Bonds escrita por frozenWings


Capítulo 15
Capítulo 15


Notas iniciais do capítulo

Uhul, acho que esse foi o capítulo mais longo que eu postei desde então.. a_a
Espero que gostem e comentem. ♥



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Três meses haviam se passado. As garotas andavam bastante esfuziantes com o baile que estava pra acontecer nesta noite. Muitas delas tinham deixado para comprar os vestidos em última hora. Nas maiores lojas de roupas era possível ver porções dispersas se amontoarem em diversos tipos de vestidos e acessórios.

Ganhava quem tivesse o vestido mais deslumbrante. Essa era a regra pessoal daquelas meninas.

Seus olhos cintilavam como dois diamantes ofuscantes, elas se nutriam da esperança de terem a oportunidade perfeita para brilhar naquela noite como nunca brilharam em todas as suas vidas.

— Que sortuda, Kuchiki! As lojas de roupas femininas estão todas lotadas pelas garotas do seu colégio... — falou Matsumoto, entrando no quarto e apontando para o vestido em cima da cama da morena.

Rukia se virou, soltando um longo suspiro.

— Tem razão. Fico feliz em ter comprado esse vestido duas semanas antes do baile. — ela posicionara ambas as mãos na cintura, balançando a cabeça. — Bailes são tão problemáticos... Eu devia apenas ter deixado pra lá desde o início.  

— Bailes parecem divertidos. Eu nunca fui pra um... Se tivesse a chance, eu gostaria de ir ao menos uma vez. — a ruiva disse distraidamente, pulando com ousadia em cima da cama de Rukia. — Esse vestido é lindo, Kuchiki. Boa escolha! — batera algumas palminhas com um sorriso bobo nos lábios.

— Sério? Quem escolheu esse vestido foi o nii-sama... Ele tem um bom gosto admirável! — Rukia ruborizou, exibindo um sorriso orgulhoso. — Ah, Matsumoto-san... Se quiser, fique a vontade para ir ao baile. O colégio permite que levemos a nossa família. — acrescentou a pequena.

Subitamente, os olhos de Matsumoto ganharam um brilho úmido e destorcido na íris.   

— V-V-Você me considera como parte da família, Kuchiki? — interrogou com a voz trêmula e arrastada.

Rukia piscou algumas vezes, sem entender. Se aproximou da mulher e segurou uma de suas mãos, fitando-a com carinho.  

— É claro que sim, Matsumoto-san. Todos que moram aqui fazem parte da minha família. — delineou um sorriso simpático. — Você poderia me ajudar com a maquiagem? — perguntou, sabendo que aquilo se tratava de um de seus maiores tabus.

— Mais é claro! O que você quiser! Espere só um pouco, vou buscar minha maleta de maquiagem pra fazer alguns testes em você. A Kuchiki vai ficar uma beldade! — se entusiasmou, saindo do quarto as pressas.

Rukia esperou até que ela saísse, expirando lenta e profundamente.

— Espero que eu não me arrependa. — murmurou, um pouco preocupada.

Por acaso, mirou os olhos além do seu quarto, vendo Isshin e Yuzu tentando enfiar um smoking em Ichigo a todo custo.

“Que cena divertida.” Pensou a garota, fitando-os.

Ela se aproximou um pouco mais, caminhou até a beira de sua varanda, sentindo os raios solares tocarem e aquecerem pouco a pouco sua pele.

O vento esvoaçou seus cabelos, bagunçando-os.

A morena não se importou. Ficou de bruços, inspirou o ar seco e ficou somente a contemplar o céu límpido, sem qualquer resta de nuvem.

Parecia nostálgica, longe de tudo que era terreno ou lógico.

Ela expirou com lentidão, baixando os olhos.

Desde o orfanato, o caminho tinha sido bastante longo... Quase que árduo.

Poder se divertir em um baile no fim da noite não parecia ser algo procedente de sua antiga vida... — E aí. — Ichigo murmurou de sua sacada, com a gravata borboleta presa em volta da testa.

Rukia moveu os olhos até o ruivo, fitando-o por um instante.

Ele estava com a mesma expressão emburrada de sempre. O cenho cuidadosamente contraído... As sobrancelhas juntas... Os lábios presos em uma linha rígida... E olhos completamente desinteressados em tudo.

Que assustador conhecê-lo tão bem...

A garota repuxou um sorriso de canto, respondendo seus próprios pensamentos.

É claro que não podia ser a vida de antes... Muitas coisas aconteceram... E agora, Ichigo estava aqui.

— Você está ridículo. — zombou, apontando para a gravata borboleta.

— Cale-se. Esse negócio de baile é muito problemático... Por que as escolas precisam fazer isso? — bufou ele, olhando pro lado.

— Ora, não seja tolo. Até bailes como esses tem os seus propósitos. — retrucou a pequena, balançando uma das mãos.

— Ah é? Quais seriam esses propósitos? — indagou. A pergunta mais pareceu uma espécie de desafio.

Imediatamente, a garota parou de balançar a mão, parecendo ter petrificado.

— Oh! Eu esqueci de pentear os meus chappys! Eles ficam tão tristes quando não faço isso... — Rukia soltara uma gargalhada teatral, iniciando alguns passos em rumo ao quarto.

— Idiota... Você poderia ao menos inventar uma desculpa menos esfarrapada. — sibilou Ichigo, vendo-a se afastar.

— Ah. É mesmo! Amanhã já é natal. — lembrou-se Rukia, esquecendo por completo ou pelo menos parcialmente do assunto de outrora. Ela demonstrou uma ligeira melancolia em comentar sobre aquela data. — Como eu adoro o natal... As pessoas parecem mais felizes... Mais amorosas... Não acha?

— Parece que sim. — respondeu em um suspiro entediado.

— Como assim “parece que sim”? Mostre mais entusiasmo! Afinal, vai ser natal! — Rukia repreendeu, virou e continuou a não entender como ele podia ser tão desanimado. — Espero que o Natal desse ano tenha mais vida. Como eu queria comprar uma árvore de natal e enfeitá-la! Não existe nada mais natalino que isso! — seus olhos faiscaram de emoção.

O rapaz a seguiu com os olhos, arqueou uma das sobrancelhas e decidiu não comentar sobre o assunto.

— Bem, eu vou indo. Tenho que terminar de me arrumar e buscar a Inoue na casa dela... — falou, retirando a gravata-borboleta do lugar pouco apropriado.

— Tão cedo? Parece animado e bastante envolvido, Ichigo. — o provocou, afinando a voz. — Cuidado pra não pisar no pé da Inoue no meio da valsa. Seria vergonhoso, muito vergonhoso... Mas eu acharia engraçado. 

— Maldita! Pare com essas gracinhas! Não é nada disso! É que antes do baile, a Inoue me chamou pra experimentar com a Tatsuki umas novas receitas que ela está criando. — bufou ele, quase atirando a gravata-borboleta na cara de Rukia. — E você... Bem... Trate de tomar cuidado com o Kaien... — complementou com vergonha o bastante para não conseguir encará-la nos olhos.

A morena piscou rapidamente, tentando conter uma onda de gargalhadas.

Ichigo com ciúmes? Parecia hilário.

— Você sabe, vai ser um pouco difícil... Estaremos dançando muito perto um do outro. — gesticulou a pequena, fazendo algumas mímicas como se estivesse acompanhada de alguém invisível.

— Você não ajuda nem um pouco agindo dessa forma... — sussurrou ele, juntando as sobrancelhas.

— Que desnecessário isso tudo. Não há com o que se preocupar. É só isso que tenho a dizer a você. — respondeu a garota com certa rispidez, voltando até a barra de ferro da sacada, ficando de bruços.

— Tudo bem, fazer o quê. — resmungou ele, coçando a cabeça. — Bem, até mais. Te vejo  no baile. — entrou no quarto, acenando de costas para a morena.

Rukia não respondeu. Ela semicerrou os olhos, direcionando-os para baixo.

Nunca falara claramente com Ichigo sobre seus sentimentos por Kaien. O que mantinha a desconfiança do ruivo era apenas uma dedução particular... Como se ele enxergasse um pouco do que existia dentro de si, mas, por que os sentimentos por Kaien voltaram a brotar de maneira tão nítida ao se deparar com a ideia de dançar junto a ele? Isso não deveria desaparecer mesmo depois de todo esse tempo ao lado de Ichigo? Ela expirou com a respiração pouco descompassada.

Não fazia sentido.

Ela pousou a mão acima do peito, reflexiva.

Que tipo de sentimento era aquele que estava brotando em seu peito...?      

Longe dali, os Thunders tinham se apropriado de visitar uma loja de roupas masculinas. Fizeram questão de encher os ouvidos de Kaien por palpites sobre que smoking comprar.

— Eu gostei desse azul-marinho. — murmurou Grimmjow, apontando.

— Eu nunca usaria um traje a rigor azul-marinho... Às vezes o seu gosto consegue me assustar. — retrucou Kaien, cansado de testar tantas roupas. — Há quanto tempo estamos aqui? Três horas? Estamos parecendo umas senhoras...

— Esse azul-marinho ficaria bom em mim. Na verdade, qualquer um ficaria bom em mim. — comentou Grimmjow, analisando todos os modelos.

— Você é de uma modéstia incrível. — suspirou Toushirou, jogando um traje a rigor para Kaien. — Por que não experimenta esse?

— Porque esse é igual ao penúltimo que você me passou. — bufou, bagunçando os cabelos. — Cara, nunca pensei que fosse tão difícil achar um smoking legal.

— E não é. Você poderia pegar qualquer um desses. — falou Renji, bocejando.

— É claro que não! Ocasiões especiais pedem cuidados especiais. Vocês não perceberam que a maioria desses smokings nem se ajustam direito no meu corpo? A ideia é não parecer ridículo. — bateu a mão na testa, sentindo-se exausto com aquela situação desgastante.

— Não lembro de você ser tão cuidadoso assim. — murmurou Hisagi, quase desabando de sono.          

— É o baile de formatura da Rukia... E ela me escolheu como par. Não posso vacilar. — respondeu ele, olhando para os intermináveis modelos de smokings que mais pareciam serem a mesma peça. — Vocês sabem. Podem se juntar a nós se desejarem.

— Eu iria de qualquer forma. — disse Grimmjow, ousado. Ele parecia persistente na ideia de levar o smoking azulado. — Não perderia uma bandeja de garotas como essa.

— Não me faça passar vergonha. — suspirou o moreno, tentando não pensar nos possíveis desentendimentos que Grimmjow sempre trazia com ele.

— Eu não vou. Tenho algo importante pra fazer essa noite. — comentou Hitsugaya, olhando para o lado como se não quisesse prosseguir com o assunto.

Kaien arqueou uma das sobrancelhas, repuxando um sorriso de canto.

— Que coisa importante seria essa? Teria a ver com a Hinamori-chan? — perguntou.

— Cale-se! Não é da sua conta! — corou em combustão, entregando os pontos.

— Verdade, o nanico agora está de namorada. Que perda de tempo. Tire a virgindade dela e suma pelo mundo. — gargalhou Grimmjow num ar perverso.

— Você consegue ser mais idiota? — indagou o grisalho, com as têmporas a pulsarem no alto da testa.

— Isso é meio raro. Hitsugaya quase não fica com ninguém. — comentou o ruivo, coçando o queixo.

— Por que de repente o assunto se tornou a minha vida pessoal? Voltem a fazer o que estavam fazendo. — grunhiu ele, incomodado com o rumo que a conversa tinha tomado.

— Mas adoramos falar sobre você, Toushirou... — Kaien fez um bico entre os lábios, manhoso. — Ou eu deveria dizer... Shiro-chan? — piscou rapidamente, ficando boquiaberto.

— Maldito... — rezingou o garoto, já tremendo de raiva.

— Cara, essa expressão do Kaien é tão gay que me assusta. — riu Hisagi, balançando a cabeça.

— Tudo bem, tudo bem... Vamos voltar ao assunto anterior antes que o Toushirou me mate. — sugeriu o moreno, engolindo em seco.

— Bailes são tão problemáticos... Eu prefiro ficar em casa. — expirou Renji, jogando um novo smoking para Kaien.

— Eu digo o mesmo. — concordou Hisagi.

— Eu até posso ir a esse baile. Depois de tantos meses ensaiando sem descanso, uma noite de folga seria bom. — falou Ulquiorra, dando a graça de sua voz.

Grimmjow girou a cabeça, esticando um sorriso sarcástico.

— Ah, quer dizer que você estava aí esse tempo todo? Você disse algo? Desculpe, é que não consigo escutar murmúrios. — falou ele, provocativo.

— Pare de implicar com o Ulquiorra, ele se tornou até mais comunicativo com o tempo, não acham? — defendeu Renji.

— Eu achei. — assentiu Kaien — Essa deve ser a maravilhosa convivência conosco.

— Não conte com isso. Vocês são uma péssima influência. — retrucou do mesmo modo inexpressivo de sempre.

— É impressionante como ele adora me cortar. — Kaien soprou um sorriso, descartando o smoking que Renji lhe jogara.

— Ei! O que vocês pensam que estão fazendo com todos esses smokings?! Aqui não é um camelô onde vocês podem jogar roupas onde bem quiserem! Isso aqui é uma loja fina! Olhem que bagunça vocês causaram! — esbravejou uma vendedora que irrompeu de repente, apanhando os modelos jogados no chão e em outros lugares.

Kaien estremeceu. A vendedora era uma ditadora de primeira. Se o pegasse, não duvidaria em nada que ela agarrasse a sua orelha e o obrigasse a recolher peça por peça. Numa tentativa desesperada, o moreno abaixou-se por trás de algumas fileiras de roupas, buscando se camuflar.

— Droga! — estalou a língua.

Mulheres de pulso muito forte era um medo particular seu... Tinha que fugir dali.

Ele se virou, executando alguns movimentos semelhantes a mimetismo.

Antes que o rapaz pudesse correr ou arranjar um lugar melhor para esconder da vendedora, seus olhos passaram distraidamente por um par de sapatos de couro, congelando-o.

Eles estavam a sua frente, imóveis como o resto do cenário.

Continham um brilho familiar... Assustadoramente familiar.

Kaien analisou com maior amplitude.

 Era de um modelo ultrapassado, um pouco surrado, mas sem perder aquele brilho agora um tanto opaco.

Algumas lembranças daquele sapato brotaram de sua memória, criando e juntando borrões de imagens que se construíam e se esvaiam como fumaça. As vozes de uma criança e algumas pessoas retumbavam em sua cabeça, invadindo qualquer espaço ou fresta vazia de sua cabeça, deixando-o entorpecido.

Kaien piscou, ergueu os olhos e os passou por um tecido branco — talvez um terno — até chegar ao rosto do homem.

Quando o fez, teve a certeza de conhecer aquele triste ser.

A primeira pergunta que lhe brotou na mente e logo se obstruiu foi: Como? Como ele conseguia lhe achar com toda aquela facilidade?

— O que você anda aprontando por aqui, hein mocinho? — um sorriso — aquele sorriso simpático — se abriu, deslumbrante, deixando os dentes esbranquiçados à mostra. Tudo parecia um teatro. Falso... Inclusive os dentes. — Espero que não esteja dando trabalho a essa graciosa senhorita que está se dispondo a atender você. — ele retirou o chapéu branco que escondia parte dos baixos cabelos enegrecidos, ligeiramente iluminados por madeixas grisalhas.

A vendedora ruborizou. Talvez nunca tivesse recebido um elogio como aquele, ainda que ele fosse de uma falsidade descomunal.

— Eu espero que o meu filho não a tenha estressado. — ele estendeu a mão num ato de cordialidade e ela, em resposta, entregou-lhe a sua, permitindo que ele administrasse um beijo nesta.

Kaien voltou a se erguer com lentidão, como se realmente não quisesse fazer aquilo.

— O visual do seu pai me faz lembrar o Michael Jackson naquele clipe lá... O Smooth Criminal. — Hisagi fez um comentário, talvez inconveniente, mas que fez nascer um pequeno sorriso nos lábios de Kaien.

— Nem brinca. — ele expirou pesadamente, passando a mão na testa um pouco gelada. 

— Oh, que galanteador! — a vendedora soltou um gemido, encantada. — Você deveria ser mais como o seu pai, rapaz.

Aquelas palavras o mataram, vagarosamente, mas mataram.

— Acho que não há mais nada pra ver nessa loja... Por que não vamos embora? — recomendou Hitsugaya, lançando um olhar amargo para o senhor plantado ao meio da loja.

Provavelmente, Kaien e Hitsugaya eram os únicos a tragarem e reconhecerem o ar tóxico que Takeshi exalava.

Quando ele aparecia, era como se roubasse até mesmo o brilho do sol. 

— Esperem um pouco. Não sejam tão apressados. Eu posso ajudar o meu querido filho a encontrar um smoking a sua altura. — retorquiu ele, com uma máscara de cinismo magnífica, quase impecável. — Venha aqui, Kaien... Quero que preste atenção nos modelos que vou lhe mostrar. — ele indicou uma área com o dedo, passando o braço por cima dos ombros encolhidos de Kaien.

Ele estavam de costas aos demais. 

— Eu não vou dar dinheiro. — cochichou o moreno com um tom gélido, levemente agressivo.

— Você fala como se o seu pai só lhe procurasse pra arrancar dinheiro. — ele repuxou um sorriso, sem retirar os olhos de Kaien.

O rapaz ficara alguns segundos em silêncio, parecendo escolher as palavras.

— De qualquer maneira, eu estou sem dinheiro. — revelou, soprando o ar.

— Soube que você vai fazer um show daqui a alguns meses. — ele jogou no ar, como se quisesse insinuar algo a partir daquela informação.

Kaien entendeu imediatamente, movendo as orbes de encontro a íris acinzentada e opaca dos olhos de seu pai.  

Agora estava mostrando seus verdadeiros interesses... Agora sim, mostrava sua verdadeira face.

— Não há qualquer fim lucrativo relacionado a esse show. Faremos por mera divulgação. — explicou, sem dar muitos detalhes.

— Estou necessitado de dinheiro, Kaien. Sua mãe está doente e precisa de...

— Ah, cala a boca! — o moreno mastigou as palavras, triturando-a entre os dentes fortemente cerrados. — Pare de usar ela como pretexto! Vocês pouco se importavam um pro outro quando morávamos juntos. Por que isso mudaria hoje em dia? Ao menos seja honesto sobre o que vai fazer com esse dinheiro.

Takeshi fez um sinal para que ele abaixasse o tom.

Ele pressionou um dos ombros de Kaien, dando-o tapinhas amigáveis.

— Certo, certo... Você ganhou. Preciso de dinheiro pra pagar algumas dívidas. Se eu não pagá-las imediatamente, eu não sei o que pode acontecer comigo, está satisfeito? — ainda não. Ainda não era convincente.

Kaien balançou a cabeça com todas as forças, afastando o corpo do seu pai de si.

— Não! Eu não vou mais entregar dinheiro a você! Chega! — rugiu, atraindo a atenção dos outros Thunders. — Você sempre foi um pai de merda e agora aparece como se nada tivesse acontecido... E ainda quer me extorquir! Até onde essa sua maldita cara de pau vai? Mais que droga! Eu quero ter uma vida tranqüila. Não me interessa mais o que você faz da sua vida! Há muito tempo... Desde que você me abandonou naquele maldito orfanato! Eu apaguei você da minha vida. Eu não tenho pai. Não tenho mãe. E assim que vai ser. Agora... — ele resfolegou, se apoiando em uma prateleira. — SAI DAQUI! — cuspiu as palavras, sem sequer encará-lo nos olhos. Não conseguia. Não queria.

Takeshi percebeu que as pessoas ao redor o olhavam e os comentários e sussurros surgiram como uma onda violenta, envergonhando-o.

Ele não sabia o que dizer. Não contava que Kaien reagisse daquela forma. O homem troncudo recolocou o chapéu na cabeça, apontando o indicador para o filho.

— Escute, Kaien... Um dia, você vai se arrepender... Ah sim, como vai! Um filho não fala assim com o seu pai. Seu monstrinho. — ameaçou, tentando fazer-se de vitima.

Kaien o fitou, incrédulo.

Monstro? Aquilo era uma piada. Só podia.

— Aguarde. — tremulou a ponta do dedo, com os olhos fixos nele.

— Um pai que ameaça o filho tem moral pra chamá-lo de monstro? — intrometeu-se Toushirou, imponente, pondo-se a frente de Kaien. — Francamente... Por que não sai logo daqui, seu abominável? Ninguém faz questão da sua presença insignificante.

Sabia que aquela conversa pertencia somente a ele e seu pai, mas não abandonaria seu amigo. Seria seu escudo se fosse preciso.  

Takeshi não respondeu. Seu conflito visual era com Kaien, apenas com ele.

Já tinha entregado o recado. Ele passou o dedo por baixo das narinas úmidas, esboçando um sorriso irônico até finalmente dar as costas e sumir da loja.

As pernas de Kaien cederam e ele deslizou lentamente, sentando-se no chão.

Parecia mais calmo, mais leve... Quando como um temporal vai embora e deixa algumas áreas afetadas, mas a salvo.

— Vai ficar tudo bem, Kaien. — tranqüilizou o grisalho, arqueando uma das sobrancelhas. — Você foi muito corajoso em enfrentá-lo.

— Claro que vai. Tem que ficar. — retrucou com as palavras a saírem livremente, sem restrição de pensamentos. — Bem, tenho um baile pra ir. Não posso ficar aqui o dia todo. — acrescentou, sacudindo a cabeça para espantar o efeito aturdido em seu corpo.

— Estamos com você. — alguém dos Thunders disse aquilo e quando Kaien pousara os olhos nos membros, todos esboçaram sorrisos apaziguadores, confortando-o.

O moreno levantou e um largo sorriso iluminou sua face. 

Naquele instante... Ele teve a certeza de que nunca mais andaria pra trás. Seguiria em frente... E dessa vez, não mais sozinho.     

Algumas horas depois, quando a lua brilhou no alto do céu, mostrando o ápice da noite... Inúmeras garotas já se deslocavam em rumo ao salão alugado devidamente condecorado.

Na verdade, as meninas foram as primeiras a chegar.

Algumas acompanhadas dos pares, outras sozinhas e mais algumas com a companhia de familiares.     

 Pareciam animadas, em contrapartida aos garotos que não demonstravam tanto entusiasmo em participar daquele evento.

Talvez aquela fosse a essência feminina motivada por todo e qualquer fator que as lembrasse algo romântico, digno de filmes, e um baile não estava distante daquilo.

Keigo, particularmente falando, não achava que nada daquilo fosse romântico e muito menos cinematográfico.

O baile de formatura tinha se tornado apenas mais uma parte trágica da sua vida.

No fim, não arrumara nenhuma garota para acompanhá-lo, restando somente a sua companhia pouco abrasadora.

Ele estava em um canto do imenso salão, resmungando e sendo o mesmo melodramático de sempre, com alguma sorte, encontrou outros rejeitado, juntando-se a eles em um pequeno motim revoltado com as garotas.

Em frente a casa dos Kuchiki, Byakuya, o irmão mais zeloso que se via por aquelas bandas, alugara uma limusine negra e bastante confortável.

Quando Rukia pôs os olhos no automóvel, mal pôde acreditar.

Era como se estivesse vivendo algo surreal ou algo do tipo.

O irmão fez questão de abrir a porta quando o automóvel estacionou a frente da residência.

Ela o fitou com os olhos marejados, sem saber o que falar. Byakuya era perfeito. Certamente, se não fossem irmãos, Rukia teria se apaixonado por aquele rapaz.

Ele delineou algo que foi — quase — um sorriso.

Encarregou-se de guiá-la até o interior da limusine, olhando para o lado.

— Limusine bonita, hein Byakuya. — falou Yoruichi, mais próxima que de costume.

O moreno passara o braço por trás das costas da mulher, também conduzindo-a para dentro da limusine.

— Vamos. — falou com um timbre terno, cuidando pra que a cauda do longo vestido vermelho de Yoruichi não ficasse preso em qualquer lugar.

Durante esses três meses que se passaram, Byakuya e Yoruichi adquiriram uma relação mais íntima, quase estável se não fosse pelo detalhe da morena evitar os relacionamentos sérios, o que já estava sendo estudado pelo Kuchiki. 

— Ei, ei! Não esqueçam de mim! Esperem! — gritou Matsumoto, sendo a última a sair de casa.

Ela correu, puxando partes do vestido preto, por pouco não tropeçando nas próprias coxas.

A ruiva adentrou, sentando-se ao lado de Rukia com certa indignação no semblante.

— Vocês iriam sem mim? — bateu a porta, colocando os longos cabelos de lado para que suas costas não ficassem suadas com a pequena corrida que tinha dado.

— Claro que não, Matsumoto-san. Estávamos aguardando você. — prontificou-se Rukia a esclarecer.

Byakuya fez qualquer sinal para que o motorista os tirasse dali, não fazendo qualquer comentário sobre a presença de Matsumoto, afinal, nem sabia que ela iria.

— Ah sim. — a ruiva correu os olhos por todo o interior do carro, deslumbrada com cada detalhe de alto nível. — Nossa! Que limusine linda! É esplêndida! Me sinto em um daqueles filmes de adolescentes riquinhos. Só falta uma coisa...

Os outros a olharam com curiosidade. Matsumoto elevou-se a altura da passagem de ar que o teto do carro tinha.

Ela atravessou metade do seu corpo, saboreando o gosto do ar frio e úmido da noite. Ele transpassou seus cabelos, espalhando-os em movimentos iguais no vento como se fosse uma bandeira.

 — Uhul! Eu vou pra noitada! Ninguém me segura! Essa limusine é demais! E eu estou dentro dela! EUUUU! — ela contorceu o tronco, o que pareceu ser uma espécie de dança.

Mexeu os braços, fazendo careta a qualquer pessoa que visse pelas ruas.   

Byakuya se reteve a puxar parte do vestido de Matsumoto, se incumbido da difícil tarefa de colocá-la de volta ao interior do automóvel... Completamente, é claro.

— Sinceramente, mesmo sem colocar uma única gota de álcool na boca, você consegue ser mais bêbada que o comum. — sibilou Byakuya, sondando-a.  

Rukia esboçou um sorriso torto, decidindo continuar com o assunto.

— Essa limusine, realmente, é muito bonita. O estofado é confortável também. — comentou ela, não de forma desenfreada como Matsumoto. — Espero que não cheguemos muito tarde.

— Fique tranqüila, Rukia. Grandes garotas costumam se atrasar um pouco. Causam o peso de uma célebre noiva que é esperada por todos no altar. — comentou Yoruichi, repuxando um sorriso malicioso.

— Devo me preocupar com a influência que você possa exercer em minha irmã? — perguntou Byakuya, abrindo uma garrafa de champanhe no luxuoso frigobar residente da limusine.

— Como se sua irmã pudesse ser influenciada por mim... — riu ela, pegando uma taça de champanhe já preenchida por Byakuya que repassou as demais para as outras garotas. — Mas Rukia, você tem muita sorte. Não são todas as garotas que vão de limusine a um baile. Típico de uma princesa. — fez como se fosse brindar, elevando a taça em torno de seus lábios.

— É verdade. Hoje é uma noite especial para você. — concordou Matsumoto, tomando toda a bebida em um único gole.

— Vá com calma. Se ficar bêbada dentro dessa limusine, mando levá-la de volta pra casa. — alertou Byakuya, nem um pouco brando sobre aquilo.

— Obrigada Yoruichi-san. — agradeceu a pequena, juntando as pequenas mãos em torno da taça. — Sim, eu tenho bastante sorte... Por ter o irmão que eu tenho. — complementou com um olhar cheio de ternura.

 Byakuya retribuiu o olhar, esticando a sua taça para que esta tocasse na dela.

— Ah, seu irmão... — Yoruichi respirou profundamente, fitando-o. — Sabe, nem acreditei quando ele me chamou pra vir ao baile com vocês.

— Mas são quase namorados, Yoruichi-san... O que há de mais? — murmurou Rukia, pretendendo não ser tão invasiva.

— Quase namorados? — perguntou ela, usando de um tom meio irônico, mas também, meio surpreso.

— Senhor, acabamos de chegar. — informou o motorista, parando a limusine.

Byakuya, em silêncio, fizera mais uma vez o papel de cavalheiro, abrindo a porta para que as damas saíssem e o acompanhassem.

Kaien, Grimmjow e Ulquiorra, por outro lado, já tinham chegado no local algumas horas atrás, apesar das eventualidades decorrentes.

O azulado degustava da mesa de bebidas, por hora, moderando no álcool.

Ulquiorra, em compensação, ficara na companhia de Kaien, comentando sobre algumas notas das novas músicas que compuseram.   

Eles tinham por se decidir usar smokings diferenciados.

Grimmjow acabara levando o smoking azul. Ulquiorra levara um meio tradicional, mas não tão diferente dos demais e Kaien, escolhera um elegante, que lhe custara o olho da cara, mas que pensou valer a pena.

A gravata borboleta era branca, diferente das outras que eram, em demasia, pretas.

Ele mal conseguia se concentrar no assunto de Ulquiorra, estava tenso demais e isso se refletia nas mãos ligeiramente trêmulas.

— Ela já vai chegar, pare com isso. — falou o esguio, não entendendo o porquê do nervosismo. — Seria melhor que a tivesse trazido.

— Como se ela quisesse. — bufou ele, tamborilando os dedos uns nos outros. — Rukia disse que virá com o irmão dela. Não pude fazer nada em relação a isso.

— Então apenas aguarde e pare de tremer. — determinou Ulquiorra, resolvendo buscar um par de drinques pra ver se ele se acalmava.

O moreno olhou ao redor. A música era calma, serena e quem sabe, romântica. Aquilo embrulhou o seu estômago, criando ondas de calafrios que se espalharam por sua espinha, eriçando cada um de seus pêlos.

Kaien desejou dar socos em si mesmo. Não devia se permitir a sentir mais aqueles sentimentos por Rukia. Ela estava muito bem com Ichigo. Tinha de encarar aquilo com maturidade.   

Ele fitou os casais que dançavam no meio do salão. A festa não tinha restrições quanto a cerimônia de formatura que tinha dias antes para que os alunos se concentrassem em usar a diversão como único motivo pra vir a esse baile.

Os minutos passavam dolorosamente, torturando-o.

Mais e mais pessoas chegavam, menos Rukia.

— Onde estão as mulheres livres dessa pocilga? — perguntou Grimmjow de súbito, preenchendo todo o campo de visão do rapaz.

— Procure mais. Com certeza encontrará alguma gazela ferida que precisa dos seus cuidados. — brincou Kaien, buscando livrar-se da ansiedade que o atormentava.

— Eu acho que já encontrei. — sibilou o azulado, erguendo a taça de champanhe a altura dos finos lábios avermelhados.

Ele vislumbrou uma garota que estava de costas, com a silhueta bastante definida.

Usava um vestido vermelho, o mais provocante possível.

As costas estavam nuas. O corte do vestido quase cavava a entrada dos quadris.

Como Grimmjow queria passear as mãos por aquela pele branca... Explorando cada detalhe e particularidade.

Os cabelos eram curtos, com as pontas repicadas, mas estranhamente, tinha um toque feminino.

— Agora é hora do tigrão aqui atacar. — iniciou, com os olhos ferventes e promissores. Ele deixou a taça com Kaien, avançando em direção a garota que para a sua conveniência, estava sozinha... Talvez a espera do lobo mau.

— Boa sorte. — desejou o moreno, nem um pouco surpreso.

Ele olhou para o lado e viu Ichigo e Orihime adentrarem ao salão. 

A ruiva levava um sorriso tímido e orgulhoso, enquanto que seu acompanhante se limitava a deixar a expressão o menos possível de entediada.  

“Inoue é realmente linda”, pensou Kaien.  

O moreno virou-se pra que Ichigo não pousasse os olhos em si.

Não queria perder o humor logo de início.

Ele engoliu o resto do champanhe de Grimmjow, sentindo o álcool invadir e impregnar a sua garganta.

— Aquela mulher é bonita. — murmurou Ulquiorra, aparecendo ao seu lado como se fosse um fantasma.

No caminho, esquecera o drinque de Kaien, limitando-se a bebericar o seu.

— Nossa, você quase me matou de susto! — exclamou, pondo a mão no peito.

Retomando os sentidos básicos, ele assimilou o que o tecladista falara, vendo que ele se referia a Inoue.

— Sim, compartilhamos do mesmo pensamento. — concordou em um tom de surpresa. Aquela era a primeira vez que via Ulquiorra elogiar uma garota.

— Quem sabe eu possa dançar com ela no meio do baile. — falou em um sussurro quase inaudível.

Kaien tossiu, arregalando os olhos.

— Certo, acho que vou parar de beber. Estou começando a escutar coisas estranhas. — passou as mãos pelos cabelos penteados para trás com a ajuda de gel.

— Sua dama chegou. — comunicou ele, apontando sem maiores alardes em direção a entrada.

Ele se virou em um movimento rápido, mas que pareceu durar toda a sua vida, vendo Rukia entrar à companhia de Byakuya, Yoruichi e Matsumoto que se deslumbrava com a mesa de bebidas.

Nada importava. Ele focou os olhos apenas na pequena.

Se Inoue era linda... Rukia estava perto do irreal.

O moreno suspirou com emoção.

O vestido azul escuro resplandecia mais que os próprios lustres aderidos ao teto do salão.

Era volumoso, lembrava o vestido de uma verdadeira princesa.

Rukia mantivera os cabelos cuidadosamente presos em um arranjo que deixara seu rosto mais visível, mais límpido.

Kaien iniciou alguns passos, ainda bobo, boquiaberto... Quase a tropeçar.

Byakuya, tão elegante quanto a irmã, a conduziu até o rapaz.

Kaien estendeu a mão, exibiu um sorriso que corou as suas bochechas.

— Está belíssima, mi lady. — elogiou. Não imaginava que a imagem de Rukia com aquele vestido pudesse ter a força de destruir toda a defesa que havia construído durante esses meses contra seus sentimentos.

Como um castelo de areia, tão frágil, ele se desfez.

O perfume da garota invadiu todo o seu interior. Ele sentiu-se aturdido, mas ao mesmo tempo, vivo e sedento por mais daquele aroma.

— Obrigada. — respondeu ela, olhando para o seu cabelo. — Você parece mais velho com esse cabelo todo pra trás. — soltou um risinho, pousando a mão revestida por uma longa luva alva acima da palma dele. 

— Gostou? — sorriu, desviando os olhos para Byakuya. — Me daria a honra de conduzi-la a partir daqui?

— Cuide dela. Estarei o tempo todo de prontidão. — Byakuya entregou-lhe, cauteloso, porém, seguro de que Kaien era um bom porto para a sua irmã.

Kaien assentiu, puxando-a delicadamente para o centro do salão.

Byakuya voltou-se para Yoruichi, levando-a até uma das mesas vagas que ficavam aos arredores do salão, alojando os demais parentes e até mesmo alunos um tanto cansados.

Matsumoto sumira no primeiro instante. Talvez já estivesse enchendo a cara por aí. Em todo caso, Byakuya não se importaria além do conveniente.

— Está no limite. — falou ele, de súbito, pegando Yoruichi desprevenida.

— O que? — perguntou.

Ele puxou uma cadeira para que ela sentasse. Ela o fez.

— Não passarei a minha vida toda preso aos seus jogos, Shihouin Yoruichi. — inclinou a coluna, sussurrando aquilo no ouvido de Yoruichi.

Ela afastou o rosto, com um calafrio a percorrer sua pele.

— O que quer dizer com isso, Byakuya? Seja direto. — mandou, emburrada com os rodeios.

O moreno andou calmamente até a cadeira do lado, sentando-se.

— Se não deseja um relacionamento sério, eu não sou o homem mais indicado para você. — falou com a voz firme, por nenhum instante vacilante.

Ela compreendeu imediatamente do que se tratava. Era a continuação daquela conversa da limusine...

— Não procuro por jogos promíscuos, você deve saber... Eu quero uma parceira, embora você não seja o tipo de mulher que eu tenha planejado para a minha vida. — prosseguiu, parecendo ser mais duro a cada palavra que se seguia.

— Hã? Vai me menosprezar agora? — indagou numa expressão desinteressada.

— Não. — respondeu em um sopro. — Você não é a mulher que planejei ter, mas é a única que eu quero. — acrescentou, fixando os olhos nos dela.

Ela não pôde evitar das suas feições ficarem mais avivadas com o que ele dissera.

— B-Bem... — o embaraço ficou eminente nas palavras que ela tentava emitir.

— Shihouin Yoruichi, essa é a última vez que me disponho a fazer esse pedido. — iniciou ele, esticando suas mãos para que estas alcançassem as dela, tão trêmulas e e frias. — Você aceitaria casar-se comigo?

Tão de repente... O impacto foi inevitável.

 Yoruichi sentiu como se sua cabeça tivesse dado voltas. Mal pôde raciocinar. Suas costelas pareciam assustadoramente comprimidas por dentro de seu corpo, martelavam incessantemente, latejando qualquer processo básico de respiração.

Seus dedos, por algum instinto ou algo parecido, entrelaçaram-se um por um na mão do Kuchiki, tomando-o. 

Ela baixou a cabeça por um segundo e soltou tudo em um longo suspiro, reorganizando as ideias.

Homens comuns queriam só ficar. Homens mais sérios queriam um namoro, mas... Byakuya, ele era o tipo que considerava casamento o único relacionamento válido e honrado.

Isso era loucura.

Yoruichi tinha seus motivos, ah sim, seus motivos que a impeliam para ir contra esses laços matrimoniais. Como alguém como Byakuya se interessara por ela ao ponto de pedi-la em casamento?

Ele era um doce... Não, mais que isso... Durante todo esse tempo, talvez ele tenha sido o único homem a tratá-la como uma mulher de verdade.

Aquilo acelerou seus batimentos cardíacos. Por um único momento jurou estar ao passo de uma explosão.

 — Byakuya... — as palavras se deslocaram em um fio independente, saindo a voz fraca, mais vulnerável do que gostaria estar. — Eu... — os pensamentos lhe preencheram a mente. Todos diziam-lhe com persistência para não perdê-lo. Não queria perdê-lo... O que se iniciou como uma simples brincadeira ou partícula de luxúria se tornara em algo não planejado, decerto inusitado, porém... Era a melhor parte que habitava na morena. Não a deixaria se esvair assim. Dane-se o fato de ter descartado outros relacionamentos. Byakuya era diferente. — É o que eu mais quero. Ficar com você, Bya-kun. — terminou, com a respiração falha, mas sem abandonar as velhas pontadas de ironia.      

O Kuchiki ficou em silêncio.

Ficara um pouco surpreso, apesar de tentar esconder isso.

Ele não colocou nada em palavras, ficando a exibir um breve sorriso de satisfação que se aproximou dos lábios da mulher, cobrindo-os com afeição. 

            Enquanto isso, Grimmjow, partindo em sua caçada perigosa, alcançava a sua vítima. Estudando-a de baixo para cima, como um animal faminto por carne.

Ele ajustou a voz, tossindo para eliminar qualquer empecilho que modificasse seu timbre irresistível; sendo assim como julgava a si mesmo.

— Baile perfeito, não acha? — estreou com um assunto que presumiu ser previsível, mas que surtia um efeito nulo. Não teria porque ela o dispensar de início.

— Nem tanto, e... — ela se virou para o rapaz, mostrando-se pasma em ver a sua cara.

Ele ostentou a mesma expressão, apontando-a com o indicador acusador.

— É a sapata de novo! Cara, já é a segunda vez! Só pode ser pegadinha! — exclamou ele, cético de que tivesse se enganado novamente.

— Quem você está chamando de sapata, seu idiota?! — ela desferiu um soco na sua barriga, não ficando surpresa em querer espancá-lo nos primeiros minutos de conversa.

— Espancar não... Eu paro, eu paro. — assegurou, contorcendo o abdômen dolorido.   

— Não imaginei que você viria. — sussurrou ela, de cenho franzido.

— Como eu não viria? Onde existir muitas mulheres bonitas, eu também estarei. — respondeu, achando que aquilo era bastante óbvio.

— É um cafajeste notável, hã? — ela balançou a cabeça, mirando os olhos criteriosos ao smoking dele. — O que há com o seu smoking? Sempre querendo aparecer... Mesmo que esteja ridículo. — se desmanchou em gargalhadas, não se contendo.

— Isso é estilo, idiota. — resmungou ele, ajustando sua gravata-borboleta. — O que anda fazendo perdida por aqui? Não me surpreende que não tenha arranjado ninguém pra ser o seu par. Sente-se solitária? Está a deriva das lágrimas?

— Cale-se, maldito. Eu vim sozinha porque quis. Não é como se eu tivesse sido abandonada ou deixada de lado. — suspirou, entediada. — A conversa está muito empolgante, mas eu vou ver algo melhor pra fazer. — ela arquitetou um sorriso fingido, afastando-se do rapaz.

Tatsuki fora surpreendida pela mão de Grimmjow que agarrou seu pulso, detendo-a.

Ela virou a cabeça, com os olhos largos.

— Já que estamos aqui, por que não dançamos um pouco? — perguntou ele, parecendo lhe desafiar.

— Presume que não sei dançar? — ela estalou a língua, arqueando uma das sobrancelhas.

— Vamos ver. — ele a soltou, posicionando-se. — Nunca tivemos a oportunidade de conversar decentemente. Por que não tentamos hoje? 

A garota fungou, aceitando o desafio de Grimmjow.

— Porque é impossível conversar decentemente com você. — respondeu-lhe.

Ela tocou a ponta dos dedos em torno do ombro dele, enquanto a outra mão se entrelaçou a dele, permitindo que ambos os corpos ficassem próximos, próximos até demais.

Grimmjow fitou os grandes olhos castanhos. Nunca se demorou muito neles e quando o fez, sentiu-se um pouco estranho.

— Por que está me olhando com essa cara de babaca? — perguntou ela, também estranhando.

Ele sacudiu a cabeça, juntando as sobrancelhas.

— O quê? Fico surpreso de você ainda não ter pisado no meu pé. — puxou um comentário.

Tatsuki ergueu uma das sobrancelhas, pisando no seu pé de propósito.

— Pisar tipo assim? — perguntou cinicamente.

— Ai! Vamos dar uma trégua, ok? Desse jeito você vai acabar triturando todo o meu corpo.

— Seria um sonho. — expirou o ar, virando o rosto para o lado.

— O que você anda fazendo da sua vida? — se surpreendeu ao perguntar aquilo, já que pouco interessava pelo o que as mulheres que passavam por sua vida faziam.

Ela voltou a fitá-lo, demorando-se nas palavras.

— Hm... Ultimamente só ando pesquisando uma boa faculdade e treinando para um torneio de karatê.  

— Ah, você luta? Então explica a mão pesada... — se sobressaltou.

— Me preparei o ano todo para esse torneio. Estou confiante. — continuou ela, com os olhos a brilharem de fascinação. Grimmjow logo definiu que aquele seria um dos assuntos prediletos da garota.  

— Se você bater com a mesma força que bate em mim, considere-se campeã. — sorriu, sem parecer o anarquista de sempre. 

Tatsuki limpou a garganta, sendo girada com cordialidade. Ela notou a mudança repentina de comportamento.

— Mas então... Estou atrapalhando o seu plano de conquistador? Se for o caso, podemos parar quando você quiser. — falou, com a voz a soar inerme, quase melancólica.  

Ela desviou os olhos para os ombros de Grimmjow que a principio não havia percebido quão largos eram. Lembravam-na uma montanha. Ombros da mais pura essência máscula.

Estranhamente, sentiu-se estremecida com aqueles pensamentos. 

— No momento, eu não estou tão apressado pra prosseguir com esse plano. — retrucou, não dando tanta importância. — Tatsuki... — chamou-lhe pela primeira vez pelo nome, fazendo-a sentir um arrepio fraco, mas que aguçou os seus sentidos.

— Fale.

— Você acharia estranho se eu falasse que você está bonita? — perguntou em um murmúrio, arrependendo-se por ter deixado aquelas palavras vazarem de sua boca.

— Muito. — admitiu.  

— Dane-se. Eu não ligo. — ele riu, balançando a cabeça. — Você está diferente.

— Não venha dar pinta de garanhão barato pra cima de mim. É patético. — ela suspirou, sem encará-lo, embora aquele elogio tivesse salpicado um pouco alegria em sua noite.

— Mas falo sério. — insistiu, passando os dedos calejados de tanto tocar guitarra na parte nua de suas costas. — Não é cantada barata. — lhe assegurou, preocupando-se em não parecer tão convincente.

Ela ficou sem ar quando o sentiu tão quente acima de sua pele. Uma sensação nunca vivida pela morena que a fez retroceder aos desejos mais primitivos e infames.

— Grimmjow, chega. — pediu, por pouco não suplicando. — Idiota...

O azulado estreitou o espaço que sobrava entre os corpos, unindo sua testa a dela enquanto a embalava em uma dança mais pessoal, mais íntima.

Ele elevou a mão até os cabelos de Tatsuki, fechando-os delicadamente em uma porção das madeixas.

— Sou tão vítima quanto você. — cochichou, falando a verdade. Naquele instante, não estava no domínio. Não se tratava de mera atração... E aquilo surgiu do nada, sem avisar, crescendo com descontrole, sem qualquer restrição. — Está emergindo de repente... 

Tatsuki sentiu um nó formar-se em sua garganta, roubando-lhe a fala.

Isso não podia acontecer. NÃO! Não estava acontecendo! Desde quando esse sentimento estava escondido dentro de seu peito?

Ela sacudiu a cabeça com todas as forças, tentando se afastar.

— Não quero... Fazer parte disso! — ofegou, recuando.

Grimmjow puxou sua cintura de volta, levando a mão ao encontro da nuca de Tatsuki, olhando-a nos olhos.

— Shh, você fala demais. — murmurou ele, tomando as rédeas da situação.

Ele aproximou os lábios, chocando-os contra os dela. Os deslizou por aquela boca rosada e úmida, lhe mordiscando e arrancando o único suspiro de sanidade que jazia naquele corpo.

As mãos de Tatsuki pararam de lutar. Se contornaram ao redor dos músculos de Grimmjow, lhe abocanhando os lábios.

Estavam incontroláveis. Perderam o eixo e agora era como se submetessem a arder na mais perversa chama.

O azulado cambaleou, — sem separar os lábios — ele abriu um dos olhos para guiá-la ao canto do salão.

Nunca sentira nada parecido por qualquer outra mulher. Aquele desejo... Precisava despejá-lo o mais rápido possível. Antes que explodisse.

Ele a pressionou contra a parede, atraindo os olhares de alguns invejosos e outros que se preocupavam mais em fuxicar do que cuidar da própria vida.

— Deixa eu te levar pra outro lugar... — ele arfou, sugando-lhe o pescoço.

Tatsuki estava aturdida, entregue aos sentimentos, ao calor.

— Pra onde quiser. — ela lhe respondeu, pousando a cabeça em seu ombro. — Mas... Grimmjow... Eu nunca fiz... Nunca fiz isso. — balbuciou, corando incandescente entre as bochechas.

— Eu serei carinhoso. — garantiu, deslizando a mão por sua face. — Prometo.

Ela assentiu e ele sorriu, puxando-a pela mão até que sumissem do meio da multidão, fugindo pela entrada do salão.

            Kaien e Rukia, por outro lado, estavam longe de sair daquele baile.

Eles atravessaram algumas pessoas que ora conversavam e ora dançavam.

— Oh, esses quitutes parecem bons. — comentou a pequena, aterrissando os olhos em um dos variados salgados que saturavam a mesa. 

— Sim. — concordou Kaien, olhando os alunos se remexerem com a troca de músicas que alternavam do lento para o animado. — Todos estão se divertindo, não?

Rukia despedaçou um dos bolinhos só em pegá-lo.

Ela sentiu-se um pouco frustrada, mas ainda sim, enfiou os pedaços na boca.

Kaien voltou o olhar para ela, vendo-a com os arredores da boca sujos por farelos.

— Que mania em se sujar toda pra comer as coisas. — suspirou, apanhando um pedaço de guardanapo, limpando esses arredores.

— Você fazendo isso parece que sou até uma espécie de recém-nascida. — murmurou ela, corando.

Desde esses últimos meses, Rukia e Kaien ficaram um pouco distantes. Foi o que a pequena notou.

As únicas vezes que se falaram tanto foram nas tardes intermináveis de ensaios para o show, onde ele estabelecia o que ela deveria fazer durante a apresentação. Depois disso, se limitavam a conversas vagas, cumprimentos e assuntos rasos.   

— E não é? — sorriu ele, terminando.

A morena ficou em silêncio, observando Ichigo e Inoue passar em frente a eles.

Os ruivos caminharam ao encontro dos amigos da sala.

Ichigo mostrou mais entusiasmo em jogar conversa fora do que andar com Orihime.  

Aquilo fez com que Rukia sorrisse. Tinha de admitir, era cômico de alguma forma.

— Parece que Ulquiorra se interessou por aquela ruiva. — falou o moreno, sabendo aonde os olhos da garota tinham parado.

— Ah é? Ele nunca mostrou interesse por ninguém... Já estava começando a achar que era assexuado. — demonstrou espanto.   

— É verdade.

Para a surpresa de ambos, bastou Ichigo dar as costas para que Ulquiorra se aproximasse de Inoue.

Ela sorriu, meio abobalhada com a sua presença inesperada. Eles se cumprimentaram e trocaram algumas palavras.

Pelo o que pareceu, Ulquiorra foi direto. A ruiva corou e puxou uma parte do smoking de Ichigo, perguntando-lhe algo.

Ele somente assentiu sem qualquer preocupação, deixando que ela fosse levada pelo rapaz.

— Estão falando algo sobre pudim. — murmurou Kaien.

— Como sabe? Acaso interpreta leitura labial? — perguntou a morena.

— Não, mas eu entendo quando tem comida no meio. — ele montou uma careta, não acreditando nas besteiras que contava.

Rukia riu, passando os olhos distraidamente pelo salão.

Eles pararam. Ligaram-se ao par de olhos de castanho vivo que a encarava.

Ichigo enfim a localizara. Seus olhos arderam numa mescla de ciúmes e desejo.

Queria estar ao lado de sua pequena. Queria afogar-lhe em seus braços e beijar cada centímetro de sua pele... Mas para o seu descontentamento, não era aquilo que estava acontecendo.

Ele piscou, não seria bom pensar sobre isso nas atuais circunstâncias.

O ruivo respirou longamente, como se meditasse, voltando a conversar com Keigo, Mizuiro e Sado.

Eles comentavam algo como Ishida não ter aparecido. Ichigo sentiu-se na mesma situação que o amigo, também não deveria ter aparecido. Não poderia cogitar em ver Rukia dançando... Isso fazia seu estômago dar voltas, cambaleando como um barco a mercê da correnteza.    

— Vamos dançar um pouco, senhorita? — Kaien ergueu o braço para que a pequena o tomasse.

Ela o segurou, feliz pelo rapaz não estar tão frio quanto nos dias anteriores.

— Você sabe dançar? Que surpresa. — impressionou-se ela, sendo conduzida ao meio do salão, vendo-o enlaçar sua cintura e competentemente, dirigindo os passos daquela dança.

— Um pouco. — admitiu. — O vestido foi uma ótima escolha. Realçou ainda mais os olhos. — falou em um murmúrio, fitando a profundidade daqueles olhos com certa ternura. 

Ele a girou, fazendo com que o vestido também dançasse.

O vestido parecia reluzir a cada segundo. Ele tinha um decote discreto, que descia até abaixo da clavícula, não menos sensual. O tecido exibia detalhes altamente femininos, com pequenos focos de brilhos entre alguns espaçamentos.

Aquela era a primeira vez que via Rukia com maquiagem. Ela parecia menos inocente. Mais mulher. Um lado que não conhecia da pequena que o fez estremecer.

Aquela cena o fez lembrar do sonho que tivera tempos atrás. No triste desfecho de seu conto de fadas particular.

De repente, enquanto Kaien a embalava naquela dança, trocaram a melodia.

You and Me de LifeHouse se tornou a trilha sonora que os acompanhou, que os inspirou. 

Por um único momento, o moreno enxergou aquela música como, talvez, o seu reflexo naquele instante...

— Não consigo tirar os olhos de você. Está encantadora, Rukia. — falou o moreno, meio sem graça.

— Obrigada, Kaien-dono. — ruborizou, engolindo em seco. — Você também está muito bonito... — acrescentou, baixando os olhos meio tímidos. — Sabe, eu sei que é meio inconveniente... — murmurou ela, apertando a mão de Kaien.

— Diga. — falou com a voz aveludada.

— Existe uma pergunta que eu quero fazer a você desde aquele dia... Há algum tempo... Você lembra? — ela sentiu pontadas perfurarem o seu coração. O sangue a circular com mais rapidez. — No quarto do Ichigo... O que você quis realmente fazer?

Ela sentiu como se soubesse da resposta, mas necessitava que Kaien lhe confirmasse... Como se aquilo fosse o gatilho para algo que até então desconhecia.

Ele parou por um momento, recomeçando a dança.

— Isso importa? — perguntou-lhe.

Rukia o fitou com aqueles grandes olhos azulados e ele viu que não podia se refugiar de suas perguntas quando esta fazia.

Ele pressionou a sua cintura, passando a língua pelos lábios secos.

Não conseguiu achar palavras que o definissem naquele dia... Um dia que preferia esquecer.

— Sente-se feliz, Rukia? — indagou de repente.

— O quê? — ela franziu a testa, sem entender o propósito da pergunta.

— Vamos, me responda isso. É uma condição para a resposta que você deseja. — ele sentiu seu coração quase sair pela boca quando falou aquilo.

A garota pensou por alguns instantes, voltando a olhá-lo com alguma relutância.

— Mas em que sentido? Seja mais específico.

— Em todos os sentidos. Não há definição.

— Sinto-me bem, sinto-me feliz. — respondeu, um pouco confusa.

Aquela não pareceu ser a resposta que Kaien precisava, mas ele não deixou que isso ficasse aparente.

— Está tudo bem. — murmurou, trazendo-a pra mais perto. 

O rapaz soprou o ar descompassado, trêmulo, sem rumo.

Aproximou-se do rosto dela, levando os lábios até perto de sua face.

Rukia sentiu seu hálito quente. Ele era ameno, suave como Kaien. 

O moreno apertou ainda mais a mão da garota, em silêncio, somente a esticar o pescoço.

A pequena também apertou sua mão, fitando-o.

Ele a tocou. Tocou com os lábios. Não onde queria, mas a beijou.

A testa da pequena recebeu um beijo abrasador de Kaien, que a fez perder o equilíbrio sobre o próprio corpo por um segundo.

Ele fechou os olhos, apertando-a contra seu corpo em um abraço desesperado.

— Kaien-dono... — murmurou ela, por algum motivo, com as lágrimas a alagarem seus olhos.

O beijo aqueceu seu corpo, lhe dando a resposta que precisava, mas por conseqüência, puxou as recordações mais antigas que lhe envolveram numa sequência inconstante de imagens desgastantes. Passaram do começo, de quando se conheceram até os tempos atuais. Os sorrisos de Kaien seguiam-se iluminados.

Os sentimentos surgiram um por um, pulsando em seu coração, acordando e avivando aqueles dias, aquelas sensações. O primeiro dia em que Kaien lhe mostrara o seu incrível talento em cantar. O timbre suave, arranhado e melancólico.  

Ela resfolegou. A confusão a gotejou em toda sua mente.

Queria que o tempo parasse. Em alguma parte que até então encontrava-se adormecida, a decisão que tomara lhe doeu.

Suas mãos seguiram ao alto de seus cabelos, tocando-os.

Ela baixou a cabeça, pressionando-a contra o peito de Kaien que continuou a abraçá-la.

— Você apenas tem que cantar. — pediu-lhe em um sussurro. — Cante para mim como naquela primeira vez.   

Kaien enterrou um beijo carinhoso em seus cabelos, obedecendo.

Ele deixou os lábios próximos aos ouvidos de Rukia.

O moreno sempre apreciara músicas ocidentais. Grande parte das suas eram compostas por letras em inglês. A primeira música que cantou para Rukia não foi diferente.

The Scientist de Coldplay continuava triste como nunca.

As notas saíram roucas, aprimoradas com o tempo. Soaram como a mais deprimida melodia. Não precisava de arranjo, só a voz. Somente a voz de Kaien deixava aquela música perfeita.

Naquela época... Sim, ela lembrava... Kaien costumava cantar músicas de aspecto solitário, triste. Como se cantasse pro horizonte, pra alguém que quisesse escutar a sua voz.

Sem se dar conta, as lágrimas rolaram por seu rosto. Ela desceu as mãos pelos ombros de Kaien, que a encaixou com perfeição em seus braços. 

“Mais uma vez... Isso, deixe-me ouvir a minha voz predileta.” 


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