Bonds escrita por frozenWings


Capítulo 24
Capítulo 22


Notas iniciais do capítulo

Olá a todos que ainda estão acompanhando minha fanfic. Puxa vida, fiquei imensamente feliz em ver como vocês compreenderam o meu problema em postar os dois capítulos. Enfim. *-*
Hoje vou ser breve quanto a essas notas que faço antes dos capítulos. kkk
Bom, para começo de conversa, esse capítulo está em 1º pessoa.
Achei que seria interessante narrar os acontecimentos no ponto de vista da Rukia.
Ah, antes que eu me esqueça, gostaria de divulgar algo.
Sempre senti falta de um fórum ou coisa do tipo aqui pelo Nyah.
Para a minha felicidade, foi criado o HANASHI.
Uma rede social integrada a esse site, o Nyah, para pessoas que são amantes de animes/mangás, doramas, fanfics e demais coisas de gênero oriental.
Então, tive a ideia de criar um grupo da fanfic pelo site. Afinal, eu sei que fica chato quando eu sumo sem dar qualquer explicação, então ter um grupo como esse facilita e muito as coisas! Até porque posso esclarecer qualquer dúvida que vocês tenham através do grupo. O que acham?
Em todo o caso, para os interessados, deixarei o link do site e do grupo:
http://www.hanashi.com.br/ (site)
http://www.hanashi.com.br/bonds/ (grupo)
Vamos lá, gente. A interface é basicamente como a do Nyah. É fácil e prático de mexer! Espero por lá os que quiserem.
Obs.: Lembrando que os reviews devem continuar a serem dados por aqui.
Boa leitura. ♥



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O céu de Tóquio não é tão estrelado quanto o de Karakura.

Bem, eu nunca parei pra pensar nisso — até agora.

Uma coisa é certa, as luzes artificiais e multicoloridas te enganam. Fazem você pensar que são mais atraentes que as estrelas, porém, com o tempo, você percebe.

Percebe que uma hora aquelas luzes se apagam e te deixam na escuridão vazia de Tóquio.

As estrelas, por outro lado, mesmo quando o dia chega e não podemos enxergá-las, elas ainda continuam ali, fiéis.

Pensando desse jeito, sinto a sensação de que na verdade estamos separados por céus diferentes e não repartindo um todo...



Quando cheguei a Tóquio, a principio, me senti minúscula perto de todo aquele esplendor que você só vê como possível em filmes de cinema. Meu queixo quase caiu de tanta excitação e admiração.

As lojas de eletrônicos e atrações estendidas em todo e qualquer lugar atiçava a sua curiosidade, triunfando quando você resolve visitar dez ou onze lojas. Sem falar dos prédios gigantescos, com luzes uniformizadas, dos mais diversos modelos e alturas.

O barulho do trânsito atrapalhava um pouco a emoção do apreciar, mas você acaba por se acostumar como nas grandes metrópoles.

As pessoas andam em marcha sintonizada por aqui. Muitos caminham preocupados com o horário, olham de tempo em tempo os relógios de pulso. E há ainda os jovens... Uma combinação perfeita de estilo e sofisticação, dignos de serem postos em vitrines.

Imediatamente, compreendi que perto deles eu não passava de uma caipira.


Fiquei instigada com aquele novo mundo. Uma Las Vegas oriental.

Era diferente, mas bastante convidativo ao aprendizado, o que realçou minha confiança de que seria uma questão de tempo até que voltasse para casa.

Depois de algumas horas, resolvi que já tinha tido o bastante para uma noite.

Senti a necessidade de procurar um lugar para dormir, então segui por uma avenida.

E por mais que parecesse que eu sabia exatamente aonde ir, eu não fazia a mínima ideia do que estava fazendo ou para onde estava indo.

Com sorte, topei com uma pequena pensão de arquitetura modesta, mas chamativa. Lembrava-me os edifícios do ocidente.

Tive uma surpresa quando o assunto foi o preço da estadia. Perdi pouco menos da metade das minhas economias trazidas e isso me trouxe de volta a terra, lembrando-me do verdadeiro objetivo.

Se eu perdesse todo o dinheiro, não saberia de onde tirar mais.

Ao sair de casa, tive o cuidado de deixar o celular e seus respectivos números nunca memorizados por mim, dessa forma, eu não teria como recuar e voltar com o rabo entre as pernas.

Era crucial lembrar que eu não vim a Tóquio para uma colônia de férias. Tinha que focar e esquecer completamente das coisas que essa cidade proporcionava.

Não dormi nada no fim da noite. A fuligem de entusiasmo e distração tinha se dissipado nas primeiras horas e, no lugar, ficara apenas solidão extrema.

O que dizer? Ela foi estritamente profissional. Cumpriu com excelência o papel de consoladora, agindo como uma fria e velha companheira indesejável, mas que sempre está ao seu lado.

Eu revirava e revirava. Já desconhecia as condições em que a cama estava.

Via, somente, os lençóis enroscados no meu corpo como uma serpente traiçoeira, o forro da cama bagunçado, desenhando relevos inexistentes no colchão e os travesseiros desconfortavelmente distribuídos por baixo do meu tórax e da minha cintura, erguendo a minha silhueta.

Abri os olhos e sentei na cama com a cabeça baixa e dolorida de pensamentos.

Debaixo de mim nada mais se via se não o emaranhado da cama.

Minha mente formulou a imagem de Ichigo sem qualquer consentimento.

Ela projetou um cenário e situação de autoria própria; o instante em que Ichigo abria a carta que deixei.

A lia com os olhos pesados, bocejando, sem imaginar que aquela se tratava da minha deixa. E depois, como em um choque, os arregalava.

Os lábios tremiam, ele olhava o papel inexpressivo.

Ele correu, gritando o meu nome, tropeçava nas próprias pernas e me procurava.

Seu coração doía em mim.

A decepção queimava minhas orelhas como brasa.

Ichigo amassava o papel. Ele entendeu, mas isso não o impediu de ficar triste.

E eu o vi sentado em qualquer lugar, sentindo o vento passar, a expressão melancólica escondia um ódio profundo... Ele jurava me odiar. Me odiar!

Cobri os lábios comprimidos com a mão, evitando um vômito.

Eu não havia visto meus olhos, mas tinha absoluta certeza de que estavam vermelhos.

Não sabia dizer se aquilo vinha da fome, da angústia ou das duas juntas.

Respirei fundo, massageando as têmporas. Me esforcei para controlar aquela instabilidade que ameaçava crescer, para socá-la e jogá-la de volta para o buraco onde não devia ter saído.

Olhei em direção a luz inerme que filtrava através das pesadas cortinas do quarto, levantando-me da cama e seguindo até esta.

Afastei uma das cortinas para o lado, fitando a paisagem inegavelmente urbana. Empurrei o vidro com cuidado para que o vento entrasse.

Uma brisa gelada agitou meus cabelos, jogando algumas madeixas em frente aos meus olhos, porém, não cheguei a me importar. Continuei parada, olhando a cidade com os braços encolhidos por dentro do roupão que a pensão disponibilizava.

Amanhã trataria de comprar um mapa e procurar as gravadoras mais conhecidas em Tóquio.

A ideia me fez sentir melhor.

Não seria tão difícil. Eu não tinha motivos para ser cética. Com a habilidade dos Thunders, eu não precisaria visitar muitas das gravadoras. Era certo que eu não teria problemas quanto a aceitação.

Sim, eu sabia o tamanho do talento deles... E eu esperava que não estivesse sozinha nessa opinião.




Nos dias seguintes, as coisas não andaram conforme o esperado.

O mapa ajudou bastante e com o tempo, memorizei os caminhos mais necessários, no entanto, recebi nãos inesperados de todas as gravadoras que visitei.

Algumas até me expulsaram delicadamente por me exaltar com a renegação.

Para ficar mais tempo e economizar dinheiro, fazia uma única refeição ao dia e, e sob hipótese alguma, usava o dinheiro com transportes.

Como esperado, fui perdendo peso e aos poucos, notei que podia vislumbrar as extremidades ossudas de minha própria coluna vertebral. Eu dava de ombros, afinal, de todos os problemas adquiridos, este era o menor.

Hoje estava nublado. As nuvens acumularam escuras e densas, tais como massas condensadas, diferentemente daqueles chumaços de algodões que imaginamos ver suspensos no céu.

A chuva caiu forte e implacável, estalando no chão. Eu não tive a disposição de correr para uma estiada como fizeram outras pessoas. E, para piorar, eu esquecera de trazer um guarda-chuvas.

As pessoas que passavam às pressas por mim pisaram nas poças de rua rapidamente criadas, espalhando lama em minhas roupas.

Como elas, eu não me incomodei.

Meus cabelos gotejaram, ficando mais pesados e grudentos no rosto.

— Kuchiki! Você está toda encharcada! — exclamou a senhora que cuidava da recepção da pensão. Eu a ouvi, mas meu cérebro não sintetizou uma resposta.

Detalhe. Ela não só cuidava da recepção como também era a proprietária da pensão.

Era uma boa pessoa aquela. Sabendo da minha atual situação, sem qualquer pretensão, abaixara o preço para que eu ficasse mais tempo, entretanto, eu não sabia por quanto mais tempo iria suportar.

Fiquei feliz por ter chegado à pensão.

Quanto caminhei até chegar aqui? Dez quilômetros? Quanto mais forte eu tinha que ser?

Um apagão nos meus olhos. Senti a energia restante escapar como que em um suspiro e só depois escutei um baque seco.

— Kuchiki! — a voz vagamente familiar se perdeu num eco e foi impossível me manter consciente.

Alguém como eu teria forças suficientes para realizar um sonho da grandiosidade de Kaien-dono...?




Recobrei a consciência sobre uma superfície morna e seca. Era a minha cama temporária.

Me fiz perguntas mentalmente, especulando como eu havia chegado até ali.

Deve ter sido um pesadelo, não é? Sem chance. O grau de realidade era demais para fazer parte de qualquer devaneio.

Meu estômago roncou, se contorcendo de fome. Ele não me deixaria pensar em hipóteses nem por mais um segundo, eu sabia.

De qualquer maneira, acabaria descobrindo. Mais cedo ou mais tarde teria de abrir os olhos e levantar-me.

Meu estômago roncou de novo e dessa vez, protestou mais alto.

Abri os olhos e ergui o corpo, nauseada.

Coloquei a mão sob a barriga, pensando que talvez aquilo diminuísse o embrulho enjoativo.

Meu quarto estava vazio, exceto pela figura de Unohana-san sentada ao meu lado adormecida.

— Unohana-san...? — murmurei surpresa, então me lembrando do que aconteceu.

Ela acordou com a minha voz, piscando algumas vezes.

— Oh... — esfregou um dos olhos, exibindo um sorriso. — Kuchiki, você finalmente acordou. Fiquei preocupada.

— E a recepção, Unohana-san?! — perguntei aflita.

— Fique tranquila. Eu pedi para que um dos meus funcionários de confiança ficasse no meu lugar por enquanto. — a maneira apaziguadora de como Unohana-san falava me acalmou.

— Me desculpe, mas eu desmaiei? — indaguei meio sem jeito.

— Sim. Também, quem dera ficar de pé nas condições em que você estava, Kuchiki. Andar molhada daquele jeito... Você devia tomar mais cuidado. O que estava fazendo? — perguntou num tom materno.

Silêncio.

Eu não sabia como iniciar esse tipo de diálogo com Unohana-san. Por mais que eu empurrasse as palavras garganta a fora, elas apenas enganchavam na boca.

Juntei as mãos com os nós dos dedos tensos. Respirei fundo antes de responder:

— Então, err...

Ela esperou uma explicação atenciosamente, mas o silêncio constrangedor nos uniu mais que qualquer grunhido que eu emiti.

— Bem, deixemos isso de lado, não é? — exibiu um sorriso sábio e paciente, levantando-se da cadeira.

Continuei a fitá-la, percebendo que estava ficando corada de admiração.

Unohana-san era gentil, bonita, madura, paciente e sábia. Qualidades que a faziam ser o meu tipo ideal de mulher. Se fosse possível, algum dia, gostaria de ser como ela.

Ela me deu as costas. A trança longa e grossa balançou de um lado para o outro quando ela caminhou.

— Ah, Kuchiki. Vou trazer uma sopa que eu mesma fiz para você. — me olhou por cima do ombro, com os olhos cheios de bondade. — É por conta da casa, então trate de comer tudo. — acrescentou como se soubesse o que eu ia dizer, desaparecendo do quarto.

Soltei o ar, por parte sentindo-me aliviada em tê-la fora do quarto. Estava me sentindo envergonhada demais para ainda ter de encarar Unohana-san.

Pulei da cama, com a irritação brotando de uma nascente que só pensou em entrar em atividade agora.

Andei apressadamente até o banheiro, sentindo o sabor amargo do fracasso começando a vazar pelos lábios.

Fiquei de joelhos em frente ao vaso sanitário, vomitando um líquido incolor e viscoso.

Arquejei, limpando os lábios rachados. Não queria, mas me rendi às lágrimas.

Rastejei entre soluços até um pequeno armário com gavetas do banheiro, procurando uma tesoura.

Encaixei entre os dedos com cuidado, sondando-a.

Mordi os lábios para abafar o som dos meus gemidos, então puxei as pontas de um dos lados do meu cabelo ainda úmido e o picotei, cortando o comprimento sem dar-me ao luxo de me importar de que jeito ficaria.

O corte uniforme que usei durante toda a minha vida e que até então se tornara como uma espécie de identidade própria, foi se desfazendo em simplórios minutos.

E conforme as madeixas negras iam caindo flácidas no chão, não foi algo que me fez hesitar. Continuei a cortar até não ter mais dúvidas de que estavam longas.

Quando terminei o trabalho de cabeleireira caseira, joguei a tesoura no chão, passando as pontas das unhas por toda a extensão do couro cabeludo agora irreconhecível.

Encolhi o corpo. A cabeça caiu entre as mãos e estas se acomodaram trêmulas nos joelhos unidos.

De repente me senti imensamente idiota. Uma garota tola que abandonou o amor de Ichigo e dos outros por algo que nem sabia se realmente valia a pena.

Por outro lado, me senti incontestavelmente falsa e ingrata por pensar essas coisas do sonho de Kaien-dono.

Cerrei os punhos até que as juntas de meus dedos ficassem salientes e avermelhados.

Eu havia me dado conta de que, inconsciente, havia tomado uma decisão.

Cortar o cabelo foi um jeito para me livrar da antiga Rukia. Essa fraca Rukia. Eu não quero mais ser ela... Porém, é preciso muito mais que um corte de cabelo para mudar. Isso não é nada se a mudança não nasce de dentro.


— Kuchiki, trouxe a sua sopa. Kuchiki, onde você está? — chamou-me Unohana-san.

Expirei profundamente.

Me recompus mais rápido do que imaginei. Abri a porta do banheiro, surgindo com um sorriso resplandecente no rosto.

— Obrigada, Unohana-san.

Obviamente, ela pareceu surpresa com o meu cabelo e por pouco não deixou a bandeja com o prato de sopa cair no chão. Para não correr o risco novamente, decidiu depositar a bandeja em cima da cama.

— Kuchiki, o que aconteceu com o seu cabelo? — indagou, desacreditada no que via.

— Ah, isso? — sorri, tocando as pontas curtas dos fios. — É só uma mudança de estilo. Estou morrendo de vontade de tomar essa sopa. As comidas da Unohana-san sempre são ótimas, não? — não dei muitos detalhes, me apressando em atacar o prato.

Unohana-san me olhou pensativamente, mas eu não liguei.

Saltei na cama, engatinhando como uma tigresa faminta até o prato.

Por algum motivo, Unohana-san pousou uma das mãos na minha cabeça, sorrindo.

— Não se preocupe, Kuchiki. Você certamente irá crescer mais do que imagina.

A fitei com os olhos embaçados de lágrimas. Aquelas palavras me encheram de motivação.






O meu dinheiro havia acabado e, para continuar na pensão, sugeri que em troca da hospitalidade da Unohana-san, eu ofereceria com grande humildade meus serviços domésticos.

Ela concordou com empolgação. Não cobrou qualquer coisa e devo dizer que fiquei enormemente grata.

Unohana-san quis me ajudar. Ela disse que seria mais que apropriado que eu arranjasse um emprego. Eu admiti, o barco que me trouxe a Tóquio estava furado.

Com tantos hóspedes que vinham e iam à pensão, não foi difícil que ela arranjasse uma recomendação para mim.

— Dizem que essa clínica está precisando de novas recepcionistas. Pensei que, talvez, você quisesse se candidatar. — ela sorriu prazerosa, trazendo um papel com o endereço e nome da clínica rabiscados.

— É do meu interesse. Obrigada. — respondi, olhando fixamente para o papel.

A entrevista seria amanhã.

Recepcionistas devem ter boa aparência e espelharem bons modos. Um modelo padronizado que se seguiu por anos, sobretudo, na área do atendimento.

Vesti o que eu tinha de mais sofisticado, maneirando na maquiagem.

Eu não tinha o hábito de me pintar, mas sabia da importância. Eles gostavam de mulheres vaidosas.

Apesar de curtos, prendi meus cabelos num coque simples, valorizando os traços faciais.

Escolhi uma calça jeans apertada. Uma camiseta bege de mangas com um blazer branco e com listras rasas.

Unohana-san insistiu para que eu usasse salto alto. Eu tive vergonha de revelar-lhe que caia a cada cinco passos quando usava calçados desse tipo, então me resignei em silêncio.

— Você está parecendo uma pequena empresária. — comentou Unohana-san, e percebi que aquilo tinha sido um elogio.

Sorri em retribuição.

— Só está faltando uma bolsa. — lembrou, mas eu não dei muita importância.

Nunca fui do tipo que andava pra cima e pra baixo com uma bolsa. Preferia mochilas.

— Eu já estou indo. — anunciei, me equilibrando no salto até a saída.

— Kuchiki, você está esquecendo a bolsa. Eu posso emprestar uma pra você.

— Não se incomode, Unohana-san. Tudo o que eu preciso já está nos meus bolsos.

Saí da pensão antes de receber uma resposta que me obrigasse a voltar.

Cambaleei um pouco constrangida.

Agarrei-me a um poste antes que tropeçasse e me espatifasse no chão.

Depois de alguns instantes de profunda meditação e adaptação, afastei-me, imaginando como seria confortante se as pessoas não me olhassem enquanto eu andava que nem um palhaço de pernas de pau.

Olhei adiante. Para minha sorte, a clínica era praticamente colada à pensão.

Só mais alguns passos, vamos lá! Concentre-se! avancei desengonçada até a porta da clínica de odontologia e próteses dentárias, por pouco não batendo a cabeça na porta de vidro.

Abri a porta e pigarreei para disfarçar. Apesar disso, as pessoas continuaram a me olhar como se um palhaço tivesse entrado.

Escutei alguns risinhos no fundo das fileiras de cadeiras para espera, mas não hesitei.

Andei — ou pelo menos tentei — de cabeça erguida em direção a recepção.

Perguntei sobre a responsável da seleção.

Me encaminharam ao primeiro andar.

Sentei em uma das cadeiras acolchoadas, aguardando as demais instruções.

Uma garota loira e bem ornamentada sentava na minha frente.

A recepcionista que me trouxe ao primeiro andar pediu para que ambas aguardassem e só então percebi que ela também concorria a vaga. A imagem me deixou aturdida. Eu sequer imaginei que teria concorrentes.

As pernas se estiraram em um espreguiçar sutil, logo as dobrando sobre si.

Ela não me direcionou os olhos um único segundo. Talvez nem soubesse da minha presença. Limitava-se apenas a acompanhar a novela que passava no pequeno televisor suspenso.

Naquele instante, um sorriso amarelo nasceu nos meus lábios.

Não dava. Aquela garota com certeza ganharia. Ela era muito bonita e se a recepcionista não tivesse falado com ela, eu certamente a confundiria com uma delas.

A loira possuía todos os requisitos. Era alta, elegante, de rosto de boneca e com vários apetrechos que eu nem mesmo sabia os nomes. Aquela era uma mulher de verdade.

De repente uma sensação estranha flagelou o meu coração. O sentimento de não ser ruim demais pra qualquer coisa que, naturalmente, as mulheres eram boas. Uma farsa...

Senti vontade de sair dali correndo, mesmo que tropeçasse e rolasse pelas escadas. Para mim, seria melhor do que deixar a humilhação consumar-se.

Mas pensei nisso tarde demais.

— Agora começaremos a entrevista. — informou a recepcionista responsável por uma das etapas.

Ela nos entregou uma folha de papel ofício.

— Quero que vocês façam uma redação com vinte linhas. O tema é totalmente livre. — agora, ela nos distribuía um caderno para que servisse de apoio.

Isso é mal. Eu nunca fui boa em redação, no entanto, era de se esperar. E depois, um tema livre? Com o nervosismo que me devorava as entranhas eu mal conseguia raciocinar.

Eu estive preparada para o tipo de ocasião que precisasse ter algo escrito, por isso, trouxe uma caneta.

Encostei a ponta cheia de tinta no papel, buscando esvaziar a mente.

Olhei para frente, percebendo que a garota já estava rabiscando qualquer coisa.

Droga. Eu sabia pra que servia aquele tipo de teste.

Eles queriam, sobretudo, avaliar a sua caligrafia e organização.

Eu, obviamente, tinha uma péssima caligrafia. Sem falar que não conseguia mantê-las sobre uma linha reta e impecável.

Soltei o ar, irritada por não ser o nii-sama naquela ocasião. Ele, com toda a certeza, passaria sem qualquer problema.

Escrevi qualquer coisa, tendo o máximo de cuidado para que as letras saíssem ao menos legíveis.

A garota terminou primeiro que eu, enterrando minhas expectativas.

No fundo, eu gostaria de ter tido uma chance decente.

A recepcionista recolhera nossas redações, analisando.

Dois homens apareceram do nada, pedindo para que a garota os acompanhasse para uma próxima sala.

Fiquei assustada. Seria possível que já tinha sido eliminada?

Após alguns minutos, a loira voltou com um sorriso triunfante no rosto. Vê-la daquele jeito me deixou apreensiva.

— Kuchiki Rukia? — chamou um dos homens, fazendo um gesto para que eu o acompanhasse.

Engoli em seco, levantando.

Segui por um corredor estreito até uma pequena sala.

Um computador estava ligado no centro desta.

— Olá, Rukia-chan. Eu quero que você, por gentileza, digite esse texto no campo do Word. — emergiu o outro rapaz, mais alto e esguio, dando-me mais um papel.

Assenti com receio, sentando na cadeira.

Abri o programa do Word, sentindo que os olhos do rapaz captavam cada movimento meu pelas costas.

Digitei timidamente, ganhando velocidade.

As palavras eram difíceis de serem digitadas com rapidez. Eram vocábulos jamais ouvidos por mim. Palavras habituadas aos dentistas, de um sentido completamente técnico.

Enganchei em algumas frases, mas enfim, acabei.

Ele pediu para que eu me retirasse enquanto anotava qualquer coisa em um bloco de notas.

A insegurança me bombardeou.

Nos fizeram esperar até demais. Eu já estava dolorida de tanto continuar sentada naquela cadeira. A garota, ao contrário, continuava calma e livre de qualquer aborrecimento.

Por último, a entrevista foi finalmente realizada pela gerente da clínica.

A gerente tinha um sorriso seco. Daqueles que você percebe que só são dados por educação ou necessidade.

Ela me fez perguntas referentes ao currículo. Perguntou se pretendia estudar e quais os meus objetivos a longo prazo. Senti-me num verdadeiro interrogatório, mas não deixei que o meu desconforto fosse visível. Disfarcei com sorrisos e gracejos que eu não costumava dar com tanta naturalidade.

Ainda sim, não me permiti ter muitas esperanças. Já sabia sem qualquer sombra de dúvida quem ela escolheu. Estava claro e límpido nos seus olhos.

— Kuchiki-san, você tem aqui um ótimo currículo! — exclamou de repente.

O elogio me impressionou um pouco.

— Você é uma garota muito bonita e tenho confiança de que qualquer empresa teria muito prazer em contratá-la... — prosseguiu.

A esperança renasceu como fênix das cinzas.

— Vejo também que é bastante ágil em digitação. Você deve saber. Bem, quero dizer, que você tem uma qualidade fundamental para essa área.

Mais e mais esperança!

— Porém, a nossa empresa está procurando um perfil diferente. Um perfil que preencha quaisquer vértices que estamos necessitando no momento, entende?

Um chute no estômago.

— Obrigada pela sua presença, Kuchiki-san. Logo que encontrarmos uma nova vaga, voltaremos e entrar em contato com você, certo? — ela assentiu com a cabeça e eu, no instinto, repeti o gesto.

Saí da sala com mais uma derrota nas costas.

A gerente andou ao meu lado, adiantando-se em chamar e apertar a mão da loira. Dando as boas novas para a recém contratada.

Estava tudo bem, não é? Recepcionista, no fim das contas, era uma profissão que não se encaixava na minha maneira de ser.

Não pensei mais nada. Eu só estava tentando montar qualquer desculpa idiota para me sentir menos desapontada.

Desci as escadas sem me importar com o salto.

Ele pareceu comovido. Deu-me um desconto e não tentou me derrubar até em casa.





Se havia alguém capaz de entregar currículos em quase toda a Tóquio, esse alguém era eu.

Os resultados não foram lá muito satisfatórios. Migrei a várias entrevistas, mas não passava em nenhuma.

Comecei a achar que estivesse sendo vítima de uma maré de azar das grandes.

Sete meses depois, fui contatada pelo dono de uma cafeteria, amigo de Unohana-san. Dizia ele que correram boatos (provavelmente não passaram da pensão) de que eu cantava muito bem e que, porventura, estava precisando justamente de uma garçonete que soubesse cantar.

Não houve seleção. Ele me fez perguntas simples e eu respondi no mesmo nível de simplicidade.

Ele pediu para que eu lhe desse uma demonstração da minha voz.

Não fiz menção em contestar.

Cantei uma música de Jmusic contemporânea. Ele ficou encantado e, inclusive, se deu ao trabalho de bater palmas.

Fui contratada.




O tempo passou e já fazia um ano desde que eu saíra de Karakura.

Continuei trabalhando de garçonete cantora na cafeteria e, modéstia parte, minha voz atraia muitos fregueses.

Lembro-me que a primeira coisa que fiz com o dinheiro ganhado do primeiro salário foi comprar um violão novo.

Aquilo me provocou uma sensação agradável de forma inexplicável, tal como as músicas do CD de Kaien-dono.

Aproveitei o dinheiro para chegar a novas gravadoras, mas elas batiam o pé com a rejeição.

Por mais que eu tentasse, elas não estavam interessadas em um CD de uma banda cujo vocalista já estava morto.

Não desanimei.

Vez por outra, no meu tempo livre, corria atrás das pequenas gravadoras que ficavam tentadas, mas procuravam não se arriscar.

Com o tempo, a ideia de nunca mais voltar para Karakura me passou vagamente pela cabeça.

Já havia se passado muito tempo, e seja por bem ou por mal, acabei me acostumando a Tóquio.

Para se ter uma ideia, eu nem mais sabia deduzir como as coisas deviam estar por lá atualmente.

O sonho de Kaien-dono transformou-se na minha eterna desculpa para não ter de encarar Ichigo.

— Com licença, cavalheiro. No que eu poderia ser útil? — indaguei a um rapaz com um jornal bem em frente ao rosto.

Ele abaixou o jornal para ter um diálogo mais direto.

Imediatamente, vi que, naquele rosto, existia algo bastante familiar.

— Bem, eu... — a surpresa fez morrer a frase na sua garganta. — Kuchiki-san?!

Senti que ele me reconheceu mais do que eu a ele. Tentei puxar do fundo da memória aquele rosto. Os olhos cobertos pelo óculos.

— Sou eu. Não lembra? Ishida Uryuu! — reapresentou-se, pondo as mãos no peito.

O nome foi mais eficaz do que o rosto.

— Ishida! O que você está fazendo aqui? — perguntei boquiaberta.

— Eu ia fazer a mesma pergunta. — ressaltou. — Mudei-me para Tóquio faz um tempo. Vim trabalhar com um grande engenheiro de robótica.

Rapidamente compreendi que a sua opção de carreira, desde a época do colegial, parecia bastante sugestiva.

— Ah, entendo. Como pode ver, eu estou trabalhando temporariamente nesse lugar. Fico surpresa em vê-lo por aqui... Realmente, não imaginei que fosse ver ninguém conhecido. — suspirei, coçando a cabeça.

— Você cortou o cabelo, hã? Ficou bom. — observou.

— Obrigada. Você também mudou de estilo. Seus cabelos estão mais curtos.

— Verdade... Mas me diga, como está o Kurosaki? Vieram juntos? — interrogou.

Tive a impressão de que ele saiu de Karakura bem antes de mim.

— Não. Eu vim sozinha. — respondi, tentando esconder o desconforto que aquela conversa causava.

Evitei os seus olhos, erguendo o bloquinho de notas.

— Desculpe, Ishida, mas você pode me dizer o que quer comer ou beber? Meu chefe é uma pessoa legal, mas não posso abusar.

Ishida reprimiu a montanha de coisas que queria me contar e apressou-se em me dar o que eu queria.

— Um sanduíche de queijo e um cappuccino com chantili.

— Certo. Aguarde só um minuto. — rabisquei o pedido no papel.

— Espere um pouco, Kuchiki-san. — pediu ele, com a voz mais séria.

Virei para ele sem dizer nada.

Ele olhou fixamente nos meus olhos, entrelaçando os dedos em forma de concha enquanto apoiava o queixo.

— E a Inoue-san? Teve notícias dela? — indagou em um murmúrio.

— Ishida... — sussurrei.

— Não é nada demais. Só queria saber como todos estavam. — desviou os olhos, repuxando um curto sorriso.

Ah, eu havia me esquecido do amor platônico que Ishida sentia por Inoue. Eu não sabia respondê-lo sem que magoasse seus sentimentos.

Dei um profundo suspiro e Ishida sorriu para mim, acabando com o silêncio que se implantou durante alguns segundos.

— Ouvi dizer que a cantora daqui é muito boa. Quero ouvi-la cantar. Meu chefe está procurando um novo talento... E deixou isso como tarefa minha. — falou com tédio.

Arregalei os olhos num salto.

— Você por acaso trabalha para um produtor musical? — perguntei com as expectativas a flor da pele.

— Sim. Vim para Tóquio com o propósito de me tornar um grande engenheiro robótico. Você deve saber, sou apaixonado por tecnologia desde mais novo. E, na época do colégio, eu tinha um ídolo dessa área. Ele era um verdadeiro gênio. Pretendia vir para Tóquio e trabalhar com ele, mas as coisas não foram como esperei. Ele não trabalha mais com robôs. Foi terminantemente proibido depois de ter criado uma linha robótica perigosa às pessoas. Eles eram violentos, verdadeiras armas de guerra... Os militares ficaram interessados até saberem que não conseguiam controlar as máquinas. Então, ele teve suas autorizações cassadas. — o tom era tão desgostoso que suspeitei que Ishida estivesse arrependido de vir a Tóquio. — Hoje em dia, ele tem uma gravadora até renomada. O que dizer? São áreas completamente diferentes, mas o fascinou...

Me vi batendo as duas mãos em cima da mesa de Ishida, a poucos centímetros do seu rosto.

— Ishida! Por favor! Eu preciso falar com esse produtor musical! Tenho o último CD produzido pelos Thunders! Banda que era grande sucesso há três anos! Por favor, arranje um jeito para que eu converse com ele, eu te peço! — exclamei quase em um grito.

Ele piscou algumas vezes, sem entender o tamanho da exaltação. Acomodou uma parte do cabelo por trás da orelha, em seguida, erguendo as lentes do óculos.

— Claro... Já que somos amigos. Mas eu já vou avisando, Kuchiki. Ele é muito perfeccionista.

— Não tem problema. Ele pode vir amanhã? — perguntei ansiosa.

— Bom...

— Kuchiki! Está na hora de você cantar! — para meu desalento, meu chefe chamou-me para o pequeno palco improvisado.

— Droga. Tenho que ir, Ishida. Vou levar seu pedido. Não sai daí, me espera! — corri até o balcão, dando o papel para outra garçonete e subindo no palco.

Os dois homens que me acompanhavam ficaram em seus postos: violão e piano.

Levei as duas mãos até o microfone, me aquecendo antes de iniciar qualquer canção.

Cantei uma das músicas do repertório escolhido pelo meu chefe, encantando a platéia de fregueses que não tiravam os olhos de mim.

A cafeteria tinha crescido consideravelmente desde que eu comecei a trabalhar e cantar por aqui. As pessoas vinham só para me ouvir cantar.

Vi Ishida me olhar com uma expressão pasma. Ele puxou o celular do bolso, ligando para alguém com uma imensa alegria.

Fiquei curiosa. Queria saber se ele estava falando com aquele produtor musical, mas não podia abandonar minha pequena platéia.

Cantei umas três músicas. Depois houve uma pausa e eu aproveitei para ir à mesa de Ishida.

Ele saboreava o sanduíche de queijo, me acompanhando com os olhos.

— Kuchiki-san, não sabia que você era a cantora da cafeteria. — comentou, limpando os lábios com o guardanapo.

— É, eu sou. — rebati, brincando com os dedos. — Então. Você falou com o produtor?

— Sim. Ele virá amanhã a tarde. Não se preocupe, eu o acompanharei.

Essa confirmação me entusiasmou.

— Fico grata, Ishida! Grata demais! — enfiei uma das mãos no bolso do avental, feliz. — Tome, esse é o CD dos Thunders. Peça para seu chefe escutá-lo.

Ishida pegou o CD de bom grado.

— Me agradeça quando o CD estiver produzido, Kuchiki-san.





No dia seguinte, eu esperei ansiosamente pela chegada do tal produtor musical e Ishida.

Antes de chegar ao trabalho, preparei mentalmente diversas falas de efeito e persuasão.

Se eu o convencesse pela lábia, ficaria mais fácil.

Aguardei a manhã e o início da tarde inteira, mas eles não haviam chegado.

Rói minhas unhas de ansiedade. Nunca cultivei aquele péssimo hábito, mas, naquela hora, eu precisei de uma válvula de escape.

Meu chefe pediu para que eu me preparasse para cantar, e foi o que fiz.

Minha atenção se voltou a porta. Não queria perder a entrada dos meus tão esperados convidados.

Os fregueses, como de costume, pararam para apreciar. Alguns até ficando de pé.

Naquele instante, um homem de vestes estranhas e tradicionais adentrou a cafeteria. Parecia não passar de um reles comerciante.

Um chapéu de listras verdes acentuou ainda mais a aparência estranha. Seus olhos estavam invisíveis por baixo da sombra que as bordas do chapéu criava.

De repente, ele olhou pra mim. Senti que estivesse me encarando, mas não pude fazer o mesmo.

Até o cabelo loiro e desgrenhado ajudou a esconder os olhos misteriosos.

Ele esticou um sorriso maroto, coçando a barba mal feita.

A visão de Ishida ao seu lado fez-me desacertar uma ou duas notas, mas procurei manter-me afinada.

O rapaz o conduziu até uma das mesas do centro. Ele apontou para mim, sem perceber que seu chefe já me fitava com grande interesse.

Minutos depois, meu tempo de cantoria chegou ao fim e não perdi mais tempo.

Respirando fundo, tratei de caminhar ao encontro daqueles dois.

— Kuchiki-san! Você estava ótima! — elogiou-me Ishida e eu assenti com humildade. — Deixe-me apresentá-la ao meu chefe. Este é Urahara Kisuke. Urahara-san, essa é Kuchiki Rukia. Uma grande amiga minha.

— Oh, é um imenso prazer conhecer a amiga do Uryuu-kun! — ele estendeu a mão, eu fiz o mesmo e quase fui chacoalhada por ele.

— Eu digo o mesmo... Senhor... — murmurei, articulando o braço dolorido.

Do nada, uma elevação nasceu por dentro do quimono de Urahara, movendo-se como um rato por baixo do tapete.

Não contive um grunhido assustado que saiu do fundo da garganta.

A elevação serpenteou até a borda do quimono, revelando-se.

Duas orelhas acompanhadas de uma juba de pelúcia saíram.

— Iniciando reconhecimento de área. — falou o bichinho numa voz robotizada. Ele girou a cabeça de um lado para o outro como se estes fizessem uma varredura invisível. — Inspeção concluída. Nenhum perigo eminente. O lugar está seguro. — assegurou, saltando para cima da mesa.

— Mas, o que é isso...? — indaguei com as palavras a saírem involuntariamente.

— “O que é isso?” — parafraseou o que pareceu ser um leão, me olhando. — Tenha mais respeito, garotinha. Eu tenho um nome. — cruzou os braços.

Achei tudo aquilo muito inacreditável.

— Não se preocupe, Kuchiki-san. Esse é o Kon. Um dos meus protótipos mais bem sucedidos. De modelo único, é claro. — informou-me Urahara, satisfeito com o espanto em meu rosto.

Era incrível. Kon era, sem dúvidas, um bichinho de pelúcia, mas seus membros moviam-se e articulavam como se estivesse vivo, diferentemente daqueles robôs que víamos fazer movimentos repetitivos e monótonos.

Ele olhou para mim com os olhos de plástico brilhando.

— Duvida da minha capacidade? Posso até mesmo ver o que há por dentro da sua roupa. Huhu! Embora eu não perca meu tempo com garotas despeitadas como você. — disse o pequeno robô, contorcendo-se como um velho pervertido.

Fiquei vermelha como um pimentão.

— Seu imoral! — dei um tapa na cabeça do leão que o jogou para fora da mesa, caindo no chão.

— Kuchiki-san... — murmurou Ishida, preocupado.

— O que pensa que está fazendo, sua idiota?! Sabia que meus circuitos são muito delicados a quedas?! — agonizou o leãozinho, ainda estendido no chão.

— Desculpe por ter feito isso com o seu robô, Urahara! — pedi desculpas quase implorando.

Ele deu uma gargalhada sonora, puxando um leque dos bolso.

— Você é muito engraçada, Kuchiki-san! Não se preocupe... Infelizmente, Kon não adquiriu a personalidade originalmente programada para ele e por causa disso, não posso tomar partido das conseqüências que as indelicadezas dele causam.

— Urahara... Que tipo de criador você é? Droga! — resmungou Kon, pondo-se de pé e escalando a perna de Ishida.

Urahara parou de rir, erguendo a ponta do chapéu.

Finalmente eu vi seus olhos. Eles eram sérios e de uma contundência crítica que fez meus propósitos vacilarem.

— Então, Kuchiki-san... Uryuu-kun me contou sobre você. E devo dizer que você cantou esplendidamente bem. Fiquei interessado. — ele disse, abanando o leque.

Limpei a garganta, cerrando os punhos e afugentando meus medos.

— Muito obrigada, senhor. Mas meu verdadeiro objetivo é que o senhor produza o último CD dos Thunders. Eu tenho esperanças que o talento deles o cative! — retruquei com firmeza.

Urahara levou uma das mãos até o quimono, puxando o CD dos Thunders do bolso. Ele mostrou-me, analisando o mesmo. Deu-me uma rápida olhada, ainda mais sério.

— Já ouvi a música dos Thunders. Também sei da história deles. Por que eu produziria o CD de uma banda quase morta? Soube que Shiba Kaien morreu em um acidente de trânsito. — depositou o CD em cima da mesa. Senti que todas as respostas, antes organizadas mentalmente, haviam sumido, deixando-me no vazio da incerteza. — Eu estou mesmo interessado é em você, Kuchiki-san. O modo como você cantou foi brilhante. Se estiver interessada, vamos deixar essa bobagem de produzir o CD do morto de lado e focar na sua carreira. O que me diz? Você me faria muito sucesso.

Toda a minha determinação quebrou. Senti meu coração ser esmigalhado com o que ele disse.

Ele me olhou cautelosamente, como se estivesse esperando uma reação.

Eu baixei a cabeça, com os lábios trêmulos.

Decidi terminar com um sorriso.

— Deixar pra lá...? Só pode estar brincando. — franzi o cenho, fungando. — Desculpe, Urahara. Produzir o CD dos Thunders é o meu sonho. Não vou deixar que o menospreze desse jeito. Eu não tenho interesse na sua proposta. Obrigada por vir até aqui... E sinto muito se causei qualquer tipo de problema. — apanhei o CD, dando-lhes as costas.

Isso mesmo. Com o tempo, o sonho de Kaien-dono, tornou-se mais parte de mim do que eu havia previsto. Agora partilhávamos e ansiávamos a mesma vontade.

— Espere, Kuchiki-san. — pediu calmamente.

Parei e olhei para ele de esguelha.

— Ainda não vá embora. Precisamos discutir os detalhes de como serão os preparativos para o lançamento do CD dos Thunders. Eu aceito produzir as músicas. — ele apoiou o queixo na mão, fitando-me com ternura.

— Você... Está falando sério? — me virei para ele, tremendo.

— Absolutamente.

Calei-me por um momento. Meu coração disparou, latejando em minhas costelas. A ficha ainda não tinha caído.

Depois de tantas rejeições... Isso estava acontecendo de verdade?

Minhas pernas fraquejaram e eu caí de joelhos no chão, cobrindo os soluços que escapavam enquanto eu me entregava às lágrimas.

— Kuchiki-san...! — Ishida agachou-se para me ajudar.

Continuei em choque.

Eu finalmente podia voltar pra casa sem temer qualquer coisa. De cabeça erguida.



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Notas finais do capítulo

Comentários? *_*



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