Undead Revolution escrita por caarol


Capítulo 18
Colecionando Vítimas




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Localização: Interestadual 80 - Residência da família Cross

10 dias após o Surto.



O dia seguinte amanheceu salpicado das consequências da tempestade da noite anterior, com grandes galhos caídos por todos os arredores, poças fundas e enlameadas pelo gramado e até alguns fios dos postes de força pendendo oscilantes de sua origem. Porém, apesar dos resquícios, a chuva assentou-se durante a madrugada – apenas uma fina e persistente garoa tingia aquele início de manhã de um acinzentado úmido e melancólico.

A casa permanecia silenciosa, com todos os seus integrantes ainda inertes num imperturbável sono. Nenhum alerta de visitantes indesejados ou qualquer outro sinal de perigo os atrapalhou naquela noite; talvez apenas um estranho baque na entrada da casa que sobressaltou Sam, barulho logo acompanhado de sutis passos estridulosos até a escadaria para o andar superior, mas que rapidamente foram encobertos pela chuva e pela sonolência do menino.

O grande e envelhecido relógio de madeira do hall principal marcava quase seis da manhã, horário favorável para o velho Frank Cross acordar e recomeçar sua rotina matutina de patrulha dos arredores, à procura de possíveis mortos-vivos. Naquele dia em particular acordou estranhamente confiante, com uma certeza quase absoluta de que não precisaria se preocupar com visitas do além-túmulo. Ainda assim, decidiu que esquadrinharia o terreno apenas para provar a si mesmo, à sua família e ao grupo de jovens enxeridos que ele podia ser velho, mas não era imprestável.

Permaneceu deitado por alguns instantes, apenas escutando o suave tilintar das gotas de água escorrendo pela calha do telhado... até que sua tranquilidade de pós-sono foi logo perturbada por fortes batidas na porta da pousada.

Com um sobressalto e uma das mãos já repousando na espingarda – que ficava encostada a seu lado, numa mesa de cabeceira – Frank arregalou os olhos e sentou-se na cama num pulo, grunhindo em seguida por sentir algumas alfinetadas em suas juntas. As batidas recomeçaram, agora num tom de desespero, e o homem se levantou cambaleante, agarrando um velho roupão azul e calçando desajeitadamente seus chinelos.

Coxeou pelo corredor do segundo andar até chegar à escada, de onde analisou a sala de estar ali em baixo e repousou os olhos para a entrada que seguia até o hall da recepção. Uma batida mais forte, seguida de um gemido arrastado e lamurioso, o fez estancar bruscamente no penúltimo degrau.

Ergueu a arma de fogo já à altura do peito, os dedos tremendo levemente. Sua muralha de confiança e pretensão ruiu quase por completo ao som daquela criatura que arranhava a porta de sua entrada e ameaçava entrar em sua casa. Sabia que estava devidamente protegido a partir do momento em que os zumbis entrassem na pousada – caso isso ocorresse, as coisas complicariam.

– Cross?

Uma nova voz, rouca e sonolenta, vinda do corredor que dava para os quartos da hospedaria, chamou a atenção do velho; este se virou com tamanha rapidez que sentiu novamente suas costas reclamarem do esforço.

Franzindo o cenho para a dor senil e focalizando a figura que o chamara, pôde ver Road Runner, parado ao batente da entrada do corredor, descalço, vestindo apenas a calça jeans e com os cabelos ruivos desgrenhados e ligeiramente grudados na testa - o que lhe deu um ar de adolescente recém-acordado e, como usualmente estampado no semblante do rapaz, mal-humorado.

– O que é isso? – Resmungou ele, desviando os olhos pesados para o hall.

– A chuva é que não é. Infelizmente. – Retrucou Frank, soltando um muxoxo e esfregando as costas na altura da lombar. – Fique aqui, vou lá ver.

E terminou de descer as escadas empunhando novamente a espingarda.

Ignorando a última frase do velho, o ruivo também seguiu para a recepção, passando as palmas das mãos pelo rosto numa tentativa inocente de despertar-se por completo.

– Quero só ver – voltou a resmungar Frank, enquanto se dirigia a passos desconfiados para a grande porta de entrada – que merda será que está-

– FRANK! – Urrou alguém do outro lado.

Os dois homens pararam, assustados. Road arregalou os olhos e fechou os punhos inconscientemente e Cross cedeu levemente nos próprios joelhos, quase caindo no piso frio. Seu nome, proferido por aquela voz plangorosa e quase surreal, acompanhada da garoa lá fora e dos baques frenéticos na madeira, o fizeram gelar por completo.

Permaneceram estáticos por longos instantes, apenas esperando o que mais poderia acontecer do outro lado. Não se ouviu mais nenhuma batida na porta nem gritos guturais, apenas um diferenciado baque seco, como se algo tivesse caído de encontro com o chão. Frank virou lentamente os olhos para o ruivo, que sustentou o olhar com semelhante receio.

Com um breve e trêmulo suspiro, Road se aproximou da porta e repousou os dedos na maçaneta. Cross observava todos os movimentos do rapaz, com as mãos cravadas na espingarda e o cenho repleto de rugas. Um último olhar foi lançado ao velho antes da entrada da pousada ser finalmente aberta.

Um corpo caiu pesadamente aos pés de Road Runner, sobressaltando tanto ele quanto Frank, que soltou uma exclamação atemorizada.

Um homem corpulento, de cabelos fartos bem negros, pele bronzeada e com as roupas completamente ensopadas, estrebuchou sutilmente, soltando grunhidos abafados. Caiu de bruços, escondendo o rosto no piso frio. O ruivo, porém, não hesitou – correu em direção a Frank e arrancou a arma de fogo das mãos do velho, já mirando o novo visitante.

– Que ótimo, mais um deles por aqu-

– Não! – Gritou Cross, envolvendo o cano da espingarda com as mãos e arregalando os olhos para o mais jovem.

Contrariado, Road franziu o cenho e entreabriu os lábios, mas foi mais uma vez interrompido pela voz rouca do dono da casa.

– Não atire, droga! Eu conheço ele!

Um novo murmúrio de dor pairou por sobre o corpo caído. Frank lançou mais um expressivo olhar repreensivo para Road – não se atreva a disparar essa arma! – e correu em direção ao homem, agarrando-o pelos braços com certa dificuldade e arrastando-o para dentro da casa. O rapaz bufou e caminhou lentamente até a entrada, recebendo alguns pingos gelados de chuva enquanto analisava rapidamente o terreno, projetando a cabeça para fora do batente; aparentemente não havia mais ninguém nas redondezas, já que ele logo fechou a porta e foi de encontro a Cross.

– Quem é ele? – Perguntou, desconfiado.

Frank havia virado o homem a fim de deixá-lo com a barriga para cima, expondo o semblante de dor e cansaço do visitante, bem como suas roupas simples rasgadas e grudadas no volumoso corpo. Ele tremia convulsivamente, em especial nos lábios arroxeados, e havia agarrado o antebraço do outro com os dedos grossos. Aparentava ter pouco mais de quarenta anos e possuia um tom de pele acastanhado característico que, junto de seu nariz protuberante, as sobrancelhas abundantes, os cabelos negros lisos e a mandíbula larga, denunciavam sua origem exótica.

– Javier Mirrez. – Respondeu o velho, franzindo o cenho para o homem. – Ele é meu vizinho. Quer dizer, moramos bons quilômetros de distância um do outro, mas a fazenda dele faz fronteira com a minha.

– Frank... – Sussurrou Javier, entreabrindo os olhos injetados, e com um leve sotaque característico no “r.

– O que diabos aconteceu com você, homem? – Frank ajudou-o a levantar o tronco e sentar-se desajeitadamente.

O vizinho de Cross esforçava-se para falar, arfando ruidosamente e batendo os dentes uns contra os outros. Enquanto tentava verbalizar sua agonia, Road cruzou os braços, a espingarda pendendo em uma de suas mãos, e analisou a figura. Ele realmente estava em péssimo estado, mas não aparentava ferido nem próximo de ser considerado um morto-vivo. Ainda assim, o ruivo permaneceu a uma boa distância dos outros dois, não descartando a possibilidade de Javier ter um ataque súbito e avançar no pescoço do vizinho.

Mi casa... – Voltou a sussurrar o homem, tossindo vez e outra.

– Você deve estar congelando. – Interrompeu Cross. – Calma aí, você veio a pé da sua casa até aqui debaixo dessa chuva lazarenta?

Mi... M-minha... casa! – Urrou subitamente o latino, agarrando a gola do roupão do velho, arregalando os olhos para ele, e sobressaltando também a Road. – Mi casa fue tomada, Frank! Toda mi granja... Mi... f-fazenda está llena de ellos! Llena de muertos, Frank! De... m-mortos!

Javier exalava pura agonia, procurando atrapalhadamente as palavras certas em sua segunda língua para conseguir se expressar corretamente; no entanto, o silêncio que prosseguiu nos segundos seguintes e as expressões nos rostos do ruivo e do velho foram suficientes para ele concluir que haviam compreendido o que havia lhes dito, mesmo com as palavras espanholas desesperadas.

Ainda assim, Frank suspirou brevemente, apoiando as costas do outro com uma das mãos.

– Javier, você está seguro agora. Acalme-se, homem, senão vamos entender pouca mierda do que está falando. – Proferiu ele, recebendo um sutil e fraco sorriso de canto do vizinho. - O que exatamente aconteceu?

– Você sabe muito bem o que aconteceu, Cross. – Interrompeu Road, recebendo um franzir de cenho e um brilho colérico de olhos em resposta.

O latino respirou profundamente algumas vezes, ainda agarrado ao roupão felpudo, e pareceu lembrar-se vagamente de como falar na língua inglesa, pois rápida e eloquentemente voltara a exalar frases angustiadas, ainda que com fortes resquícios de sotaque.

Hoy bem cedo, Frank, bem cedo ellos apareceram lá! Os muertos, Frank, os muertos de dias atrás voltaram, voltaram e... – Javier parou subitamente, mordendo o lábio inferior e cerrando os olhos com força. – Aguilar! Mi Aguilar... Lupita, mi hija... Oh, Pablo!

Tapando a boca com uma das mãos, Mirrez caiu em um sonoro pranto, soluçando feito uma criança e logo escondendo o próprio rosto, apoiando os cotovelos enfraquecidos nas coxas. Chorou por longos minutos, ao silêncio de Frank e Road, que apenas observavam o homem com visível pena em seus rostos. O velho deu leves tapinhas no ombro do latino, balançando negativamente a cabeça e compartilhando do luto, já que provavelmente conhecia sua família.

–Se f-foram, Frank... – Sussurrou Javier, deixando as mãos caírem inertes no próprio colo e encarando o piso do hall com um brilho desolado nos olhos.

– Como foi que entraram na sua casa, Mirrez? – Perguntou Cross, ajoelhando-se desajeitadamente a seu lado.

No sei... foi tudo tan rápido! A gente ainda dormia quando chegaram e conseguiram invadir mi casa... no tive tiempo de disparar nos hijos de puta! – Com um fechar de punho, Javier socou o chão a seu lado, num súbito acesso de raiva. Sua voz arrastada e chorosa passou a adquirir um tom mais colérico conforme seu espanglês fluía. – Malditos, bastardos, muertos bastardos!

Frank desviou o olhar rapidamente para Road, que também fitava Javier com visível surpresa.

Mi familia, como ousam, como OUSAM!

– Calma, homem! – Proferiu o velho, segurando um dos braços do latino que ameaçava se levantar. – Não me vá fazer mais besteira!

Usted! – Javier virou os olhos para Cross, ensandecido. – Usted disse que tinham ido embora! Usted disse que tinha se librado deles!

– Eu me livrei dos que vieram aqui antes e...

No! Se tivesse matado mesmo eles não teriam vindo atrás de e de mi familia!

– Javier, existem muitos por aí. – Interrompeu Road, recebendo dois pares de olhos alterados.

– Ele disse que tinha espantado eles! – Respondeu o latino para o ruivo, com um rosnado, e fechando os punhos novamente. – Ustedes – continuou encarando o jovem – deviam ter dado um jeito neles!

– Não é culpa nossa, droga! – Exaltou-se o rapaz, perdendo o último fio de paciência. – Sua família não morreu por culpa do Cross, nem por culpa sua ou de qualquer um de nós!

O homem encarou o mais novo com uma lívida surpresa.

– Existem milhares deles por aí, uma hora ou outra eles vão aparecer. Vão aparecer em todos os lugares! – Road cuspia as palavras com semelhante raiva, os olhos verdes não desviando dos dois homens agachados uma única vez. - Não são os mesmos que atacaram essa casa dias atrás. Não são os mesmos que me atacaram dias atrás. Não são os mesmos filhos de uma puta que mataram a minha família!

– Rapaz – Frank levantou-se lentamente – nós...

– E quer saber de uma coisa?! – Continuou Road, largando a espingarda num dos sofás da recepção. – Acho que é culpa de vocês sim. Se tivessem ido embora na primeira oportunidade, nada disso estaria acontecendo. Você ainda teria sua família – apontou para Mirrez, que arregalara os olhos castanhos e avermelhados das lágrimas – e você não teria medo de qualquer merda de barulho a cada cinco segundos. – Desviou o dedo indicador para Cross. – Agora esses bastardos vão vir pra cá, pegar a nós e terminar o serviço com você, Javier, e eu e meus amigos vamos ter que salvar as fuças de vocês!

– Não precisamos da sua ajuda, seu fedelho! – Cross levantou-se num pulo, visivelmente ofendido e com profundas rugas no rosto. – Já disse que podemos muito bem nos cuidar!

– Sabem se cuidar?! – Road soltou uma gargalhada incrédula. – Olha só o que aconteceu com o seu vizinho, Cross! Será que não enxerga que não podem fazer isso sem ajuda? Você é tão orgulhoso que não percebe que você, sozinho, não passa de um inútil no meio de dúzias de zumbis?

Frank entreabriu os lábios e fuzilou o ruivo com tamanha raiva que seu rosto adquiriu rapidamente um sutil tom avermelhado. Javier observava os dois com um atordoamento pesado, num misto de raiva, mágoa profunda e confusão, e quase beirando à insanidade em meio a pensamentos da família recém perdida, das palavras proferidas rapidamente na outra língua e do frio que sentia penetrar em seus ossos.

– A porta está sempre aberta, fique à vontade para pegar suas coisas idiotas e dar o fora daqui! – Retrucou o velho, depois de alguns segundos sem saber exatamente o que responder ao mais jovem. Ambos sabiam que ele concordava a contragosto com a afirmação de Road, porém o primeiro decidiu que não faria as honras de admitir isso a um fedelho qualquer.

– Olha, é uma proposta tentadora. Já quase fiz isso umas duas vezes. – Continuou o ruivo, se aproximando lentamente dos outros dois. Frank se encolheu instintivamente – apesar da estatura média do rapaz, ele ainda assim era mais alto do que o velho – e Mirrez se remexeu no chão frio, tremulando vez e outra. – Mas posso ser muita coisa, menos ingrato. Você deu teto pra mim, pra minha irmã e meus amigos, então não vamos simplesmente dar no pé assim. Se a merda dos zumbis tá vindo pra cá, nós vamos ajudá-los a acabar com eles, querendo você ou não. – Frank torceu o nariz, ainda contrariado, e Road estreitou os olhos. – Então agora eu aconselho que se levantem nessas malditas pernas, acordem aos outros e que todos comecem a trabalhar, senão daqui a algumas horas nós seremos os próximos mortos-vivos imbecis.

E com um trincar de dentes e um último suspiro decidido, Road saiu tempestivo do hall de entrada, seus passos pesados rapidamente se distanciando dos dois homens que ficaram para trás.






– Oh meu Deus, Javier, isto é horrível!

Savannah tapou a própria boca com as mãos, os olhos arregalados e marejados fitando o homem corpulento de pele latina à sua frente na mesa da cozinha. Javier olhava para a madeira irregular do móvel sem realmente vê-lo – apenas estava sentado ali, com um semblante arrasado e desnorteado. Tossia vez e outra, devido ao princípio de gripe que lhe acometera graças à chuva que tomara há poucas horas atrás, e massageava as têmporas com dedos trêmulos.

– Não entendo! De onde será que vieram? – Perguntou Savannah, apoiando os antebraços na mesa e se aproximando sutilmente do homem. – Não existem cidades grandes aqui por perto.

No... sei. – Respondeu Mirrez, estreitando os olhos. – Pero apareceram lá.

– Você veio a pé de sua casa até aqui, nesse frio? Porque não nos ligou ou algo assim?

No tinha tiempo para pensar, Savannah...

– Oh, Aguilar... – Murmurou a mulher, desviando os olhos por alguns instantes e logo voltando a fitar o vizinho. – Javier, não tinha mesmo como trazê-los?

Cómo es eso? Ahn... cómo assim?

– Eles foram mesmo atacados?

Si, Savannah, todos ellos...

– Mas... ainda estavam vivos, não é? Porque não os trouxe consigo?

– Naquelas condiciones? – O homem ergueu os olhos, transtornado.

– Nós cuidaríamos deles, Javier.

– Savannah, estaban todos em cima deles! – Bradou Javier, arqueando as sobrancelhas. – A devorarlos ali mesmo!

A loira se calou por alguns instantes, pensativa.

– Pablo conseguiu escapar por un momento, pero depois no o vi más...

– Pode ser que esteja escondido, esperando os mortos irem embora! Podemos voltar lá e procurá-lo.

Yo no voy voltar , Savannah.

– Mas Javier...

No consigo nem pensar em voltar! – O latino bateu com os punhos na mesa, sobressaltando a outra. – De qualquer forma, a essa hora deben haber ter se tornado um de ellos.

– Porque diz isso, querido?

– Foram mordidos todos!

– Isso não quer dizer nada. – Retrucou a mulher, sorrindo sutilmente.

– Lógico que ! Es cómouna enfermedad, una doença, Savannah! Logo estarán aquí também, para nos pegar...

O homem voltou a encostar-se à cadeira, mais uma vez escondendo o rosto nas mãos e soluçando baixinho. Savannah soltou um sutil muxoxo, compassível a ele, e levantou-se, se dirigindo para a pia e pegando algo dali.

– Já venho, querido, só vou levar esse chá para Spencer.

Dónde... Onde ela está? – Perguntou ele, após fungar o nariz e olhar de esguelha a mulher. – Ainda não a vi.

– Está no quarto dela. Tivemos uma discussão ontem... e ela tá de birra. – Savannah riu tristemente. – Vou levar o chá enquanto está quente... para fazermos as pazes, sempre funciona. – Sorriu brevemente para o homem. – Dois minutos, Javier. Já venho e faço um para você também, para se acalmar.

O vizinho acenou fracamente com a cabeça, fitando a mesa da cozinha e voltando a mergulhar em seus pensamentos turbulentos, logo contorcendo seu rosto em dor e lágrimas. A loira enxugou uma gota em sua própria bochecha e rapidamente saiu do cômodo.





Ao lado de fora da casa, todos os jovens do grupo de sobreviventes, juntamente com Frank Cross, remexiam em tábuas grossas de madeira, placas de metal, pregos e furadeiras, vedando a maior quantidade de janelas e entradas para a casa que conseguiam. Assim que o restante dos hóspedes, além de Savannah, ficou sabendo da chegada de Javier Mirrez, dos acontecimentos na casa mais próxima e da possível horda de zumbis que se aproximava dali, todos rapidamente se organizaram para finalizar o projeto de proteção da pousada do velho dono, e para logo se armarem até os dentes, aguardando a invasão. A súbita parada da garoa os ajudou a agilizar o processo – aquele dia, porém, provavelmente continuaria cinzento e com brisas gélidas por boas horas.

Frank mal falara durante toda a manhã, apenas supervisionando tudo com uma impassível carranca e se isolando vez e outra para trabalhar sozinho em alguma porção da casa. Sam sempre o seguia com os olhos, desconfiado e intimidado pela presença emburrada do velho, e ao mesmo tempo ávido para ajudá-lo em alguma coisa. Os jovens às vezes o observavam de esguelha quando ele próprio não os encarava.

– O que você falou para ele, afinal? – Perguntou Red Rock, num sussurro para Road. A ruiva sustentava uma das extremidades de uma pesada tábua enquanto seu irmão fixava a madeira em uma alta janela da sala de jantar.

– Porque você acha que eu falei alguma coisa? – Retrucou ele, sem desviar os olhos do serviço e sutilmente colocando mais força nas marteladas.

– Porque eram vocês dois que estavam com Javier na hora que ele apareceu aqui.

– E daí?

– Ele parece bem perturbado, e não só porque o vizinho veio avisar que dezenas de zumbis tão vindo aqui.

– Esse velho é perturbado.

– Ele olhou feio pra você pelo menos umas cinco vezes.

– Meu Deus, como você é chata, garota! – Bradou o rapaz, seguido de um forte baque, evidenciando sua martelada na madeira. – Cacete! Se quer mesmo saber, falei sim com ele, e aí? – Soltou um muxoxo impaciente. - Não falei nada mais do que a verdade.

– Que verdade?

– Que ele vai morrer nos primeiros cinco minutos sem a nossa ajuda.

A ruiva desviou os olhos para o velho Cross, que carregava algumas toras em direção ao pequeno celeiro há alguns metros dali.

– Sinto pena dele e da família dele... – Suspirou a garota, ajeitando a madeira em suas mãos.

– Eu parei de ter pena no momento que decidiram ficar nessa casa estúpida.

– Espero que fiquem bem depois que formos embora.

Road não respondeu, voltando a se concentrar na fixação da viga. A garota franziu o nariz com o peso da madeira, mas manteve-se calada. Já reclamara pelo menos duas vezes sobre o quão pesadas eram aquelas toras, e temia que seu irmão lhe desse uma martelada na cabeça por não parar de falar.

Não muito longe dali, Molotov e Hollywood deslocavam mais algumas vigas, placas de metal e rolos de arame farpado para a próxima janela a ser trabalhada. O loiro tagarelava sobre a chuva ter parado, os acontecimentos com Javier Mirrez e o abastecimento da caminhonete, tudo quase ao mesmo tempo, e o moreno apenas acenava a cabeça, fingindo interesse, e sempre com um sorriso no rosto.

– Não acha, cara? – Perguntou Hollywood.

– Hm?

– Não acha que vai dar certo?

– Ah, sim, pode ser.

Molotov repousou as madeiras no chão, ainda alheio ao outro, que logo estreitou o olhar e levantou uma sobrancelha.

– Molotov?

– Oi.

– Aconteceu alguma coisa?

– Porque pergunta?

– Você tá estranho.

O moreno ergueu os olhos para o loiro e abriu um sorriso.

– Estranho bom ou estranho ruim?

– Não sei. Você não tá dando a mínima pra nada. – Hollywood lentamente depositou o enorme enrolado de arame na grama molhada, temendo espetar-se com o material parcialmente enferrujado. – Mas tá com um sorriso imbecil no rosto.

– Sorriso? – Molotov confirmou a palavra com um sorrir largo.

– É. Bem aí, ó.

– Preciso tar com a cara fechada igual o Cross ali embaixo?

– Não, mas não é do seu feitio estar tão alegrinho assim. Ainda mais quando estamos prestes a enfrentar outra merda de exército zumbi.

– Ninguém disse que é um exército. Boatos que são algumas dezenas, só.

Só. – Hollywood revirou os olhos, ajudando o outro a erguer uma larga e achatada placa de alumínio. – Não muda de assunto, cara.

– Jesus, você parece a Red! Não pára de falar e fazer perguntas. – O moreno soltou um muxoxo, logo se impacientando. – Mas tá bom. Te ajuda se eu lhe disser que a felicidade tem nome?

– Nome?

– Sim.

Hollywood fitou o outro com visível confusão, parando o que fazia. O moreno ainda ria do semblante exagerado do loiro enquanto posicionava a placa em uma janela, tapando quase totalmente o espaço destinado a ela.

– Que nome?

O próximo sorriso de Molotov, um sorriso malicioso, fez o outro arregalar os olhos.

– Espera aí. Calma aí, você...? Você e... – interrompeu a frase lançando um olhar de esguelha para Germany. A morena estava sentada em uma grande pedra, organizando as armas de fogo à sua frente, preparando cada uma delas para mais tarde. Parecia alheia à conversa e aos olhares incrédulos do rapaz loiro. – Inacreditável!

– Porque inacreditável? – Molotov desviou os olhos para o outro, levantando uma sobrancelha.

– Porque pensei que você ia tomar um pé na bunda.

Hollywood riu abertamente ao receber o olhar irritadiço do moreno.

– Rapidinhos vocês, hein?

– Cala a boca e me ajuda, cacete, isso tá pesado!

– Ah, ele está de volta! – O loiro sorriu e deu tapinhas no ombro do outro. – Mas ainda tá sorrindo feito um babaca. – Molotov revirou os olhos. - Mas e aí, como foi?

– Não vou dar o gostinho de te contar detalhes né, seu idiota.

– Então quer dizer que vocês...

– Não! Isso não.

O loiro fitou o outro por alguns instantes. O moreno deu de ombros.

– Ainda não pelo menos.

Ainda não! Que coisa mais linda!

– Fala baixo, Hollywood!

– Tô tão feliz por vocês dois, cara!

– É, mas você não vai nos ver de amorzinho por aí tão cedo. – Proferiu Molotov, enquanto tentava ligar a enorme furadeira.

– Porque não?

– Zumbis, Hollywood, zumbis!

– Ah, é.

O ruído cru e característico da furadeira preencheu o ar ao redor dos rapazes. Hollywood segurava a placa de metal para o outro, ainda falando algumas coisas pouco distinguíveis em meio ao barulho e ignoradas pelo moreno, que apenas ria em resposta.





– Falta muita coisa? – Cross coxeou em direção a Germany, com um franzir de cenho, e observando as armas dispostas ao redor da garota.

– Não. Já estão todas carregadas. – Respondeu a morena, com um intimidado sorriso. – Mas acho que não temos tantas munições de reserva quanto o previsto.

– Tem mais lá dentro. – O velho apontou para a construção próxima da estrada, a loja de artigos de caça e pesca da família Cross. – Já peguei alguns cartuchos de lá, mas deve ter sobrado outros. Temos outras armas também... até arco e flecha. – Um brilho sutil de orgulho passou pelos olhos do homem.

– Tudo bem se pegarmos algumas coisas?

– Podem pegar... Mas vocês pretendem levar com vocês, na caminhonete lá?

– Ahn, não, quis dizer que... eu estava pensando para agora mesmo. – Germany sorriu fracamente.

– Hmm. – Frank se calou por alguns instantes, erguendo os olhos para a loja. – Podem levar um pouco também.

– Com a gente?

– É.

– Tem... certeza, senhor Cross? – Perguntou a morena, e o velho já se afastava dali.

– Sim. E não se esqueçam do rádio. – Respondeu ele, se dirigindo para a varanda da pousada.

A garota entreabriu os lábios, quase esboçando um agradecimento, mas logo desistindo - o homem não mais a ouviria dali.

– Ger?

Uma voz feminina se manifestou a seu lado.

– Oi, Red.

Red limpava o suor com as costas da mão, logo a repousando no quadril e abrindo um sorriso.

– Lindas nossas armas, não? – Brincou a morena, sorrindo de volta.

– Super. – Riu a outra. – Quer ajuda?

– Não, já estão prontas. – Germany baixou os olhos para as espingardas e revólveres. – Só falta pegar mais munição na loja dos Cross.

– Pode deixar que eu vou lá.

– Não quer que eu vá?

– Não, eu vou. Aliás, se eu ficar aqui mais um pouco o Road me estrangula.

As duas riram juntas. Germany ergueu uma das mãos procurando ajuda da outra para levantar, e logo se pôs de pé com o auxílio.

– Tava tão bonitinho você ajeitando isso aqui dali de onde eu tava. – Red voltou a analisar as armas. – Parecia uma menininha psicopata.

– Que adorável.

– Sim. E tava mais adorável ainda o Molotov babando por você.

Germany olhou para a ruiva e franziu o cenho.

– Não se faça de boba, Ger. Esqueceu que eu tava lá quando ele foi te buscar ontem pra vocês conversarem?

A morena permaneceu calada, desviando os olhos com embaraço.

– Dá pra perceber pelo jeito de vocês que a conversa acabou bem. – A garota abriu um sorriso confidente. – Não perguntei nada por causa do alvoroço todo com o vizinho dos Cross e tudo o mais, e porque pensei que você viria falar alguma coisa pra mim. Mas você não ia contar nunca pelo jeito, né?

– Desculpa, Red. Acho que fiquei com vergonha. – A morena deu de ombros, sorrindo sutilmente.

– Vergonha do quê? De ter ficado com um cara lindo que gosta de você?

– Não sei... achei que talvez fosse ser futilidade demais sair falando disso sabe? Ainda mais com tudo isso que aconteceu com o tal do Javier, e com a gente tendo que se preparar pra mais zumbis... – Germany fitou os próprios pés, pensativa. – Sei lá, pensei que se falasse ia ficar meio... fora de contexto sabe? Uma coisa meio, 'poxa, a menina tá no meio de um apocalipse zumbi e só fica pensando no beijo que deu no garoto'.

– Larga a mão de ser encucada, Germany. – Retrucou Red, cruzando os braços. – A gente sabe que tem muita coisa que não é mais prioridade agora, mas nem por isso você não pode se sentir feliz pelo menos uma vez. Estamos sim num caos de zumbis, mas não precisamos abrir mão de tudo só para no dedicarmos ou pensarmos nisso. Sou a favor de pensar que não podemos apenas sobreviver, temos que viver também.

– Sobreviver seria uma boa. – Riu a morena, recebendo um revirar de olhos da outra.

– Você entendeu, sua boba. Mas relaxa, tá bem? Assim que esses dias tensos aqui na pousada passarem, e a gente cair na estrada de novo, você vai conseguir curtir um pouco mais o Molotov. Pelo menos eu tô torcendo pra isso.

– Obrigada, Red. - Germany sorriu para a outra. – E se quer saber – ela logo baixou a voz – foi mais do que ótimo.

– Ah, mas eu sabia! – Exaltou Red, recebendo uma repreensão da outra. – Vocês se beijaram e o que mais...?

– Só nos beijamos.

– Como assim? E não rolou nada mais? Por quê? - A ruiva parecia incrédula.

– Porque não é a hora, menina, acalma o fogo! Pelo menos nós dois decidimos que não por enquanto... até tudo isso passar. E além disso... a Savannah nos viu na sala.

– Sério? – Red arregalou os olhos. – Mas e aí?

– Ah, ela não falou nada, mas sabe como é. E ia ser estranho acontecer alguma coisa com ela... ali, na sala.

– Mas porque ela tava acordada?

– Então, ela parecia querer sair pra fazer alguma coisa, mesmo na chuva. E uma hora a gente a ouviu discutindo com a filha.

– Que esquisito.

– Pois é. Daí ficou tudo por isso mesmo.

– E ela saiu mesmo da casa?

– Não sei... eu e o Molotov voltamos pros quartos e ela ainda ficou na sala... mas acho que não saiu né, tava chovendo bastante.

Logo Sam se aproximou rapidamente das duas garotas, distraindo-as da conversa com a admiração receada no semblante dele ao observar tantas armas dispostas próxima de si.

– Você que fez, Ger? – Perguntou ele, apontando para o chão.

– Sim. – Ela sorriu e meneou a cabeça, recebendo um par de olhos entusiasmados em resposta.

– Então – proferiu Red, desviando os olhos para a construção da estrada – eu vou indo lá buscar as coisas na loja antes que o Frank ou o Road venham me encher o saco. Depois continuamos a conversa, Ger. - Ela lançou uma piscadela para a outra.

– Você vai lá? – Sam arregalou os olhos para a ruiva. – Posso ir com você?

– Pode, querido, mas não vai ser nada muito emocionante.

– Não tem problema. – Respondeu ele, com um sorriso.

– Se precisarem de ajuda é só chamar. – Disse Germany. – Vou lá ajudar os rapazes.

Red concordou, não sem antes lançar um sorriso malicioso para a morena - que revirou os olhos e se afastou, se dirigindo para onde Molotov e Hollywood estavam. A ruiva desviou os olhos para Sam, que abriu um sorriso, e logo acompanhou a garota em direção à loja de caça e pesca de Cross.





– Aonde a Red vai? – Road perguntou, limpando as mãos em um pano já encardido, e também se prostrando ao lado dos outros dois rapazes.

– Ver se encontra mais alguma coisa lá na loja do Frank. – A garota apontou a casinha com a cabeça. – Só tá faltando munição extra. – Desviou os olhos para todas as janelas vedadas na porção exterior da casa. – E a pousada já tá quase pronta também... Estamos bem adiantados.

– Não ficou um serviço maravilhoso, mas vai ter que dar pro gasto. – Proferiu Molotov, lançando um olhar de esguelha para a morena, que sorriu timidamente.

– Eu tava pensando... – começou Hollywood, enquanto auxiliava o moreno a erguer a última viga de madeira que iriam fixar na janela que faltava – em como os zumbis vão seguir Javier até aqui.

– Se é que vão segui-lo, né. – Resmungou Road, cruzando os braços. – Acho que nem vão aparecer por aqui.

– Mas mesmo se aparecerem. – Continuou o loiro. – O homem não tava sangrando, então não tem como eles o seguirem pelo cheiro. Ele veio rápido e eles não correram atrás, então não devem saber pra onde ele foi...

– Acho que seguir não é a palavra certa. – Retrucou Germany, recebendo os olhares do ruivo e do loiro para si. – Talvez não consigam mesmo rastreá-lo por tudo isso que você falou, Hollywood, mas talvez apareçam por aqui... e não porque virão atrás dele, mas simplesmente porque vão estar vagando pela estrada e vão ver a casa.

– Vagando a esmo? – Road ergueu uma sobrancelha.

– Parece bem típico deles. – Retrucou Molotov, sem desviar os olhos do prego que segurava.

– E se apagarmos todas as luzes e não fizermos barulho, será que vão checar a casa mesmo assim? – Perguntou Hollywood.

– Sei lá. – A garota deu de ombros. – Vai saber o que se passa na falta de cérebro deles.

– Melhor prevenir do que remediar. – O ruivo remexeu em algo no bolso da calça e sacou um cigarro.

Os outros três menearam a cabeça afirmativamente enquanto observavam a última janela sendo fechada.





Frank adentrou a casa e perambulou pelo hall e pela sala de estar por alguns minutos, sem encontrar sinal algum de Savannah, Spencer ou Javier. Franzindo o cenho e massageando as costas ao sentir algumas pinçadas em sua lombar, sentou-se lentamente na beirada de uma poltrona na sala de estar, murmurando pragas e lamúrias para si mesmo.

Um baque no andar de cima e passos apressados chamaram sua atenção e ele ergueu os olhos para a escada, logo vendo sua filha descer por ela com uma bandeja prateada em mãos. A loira sobressaltou-se assim que avistou o pai e rapidamente abriu um sorriso amarelo.

– Papai! Pensei que ainda estava lá fora.

– Acabei de entrar. – Resmungou ele, ainda apertando o local da dor nas costas. – O que é isso? – Perguntou ele, avistando copos vazios, pratos e alguns frascos na bandeja.

– Ah, isso – a mulher baixou os olhos para a travessa – fui levar algumas coisas pra Spencer.

– Essa menina ainda tá lá em cima? Não vai descer nunca?

– Mais tarde ela desce, papai... Ela não está se sentindo muito bem.

– Pensei que não descia porque brigou com você.

– Oh, isso também. – Savannah riu nervosamente. – Mas ela também tem reclamado de tosses e dores no corpo, então pedi para que repousasse... Precisa estar descansada se algo acontecer, não é?

– Acho que sim. – Proferiu Frank, finalmente apoiando as costas no encosto da poltrona e soltando um grunhido aliviado. – E cadê o Javier?

– Ajeitei um quarto para ele. Estava um trapo, o pobre homem...

– Que merda, viu. Justo com ele, um homem tão bom.

– Ele está a salvo conosco agora, papai. Agora o que falta é nós nos protegermos. – Savannah sumiu brevemente pela entrada da cozinha, seguida de alguns tilintares da bandeja metálica sendo posta na pia, e logo retornou à sala, sentando-se num dos sofás à frente do pai. – Falando nisso, como vai tudo lá fora? Já terminaram?

– Falta uma janela só, mas eles estão lá, terminando. - Alguns ruídos de martelada confirmaram a frase de Cross.

– A casa ficou tão escura com tudo fechado. – A mulher vagueou os olhos pela sala.

Todos os cômodos estavam com as janelas totalmente vedadas, para impedir a possível entrada indesejada de mortos-vivos por elas, escurecendo, assim, praticamente toda a grande pousada. Mesmo faltando poucos minutos para o meio-dia, as luzes de abajures e lustres já estavam acesas.

– Fazer o quê. – Retrucou Frank. Depois de um pesaroso suspiro, ele se levantou e apoiou a lombar nas mãos, tombando o corpo ligeiramente para trás, tentando alongar as costas. – Vou pegar a espingarda guardada em meu quarto e colocar com as outras.

– As armas estão todas carregadas?

– Sim. Mas falta munição extra, caso precise, mas um deles vai buscar lá.

– Buscar lá? – Savannah subitamente franziu o cenho. – Lá aonde?

– Na loja, ué, aonde mais?

– Na... loja? – Ela arregalou os olhos e fez menção de se levantar. – M-mas não... tem mais lá, papai, já procurei.

– Tem tanta coisa naquela porcaria de casebre, Savannah, que deve ter ainda sim. Aliás, torça para que encontrem, precisamos de todas as balas possíveis.

Com isso, o velho sorriu muito brevemente para a filha, um sorriso sutil e sem dentes, e se retirou para o segundo andar, coxeando levemente na escada e reclamando baixinho da dor nas costas. A loira permaneceu estática no sofá, fitando nada em particular, e apenas atenta aos passos do próprio pai.

Assim que o ouviu se dirigindo para seu quarto, levantou-se num pulo do sofá e correu para o hall principal, lançando um rápido olhar por sob o ombro, e entreabrindo lentamente a porta para espiar pelo vão. Pôde ver a garota ruiva e o menino se dirigindo pelo caminho cimentado que se dirigia à loja de artigos de caça e pesca da família.

A mulher voltou a franzir o cenho, rogando um palavrão, e logo fechou a porta com um alto e furioso baque.


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Notas finais do capítulo

Perdoem meu espanhol medíocre. Faz alguns anos que não pratico (até porque eu sei falar MUITO espanhol, haha) então precisei da ajuda dos bons e velhos dicionários.
Tanta mudança de 'cena' no capítulo que eu até me perdi uma hora, haha.
E algumas reviravoltas, han? Mas nada muito escandaloso... por enquanto.
O próximo promete, hehe!
Espero que tenham gostado, deixem comentários, críticas, são todos muito bem vindos e adorados de coração, haha!
Até!