Bonds escrita por frozenWings


Capítulo 22
Capítulo 20 - Alternativo


Notas iniciais do capítulo

Capítulo KaiRuki aqui! ehh
Não muito diferente do IchiRuki, tirando a morte do Kaien, não é? kkk
Mas então, como eu já havia avisado no outro...A partir do próximo capítulo daremos início aos DIAS ATUAIS. @@
Espero ter leitores dispostos a ler até lá. Desculpem a demora, mas estou tendo dificuldades em entregar os capítulos tão rápido quanto antes.
Boa leitura. ♥



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Toushirou só foi acordar por volta das nove horas.

Tinha tido um sonho maluco onde as coisas não faziam o mínimo sentido.

Espreguiçou-se. As várias vértebras do corpo encontravam-se doloridas.

Não era fácil e muito menos cômodo passar a noite em uma poltrona de hospital, mas não se arrependia.

Durante esses últimos dois meses, passara a seguir essa rotina à risca. Sem vacilar.  

            Ele passou os olhos pelo quarto, intrigado. Havia algo diferente no habitual e enjoativo cheiro do hospital. Sentiu uma agitação na garganta, reconhecendo o pesar tóxico no ar.

Evidente que saia de alguma ponta de cigarro.

— Finalmente resolveu acordar. — falou Grimmjow antes que Hitsugaya pousasse os olhos em cima dele.

O garoto o fitou sem reação, vendo as baforadas saírem de seus lábios.

Não sabia dizer o que era mais inoportuno. A presença de Grimmjow ou o cigarro.  

— Você é algum tipo de idiota?! Não sabe que aqui é proibido fumar? — emburrou-se, disposto a levantar e arrancar o cigarro da boca do guitarrista.      

— Foi mal, foi mal. Eu tentei parar, mas não deu. Maldito vício. — foi ousado. Esfregou a ponta do cigarro na parede branca, sujando-a com as cinzas.

— Grimmjow! — grunhiu o grisalho, a beira de um ataque.

— Acalme-se, eu só vim visitar a nossa bela adormecida antes de ir pra casa de Tatsuki. — se encaminhou até a única cama do quarto, com os olhos cheios de ternura; situação bastante rara. — Vida boa, hein, Kaien? Fico me perguntando quando vai decidir acordar. Não podemos continuar com essa banda sem você, cara.

Desde o acidente, o coma se manteve persistente. Kaien não demonstrava sinais de melhoras. Apesar disso, os Thunders procuravam não desanimar, mesmo que as chances fossem remotas, elas ainda existiam. Acreditavam que seu líder retornaria mais cedo ou mais tarde.

— Não fume perto da sua namorada. Pode fazer mal ao bebê. — aconselhou Toushirou mais como um verdadeiro autoritário.

— Eu sei disso, mamãe. Da última vez que esqueci, Tatsuki me deu um dos piores socos que já recebi. — respondeu em uma risada, ainda com os olhos fitos em Kaien.

— Onde estão os brincos dele? — indagou, franzindo a testa.

— Estão comigo. Às vezes eu limpo. — murmurou, com o rosto virado.

Grimmjow desconfiou de Toushirou ter ficado sem jeito por revelar aquilo. Tentou a provocá-lo, mas achou mais saudável não fazer gracinhas.

— Entendo. Não fazia ideia do quão empenhado você é. Desse jeito, sua namorada vai acabar se cansando de você. — correu os dedos pelos cabelos, jogando-os pra trás.

— Cale-se! — falou num tom severo, encarando-o. — Se Hinamori me deixasse por causa disso, eu não poderia amar uma mulher assim.

— Convincente. — abriu um sorriso, erguendo um óculos escuro. — Bem, estou de saída. Acho que tive sucesso em espantar uma boa parte dos repórteres, no entanto, os mais audaciosos ainda estão rondando que nem uns urubus. Tome cuidado.

— Não fale dessa maneira. Urubus rondam carniça... — lançou um olhar entediante para Grimmjow, esperando que ele falasse algo, mas não aconteceu.

O azulado esticou mais um de seus sorrisos, saindo do quarto silenciosamente.

Não gostava muito da ideia, mas Toushirou tinha de admitir. Grimmjow, de certa forma, havia mudado. Alguns deslizes, é verdade, mas a gravidez de Tatsuki o transformava lentamente em alguém mais maduro e, quem sabe, responsável.

            Hitsugaya levantou-se, pensativo. Voltou o olhar para Kaien, cansado de despertar e vê-lo na mesma condição. Dormindo profundamente.

 Não queria reclamar. Um coma, embora terrível, ainda sim, conseguia ser melhor que a morte. E pouco a pouco, havia de se acostumar. O tempo, talvez, não estivesse ao lado de Kaien.

Ele arrastou os pés, levantando a janela para que os resíduos da fumaça do cigarro fossem aspirados pelo ar.

O vento entrou forte. Fustigava os cabelos alvos, batendo gotas de chuva em seu rosto. 

O garoto suspirou. Por um segundo achou que tivesse um chuveiro natural.

Ichigo e Rukia conversavam entre as sacadas, como costumavam fazer antigamente.

A pequena podia vislumbrar o entusiasmo estampado na cara do rapaz toda vez que comentava sobre seu primeiro emprego, detalhando cada momento, mesmo se este fosse desnecessário.

Para ele, um novo mundo caíra em suas mãos. As pessoas não eram os mesmos intolerantes que costumava encontrar no tempo do colégio.

Portavam-se como verdadeiros adultos, à exceção de Senna, a única sem limites para as brincadeiras do tipo infantis.     

De qualquer modo, Ichigo jamais imaginara um mundo tão esplêndido, cheio de engrenagens para o conhecimento e amadurecimento.

Já passava o dedo por um folheto de opções para diversas faculdades. Ainda estava cedo pra firmar um curso, mas pretendia ingressar para um o mais rápido possível.

Rukia sorriu. De repente, o flagrou apaixonado pelo próprio crescimento. Era bom, mas não podia dizer o mesmo de si própria.

Desde que Kaien ficara inabilitado, perdendo os parâmetros básicos de sua vida, o mundo de Rukia havia pausado.

Trabalhava como qualquer pessoa que visava o dinheiro, somente o dinheiro.

Não tinha planos. Sentia-se mal por agir desse modo. Não por ela, mas por Ichigo.

O ruivo, uma vez ou outra, comentava por alto sobre cursos que achava que cairia bem na personalidade da namorada. Ela apenas assentia, dizendo que iria analisar as opções.

Só promessas, promessas como tantas outras feitas e não cumpridas. 

Um reboliço formou-se na sua barriga. Admitir a si mesma que queria visitar Kaien, queimava-lhe as bochechas.

Decerto, Toushirou e Rukia eram os visitantes mais presentes do hospital. Arranjavam qualquer desculpa para estarem ao lado de Kaien.

Riruka não ficava pra trás. A rosada cuidava de aparar as pontas do cabelo do moreno, aproveitando a ocasião para tirar-lhe a barba.

Havia algumas vantagens em Kaien estar dormindo. Dessa forma, não sentia quando Riruka passava cera em torno de suas faces, preparando-o para a árdua tarefa de depilação.

— Está começando a chover, Ichigo. — observou quando uma das gotas batera na ponta de seu nariz. — Acho melhor entrar.

— Espere, Rukia. — pediu ele, sem ignorar o fato de senti-la mais distante durante esses meses. Praticamente não eram mais namorados. Encontravam-se assim, nessas conversas casuais, quase sem propósito. O desgaste da relação ia mais rápido do que imaginou. — Então... Você me disse que o grande causador do acidente do Kaien foi Takeshi, o pai dele, não é? Como estão as investigações?

— Estão considerando a hipótese de arquivar o caso. — murmurou com tristeza.

— Não podem fazer isso! O próprio Kaien revelou que foi Takeshi a guiar o carro, não é? — Ichigo pressionou os dedos na barra de ferro de sua sacada, exaltado.

Rukia o olhou com surpresa, sem saber que ele se importava daquela maneira.

Quando o havia perdido tanto de vista?

— Eles disseram que pode ter sido só impressa do Kaien-dono. Fora ele, ninguém mais serviu de testemunha ocular... — acrescentou, sem emoção.

Ichigo bateu a mão contra a barra, com o cenho franzido. Se existia algo que detestava no mundo, essa era a chamada injustiça.

Takeshi sumia como fumaça, apagando qualquer rastro deixado pra trás.

Foi difícil até mesmo para a polícia encontrar o paradeiro do golpista barato. Os dias passaram e as investigações não avançavam. Sempre eram cheias de buracos indecifráveis. Não havia provas suficientes que apontassem Takeshi como culpado. Nem ao menos o carro fora encontrado.

Aquilo deixou a todos frustrados.

— Droga! Deve ter algo que possamos fazer! Não tem de terminar assim.

— Infelizmente não há mais nada a se fazer, Ichigo. — suspirou ela, massageando a testa com uma das mãos. — A chuva está engrossando. Outra hora nos falamos.

A pequena deu as costas, fechando a porta de vidro que separava o quarto da varanda.

Ichigo continuou imóvel, seguindo-a com os olhos até que esta saísse do quarto.

O ruivo baixou a cabeça. Sentia um pressentimento estranho. Como se ela o evitasse. Isso o amargurava. Quanto mais tentava alcançá-la com as mãos, mais facilmente a garota escapava entre as frestas dos dedos.

— Rukia. — chamou Byakuya ao vê-la atravessar o corredor.

— Não foi trabalhar hoje, Nii-sama?

O moreno aproximou-se da irmã.     

— Hoje é meu dia de folga. — respondeu, parando ao seu lado com um espanador na mão. — Preciso que faça um favor pra mim.

— Claro.                                      

— Estou aproveitando o dia para fazer uma boa faxina, porém, tenho de parar. Yoruichi está vindo para acertamos os últimos detalhes de nosso casamento. 

— Já? Ela parece apressada. — comentou a morena.

Byakuya pigarreou, sem dar-lhe uma resposta precisa sobre aquilo. Sabia bem por que a noiva insistia para que o casamento logo ocorresse, mas optava por não revelar.

— Rukia, eu preciso que você termine de arrumar o quarto onde Shiba Kaien e os demais dormem. Aquele é o último lugar que falta ser limpo. — ele prosseguiu, observando-a.

Rukia não estranhou. Seu irmão era cheio de trejeitos exagerados quando se tratava de faxinas. Exigente e perfeccionista, cuidava de fazer isso por conta própria, já que julgava os serviços alheios como ineficientes. Com isso, raramente recorria aos outros.

— Por que eu, Nii-sama? Mande os Thunders. — sugeriu, meneando a cabeça. 

— Eles recuaram. — retrucou, entragando-lhe o espanador.

— Por quê?

— Quando souberam o que eu exigia para uma boa limpeza, julgaram-se incapazes de limpar apropriadamente. Sendo minha irmã, você conhece os preceitos básicos que regem a limpeza feita por mim, além de que, você é, automaticamente a co-proprietária desse lugar. Não tolerarei relutas de sua parte. — ele não lhe deu opções. Apenas continuou sua caminhada até a escada, descendo. 

 — Nii-sama, por favor... Reconsidere.

O Kuchiki parou.

— Não recue. Ao contrário deles, você saberá o que fazer. — a sondou com uma ponta duplicidade desconhecida, em seguida, sumindo.  

Sem mais chances de recusa, ela seguiu, medrosa, ao quarto onde Kaien dormia junto a Renji e Hisagi.

Era o maior quarto da casa. As camas eram bem distribuídas naquele espaço. Podiam conviver ali sem terem a privacidade invadida.

Rukia se direcionou a cama do moreno. Não acreditava que ainda estava desfeita.

Como os homens podiam ser tão desordeiros?

A morena correu os olhos pelo quarto, vendo que Byakuya não tinha arrumado quase nada. Estaria ele se aproveitando de seu posto de irmão mais velho?

Ficou pensando por onde iria começar.

Buscou qualquer indício da “limpeza” de Byakuya, assim teria um ponto de partida.

Olhou a cômoda. Uma de suas gavetas estava aberta, com algumas roupas cuidadosamente dobradas e colocadas logo acima.

Rukia se aproximou, decidindo começar por ali. Enquanto tateava algumas das outras roupas, viu algo reluzir do fundo desta mesma gaveta.

A pequena piscou algumas vezes, apanhando o objeto. Era um CD.

Dentro da capa, um pedaço de papel dizia em kanjis muito bem pincelados: A escada para o sucesso.

Esbugalhou os olhos. Ela reconhecia a caligrafia. Kaien tinha escrito aquilo.

De repente, parecia que o oxigênio tinha acabado. O ar faltou nos pulmões. Ela correu desenfreada até um pequeno aparelho de som na parte de Renji, ligando-o.

Abriu a capa, tirando o CD e inserindo-o sem demora dentro do aparelho.

O dedo tremulou, apertando o play.

O visor identificou doze faixas. E não era só isso... Dentro daquele CD estavam todas as novas músicas criadas durante o ano inteiro. Feitas especialmente para o show em que cantou com Kaien.    

Ele planejava lançar o CD depois do show. Procurar uma nova gravadora.

Rukia se emocionou. As lágrimas vieram à tona quando a voz de Kaien alcançou seus ouvidos numa canção avassaladora.

Seus joelhos fraquejaram e ela agachou-se no chão, tentando recompor-se.

Os outros Thunders teriam conhecimento desse CD? Não seria possível, não é? Eles teriam feito ou comentado algo.

Rukia não quis formular perguntas pra si mesma. Ela apanhou o CD, andando as pressas até a sala, onde encontrou Renji e Ulquiorra discutirem sobre alguma coisa que pouco importava.

— Renji, Ulquiorra! — ela exclamou, pulando o corrimão e por pouco, não caindo.

— Hey Rukia, pra que todo esse alvoroço? — indagou Renji, coçando a nuca.

Ela não respondeu. Ergueu o CD.

— Esse CD... — murmurou o tecladista, dando a Rukia a certeza que procurava.

O CD era familiar.

— Vejo que o conhece, Ulquiorra. Por que ele estava guardado quando deveria estar por aí, buscando ser usado por uma gravadora?!

Renji passou os dedos pelo cabelo, antevendo a confusão armada.

— Rukia... Escute. Todos nós tomamos uma decisão. Só vamos divulgar esse CD caso Kaien acorde. Sem essa condição, não há motivo para retomarmos nossas carreiras.  Você tem de encarar e aceitar.

A garota cerrou os punhos, mordiscando o lábio inferior.

— Eu entendo os seus sentimentos, Renji, mas vocês não deveriam agir como se esse fosse o fim. Kaien-dono ficaria feliz se o CD fosse lançado. Quem sabe até isso ajudasse na recuperação dele.

— Não há Thunders sem a recuperação de Kaien. — sentenciou, ríspido.

— Renji, por favor, você o está matando...! Kaien-dono gostaria que...

— Você não sabe o que Kaien gostaria. Eu não quero mais falar nesse assunto, Rukia. Me recuso a dar qualquer passo sem o meu líder. — ele a encarou com os olhos cáusticos de fidelidade.

Rukia engoliu em seco, sentindo o impacto daquele olhar. Não podia refutar. As palavras tinham ficado enroscadas em sua garganta, sufocando-a.

Ela caminhou com os pés pesados, parando em frente a saída da sala. Não olhou pra trás, apenas batendo a porta.

Rukia não foi pra longe. Limitou-se a escalar uma árvore que ficava no quintal de trás da residência de seu irmão.

A pequena apreciava toda e qualquer árvore. Preservava os antigos hábitos. No orfanato, quando queria pensar sozinha, subia nas árvores do bosque. Lhe transmitia uma sensação de paz e calmaria... E naquele momento, era o que mais precisava.

Ela deitou no galho que definiu como sendo o mais confiável. As folhas a protegia do calor incessante do sol.

Aquele era um limoeiro. Ele fora plantado antes mesmo de comprarem a casa.

Ela permaneceu em silêncio, olhando demoradamente para o CD em sua mão.

Definitivamente, faria algo a respeito dele. Mais do que qualquer um, sabia o quanto Kaien se esforçara para produzi-lo. Não esperaria por seu despertar. Faria uma boa surpresa. 

 — Estou atrapalhando? — indagou alguém que ousou invadir o seu refúgio.

A garota aprumou o corpo, descobrindo quem era o invasor. 

— Ichigo... — sibilou, percebendo o quanto ficou submersa em seus pensamentos.   

— Honestamente, as árvores que você escolhe estão ficando cada vez mais impossíveis de serem escaladas. — falou, arfando.

— Limoeiros são fáceis.

— Não são.

— Sim.

— Não.

— Sim.

— Cale-se.

— Sabe, atualmente estou recebendo muitos pedidos pra que eu me cale. Minha voz não deve ser tão ruim. — ela esgueirou um sorriso.

— Na verdade, eu me acostumei com a sua voz... Mas no início, eu achava que você fosse um garoto disfarçado de menina.

— Maldito... O que veio fazer aqui? Me tirar do sério?

— Não seja boba. Hoje em dia existem coisas mais divertidas que isso. — ele arqueou uma das sobrancelhas, sarcástico.

A pequena arrancou um limão próximo a eles, exibindo-o.

— Ichigo, você é igual a esse limão. Insuportavelmente azedo...

— Azedo? Pensei que limões fossem amargos...

— Pra mim eles sempre foram azedos. — suspirou, jogando o limão no chão.

— Idiota, não desperdice frutas só pra dar um exemplo tão inútil quanto esse! — ele fez uma careta, sentindo pena do limão.

— Estou no meu quintal. Posso fazer o que quiser, inclusive, expulsar você. — sorriu, alfinetando-o com um aviso sutil.

— Parece justo. — Ichigo se encaixou melhor sobre o galho vizinho, contemplando o céu à frente da árvore. — Que bela visão.

Rukia o fitou carinhosamente.

— Ichigo, por que não está no trabalho?

Ele franziu a testa, olhando-a de esguelha.

— Acho que pelo mesmo motivo que você não foi ao trabalho. Hoje é domingo.

— Ah, é verdade.

A morena se colocou em pé, equilibrando-se no tronco como se estivesse no circo.

— Hey Rukia, você vai acabar caindo! Pare de agir como uma maluca! — bufou, segurando-a na mão.

Aquilo, de um jeito estranho, a fez perder o equilíbrio e, felizmente, cair por cima do colo do rapaz.

— Isso foi perigoso. Você quase se espatifou no chão! — segurou-a com força, pressionando seu corpo contra o peito.

O braços de Ichigo eram quentes e aconchegantes. Rukia estremeceu. A ideia de não sentir mais os braços acolhedores de Ichigo a apavoravam.    

— Ichigo... — ela gemeu, abraçando-o e escondendo o rosto em seu peitoral.

O ruivo não compreendeu mudança súbita de comportamento.

— Está tudo bem... Só foi um susto... Você não precisa ficar desse jeito! — tentou tranquilizá-la sem jeito pra aquilo, é verdade, mas fez o que pôde.

A garota não respondeu.

Sem aviso, sentou-se sob o colo do morango, estreitando o espaço entre seus rostos.

Mesmo intimamente corado, Ichigo não relutou e nem falou qualquer coisa.

Os lábios agiram cúmplices. Encostaram um no outro e deslizaram por suas extensões, desbravando-as.

Rukia deixou o CD cair por cima de seu colo, erguendo as mãos às bochechas de Ichigo, tocando-o.

Foi um beijo lento e prolongado. Fazia tempo que Rukia não sentia seu coração palpitar daquela maneira... Ela afastou a boca só para poder suspirar, no entanto, logo foi novamente tomada.

Algumas lágrimas molharam os olhos, mas, felizmente, Ichigo não notou.  

Ichigo pressionou suas costas, elevando uma das mãos à nuca da pequena, onde prendeu as madeixas negras.

No fim da noite, Rukia tinha disposto um pouco do seu tempo para escrever uma carta em cima da escrivaninha.

Havia uma mochila gorda ao seu lado. Parecia congestionada de roupas e outros apetrechos.  

No fim da carta, ela desenhou um chappy de longos cílios que em sua singela opinião, era a coisa mais fofa do mundo.

— Pronto. — largou a caneta, dobrando o papel e encaixando-o dentro de um envelope endereçado a Ichigo. — Esse é o último. — sentenciou pra si mesma, olhando a carta.

Enfileirou os três envelopes, organizando-os.

Puxou a mochila, a ajeitando nas costas.

Rukia caminhou até a porta de vidro, tendo acesso a sua varanda.

Parecia ter algo em mente.

Tomou distância, firmando os pés no chão. Correu rapidamente, saltando a barra de ferro.

Ao contrário do que imaginou, não teve uma aterrissagem das mais confortáveis.

Caiu com tudo na sacada de Ichigo, feliz por ele não ter acordado.

Ela limpou os joelhos feridos, abrindo a porta de vidro do ruivo.

Como sempre, ele era um descuidado. Não havia tranca na porta.

A garota andou na ponta dos pés, aproximando-se do namorado adormecido.

Enfiou metade do envelope no travesseiro, olhando a sua face.

Ela estava calma... Bem diferente de quanto Ichigo estava de pé.

Rukia sorriu, acariciando-o.

— Ichigo, me perdoe. — beijou-lhe no rosto, sentindo uma tristeza profunda dominar seu coração.    

A garota recuou, sem tirar os olhos do ruivo. Queria gravar aquela imagem... Uma última vez.

Retornando ao seu quarto, Rukia virou-se uma última vez, contemplando seu quarto com certa nostalgia nos olhos.

Não se demorou. Desligou a luz e saiu pelo corredor.

Em silêncio, entrou no quarto onde Renji e Hisagi dormiam, pousando um dos envelopes acima do criado-mudo. Eles tinham sono pesado. Se fosse no quarto de Hitsugaya, isso não seria possível.

Logo depois, se encaminhou ao quarto de Byakuya.

Parou em frente à porta, relutante.

O irmão era como Hitsugaya. Perceberia sua presença, então, a forma mais eficaz que encontrara era passar por baixo da porta. E assim o fez.

Empurrou lentamente o envelope, mas, foi tragicamente surpreendida pelo escancarar da porta.

— Rukia. — dois pés surgiram em sua frente. Eram os pés de seu irmão.

A garota engoliu em seco, levantando o rosto.

— Nii-sama... Eu só estava...! — ergueu-se, tentando se justificar sem muito sucesso.

— Assegure-se de levar o que há de mais necessário. — murmurou, olhando-a fixamente.

— C-como? — perguntou, sem entender.

Não houve resposta. Encaminhou-se pelo corredor, andando até as escadas.

— Venha.

Rukia obedeceu, seguindo-o.

Ao descer os últimos degraus, o Kuchiki passou a chave, abrindo a porta.

— Nii-sama... Por que está fazendo isso? — Rukia se deteve no último degrau, confusa com a atitude do irmão.

— Essa é uma pergunta tola. — seus olhos frios encontraram os dela, brilhando na escuridão.

Ela soltou o ar, desistindo de arrancar os motivos.

— Sinto muito... Nii-sama, o seu casamento... Eu não queria perdê-lo... — murmurou com a voz embargada.

— Apenas faça o que tiver de fazer, Rukia. — pousou a mão por cima dos cabelos da pequena, afagando-os.

Rukia não resistiu. Abraçou ao irmão com todas as forças.

— Obrigada. De verdade... Obrigada.

Ela saiu da casa, marchando em rumo ao desconhecido.

— Rukia. — a voz de Byakuya parou-a num passo. — Certifique-se de voltar vitoriosa. Não envergonhe a família Kuchiki. — acrescentou com uma leve curva nos lábios que Rukia interpretou como um sorriso.    

— Ficarei atenta. — ela sorriu, caminhando pela avenida vazia. 

Chegando as proximidades do centro, a garota havia pensado em um plano. De manhã bem cedo, pediria as contas para seu chefe.

Suas economias a ajudariam por, no mínimo, uns dois meses. Nesse tempo, ela poderia arranjar um novo emprego.

Um lugar propício a isso seria em Tókio. As melhores gravadoras estavam por lá.

Ela soltou o ar. Parecia que sabia bem o que fazer, mas até agora não tinha ideia de como começar.

Parou os passos quando chegou em frente do hospital que Kaien estava. Aquele era o fim de linha. 

Após se identificar a recepcionista, explicando o porquê de estar ali tão tarde, ela fora autorizada a se despedir de Kaien.

Girou a maçaneta, surpresa em não encontrar Toushirou as extremidades. Talvez tivesse tirado a noite para dormir em casa ou na casa da namorada... Em todo caso, era um alívio.

Os aparelhos necessários para manterem Kaien vivo, emitiam rápidos apitos, monitorando-o.

Quantos séculos haviam se passado desde que um sorriso havia habitado aquele rosto? Não era mais possível contar... Estava perto da eternidade.

Rukia o fitou por alguns instantes, com os olhos molhados. Levou a mão até a dele, segurando-a.

A temperatura era morna, não o suficiente para aquecer.

— Kaien-dono... — sussurrou com uma voz doce. — Obrigada por tudo. — abaixou-se, encostando a testa na dele enquanto fechava os olhos. — Eu quero realizar o sonho que Kaien-dono lutou tanto para construir... Será que estou fazendo o certo? Eu gostaria que estivesse aqui pra me dar coragem...  

Uma interrupção não a teria assustado quanto sentir a mão de Kaien pressionando levemente a sua.

Ela inclinou o corpo com os olhos esbugalhados.

— Kaien-dono...? — balbuciou, direcionando o olhar para a mão dele.

O aperto não se repetiu.

Rukia duvidou de que aquilo tivesse sido real. Talvez um espasmo? Ser fruto da sua imaginação também não era descartável...

Ela sacudiu a cabeça, espantando os pensamentos. Não tinha tempo para bolar teorias.

Sorriu, beijando-o demoradamente na testa.

Não se limitou. Logo, seus braços contornaram parte do corpo de Kaien, envolvendo-o com cuidado.

 — Ah... Você terá muito tempo para dormir enquanto eu estiver fora, então, faça-me a gentileza de acordar quando eu voltar, sim? — sibilou ainda sorrindo, acariciando seus cabelos.

Na manhã seguinte, Ichigo não demorou a perceber a existência da carta.

Logo que viu um desenho de um coelho de aparência estranha, abriu-a quase rasgando. 

Ele correu, sem ao menos trocar as vestes, até a casa dos Kuchiki.

Por algum motivo, a porta estava destrancada, o que fez Ichigo adentrar sem ser convidado.

Ele passou pela sala, despercebido por Matsumoto e Hisagi que estavam no sofá, comendo cereal como duas crianças.

Avançou até a cozinha, parando em meios aos resfôlegos. 

Byakuya saboreou a sua xícara de café, mesmo submetido a presença inesperada de Ichigo.

— Onde está Rukia?! — ele bateu nervosamente a mão acima da mesa, jogando a carta amassada em frente aos olhos tranquilos do Kuchiki.

Ichigo, eu não sei de uma maneira menos dolorosa de dizer a você que estou partindo.

Eu sinto muito. De todos, você era a pessoa que eu não conseguiria me despedir pessoalmente. Doeria demais, provavelmente eu desistiria do que tenho de fazer... Tornar o sonho de Kaien-dono uma realidade.

Eu sei, é um absurdo. Não o culpo se me odiar. Sei que não tenho agido como uma boa namorada. Tenho deixado nosso namoro de lado... E mais uma vez, parece que estou fazendo o mesmo. Seguindo o mesmo caminho e indo por uma estrada que nem ao menos sei aonde vai dar.

Eu não penso que vá me perdoar ou me esperar, por isso, Ichigo, faça o que bem entender de sua vida.

Kuchiki Rukia.

  


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Notas finais do capítulo

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