeito que você tá dizendo, não faz sentido nenhum fazer isso. O único motivo que consigo ver é que estão o mantendo sedado para quando ele virar um deles... como uma prevenção.

– Prevenção?

– Agora me pergunto, porque estão medicando ele? Pensei que odiassem zumbis tanto quanto nós, mas daí me aparece essa deles estarem cuidando de um.

– Já falei, ele não morreu ainda, Road... ele ainda não é um zumbi. Acho que se estão dando remédios é porque esperam que ele melhore...

– Melhore do quê? – Road soltou uma risada de nervosismo. - Tão achando que tudo isso não passa de uma gripe idiota que sara tomando comprimido?

– Não sei, mano, não sei! Não sei o que se passa na cabeça deles! – Retrucou a ruiva, voltando a encará-lo com os olhos perturbados.

Road suspirou e franziu o cenho. Começou a perambular pelo quarto, irrequieto.

– Frank disse que já foram atacados algumas vezes aqui... com certeza o cachorro foi tentar pegar um dos zumbis numa dessas vezes e acabou tomando uma mordida. – Disse ele, cruzando os braços. - E o pior é que esses idiotas estão mantendo ele assim! E quando ele morrer e acordar um zumbi? Acordar uma porra dum cachorro zumbi? Se humanos já são um problema, imagina uma merda dum Rottweiler!

A garota engoliu em seco, baixando os olhos para a ampola em sua mão. Road zanzava impacientemente, passando os dedos nervosamente pelos curtos cabelos alaranjados. Então, estancou subitamente, desviou os olhos para a caixa de remédio em sua mão e depois levantou o olhar para Red.

– Eu vou lá. – Disse ele.

– Lá aonde? – Murmurou a ruiva, franzindo o cenho.

– Descobrir de uma vez por toda o que esses imbecis estão fazendo.

– O quê? – Guinchou Red, vendo o rapaz se aproximar. – Road, pára, não!

Apoiou as mãos no tórax do irmão, impedindo-o de continuar.

– Red, me deixa passar. – Proferiu ele, ríspido.

– Road, não, a gente tem coisa mais importante pra se preocupar! Os zumbis estão chegando!

– Eles e o cachorro idiota dentro da loja também, Red! Não percebe que assim que ele acordar, vai passar a ser o maior dos nossos problemas?

– E o que você pretende fazer? Xingar os Cross até a vigésima geração?!

– É um bom começo.

Road avançou um passo, empurrando a irmã involuntariamente para trás, que ainda tinha as mãos apoiadas em seu peito.

– Red, sai.

– Mas Road...

– RED! – Exaltou-se, sobressaltando a garota. – Você não percebe a gravidade da situação, garota?! Acha mesmo que a gente vai estar seguro aqui? E não só por causa do cachorro ou pela horda idiota que tá vindo por aí, mas também pelos donos lunáticos dessa casa! Sabe-se lá o que eles vão fazer na hora do desespero. – Fez uma pausa e soltou um longo suspiro, os olhos assustados da irmã ainda o fitando.

– O que... quer dizer com isso? – Sussurrou a garota, quase inaudivelmente.

– Precisamos mostrar que não somos um bando de desocupados desmiolados – seu tom de voz se exaltava a cada palavra, sua expressão se enrijecendo em irritação - que eles podem facilmente usar como isca para atrair zumbis ou como comida pra cachorro morto!

O ruivo baixou os olhos para a garota. Ela o encarava com tamanho receio e perturbação que ele não pôde evitar um novo suspirar.

– Red, eu... – Ele passou os dedos novamente pelos próprios cabelos. - Desculpa ter gritado com você. – Murmurou, com um tom de suavidade evidente na voz, recebendo um levantar de sobrancelhas em resposta. – Só entenda que as coisas podem sair facilmente do controle, ainda mais com essa sua descoberta... e eu não posso deixar nada de ruim acontecer. Nada de ainda mais ruim do que já está acontecendo. E se o que você falou é verdade, do cachorro sendo mantido na loja, as coisas complicam ainda mais. Preciso nos proteger, mana... preciso proteger você.

– Só não podemos ser precipitados, Road! – Respondeu a garota, em voz baixa e chorosa. – Já temos zumbis chegando pra nos preocupar... e não podemos simplesmente nos revoltar contra os Cross, senão aí que eles realmente vão se enfurecer e mandar nossa aliança pelos ares! E também não podemos ir embora agora, eles nos deram abrigo, comida... não podemos abandoná-los, pelo menos não ainda.

– O que você sugere, então?

A garota voltou a sustentar o olhar do irmão. Baixou as mãos do tronco dele e mordeu o lábio inferior, pensativa. Arriscou um rápido olhar para a ampola em sua mão, que foi logo lançada para a cama a seu lado, com certo asco. Road imitou seu movimento, se livrando da caixa de remédio.

– Precisamos nos proteger da horda primeiro. – Respondeu ela, enfim, encarando os próprios pés. A franja reta pendia à frente de seus olhos.

– Eu sei disso, mana.

– Depois vemos o que fazemos sobre o cachorro.

Road permaneceu calado, parecendo imerso em pensamentos por alguns segundos. Então, quando voltou a falar, exibia uma serenidade incomum em sua voz e em seu semblante, o suficiente para a garota estranhar sua mudança de comportamento.

– E se ele não nos der problema depois?

– Como assim?

– E se ele sequer virar um zumbi enquanto estivermos aqui? Os Cross não vão saber que nós sabemos do segredinho sujo deles e iremos embora sem quaisquer complicações com o Rottweiler morto-vivo.

– E vamos largá-los aqui com um animal enlouquecido por carne à solta?! – Red arregalou os olhos.

– O que vai adiantar batermos de frente com eles sobre isso, Red? Você acha que vão aceitar qualquer opinião nossa?

– O quê?! Road, você mesmo, há cinco segundos, tava querendo peitar os Cross sobre isso! - A garota gesticulava com fervor, contrariada.

– Sim, mas mudei de ideia, droga. – Continuou o rapaz. – Você tem razão. Não é problema nosso. Eles que trouxeram a desgraça para si mesmos e eles que se resolvam com ela.

Red o fitou por alguns instantes, incrédula. O irmão sustentava seu olhar com tranquilidade.

– Road, eu... Mas... Não foi isso o que eu quis dizer, caramba! E como você pode ser tão egoísta?! – A ruiva deu um passo para trás, inconscientemente. – Não podemos deixar que eles fiquem aqui com aquele bicho prestes à devorá-los! Se nós sabemos disso, precisamos alertá-los do perigo!

– Eles sabem do perigo, Red... sabem muito bem. – Protestou ele, trincando os dentes. – E se tem alguém egoísta aqui são aqueles desgraçados, que nem para nos avisar que a qualquer momento pode aparecer um cachorro morto querendo nos matar! – O tom de voz seco do rapaz voltava gradativamente, bem como o franzir de cenho.

Red não respondeu. Tremia sutilmente, nervosa, amedrontada, apreensiva. Seu irmão não parecia em situação melhor.

– Preciso de um cigarro. – Grunhiu ele, apertando as têmporas com os dedos vacilantes.

No entanto, antes de sequer pensar em pegar o maço que repousava na cama, Road foi surpreendido, bem como sua irmã, pela porta do quarto sendo violentamente escancarada. Um Hollywood os fitava com olhos arregalados e os cabelos bagunçados do outro lado do batente – pareceu ter corrido como nunca para alcançar o cômodo.

– Pessoal. – Sussurrou ele, a mão repousando na maçaneta com força.

Apesar dos semblantes surpresos, os dois ruivos rapidamente entenderam o motivo do loiro estar ali.

Hollywood tomou fôlego, sustentado os olhares assustados.

– Eles estão aqui.


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Notas finais do capítulo

Agora as coisas começam a esquentar novamente, hehe.
Segredos dos Cross sendo revelados logo menos, junto da invasão (linda) dos zumbis vizinhos... Como Javier vai reagir assim que encontrar novamente aqueles que dizimaram sua fazenda? E o que Road pretende fazer com as descobertas de Red? Será que Savannah vai finalmente revelar o que tanto esconde dos nossos jovens?
Os próximos capítulos serão tensos. E eu estou louca para escrevê-los!