Undead Revolution escrita por caarol


Capítulo 2
Os Primeiros de Muitos: Arquivo II


Notas iniciais do capítulo

Parte II!
Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/164702/chapter/2

Localização: Reserva Florestal Coven Park

11 horas após o Surto.


– Mais rápido, a gente precisa pegar nossas coisas logo!

Uma voz feminina estridente tentava se fazer ouvir em meio ao barulho de galhos sendo quebrados e folhas secas sendo amassadas, enquanto os pneus grossos de uma enorme Ford Ranger preta abriam caminho sobre eles. A dona daquela voz se encontrava com as mãos agarradas ao banco do passageiro, e sua cabeça se virava constantemente para trás, checando se alguém seguia o carro. O vento que entrava pela janela aberta desmanchava seus cabelos avermelhados e alguns fios grudavam em suas bochechas úmidas graças às lágrimas que escorriam de seus olhos.

– Eu sei disso, caralho! – Respondeu ríspida uma voz masculina vinda do banco do motorista.

O rapaz que dirigia a caminhonete devia ter pouco menos do que trinta anos e aparentava alguns anos mais velho do que a garota. Ainda assim, possuía as mesmas feições dela - o rosto em formato oval, nariz pequeno e olhos verdes, além dos cabelos cor de fogo; porém ele tinha a mandíbula mais larga, e esta estava cerrada com força. Ele dirigia com certa violência, sem se importar com os solavancos causados pela trilha esburacada, mas que ainda assim faziam a caminhonete perder um pouco de velocidade.

Felizmente o caminho turbulento logo se abrangeu a uma grande clareira iluminada, situada próxima a um lago cristalino que refletia orgulhoso o pôr-do-sol. Duas barracas grandes de acampamento estavam montadas no gramado da clareira e vários objetos se encontravam espalhados ao lado delas, como uma churrasqueira portátil, varas de pescar, bicicletas, uma pequena mesa coberta por uma toalha quadriculada e algumas sacolas térmicas entreabertas, repletas de comida.

Ao adentrar o gramado, o rapaz afundou o pé no freio com força e a caminhonete freou bruscamente próxima às barracas, levantando grama e cascalhos atrás de si. Rapidamente os dois jovens saltaram do carro e correram para o acampamento.

– Tanto fim de semana pra gente vir acampar nessa merda de parque e vocês escolhem justo esse! – O rapaz falava rápido enquanto corria de um lado para o outro, agarrando as sacolas térmicas e tudo mais que conseguia segurar.

– Como é que a gente ia saber dessa merda de surto de gente morta?! – A menina gritou histérica de dentro de uma das barracas, enfiando, com pressa, sapatos e roupas dentro das malas. – Eu fiquei mexendo no rádio do carro ontem, mas não ouvi nenhuma notícia sobre isso! Todo mundo deve tar sendo pego desprevenido!

– Sem comunicação e dentro de uma floresta gigante, que maravilha! E a gente ainda precisa achar o pai e a mãe!

A garota sentiu um aperto no coração ao ouvir as palavras de seu irmão. Ainda precisavam achar seus pais, que podiam estar em qualquer lugar da reserva - se é que ainda estavam vivos. Eles haviam saído de manhã para caminhar pelo parque, como sempre faziam quando resolviam acampar lá, e os irmãos, entediados do mesmo programa todos os anos, resolveram atravessar a reserva e ficar na pista para motocross do local.

Mas desta vez, os motoqueiros não os recepcionaram de forma tão calorosa, já que quase arrancaram o braço do irmão da garota com suas mãos frias. E agora que os dois voltaram a tempo para as barracas, precisavam sair logo daquele lugar antes que os mortos-vivos os encontrassem e os devorassem.

O rapaz lutava para desarmar as barracas e rogava pragas das mais variadas a cada segundo. Frustrado, chutou uma das toras que prendiam o tecido ao chão, praguejando, e correu em direção à caminhonete. Resolveu que dormiriam no carro mesmo. Sua irmã já se encontrava sentada no banco do passageiro. Ele bateu a porta com força assim que se sentou no banco do motorista e puxou do bolso de sua camisa xadrez um maço de cigarros. A garota o encarou com repreensão, enquanto ele segurava o isqueiro com as mãos trêmulas e tentava acender o cigarro com pressa.

– Isso não é hora para vício, mano! Larga essa merda e vamo logo! – Disse a garota, ríspida.

– Pois eu preciso dessa merda pra acalmar meus nervos e conseguir tirar a gente daqui. – Ele olhou nervoso para ela, enquanto tragava o cigarro. Com a outra mão, girou rapidamente a chave no contato e colocou a caminhonete em movimento.

– Da próxima eu dirijo. E desse jeito você vai acabar com câncer de pulmão. – Disse a garota, enquanto espantava com as mãos a fumaça do cigarro que vinha em sua direção.

– Vou morrer comido por zumbis antes disso acontecer. - O rapaz riu, desgostoso, enquanto acelerava mais o carro à medida que eles deixavam a clareira.

A trilha que seguiam desta vez era ainda mais larga do que a primeira, e a floresta ao seu redor, menos densa. Provavelmente estavam na trilha principal e rumavam em direção à entrada da reserva, pois os grandes portões verdes de acesso estavam logo à frente. Porém, a caminhonete freou violentamente de súbito, sobressaltando a garota, que se apoiou no porta-luvas, assustada. Ela se virou instintivamente para seu irmão, ofegante e confusa. Ele apenas encarava o caminho à frente, com o cenho franzido, as mãos agarrando o volante firmemente e o cigarro pendendo de sua boca.

– Merda. – Ele murmurou.

A garota virou sua cabeça lentamente, seguindo o olhar de seu irmão, e também arregalou seus olhos com a visão que teve. A alguns metros de distância da caminhonete, de costas para o portão de entrada, estavam várias pessoas paradas, ensanguentadas e com as roupas rasgadas. Algumas aparentavam ser outros frequentadores do parque, pelas vestimentas descontraídas, outros eram os praticantes de motocross de anteriormente e o restante estava uniformizado de funcionário do Coven Park. A horda de mortos-vivos começou a se arrastar em direção à caminhonete, grunhindo alto em uníssono.

Precisavam sair da reserva o mais rápido possível. O rapaz jogou fora seu cigarro e fechou as janelas da caminhonete, respirando fundo e apertando ainda mais as mãos no volante. Estava pronto para acelerar o carro e passar no meio de todas aquelas pessoas, mas se sobressaltou com um súbito grito estridente de sua irmã. Ela gritava e cobria seu rosto com as mãos. Confuso, voltou seu olhar para frente. Entre os mortos-vivos que se aproximavam do carro, estavam seus pais.

Sua mãe se encontrava mais atrás no grupo, com seus cabelos curtos e ondulados, de um laranja vivo, sujos de areia e de sangue, assim como suas roupas. Cortes profundos rasgavam uma de suas bochechas, e seus dentes cerrados e à mostra estavam avermelhados. Sua blusa azul estava rasgada na altura do estômago e enormes ferimentos salpicavam da região de sua barriga, pingando sangue e manchando sua bermuda cáqui. Ela se movia mancando – uma de suas pernas provavelmente estava quebrada.

Já seu pai era o homem alto que caminhava em direção à caminhonete com um olhar malévolo e sedento estampado em seu rosto comprido. Um grande pedaço de seu pescoço, na altura da clavícula, estava faltando - provavelmente arrancado por sua própria esposa. Um corte enorme acompanhava o comprimento de um de seus braços, e a pele deste pendia, solta. Sua camisa, antes branca, estava completamente tingida de vermelho.

O rapaz sentiu uma reviravolta no estômago. Sem pensar, afundou o pé no acelerador e a caminhonete obedeceu no mesmo instante, lançando-se para frente. Tentou desviar ao máximo daquela horda, fazendo uma curva aberta para a direita. Os mortos-vivos continuaram seguindo o carro, desta vez correndo em direção à entrada. A caminhonete chacoalhou intensamente algumas vezes, balançando os dois que estavam lá dentro, por ter atropelado uns três zumbis. A garota continuava a gritar desesperada; já o rapaz sentia sua garganta seca e sua voz não simplesmente não saía.

Finalmente alcançaram os portões e atravessaram o caminho entre as duas guaritas amarelas. Agora estavam oficialmente fora da reserva. Os zumbis gritavam furiosos e ainda acompanharam o carro até além da entrada do parque, mas logo foram ficando para trás. Já na estrada que seguia paralela à reserva, o rapaz ainda dirigia sem diminuir a velocidade, aproveitando que o caminho estava deserto.

Após uma distância segura, diminuiu e seguiu para o acostamento, parando o carro por completo. Os dois permaneceram em silêncio por alguns minutos. A garota parara de chorar, mas seus olhos inchados estavam arregalados e seu rosto, úmido e enrubescido. Ela mal piscava. Já seu irmão respirava ofegante e também se encontrava paralisado, com o cenho franzido e os olhos cerrados. Com muito custo, sacou outro cigarro da camisa, mas desistiu de acendê-lo, jogando-o no tapete do banco.

– Oh meu Deus... – Murmurou a garota, finalmente.

O rapaz olhou para ela e acariciou seus cabelos ondulados, parecidos com os de sua mãe. Ele então a puxou para perto de si e lançou seus braços ao redor do corpo dela em um abraço apertado. Ela afundou seu rosto no ombro dele, agarrando sua camisa xadrez. Permaneceram assim por mais alguns minutos, ambos soluçando baixinho, desconsolados.

A garota enxugou suas lágrimas com as costas da mão e desenlaçou-se dos braços de seu irmão, de súbito. Levantou seus olhos verdes para ele, com um misto de determinação e medo estampado em seu rosto.

– Estamos à nossa própria custa, agora. – Disse ela, com certa dor nas palavras. – Mas dá pra irmos sobrevivendo por enquanto...

– A gente vai ficar bem. – Ele bagunçou os cabelos da irmã com as mãos trêmulas. – Além disso, você tem a mim. Vou te proteger a qualquer custo.

– É mais fácil eu defender a nós dois. – Ela riu baixinho, ajeitando seus cabelos. – Pra onde agora?

– Vamos seguindo a estrada. Uma hora a gente vai chegar a alguma cidade ou algum lugar que dá pra reabastecer de comida e gasolina. – O rapaz apontou a estrada em que estavam com cabeça.

Ela acenou positivamente com a cabeça, tristonha, e logo a caminhonete estava novamente em movimento. Enquanto dirigia, o rapaz sentiu um aperto no coração, mas agora não sabia se era apenas de tristeza - ou também de raiva. Raiva daqueles que perambulavam por aí e que fizeram aquilo com seus pais. Eles não seriam perdoados, nenhum deles.

Uma placa azul com letras garrafais em branco se aproximava no horizonte. Uma flecha indicava que a próxima saída da estrada seguia para a rodovia especificada no aviso. O rapaz decidiu seguir por esse novo caminho. Quando passou pela placa, foi possível ler, claramente: ROTA 52 – PRÓXIMA SAÍDA À DIREITA.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Próxima parte será postada o mais rápido possível, prometo!
Ah sim, os nomes desses personagens serão revelados logo. O mistério do anonimato faz parte da introdução, hahhaha