Bonds escrita por frozenWings


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Capítulo meio paradinho. ehhh .. bem, espero que gostem. Indiquem a história pra outros IchiRuki's se possível. Boa leitura. ♥



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Sabe Ichigo, quando cheguei a Karakura, eu ainda tinha tantos assuntos inacabados do passado, tantas feridas não cicatrizadas... Eu não sabia lidar com elas. Não. Na verdade, eu não queria lidar com elas. Doíam demais. E eu nunca imaginei um tipo de antídoto pra isso tudo. Acho que me imaginava morrendo com o coração despedaçado. 

Sim, era o que eu imaginava. Mas então você chegou e tudo mudou de uma forma inacreditável. Eu não tinha percebido, mas com o tempo você tinha se tornado a cura para todos os meus problemas.

Alguns dias tinham se passado desde que Ichigo e Rukia se conheceram. Desde então a pequena vivia seguindo-o da escola para casa e de casa para a escola, alegando não conhecer Karakura, por isso o acompanhava, apesar de ambos sempre discutirem. Mas era algo estranho. No colégio, Rukia continuava a não falar com ninguém. Parecia focada em somente estudar e mais nada. Mesmo com Ichigo ela só trocava palavras realmente necessárias. As pessoas enxergavam isso como algum tipo de indiferença, mas acabavam por somente ignorá-la, como se ela não fizesse parte da sala. 

            Já estava quase anoitecendo quando os dois estavam jogando conversa fora através das varandas muito próximas. Ultimamente eles tinham feito muito disso. 

— Ei Ichigo, não acha isso tudo tipicamente clichê? — suspirou Rukia, de bruços na varanda.

— Do que está falando? — perguntou ele, na sua própria varanda enquanto tentava se concentrar em um livro que lia. Ele tinha ligado um pequeno rádio que estava próximo a cadeira. Nele tocava um cd de gêneros variados, não fugindo do rock, pop ou punk.     

— Eu, uma linda garota, de repente me mudo para Karakura, salvo a sua vida e ainda viro sua mais nova vizinha de varanda. Porém, eu sinto muito em magoar seus sentimentos. Não acontecerá um romance entre nós. Eu nunca me envolveria com alguém que tem nome de fruta. — retrucou a pequena morena num tom debochado. 

— Quem disse que você é uma linda garota?! Alguém andou te iludindo por aí, é? Falaram sobre esses palitos de picolé que você chama de pernas?! E você também nunca salvou minha vida! Se intrometeu porque é metida e não tem nada melhor pra fazer, a situação estava sob total controle! E pare de caçoar meu nome, mais que droga! — Ichigo levantou-se da cadeira onde estava sentado, jogou o livro no chão e começou a surtar de uma maneira até cômica. — E a porcaria do seu nome? Hã? Você por acaso é a esposa do Hulk, RUKIA? Há, que piada! — gargalhou da própria piada, tentando convencer-se que tinha dado um bom troco.

— Que trocadilho mais sem sentido. Eu não esperava menos de você, morango-kun. — — ironizou, imaginando como ele conseguia explodir tão fácil.

— Rukia, que barulho insuportável é esse? Sinto que alguém está tentando atrofiar meus ouvidos com esses grasnidos. — murmurou um tom altamente soberbo que soou do início de seu quarto.

Era um homem sério, de altivez exagerada e boas feições. Tinha cabelos negros levemente caídos sob seus ombros. Ele até parecia a versão masculina de Rukia, só que bem mais alto.      

— Nii-sama! — exclamou ela, surpresa e ao mesmo tempo nervosa por vê-lo ali.

Aquele era Kuchiki Byakuya; seu único e mais velho irmão.

Ele olhou diretamente para a outra varanda, encarando Ichigo com certo desdém no olhar.       

O ruivo não se intimidou, muito menos recuou. Também não desviou os olhos.

— Esse impertinente está incomodando você? Acho mais viável que troquemos de quarto e eu fique com este. Eu sei lidar com sujeitos barulhentos e desordeiros da paz como este. — murmurou ele, sem cerimônia com as palavras.

— O que você disse aí?! — rosnou Ichigo.

Rukia se encaminhou às pressas até o irmão, mostrando-se preocupada.

— Me perdoe, Nii-sama. Eu atrapalhei o seu trabalho, não é? — questionou ela, erguendo ambos os punhos e juntando-os.

Ele ficou em silêncio, apenas semicerrando os olhos.

— Não se preocupe, por favor. Eu prometo não causar mais problemas. Não precisamos trocar de quarto. — continuou ela, num tom abatido.

Ichigo franziu a testa. Concluiu que cada vez mais entendia menos sobre a vida de Rukia.    

— Faça como achar melhor. — sussurrou Byakuya, dando-lhe as costas e por fim saindo do quarto.

— Ei Rukia, que irmão mais rabugento, hein? — cochichou Ichigo, pondo a mão ao lado da boca.

Em uma fração de segundos algo como um vulto atravessou a distância entre ambos, acertando violentamente a sua cara. Era um pequeno sapato.

— Tolo! Não ouse falar mal de meu irmão! — rezingou ela, voltando até a ponta da varanda.     

 — Você por acaso é algum tipo de retardada?! ISSO DOEU! — deu ênfase no fim da frase, realmente enfurecido.

Seu rosto estava queimando. Só não se sabia se era por raiva ou dor. No meio desta tinha ficado estampada uma marca ligeira do calçado. 

— Rukia, o que há com a sua relação com seu irmão? Por que todo aquele desespero na sua cara? Você estava patética. — bufou ele, massageando a pele dolorida.

A garota cerrou os pulsos, mostrando uma expressão um tanto melancólica.

— Por que? Bem, não quero ser um fardo pro meu irmão. Ele sempre foi muito bom comigo. Eu quero retribuir, ajudando-o, e não virando mais um problema. Eu não quero que ele me odeie, sabe...?  Eu simplesmente não quero perdê-lo. — respondeu aos sussurros e pausas, totalmente imersa em pensamentos.  

Ichigo sentiu-se um pouco surpreso com a resposta, não esperava por algo desse tipo. Ela foi muito sincera.

— Cara, você é tão exagerada! Se não quer perdê-lo, apenas dê o seu melhor e não o perca, que saco. Você não combina com essa carinha frágil! — resmungou ele, desviando o olhar.

Rukia o fitou. Ele era a única pessoa que ela conhecia que só sabia dar espécies de conselhos aos berros e xingamentos.

— Você tem razão, morango-kun. — esboçou um pequeno sorriso, provocando-o.

— Pare de me chamar assim! — falou entredentes.

Rukia pensou em irritá-lo ainda mais, no entanto, uma música que tocou no pequeno rádio do garoto chamou-lhe a atenção.  

— São os Thunders que estão tocando essa música, não é? — iniciou, parecendo ter ficado muito entusiasmada. — Eles são incríveis! Você tem um bom gosto, Ichigo! — e pela primeira vez ela o elogiou, com uma fagulha de emoção nos olhos.

— Ah, eles eram até legais no início, mas depois que deram uma longa pausa e resolveram voltar... Bem, não eram mais como antes. Ficou até uma droga. Tanto é que sumiram do mapa. Não os vejo mais criando novos álbuns. — comentou, bagunçando os cabelos espetados.

Rukia ficou em silêncio por um bom tempo, finalmente respondendo:

— Pra mim eles sempre vão ser estupidamente incríveis. Mantenha seus ouvidos atentos. Eles ainda irão te surpreender. — ela sorriu, embora não parecesse como o sorriso caloroso de outrora. — Bem, Ichigo, eu vou entrar. Ainda tenho lição pra fazer. Boa noite. — soprou um murmúrio frio, e sem esperar por alguma resposta, pela primeira vez puxou as cortinas ao entrar, tampando toda a vista que o rapaz tinha de seu quarto.

Ela nem se importou com o sapato que tinha ficado na varanda do ruivo. Talvez simplesmente tenha esquecido.

Ichigo não pôde fazer nada. Na verdade, não ele conseguiu fazer nada, a não ser escutar o resto da melodia lenta dos Thunders.

Ele ainda tentava entender o que tinha falado que a deixou tão séria. Nunca a tinha visto daquela maneira.    

— Por que eu estou me preocupando? — sacudiu a cabeça, desligando o rádio. — Não deve ter acontecido nada. — soprou o ar, tentando acreditar em suas próprias palavras.

Ele andou em direção ao seu quarto, no caminho enxergou o pequeno sapato que ela tinha arremessado na sua cara. O contemplou por um segundo, apanhando-o e levando consigo. 

— Que surpresa. Ela não tem chulé.

            Não muito longe dali, em uma loja de discos e CDs, um freguês misterioso adentrara a loja. Não era um sujeito alto, tinha os cabelos tingidos de branco escondidos por um boné. Os olhos ocultados por grandes óculos escuros, enquanto um modesto cachecol xadrez escondia parte do seu pescoço. Usava calças jeans rasgadas e uma camisa sem mangas, como se estas também tivessem sido arrancadas. Ele carregava nas costas algo como um instrumento encapado que por pouco não conseguiu ser maior que seu próprio corpo.

Com aquelas roupas e acessórios, poderia se supor que talvez ele não quisesse chamar a atenção ou ser reconhecido, embora estivesse conseguindo o contrário.

Ele andou pela loja quase vazia em silêncio. Estava levemente interessado nos CDs ali vendidos, mais especificamente nos de rock.

O garoto caminhou lentamente até esta parte, vistoriando as bandas que recentemente haviam sido detentoras de sucessos. Pareceu desapontado por não encontrar uma banda particularmente especial para si. Ele girou a cabeça, tentando encontrar em alguma outra parte o que não conseguira nesta. Nesse mesmo instante ele ficou estático. Em uma pequena divisão que ficava ao fundo da loja, separada das demais, ele pôde enxergar alguns CDs da banda desejada. Seus pés voltaram a se mover, levando-o até aquela pequena divisão que mais parecia uma grande bandeja de liquidação. E mais uma vez seu semblante mostrou-se decepcionado e frustrado.

— CD dos Thunders por apenas cinco ienes. Que promoção tentadora, hein? — murmurou pra si mesmo, vendo-o misturado à CDs em ofertas. — Parece que não valemos tanto quanto antes...

— Boa noite, senhor! Meu nome é Hinamori Momo. Posso ajudá-lo em algo? — interrogou uma vendedora de aparência alegre que mais parecia uma garotinha. 

O garoto se perguntou se ela realmente precisava ter dito seu nome completo...

— Não, obrigado. Só estou dando uma olhada. — retrucou rispidamente, sentindo-se incomodado por ela ser ligeiramente mais alta.

— Ah sim. Vejo que o senhor se interessou pelos CDs dos Thunders, certo? É uma ótima opção. — proferiu. Ele não queria saber. Pra início de conversa por que ela continuava a falar mesmo que ele dissesse que não precisava de ajuda? Malditos vendedores. Faziam de tudo pra vender. O garoto começou a andar, não se importando em deixá-la falar sozinha. — Só lamento que estejam em uma bandeja de ofertas como essa. Eles realmente mereciam o quádruplo deste valor. É um pouco injusto, não acha? Boa parte das pessoas só acompanha suas bandas quando estas estão iluminadas pelos holofotes. Pessoas assim não podem ser chamadas de fãs. — acrescentou ela.

O garoto parou, olhando-a de relance. De certa forma concordava com o que tinha dito.

— Meu membro preferido da banda era e continua sendo o Hitsugaya. Hitsugaya Toushirou, o baixista. Ele parece ter bom coração apesar de geralmente ser mostrado como frio. — revelou, ficando levemente corada. — É uma pena que pareça com uma criança pra sempre.

— Alguém como você não pode sequer cogitar sobre esse assunto. Por um minuto pensei que fosse uma menininha querendo doces. — finalmente respondeu, não que quisesse ser cômico com a resposta. Entretanto, daquela vez, ele parecia estar realmente humorado.

— É verdade, o senhor está certo. — sorriu Hinamori, ajeitando os cabelos que estavam devidamente presos.

Pelo visto ela não me reconheceu. Melhor assim. Bem, até que essa vendedora não é tão irritante quanto pensei... Refletiu Toushirou, suspirando.

Ele olhou perto do caixa. Notou que próximo a ele existiam alguns tipos de cigarros para serem vendidos.

— Bem, eu vou querer um djarum black. — pôs a mão nos bolsos para puxar a carteira.

— Desculpe, mas eu não posso vendê-los. — ela fez um sinal de reprovação.

— Por quê? — questionou, confuso.

— Porque você é só uma criança. Não vendemos cigarros a crianças. — explicou, querendo parecer rigorosa.

— E quem disse que sou criança?! — resmungou ele, tentando não se exaltar. — E outra, esses cigarros não são pra mim! São pra um amigo meu!  

— Sinto muito, mas precisarei da sua identidade para confirmar.

Eu estava enganado. Ela é muito irritante. Pensou ele, entediado.

— Que problemático. — bufou de mau-humor, puxando a identidade da carteira e mostrando-a somente a data de nascimento, mas não o nome ou a foto. — Acredite! Eu estou falando a verdade. Embora não pareça, eu tenho 18 anos!

— Eu não sei bem... — suspirou ela, pensativa. — Será que eu deveria chamar o gerente? — pronunciou lentamente, como se quisesse apavorá-lo.

— Você só pode estar brincando!

Eu definitivamente nunca mais comprarei cigarros pra ninguém...

            Ichigo tinha ido à padaria quando viu uma mulher ruiva de seios fartos bater na porta da casa de Rukia. Ela estava com malas e mais malas. Tudo indicava que ela moraria com eles, ou pelo menos passaria um tempo por lá. E a mulher não era a única. Outro cara um pouco estranho, de fato, também levava uma mala. Ele estava usando uma touca cinza, por um momento parecendo ser um típico marginal. Ambos foram recebidos por Byakuya e adentraram.

Ichigo admitiu pra si mesmo. Não sabia quase nada sobre a vida de Rukia. Ele nunca pensou que se sentiria tão perturbado em não saber o que acontecia na vida de alguém... Afinal, nunca foi interessado na vida alheia.

O ruivo sacudiu a cabeça, tentando não dar importância aos pensamentos e, enfim, entrando em sua própria casa.

Ele não demorou muito com os seus familiares. Rapidamente subiu até seu quarto, fingindo que acidentalmente seus olhos tinham caído na varanda da pequena.

Não viu mais cortinas. As portas de vidro estavam abertas, mostrando e o quarto bem iluminado. Como era de se esperar de Rukia, tudo estava bastante arrumado e impecavelmente organizado.

Ele a viu andar até o seu guarda-roupa, puxando um violão que conservava em uma capa.

A princípio, ele ficou intrigado com a cena. Nunca havia imaginado que ela soubesse tocar violão ou algo relacionado a isso.

Rukia não o tinha visto, muito menos percebido que estava sendo observada, então ele somente aproveitou para ver o que ela iria fazer.

Ela se sentou em uma almofada de seu quarto, colocando o violão em cima de seu colo. A expressão era a mesma de quando eles conversaram pela última vez, quase inexpressiva.

Os finos dedos eram ágeis, tocaram as cordas com precisão e delicadeza. Ela tinha fechado os olhos e ainda sim acertava perfeitamente cada nota. Era uma cifra de “painful memories” dos Thunders. A morena tocava com tanta melancolia que Ichigo não teve mais dúvidas de que ela tinha algo muito estranho com essa banda... Mas

ainda que parecesse tudo muito doloroso, ele não pôde deixar de contemplar aquele momento. Era como se estivesse hipnotizado. Essa melodia era incontestavelmente bela... Pelo menos quando tocada pelas mãos de Rukia.

Ichigo não percebera, mas, estranhamente seu coração tinha palpitado.

            Por que as pessoas não conseguem ver o que está bem na frente delas? Elas continuam a errar vergonhosamente sem nunca enxergarem as coisas mais óbvias. Isso me faz pensar que talvez só enxerguemos o que desejamos ver.

Eu acho que sempre irei me culpar, Rukia. Naquela época eu era tão tolo.

Eu não pude ver o que existia por trás do seu sorriso...


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Notas finais do capítulo

Eu adoro escrever as frases do Ichigo. haha