Bonds escrita por frozenWings


Capítulo 20
Capítulo 19 - Alternativo


Notas iniciais do capítulo

Como prometido, o capítulo para os KAIRUKI's de plantão.
Ah, antes de mais nada, procurem não se confundirem com a numeração dos capítulos. Mesmo que o Nyah o intitule como capítulo 20, ele ainda continua sendo o 19.
Caso tenham lido o capítulo IchiRuki e identifiquem a igualdade em alguns parágrafos, aconselho que não pulem nenhuma parte do texto, pois eu mudei algumas partes.



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No passado, o hospital central de Karakura já tivera dias mais tranquilos. Ruas mais limpas, pessoas mais civilizadas e higiênicas traziam menos doenças e consequentemente, menos pacientes.

Os cirurgiões de certificados e diplomas impecáveis mal eram convocados.

Viviam a míngua, resolvendo pequenos casos. Coisa de cidade pequena ou com muita gente sadia. Parecia que o padrão de vida em Karakura tinha dado um salto em tanto.

Hoje, no entanto, se mostrava um dia diferente. Preenchido de correria e agitação.

Uma ambulância estacionou desengonçadamente, por pouco não ultrapassando o meio-fio.

Os paramédicos se apressaram em retirar o acidentado estirado na maca.

Aquele era Shiba Kaien. Inconsciente, com os sentidos e batimentos fracos, mas surpreendentemente vivo.

Sim, fora até um descaso o estado do Thunder. Renji teve de ser contido para não espancar os paramédicos que se lerdearam em encontrar o local do acidente.

Três paramédicos se agruparam em volta da maca, ajustando as dobradiças que criaram rodas, podendo assim transportá-lo melhor.

Rukia, Toushirou e Renji os seguiram com o pavor a refletir em seus rostos.

Rukia queria ser forte e não se desmontar em lágrimas. Ver Kaien carregado de tubos, aparelhos e fios a deixava atormentada, com a sensação de impotência. Hitsugaya até queria consolá-la, mas estava perplexo demais para o fazer.

Os paramédicos, bastante resolutos em como proceder, encaminharam Kaien por um longo corredor iluminado.

As luzes do teto passavam rápido. Era como estar em um filme de terror. O futuro até então tão único e perfeitamente planejado se esfumaçara no atravessar daquele corredor medonho, cheio de medos e incertezas.

Um médico caminhava em direção contrária. Ele estava entretido com o estetoscópio aparentemente defeituoso; sua atração principal. Não descansaria enquanto não descobrisse o problema daquele aparelhinho. O cutucou algumas vezes, erguendo os olhos por entreouvir murmúrios e gemidos distantes do habitual silêncio que regia o hospital.

De início, mirou os olhos para o homem estendido acima da maca. Estava criticamente ferido.

Olhando por alto, julgou como um acidente de carro ou moto, talvez.

A quantidade assombrosa de sangue que vazava visivelmente de seu corpo indicava o ocorrer de uma hemorragia, pensou.

Fitou-o com mais amplitude, explorando os detalhes faciais daquele homem que não parecia ter mais que seus vinte anos.

O formato do rosto, o cabelo revolto e a fisionomia... Não podia ser...

O estetoscópio deslizou por entre suas mãos, caindo no chão.

— Kaien?! — titubeou o médico, exaltando os demais.

Ele correu de encontro ao rapaz, guiando a maca com uma das mãos.

— Ukitake-san! — exclamaram Rukia, Renji e Toushirou, finalmente desviando a atenção para o grisalho.

— O que houve? Por que ele está nesse estado? — indagou ele, juntando-se a eles.

— Ele foi atropelado... Tudo aconteceu muito rápido. — Rukia apressou-se em responder.

Ao ter recebido a resposta, Ukitake girou a cabeça para os paramédicos, sondando-os.

— Eu mesmo irei tratá-lo. Contatem a minha equipe e... Peçam pra que Kuchiki Byakuya também esteja presente. — mandou, tendo dificuldades em manter a calma presa à voz.

Os paramédicos assentiram, afastando e separando-se da maca conforme Ukitake a introduzia dentro de uma sala apropriada.

Os amigos de Kaien se sentiram parcialmente aliviados por ser Ukitake a cuidar do moreno. Confiavam nas mãos dele.

Eles foram instruídos a permanecerem fora da sala. Com grande relutância, trataram de obedecer, ainda que estivessem em nervos, eufóricos em colherem notícias sobre o estado de Kaien.

Demorou alguns minutos até virem uns cinco médicos andarem em direção a sala. Dentre eles, Byakuya se destacava com um indisfarçável olhar perdido, como se não soubesse o porquê de estar ali.

Rukia fora a primeira a identificá-lo.

— Nii-sama! — o chamou sem perceber, mais por força do hábito.

Ele reconheceu a voz de imediato, parando.

— Rukia, o que está fazendo aqui? — indagou, de olhos fitos aos dela.

Só ouviu um soluço estremecer da garganta de Rukia, seguido de lágrimas que escaparam dos grandes olhos azulados.

Sem obter uma resposta, ele entreviu os rostos aflitos de Renji e Hitsugaya que lhe passaram uma remota sugestão.

— Kuchiki-dono, nós temos que entrar agora. — falou um dos médicos ao ter adequado suas luvas de látex em cada dedo, enfatizando na última palavra.

Byakuya obedeceu e, silenciosamente, entrou na sala.

Renji puxou do bolso o celular quente e úmido de suor, discando números.

— O que está fazendo? — perguntou Toushirou, recostando na parede com a esperança de que aquilo espantasse a ânsia de vômito.

— Ligando para os outros. — respondeu o ruivo, num tom melódico.

Hitsugaya o olhou por mais alguns instantes. Renji pigarreou, virou as costas e escondeu o rosto. Mesmo que fraco, Toushirou podia ouvir o seu soluço seco e repreendido.

O grisalho suspirou, olhando fixamente para a luz alva aderida ao teto. Ela feria seus olhos, fazendo-os umedecerem.

As lágrimas também o haviam pegado.

Rukia permaneceu em frente a porta da sala, com as mãos juntas em oração, implorando por algum milagre, pra que aquilo não passasse de um terrível pesadelo e que logo seria acordada pelas palhaçadas matinais de Kaien.

Olhar para aquela porta e não saber o que acontecia deixava seu coração aflito, mais que isso, era como senti-lo espremido entre mãos implacáveis que se recusavam a parar.

A todo instante sua mente clareava uma visão assustadora. Os médicos abriam a porta, motivados a contá-la que Kaien não retornaria... Mas uma vida sem Kaien? Como algo assim podia acontecer? Não, não mesmo. Resigna-se a acreditar que isso ultrapasse uma brincadeira de mau gosto.



As horas passaram. Os outros Thunders, por sorte, dispuseram dos celulares ligados e com isso foram contatados.

O primeiro a aparecer foi Grimmjow. Ao saber do agente causador do acidente, o azulado amaldiçoou o pai de Kaien até não lhe sobrar mais voz. Teve uma reação mais agressiva que os demais, como previsto.

Queria catar o miserável do Takeshi em qualquer buraco que estivesse e espancá-lo, espancá-lo com vontade, mas fora orientado a se conter e manter a calma, pelo menos até saberem se haveria avanço ou não no estado de Kaien.

O azulado se calou, sem mais álibi para seu falatório.

Os lábios tinham grudado e desde então, não murmurava sequer uma letra.

Hisagi, por sua vez, foi o mais sensível a notícia. Não tivera vergonha em demonstrar o abalo causado em si por conta da tragédia. Balbuciou, ditando os momentos antes do acidente, de como estavam felizes e que não acreditava que algo assim acontecera justamente com Kaien.

Ele não conteve as lágrimas histéricas e pela primeira vez, foi consolado por Grimmjow que ainda sim, preservou sua política sobre ficar muito próximo a homens. Foi delicado ao seu máximo. Mandou que o baterista sustentasse a calma ou ele seria o próximo a entrar no pronto socorro.

Ulquiorra ficara em silêncio do início ao fim, às vezes dava a impressão de que fosse dizer algo, mas logo desistia. As palavras lhe faltaram por tentativas exaustivas em iniciar qualquer diálogo. Não tinha cara-de-pau suficiente para citar bordões de consolo e otimismo... Não no caso de Kaien.

Apesar do pouco tempo de convívio, o considerava um líder nato e mais que tudo, o respeitava, respeitava como um verdadeiro homem.

Não queria que seu quadro se agravasse. Na verdade, mesmo que se incomodasse com a agitação exagerada que Kaien fazia questão de transmitir durante todos os ensaios, hoje, somente hoje, sentia falta das suas piadas e até brincadeiras fora de hora.

— Onde é que está o Kaien?! — exclamou Riruka, aparecendo como o principio de um furacão.

— Quem foi que chamou essa maluca? — interrogou Grimmjow, sem paciência.

— Maluca?! Por que não cala a droga dessa sua boca? — rosnou ela, puxando-o violentamente pela gola da camisa, mantendo um conflito visual.

— Estou aberto a sugestões. Por que não vem calar?! — trincou os dentes em resposta, com os azuis dos olhos intensos.

Tsukishima, que a acompanhava, sentiu a tensão saturada no ar, entrando no meio dos dois, separando-os.

— Essa não é uma ocasião propícia para brigas idiotas. — sibilou o moreno, tratando de colocá-los o mais distante possível um do outro. — Riruka, lembre-se do nosso propósito. Ele não envolvia confusões. — ele cerrou os olhos em uma expressão sugestiva.

A garota não protestou, embora ainda sentisse vontade de acertar a cara de Grimmjow, vontade essa compartilhada pelo próprio guitarrista.

— E quem foi que perguntou alguma coisa a você, seu grande palerma? — Grimmjow cuspiu as palavras, estufando o peito.

— Desculpe, Grimmjow-san, não queremos causar problemas. Por que não se acalma? — recomendou, ainda calmo, apesar de Grimmjow demonstrar sinais explícitos de agressividade.

Tsukishima se colocou em frente a Riruka, se precavendo no caso do azulado tentar alguma coisa contra a vocal.

— Fique quieto, Grimmjow, sei que todos nós estamos nervosos, mas se não parar com esse showzinho, eu mesmo irei arrebentar a sua cara. — grunhiu Renji, por trásde suas costas, apertando-o no ombro.

O azulado estalou a língua, meneando a cabeça com desolação.

Ele deu meia-volta, se afastou e sentou em um canto onde pudesse se perder em seus pensamentos angustiados sem que alguém o tirasse do sério.

Renji soltara o ar aos poucos, se encarregando de explicar a situação para Riruka e Tsukishima, alertando-os também que não aceitaria brigas e discussões naquele corredor. Caso o fizessem, ele mesmo os expulsaria de lá. Ele olhou especialmente para Riruka, fazendo com que ela entendesse cada sílaba pronunciada.

— Mas então, onde estão os outros? — perguntou o ruivo com a voz rouca.

— Estão fora da cidade. Foram comprar instrumentos novos. Não os avisei sobre o acidente do Kaien. — retrucou Tsukishima, afastando a atenção para Riruka.

Ela parecia desinteressada na pequena conversa.

Não fazia mais que sondar a porta e, volta e meia, seus pés se mexiam, aproximando-a em passos curtos, relutantes.

Não queria encarar a ideia de que Kaien estivesse do outro lado, desacordado, vítima da mesquinharia do próprio pai. Ele não merecia...

— Eu... — seus pensamentos foram cortados ao escutar a voz vacilante de Rukia que estava próxima.

Riruka a fitou, com as orbes trêmulas.

— Eu não merecia... — soluçou Rukia, num lamento pessoal. — Eu não merecia que Kaien-dono se sacrificasse tanto pra me salvar... Eu quem devia estar naquela sala... — debulhou-se.

Ah, era verdade... Renji havia mencionado que Kaien salvara a vida de Rukia e por causa dessa ação, lá estava, preso na mais absoluta escuridão.

Riruka juntou as sobrancelhas, firmando os passos — quase os cravando no chão — até que chegasse Rukia, dando-lhe uma tapa que deixou a palma de sua mão dolorida.

Todos os outros escutaram o estalar, olhando imediatamente para as duas.

— Riruka...! — exclamou Tsukishima.

A marca dos dedos brotou em forma de um vermelhão na palidez de Rukia.

A morena demorou alguns segundos até finalmente entender o que realmente havia acontecido, olhando assustada para Riruka que ofegava em sua frente, de cabeça baixa.

— Não... — iniciou com a respiração entrecortada. — Não desmereça a vida que Kaien salvou. Se você fizer isso, vai parecer que... Vai parecer que... — gaguejou, parecendo sentir dor em formar aquelas palavras. — Que o sacrifício dele foi em vão. — ela finalmente ergueu a face, mostrando os olhos inundados de lágrimas. — E eu não vou deixar que você faça pouco do esforço de Kaien!

— Riruka... — sibilou Renji, sem vontade de recriminar suas atitudes.

Tsukishima foi o único a se aproximar da rosada, conservando o silêncio que os demais insistiram em manter.

Ele a abraçou carinhosamente, afagando os cabelos enquanto a pressionava contra seu peito, sentindo a camisa ser amassada entre os dedos da garota.

Uma vez ou outra escutava um choro solitário, que saia de modo furtivo, desejando não ser descoberto.

Tsukishima assim o deixou, limitando-se a interpretar o papel do seu porto seguro, onde as emoções tinham a liberdade de extravasar sem qualquer peso de explicações ou satisfações.

Rukia pousou a mão por cima da bochecha, analisando a si mesma.

Estava sentindo-se patética... Mas não podia evitar o desejo de estar no lugar que Kaien agora estava. Era o que mais queria. Era o que na realidade deveria acontecer.

Alguém limpou os resíduos de suas lágrimas, fazendo-a despertar de suas reflexões.

— Você está bem? — Renji perguntou — Quero dizer... Sobre o tapa que recebeu...

— Eu estou bem, Renji, não se preocupe. Mas Riruka tem razão. Eu devo parar de me lamentar. — a pequena engrossou a voz, camuflando a sua vulnerabilidade.



Do outro lado da cidade, a tristeza parecia estar em um lugar longínquo, pelo menos assim era para Ichigo que recebera a notícia de seus testes no mesmo dia.

Para a sua alegria, tinha sido um dos novos contratados.

— E também, para novos escalados, Tachikawa Senna. — comunicou um dos instrutores, passando os olhos por uma lista.

— Ah, cara! Eu não acredito que consegui! Obrigada sensei! — agradeceu, mais escandalosa que qualquer um, fazendo uma de suas famosas dancinhas comemorativas.

— Fico surpreso que uma loja desse patamar venha admitir uma pessoa tão irresponsável e maluca como você. — zombou Ichigo, agora mais amigável com a garota, apesar de não parecer.

— Você só está com inveja, Ichigo! Inveja! — ela saltou, sendo contida pelo instrutor que a mandou ficar quieta antes que mudasse de ideia em relação a sua admissão.

Senna empalideceu, pedindo mil desculpas e voltando ao seu lugar.

Muitas pessoas riram, mas Ichigo se restringiu a expor a expressão entediada que costumava fazer quando alguém fazia coisas muito idiotas.

Ao fim do anúncio sobre os novos empregados listados, o instrutor os deixou à vontade para que conhecessem a loja onde trabalhariam.

Era uma loja de conveniência bastante extensa, repleta de seções, mercadorias e fregueses, principalmente, fregueses.

Ichigo não se espantou. Afinal, não podia ser diferente já que se situava no shopping.

Algumas pessoas aproveitaram a oportunidade para ligarem para seus familiares e respectivos parceiros, dando-os a notícia de que estavam empregados. A alegria era contagiante.

Ichigo mirou os olhos para Senna, estranhando que ela não ligasse para ninguém e nem ao menos comentasse sobre o assunto.

— Olhe essas fitas, que incríveis! Sinto vontade de comprar todas! — Senna encheu as mãos de fitas coloridas, deslumbrando-se com a variedade.

— Hey Senna, não vai dar as boas-novas para ninguém? — ele apontou para os outros, indicando os celulares.

A garota repuxou um breve sorriso, coçando a nuca.

— Meus pais estão no trabalho. Não gostam de serem incomodados, então... — ela pareceu se embaraçar nas próprias explicações, mas resolveu tomar outro caminho que julgou ser sua válvula de escape. — E você, Ichigo? Não tem ninguém importante para ligar?

De imediato, a imagem de Rukia fora impressa em sua mente como uma fotografia e aquilo lhe trouxe uma angústia perfurante.

Desejava ligar para a pequena e contar sobre o seu mais novo emprego e de como estava feliz com aquilo, mas, certamente, ela ainda festejava o show dos Thunders.

Ele não se sentiu à vontade em incomodá-la. Mais tarde contaria. Quando voltasse pra casa.

— Não, eu não tenho. — ele murmurou, sacudindo os ombros num gesto de pouco caso. — A essa hora meu pai está trabalhando e as minhas irmãs foram brincar na casa de um amigo. Contarei mais tarde.





No hospital, Renji tentou dizer algo que confortasse ou até mesmo amenizasse a tristeza de Rukia, mas foi drasticamente interrompido pela aparição dos médicos.

Ukitake desceu a máscara, revelando os lábios secos.

Em um salto, Hitsugaya se levantou, colocando-se ao lado de Rukia, tão ansioso quanto a pequena.

A luz estava forte demais, parecia ofuscar a imagem dos médicos que mais pareciam alguma espécie de ilusão.

Ao ter certeza que as imagens se fizeram além de imagens, Rukia arregalou os olhos, sentindo o coração cavar o peito em busca de mais espaço. As costelas doíam ao perceber o quão real e concreto era aquele momento.

O estômago tinha levado um chute imaginário que lhe fez querer vomitar.

Mas precisava se concentrar na única situação que importava.

Carecia saber qual o veredicto final do destino.

E aquilo durou um único momento. Um momento que se transformou em minutos e então horas, até alcançar a eternidade.

A pequena acompanhou cada passo com os olhos e, a sua vontade foi de avançar, desmontando aquelas badaladas de relógio que se faziam mentalmente, uma contagem para o fim ou recomeço.

— Conseguimos estancar a hemorragia. Tivemos sucesso com as operações para descomprimir a medula que foi gravemente atingida... O traumatismo craniano foi muito forte, e... — Ukitake iniciou, cordial e formalmente. No caminho, Rukia viu seu irmão lhe desviar os olhos, sem encará-la uma única vez. Quis pensar que aquilo fora um mero fruto do comportamento reservado de Byakuya. Somente isso. — Mas... Kaien... — os lábios de Ukitake a toda hora entreabriam, retorcendo e Rukia não quis acreditar naquele tremor que se esvaziava em sua voz. — Ele não resistiu aos ferimentos. Tentamos reanimá-los, mas...

O coração de Rukia parou ao escutar “Ele não resistiu.”

Não podia ser... Não com o Kaien que ela conhecia!

Foi como a mais poderosa das anestesias.

Dor, tristeza, melancolia, ódio.

Nada disso a permeava. Foi um baque e tanto, ainda precisava de tempo para digerir, para processar, para aceitar. Seu cérebro tinha travado e nada que tentasse para sair daquele transe parecia surtir efeito.

Ela queria dizer que Ukitake estava errado. Queria chorar. Queria gritar. Mas não tinha forças. O baque tinha sido muito grande...

Toushirou, ao contrário, não se conteve. Ele não acreditou em uma única palavra que saiu da boca de Ukitake.

Avançou como um animal feroz e desesperado, tentando ter acesso a sala. Os médicos buscaram impedir suas investidas, mas foram socados e chutados com tudo que o garoto tinha.

Com muita dificuldade e alguns arranhões, Toushirou chegou ao interior da sala.

O tremor de seus ossos mal permitia que ele se movesse, mas mesmo assim, se arrastou até a maca que Kaien estava. Gelado e sem vida.

As lágrimas de Hitsugaya caiam no rosto do amigo, molhando-o.

Um dos médicos fez menção em pará-lo, mas foi impedido por Byakuya que segurou seu ombro, balançando a cabeça.

— Kaien! Você não pode morrer assim! Volte a vida, maldito! Isso não é justo! Por favor, VOLTE!!! — ele berrou, forçando o peito do rapaz, como se estivesse impulsionando o coração para que voltasse a bombear. — O que eu farei sem você...?! KAIEN!!!!!!! — o grito rasgou suas cordas vocais.



“Toushirou?!” Kaien abriu os olhos, estimulado pelo eco que o alcançou mesmo naquele lugar. Ele olhou em volta, procurando com urgência os resíduos ou qualquer sinal que indicasse que aquela voz ainda estava por lá.

O local era o mesmo em toda a direção que mirasse seus olhos. De uma aparência estranhamente fria e mórbida.

O moreno tentou se movimentar, sentindo um pesar nas pernas como se estivesse dentro de um tanque de água. As bolhas saiam das narinas em fluídos gastos de oxigênio.

Onde estava?

“Kaien. Kaien.” a voz de Hitsugaya ressoou novamente.

Dessa vez veio de uma única direção, apontando-o para a imagem de seu melhor amigo.

Ele estava envolto por uma luz dourada, quase o cegando.

“Toushirou? O que é isso...? Nós morremos?” perguntou o moreno, sem entender.

“Não seja idiota! É claro que não morremos!” exaltou-se o garoto, com uma veia a pulsar na testa.

“O que é isso? E por que você está aqui?”

“Eu sou fruto da sua imaginação, Kaien.. Mas também, sou Hitsugaya Toushirou. Esse lugar? Ora... Não complique as coisas como sempre faz, certo?”

O garoto finalmente controlou a respiração, fitando o rapaz.

“Kaien, eu...” os olhos de Kaien se arregalaram ao ver os pés de Hitsugaya sumirem gradativamente, como se fossem apagados. “Eu queria que fôssemos amigos por mais tempo. Por favor, não vá.” ele estendeu a mão e mesmo fazendo isso, lentamente seu corpo era transformado em partículas invisíveis.

“Toushirou! Não!” Kaien gritou, nadando com o que sobrava de suas forças até o garoto. Para o seu desespero, a cada movimento que fazia, sua respiração e visão pesavam, se desgastando facilmente.

“Droga...!” o oxigênio que outrora não parecia lhe fazer falta, se mostrara presente, sacando seus pulmões e preenchendo-os de água, matando a cada tentativa de alcançar a mão do grisalho. O moreno cerrou os dentes, esticando o braço. “Toushirou...” sentiu estar à beira da perda de consciência. As pálpebras relaxaram, projetando borrões de sua mão pateticamente estendida, sem sucesso em tocar do amigo. “Eu não quero me afastar...” foram suas últimas palavras antes de ser vencido por um inimigo desconhecido.

“Kaien.” suspirou Toushirou, desapontado, agora com a cintura a se desmanchar. “Um dia você disse que me daria um sonho. Um sonho ao qual poderíamos lutar juntos. Eu acreditei nas suas palavras. Me diga, Kaien... Essas palavras... Elas foram vazias?”

O silêncio continuou a impregnar o corpo de Kaien que estava flutuando no meio do nada.

Toushirou decidiu recolher a mão, vendo-se desaparecer. Fechou os olhos. Havia de se conformar.

“Você sempre falou muito, Toushirou! Não seja idiota, eu nunca mentiria pra você!” a voz de Kaien lhe assustou.

Seus olhos acenderam em uma faísca viva. Nadou incansavelmente até o encontro de Toushirou, sentindo o curso daquela estranha água mudar, transformando-se em um turbilhão.

Kaien resistiu. Não se deixou arrastar. Estendeu a mão, se desesperando em ver o peitoral de Hitsugaya se desfragmentar.

“Toushirou!!!” berrou, estreitando o espaço.

Os dedos se tocaram, até finalmente se entrelaçarem em um aperto amigável.

Toushirou apenas sorriu e de repente, toda aquela água pareceu sumir, junto com os piores sentimentos que sentira em toda a sua vida.




A máquina que marcava e monitorava os batimentos cardíacos de Kaien mostrou um impasse.

O silêncio inquietante foi quebrado pelo aparelho que indicou a existência mínima de vida — a chance de Kaien estar vivo. Os batimentos ficaram mais fortes e as linhas que os exemplificavam serpentearam, oscilando entre picos altos e baixos.

Hitsugaya erguera a face, boquiaberto.

Os médicos, mais espantados ainda, se dirigiram até o paciente e a maquina, averiguando se deviam reportar algum erro.

Não era possível...

Ukitake examinou o corpo de Kaien, orientando Toushirou a sair da sala e deixar que eles fizessem o resto.

Um sorriso se esgueirou de ponta a ponta nos lábios do médico e ele não segurou seu profissionalismo.

Saiu da sala, disparado, encontrando os amigos do rapaz.

— É inacreditável, mas... Kaien está vivo! — ele ainda tremia, feliz demais.

— Aquele grande idiota... Sempre pregando peças nos outros. — rezingou Hitsugaya, de cabeça baixa, provavelmente escondendo as lágrimas.

Os outros comemoraram aos pulos, uns chorando, outros xingando e outros agradecendo pelo amigo de volta.

— Então... Então é verdade? Ele está bem, Ukitake-san? — Rukia finalmente falou, receosa que a notícia fosse alarme falso.

— Está tudo bem, Rukia-chan, eu... — ele tentou falar, mas Byakuya o impediu de continuar, surgindo com uma cara não tão promissora.

— Ukitake-sensei, parece que Kaien entrou em coma profundo.




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Notas finais do capítulo

Aeae. Pelo menos aqui o Kaien teve um finalzinho diferente, hein?
Não tão bom, mas sinceramente, melhor que a assombrosa e definitiva morte. haha
Aguardo comentários.