Bonds escrita por frozenWings


Capítulo 10
Capítulo 10


Notas iniciais do capítulo

E ae vai. ='D



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Eu conheço muitos sentimentos, apesar de ter tido uma vida vazia e quase sem nenhum afeto. No dia em que vi Ichigo e Inoue se beijarem, eu conheci um que jamais sentira em toda a minha vida. Ele me dilacerou, tomando conta de meu corpo como se fosse um veneno a se espalhar por todas as minhas veias. Eu realmente me importei com aquilo.

Hoje em dia, eu não me recordo tão bem de como foi aquela tarde... Mas ver que você podia tocar qualquer outra garota na hora que quisesse, me fez sentir-me um pouco infeliz.

Eu sou uma verdadeira hipócrita, não?

Sabe, Ichigo, creio que você nunca saberá da importância que teve em minha vida. Você é até hoje o meu grande salvador, a razão por eu continuar aqui, então... Se for possível, apenas sorria.

Rukia pedalou por algumas quadras, seguindo até o estúdio indicado por Kaien. Mesmo imersa em pensamentos, ela chegara até o local. Era um edifício modesto, mas muito bem preservado.

Ela desceu da bicicleta, falando com algumas pessoas que acabaram por autorizar a sua entrada. Disseram-lhe que a banda estaria na 3º sala do 2º andar à esquerda. A pequena memorizou as informações, tratando de deixar a sua bicicleta no pequeno estacionamento do edifício.

Subindo as escadas, ela caminhou até a 3º sala, já conseguindo enxergar o rabo de cavalo de Renji por trás de uma janelinha opaca. Rukia bateu na porta, em seguida, abrindo-a. Todos estavam aos risos, se descontraindo com piadas que somente eles achavam graça. 

A garota vasculhou todo o estúdio que mais parecia uma apertada câmera estofada.  

— Olá. — falou ela, fechando a porta.

Eles miraram os olhos em Rukia, notando os machucados e arranhões inesperados.

— O que diabos aconteceu com você?! — perguntaram em uníssono.

— Eu me desequilibrei da bicicleta e acabei caindo, nada muito grave. — retrucou ela, sentando-se em um banquinho acolchoado.

— Você não está sentindo nenhuma dor na cabeça? Pode ser que você precise ir ao hospital só pra ter certeza que está tudo bem. — murmurou Kaien, se aproximando e examinando com a ponta dos dedos o machucado na testa.

— Nossa, falou a mamãe. — zombou Grimmjow, sem rir.

— Eu estou me sentindo perfeitamente bem, Kaien-dono. Não se preocupe. E então, vocês não estavam ensaiando? — perguntou Rukia, sem olhar nos olhos de Kaien.

— Nós estávamos esperando você chegar, Rukia. — comentou Renji, sentando-se de maneira desleixada em um sofá feito para os músicos descansarem.

— Ah é? E o novo integrante? — interrogou.

— Ainda não chegou. Creio que daqui a uns dez minutos ele apareça. — respondeu Hisagi, coçando o queixo.     

Kaien continuou a observar Rukia, analisando-a. Ele fechou os olhos com algum pesar, pousando a mão em seus cabelos.

— Pessoal, eu vou até a esquina. Volto daqui a pouco. — ele bagunçou os cabelos da pequena, saindo da cabine sem mais delongas.

Hitsugaya o acompanhou com os olhos, desviando-os para Rukia que permaneceu com a mesma expressão.

— Alguém sabe o nome desse novo integrante? — suspirou ele, encostando-se à parede enquanto cruzava os braços.

— Nem sabemos. Também não faz muita diferença já que ele só vem pra um teste. — rebateu Hisagi, batendo suas baquetas em suas próprias pernas.

— Colocar anúncios pelas ruas não foi uma das melhores ideias... Vocês sabem. Entrevistamos todo tipo de gente enquanto o Kaien não tinha chegado. Até agora só nos deparamos com negações que usavam a alcunha de músicos. Espero que hoje eu não me decepcione mais uma vez. — murmurou Renji, passando os braços por trás do sofá que parecia insuficiente para o seu tamanho.

— E de quem foi essa brilhante ideia? — interrogou Toushirou.

Hisagi e Renji fuzilaram Grimmjow com os olhos.

— Por que eu ainda pergunto? — soltou o ar, entediado.

— Do que vocês estão reclamando? Pelo menos hoje alguém vai vir até aqui. — resmungou o azulado, puxando um de seus cigarros. — E também, eu tenho um bom pressentimento sobre esse cara.

— Você com um bom pressentimento sobre alguém? Posso ir embora? — o pequeno juntou as sobrancelhas, vendo-o por o cigarro entre os lábios. — Por que você não pode ficar sem fumar ao menos aqui? — estalou a língua.  

— Porque eu estou tenso! Situações tensas pedem um cigarro. Cale a boca e finja que eu não existo. — rezingou ele, retirando seu isqueiro.

— Eu até poderia fingir que você não existe, já que faço isso todos os dias, mas a fumaça vai ser bem mais difícil de ignorar. — pronunciou Toushirou, sentindo seu humor ir embora.

— Ei Grimmjow, acenda esse aqui também. — falou Renji, erguendo o seu cigarro.

— Até você, Abarai? Isso é uma conspiração da fumaça? — grunhiu Hitsugaya, indignado.

— Opa, é bom tragar alguma coisinha antes de tocar. Me empreste um, Grimmjow. Eu esqueci os meus. — falou Hisagi, olhando Grimmjow acender os cigarros. 

— Você é um folgado. — fungou o azulado, entregando-lhe um cigarro.

— Por um breve momento, eu esqueci que só somos eu e o Kaien a não fumarem nessa banda...

O grisalho olhou novamente para Rukia. Ela estava quieta. Provavelmente nem estava prestando atenção àquela conversa.

A porta se abriu, mostrando Kaien que estava de volta com uma pequena sacola de plástico.

— O que é isso? Trouxe algum lanchinho, Kaien? — questionou Renji, dando uma longa tragada.

— Não. — retrucou ele, sentindo o cheiro de fumaça de cigarro. — É só eu sair que vocês começam com a bagunça? Aqui é uma cabine fechada. Vocês deviam ter consciência. Vão acabar matando os não fumantes daqui. — suspirou, fechando a porta e se aproximando da pequena. — Ei Rukia.

Não houve resposta.

— Rukia... — repetiu, achando que não tinha falado alto o bastante.

Ela continuou parada.

— RUKIA! — exclamou, chacoalhando fortemente a sua cabeça.

— O que foi, Kaien-dono? — resmungou ela, ajeitando os cabelos que ele insistia em bagunçar.

— Que desânimo. Você parece até que morreu. Estou quase enterrando você em um cemitério. — ele enfiou a mão na sacola, puxando algumas coisas estranhas. — Assim fica melhor. — falou, anexando alguns curativos em sua testa e em seguida, nos joelhos.

“Como naquela época?” pensou a pequena, ficando um pouco sem graça.

— Você foi até a farmácia só pra comprar isso? Que meloso. — comentou Grimmjow.

— Ah, cale a boca. — mandou Kaien, coçando a cabeça. — Seria problemático se esses machucados ficassem expostos a esse ambiente e acabassem infeccionando.  

— Obrigada. — agradeceu Rukia, repuxando um sorriso.

Kaien a fitou de relance, desviando os olhos.

— Bem, de qualquer modo... Ah! Rukia, eu quero te fazer um pedido. — ergueu o indicador com certo exagero.

— Que tipo de pedido? — perguntou ela, curiosa.

— Ele quer te pedir em casamento. E nós seremos o que nisso tudo? Os filhinhos? — o azulado continuou a caçoar.

Kaien revirou os olhos, passando a mão com força pelo rosto. Se não fizesse aquilo, com certeza teria acertado um soco no meio da cara de Grimmjow.

— Sabe, já faz algum tempo que não te vejo cantando e eu sei que você gosta de fazer isso. Naquela época do orfanato você cantava muito bem... Lembra que até cantávamos algumas músicas? Pensando dessa forma, por que eu não te convidei pra entrar na nossa banda? — iniciou ele, tentando achar a resposta pra sua própria pergunta.

— Porque você é burro. — se intrometeu Toushirou.

— Obrigado pelo elogio, amorzinho. — murmurou Kaien, puxando uma das bochechas do mesmo.

— Pare com isso! — gritou o grisalho, buscando se afastar.

— Então, desculpe Rukia... Voltando ao nosso assunto, eu quero convidá-la para um dueto com qualquer uma daquelas músicas que cantamos. Cantaremos essa música no nosso primeiro show da volta dos Thunders.    

— Um dueto...? — perguntou ela, achando aquilo tudo muito incrível.

— Sim. Eu sei que vai demorar um pouco pra você arranjar uma música, e...

— Podemos cantar Broken de Evanescence e Seether? — questionou, parecendo mais animada.

Kaien piscou rapidamente, surpreso com a velocidade da resposta da garota e também, uma ponta de nostalgia o submergiu... Aquela letra...

— Sem nenhuma hesitação? Essa é a Rukia que eu conheço. — sorriu ele, bagunçando os cabelos espetados. Ele se virou para os outros, exibindo uma expressão séria. — Bem, vocês devem saber... Nós temos um ano pra conseguir reerguer essa banda mais uma vez. Não vou admitir que vocês não dêem o seu máximo. Eu e o Toushirou já estamos em andamento com as novas músicas. Compomos algumas. Depois repassaremos a vocês. O primeiro show, como eu havia dito na casa do Kuchiki, será no meio da rua. É claro que vamos criar um palco, mas eu não pretendo obter nenhum lucro em relação a esse show. Faremos o que esteve previsto desde o início. Vamos apenas fazer com que as pessoas conheçam nossas músicas, nossa essência... Os novos Thunders.   

Ele fez uma pausa. O clima tinha ficado silencioso. Os demais integrantes trataram de ouvi-lo atentamente, sem fazer qualquer comentário ou interrupção.

— Minhas reservas milionárias estão acabando! Temos de arranjar um emprego temporário antes do Kuchiki nos jogar na sarjeta. — exclamou ele de súbito, desfazendo qualquer expressão que tenha parecido ponderada.

— Francamente... — sibilou Toushirou, empregando meios de disfarçar um sorriso que se formara em seus lábios. — Não dá pra te levar a sério por muito tempo.

— Eu digo o mesmo. — concordou Rukia, balançando a cabeça com desolação.

— Fale por você. Eu já arranjei um emprego. — murmurou Renji.

— Ah é? Está trabalhando com o quê? — perguntou Kaien.

— Embalador.

Ele não conteve uma gargalhada.

— Que promissor. Vou fazer dupla com você e arranjar um emprego de sacoleiro. — zombou.

— Qual é?! Melhor do que ser um desempregado como você! — protestou o ruivo, um pouco embaraçado.

— Quem disse que estou desempregado? Meu emprego sempre foi a música, o caso é que agora não estou tendo fonte de renda, mas ainda continuo empregado. — ele ergueu o polegar, repuxando um sorriso sacana.

— Seu...!

A porta da pequena cabine produziu algum ruído. Pelo que parecia, alguém estava batendo.

— Seria o carinha que parece que nunca vai chegar? — bocejou Kaien, caminhando até a porta e escancarando-a.

Uma pessoa, sem qualquer iniciativa de diálogo, adentrou ao cubículo, andando até o meio deste.

Os olhares intrigantes se voltaram para ele, examinando-o de cima para baixo.

— Então você é o tecladista? — perguntou Kaien, duvidoso como os demais.

A primeira coisa que lhe chamaram a atenção foram os olhos do rapaz. Eles eram profundos e espantosamente melancólicos. O verde daquelas orbes conseguia ser mais chamativo que os de Kaien e Toushirou. Eram quase ardentes de tão verdes.

Sua pele, por outro lado, era de uma aparência demasiadamente pálida — como se não levasse sol — e decerto, chamava a atenção em qualquer lugar que fosse.

O seu corpo era esguio. Quase não se existiam músculos a exibir, embora mantivesse leves traços viris.

— Sim. — respondeu secamente, arrumando o cabelo negro que descia até metade do pescoço. Ele retirou um teclado bastante flexível de uma capa negra que levava em uma das mãos. — Desculpem o atraso. — acrescentou, ligando o instrumento em qualquer tomada do estúdio.  

— Prático e sem rodeios. Ótimo. — falou Hisagi ao cruzar os braços, sendo o único a comentar algo.

O rapaz não respondeu. Torceu as pernas dobráveis do teclado até finalmente mantê-lo em pé.

Não houve cerimônia. O tecladista dispensou conversas ou apresentações, não deixando nenhuma fresta de dúvida sobre seu principal objetivo que era mostrar o que ele podia fazer.

Seus dedos longos e ossudos pressionaram teclas precisas, criando uma sinfonia de fácil execução que foi se mostrando cada vez mais complexa e irrevogavelmente linda. Os toques eram impecáveis, não se apresentaram falhas durante o seu delongo.

Kaien expôs um sorriso largo. Parecia satisfeito com a demonstração do rapaz.

— Por mim, você já pode se considerar um Thunder. — proferiu ele, olhando para os demais. — E vocês? Alguma objeção?

— Ele é suficientemente competente. Não tenho o que contestar. — retrucou Renji, exibindo o mesmo tipo de sorriso.

Toushirou fez qualquer sinal com a mão, indicando que não revogaria. Hisagi exibiu um sorriso aprovador.

— Gostei da maquiagem. — comentou Grimmjow, encarando o lápis devidamente delineado por baixo dos olhos do tecladista. Curiosamente, dois traços partiam dos olhos e desciam por toda a sua face, parando por volta da mandíbula. — Só mude esse seu jeito sério. Não gosto de pessoas mal encaradas.

— Que ironia... — murmurou Hisagi, sarcástico.

— E essas unhas pintadas de preto? Vão acabar achando que somos uma banda emo. — rezingou Grimmjow, estalando a língua.

— Idiota. Você usa maquiagem verde nos olhos, o que é mais estranho, e ninguém ainda te chamou de travesti. E também... Se preocupar com rótulos é coisa para tolos. 

Kaien se virou à Rukia, sondando-a.

— E você, o que achou?

A garota franziu a testa. Não esperava por aquela pergunta inesperada, afinal, ela não fazia parte da banda.

— Eu... Eu achei que ele tocou muito bem. Seria um desperdício não o aceitarem. — respondeu timidamente.

— Bem, pelo visto, você conseguiu o posto de tecladista. Ah, é mesmo... Qual o seu nome, rapaz? — Kaien estendeu a mão, como se quisesse selar oficialmente aquela aprovação.

— Ulquiorra. Ulquiorra Schiffer. — murmurou ele, apertando a mão do líder. — É um prazer tocar com vocês.

“Ulquiorra... Que nome esquisito.” Pensou Rukia.

— Você sabe tocar outros instrumentos além de teclado? — questionou Hisagi, interessado.

— Além do teclado, eu sei tocar piano, violino e um pouco de saxofone. — retrucou seriamente.

— Instrumentos um tanto clássicos. Eu gostei. Parece conveniente. — falou Hisagi, jogando todo o peso do corpo para o respaldo do sofá.

Ulquiorra limitou-se a ficar em silêncio.  

— Você é um cara reservado, não é, Ulquiorra? Mas não se preocupe. Todos aqui são bastante comunicativos, vão fazer você se enturmar rapidinho. — Kaien deu leves tapinhas no ombro dele, sorridente como sempre.

“Não creio.” Refletiu ele, com a mesma inexpressividade de outrora.

— Agora tenho de ir para o trabalho, Kaien-dono. — falou Rukia, descendo do banquinho.

— Ah, é verdade. Eu levo você até a saída do edifício. — se ofereceu ele, um pouco decepcionado com a ida da garota. — Pessoal, enquanto isso, por que não acrescentam algumas informações sobre a banda talvez desconhecidas pra ele? Falem ao Ulquiorra sobre nossa real situação, os planos e etc. Eu já volto.

— Até mais. — acenou a pequena para os demais, esboçando um breve sorriso.  

Kaien e Rukia marcharam pelo longo corredor, adentrando ao elevador que para a alegria destes, estava vazio.

O moreno encostou-se a uma das extremidades do cubículo metálico, enquanto Rukia pressionava o botão que os levaria ao térreo.

Ele a fitou demoradamente, como se captasse e decifrasse cada movimento seu.

— Como foi o colégio? — perguntou ele, sem qualquer motivo aparente.

Rukia ampliou levemente as orbes. Não pôde evitar que seu coração disparasse com a pergunta.

— Como qualquer dia. Nada muito relevante. — murmurou, procurando esconder o seu timbre enfraquecido.       

Kaien desviou os olhos, pensativo.

— Ah, entendo. Parece entediante. — suspirou.

A porta do elevador abriu, dando-os acesso ao térreo. Sem demora, eles se direcionaram até o estacionamento, onde Rukia pegaria sua bicicleta. 

— Fiquei animada com a ideia de cantarmos juntos como nos velhos tempos. Você deve saber... Eu sinto falta daqueles dias. — sussurrou de costas à ele, num timbre tão inaudível que Kaien desconfiou de que talvez ela não quisesse que ele realmente escutasse. — Eu darei o meu máximo.

Ele engoliu em seco, com dificuldade em transformar os pensamentos em palavras.

— Eu tenho certeza que será um sucesso, afinal... É você. — respondeu em um murmúrio.   

— Obrigada. — agradeceu ela, meio sem jeito.

A garota subiu na bicicleta, acenando para o rapaz até finalmente começar a pedalar em rumo à saída do edifício.

Kaien permaneceu no mesmo lugar, fitando-a ir embora.

— Acho que terei algo pra fazer mais tarde. — enfiou as mãos no bolso, juntando as sobrancelhas.

Algumas horas tinham se passado desde então. Àquela altura, o sol já estava se pondo.

Em uma das calçadas, Ichigo caminhava sozinho de volta a sua casa. Desde que Rukia começara a trabalhar, a sua rotina tinha se tornado um pouco mais solitária.

Ele estava imerso em pensamentos. Ainda tentava entender o que houve pra querer beijar Rukia. Será que estava apaixonado por ela? Mas como algo desse tipo podia acontecer...?

Ele espantou os pensamentos e rapidamente, a imagem de Inoue lhe beijando tomou conta de sua mente.

O ruivo soltou um longo suspiro. Mesmo esperando aquele beijo por tanto tempo, ele não surtiu o efeito tão aguardado. Na verdade, foi como se alguém simplesmente os tivesse pressionado. Sem calor. 

Ele ergueu o olhar, girando a maçaneta da porta de casa. Para a sua alegria, Isshin não estava em casa para lhe azucrinar.

O ruivo trocou uma ou duas palavras com Yuzu e Karin que estavam assistindo TV, em seguida, indo até o seu quarto.

Um ruído abafado chamou a sua atenção. Ele provinha da varanda vizinha.

“Rukia já chegou?” pensou Ichigo, andando até a ponta de sua sacada, embora não desejasse falar com ela.

Logo que viu o causador do ruído, sentiu-se amargamente arrependido de ter andado até ali.

Kaien surgira em meio aos aposentos de Rukia, caminhando tranquilamente até a varanda. Ele soltou o ar demoradamente, como se estivesse prestes a fazer algo de que não lhe agradava muito.

“O que esse maldito está fazendo no quarto dela?” refletiu o ruivo, cerrando os dentes.

— Ah, olá Ichigo. — pronunciou o moreno, chegando a ponta da sacada.

Ichigo não respondeu.

— O ar em Karakura não é tão puro quanto eu imaginei. Onde eu e Rukia vivíamos costumava ser bem mais limpo, apesar da pobreza. Talvez seja porque morávamos perto de um pequeno bosque. — tagarelou ele, apoiando os braços na barra de ferro que servia como proteção.

“O que é isso? Ele está tentando me provocar?” pensou Ichigo, decidindo partilhar um pouco daquele assunto.

— Se faz tanta falta o ar de onde vocês moravam, então simplesmente volte de onde veio. — retrucou ele, em um tom seco e rude.

Kaien deu um sorriso de canto, parecendo não se importar com a sua grosseria.

— Eu não poderia voltar para aquele lugar sem a Rukia. — ele olhou para o céu, pensativo. — Sabe, os anos passam e ela ainda não consegue esconder as coisas de mim. Fico um pouco grato por isso. Eu pensei sobre o que poderia tê-la deixado triste. E só você me veio à minha cabeça.

Ichigo arregalou os olhos. Rukia estava triste por ele?

— O que houve com ela?

— Sabe, eu não compreendo as pessoas. Por que elas têm tanta dificuldade em assumir que sentem bons sentimentos por outro alguém? É um problema até pra elas mesmas. Mas quando se trata de raiva ou sentimentos ruins, somos os primeiros a gritar. Que confuso. — suspirou Kaien, voltando a encarar Ichigo.

O ruivo sentiu-se ligeiramente intimidado com o que Kaien dissera. Ele percebeu algum tipo de indireta.  Mas, qual o objetivo dele, afinal?

— Do que está falando? Todo mundo sabe que a Rukia gosta de você. — rebateu ele, deixando o timbre mais desanimado. — Ninguém me tira da cabeça que ela só se aproximou de mim porque parecemos um com o outro. — a ideia o deprimiu, era como se ele não tivesse importância alguma.

— Eu a conheço há mais tempo. — ele pausou, semicerrando os olhos. — Não é de mim que Rukia gosta, apesar dela achar isso.

“Então ele sabe...?” pensou Ichigo.

Kaien ter afirmado que os sentimentos de Rukia não eram como ela imaginava, fez com que o coração de Ichigo acelerasse, porém, talvez o moreno só estivesse equivocado, afinal, aquele só era um ponto de vista seu... Não um fato consumado.    

— Não importa... Eu realmente não me importo mais com esse assunto. Rukia pode fazer o que quiser de sua vida. Eu não vou interferir. Agora só seguirei com a minha. — grunhiu o rapaz, dando as costas à Kaien sem qualquer consideração.

Ele, por sua vez, continuou parado, não movendo as pernas ou qualquer outro membro.

— Eu já estou cheio dessas suas atitudes. — revelou, juntando as sobrancelhas. Ichigo o olhou de esguelha, espantando-se com a expressão que tomara conta do rosto de Kaien.

Pela primeira vez viu o rosto costumeiramente alegre se tornar um misto de seriedade e raiva.

Ele voltou a se virar para Kaien, sem entender aquela mudança súbita de comportamento.

— Francamente... Se eu começar a lutar realmente por Rukia, eu definitivamente não vou perdê-la pra alguém como você. Esteja ciente disso. — ele inclinou a coluna, mantendo os lábios em uma linha rígida. — Se eu perceber que você não vale a pena, eu mesmo a tomarei pra mim. E não haverá mais lugar no coração de Rukia pra você. Então saiba bem das conseqüências de suas escolhas. — proferiu ele, criando um confronto visual com Ichigo.  

Aquelas palavras paralisaram a arrogância e todos os músculos do ruivo.

Kaien estalou a língua, dando-o as costas. Sem mais delongas, ele voltou ao quarto de Rukia, desaparecendo ao ter passado pela porta deste.

Ichigo permaneceu no mesmo lugar, ainda tentando digerir as palavras ameaçadoras de Kaien.

O ruivo imediatamente entendeu que ele falou sério. Kaien tinha a coragem precisa para tomar Rukia em seus braços.

Por que tudo em mim foi tão insuficiente, tão pouco para Rukia? Nada do que eu fiz me pareceu ser realmente relevante. Era como se minhas mãos simplesmente não pudessem alcançá-la. Até mesmo em dias atuais... Será que eu posso me considerar como alguém importante que passou pela vida dela? Eu, até mesmo eu que não pude salvá-la ou confortá-la quando mais precisou de mim?

Às vezes penso que seria mera presunção pensar dessa forma.

Mesmo hoje, por mais que eu deteste a ideia, eu sinto que você errou, Kaien.

Rukia realmente te amava.

E você... Seria o único capaz de impedir que ela partisse.


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