Capítulo 09

Londres, 2001

Parte 03

– Eu perguntei o que você está fazendo aí – Harry repetiu escancarando a porta.

Draco deu dois passos para trás, tentando pensar numa desculpa.

– Na... nada – e antes que pudesse evitar se viu dizendo – Eu não estava tentando fugir...

O moreno ergueu as duas sobrancelhas:

– Claro que não. O Basilisco Voador está navegando beeeeem alto. Você só poderia sair daqui se soubesse aparatar ou tivesse asas – Harry riu.

Draco ficou irritado por sentir-se zombado. Não disse nada pra não piorar a situação, apesar de sua expressão se fechar em contrariedade.

Ainda rindo um tanto Harry observou seu novo passageiro. As roupas tinham ficado grandes, mas já imaginava algo assim. Pensou que podia usar um feitiço de ajuste e desistiu rápido da idéia. Draco Malfoy ficava tão fofo daquele jeito.

Fofo?

Balançado a cabeça, Potter ficou sério.

– Não tem por que fugir, Malfoy. Não é prisioneiro aqui. Agora, se puder me acompanhar, Dean preparou um lanche para nós.

O loiro hesitou um pouco diante daquelas palavras. Sentiu-se perdido. Fazia tempo desde a última vez que não era prisioneiro de alguém. Não sabia exatamente o que fazer. Por hora decidiu seguir o capitão. Depois de tantas emoções percebeu que estava com fome.

Seguiram em silêncio para uma das cabines improvisadas num refeitório. Havia tanto barulho que Draco imaginou encontrar um batalhão, não aqueles cinco jovens praticamente da sua idade.

– Pessoal, – Harry chamou a atenção e todos ficaram quietos – nossa investida de hoje foi um sucesso. Vamos comemorar. Mas antes, as apresentações. Draco Malfoy, esses são Fred, George e Ronald Weasley, Dean Thomas e Hermione Granger.

– Bem vindo, Malfoy – um dos gêmeos falou.

– Aproveita que foi o Dean que cozinhou hoje. O lanche tá bom – o outro completou.

– Eu estou morrendo de fome – Ron parecia mesmo faminto. Ma falou e foi repreendido pela única garota do grupo.

– Olha os modos, Ron! – a resposta foi uma careta do ruivo.

Thomas piscou pra Malfoy.

– Caprichei no recheio das tortinhas de abóbora – falou simpático.

Draco ficou sem jeito por tanta amabilidade. Apenas balançou a cabeça em agradecimento e tomou um lugar a mesa. Esse foi o sinal para que os bruxos piratas avançassem na comida.

– Não perca tempo – Harry incentivou – Ou vai ficar sem.

Diante disso o loiro parou de hesitar. Alcançou uma tortinha e deu uma generosa dentada. O gosto era tão bom que seus olhos brilharam. A massa derreteu na boca e ele se deliciou com o recheio. Fazia tanto tempo que não provava algo assim. Desde que tinha onze anos pra ser mais exato.

E melhorou quando alguém lhe estendeu um generoso copo com suco de amora, bem docinho e encorpado. Ocupado em comer, Draco acabou ficando a parte da conversa, apenas escutando os rapazes se vangloriarem do resgate, rirem das caras dos comensais e gabarem de como tinha sido fácil derrotá-los.

O loiro estava mais preocupado em encher a barriga. Normalmente não era guloso (a não ser por doces), no entanto sentia como se pudesse tirar o atraso de dez anos em uma noite. Provou da torta de abobora, do bolo de carne e pudim de rim. A omelete de queijo de Hypogrifo estava tão divina quanto os legumes empanados. De sobremesa um belíssimo pedaço de bolo de morango com nozes indianas. Fantástico.

– Tronquilhos me persigam, mas acho que vou explodir – Fred falou de boca cheia e recostou-se na cadeira.

– É – Ron concordou dando tapinhas na barriga – Comi feito um Auror em missão hoje.

Hermione riu da piadinha sem graça.

– Ron, você parecia mais um Troll em missão.

– Ei!

– E nós cuidamos da louça hoje. Não se esqueça.

O ruivo fez uma cara de sofrimento tão exagerada que mesmo Draco rolou os olhos.

– Nós voltamos pro posto – os gêmeos disseram juntos, de forma ensaiada e saíram rapidinho do refeitório com medo de sobrar serviço pra eles.

– Eu vou para o deque de comando. Sou ruim com cálculos de coordenadas. Harry, pense sobre o que eu te disse, precisamos de alguém que entenda melhor do assunto.

O capitão concordou. Estava na hora de aumentar a tripulação. Ele ouvira falar de um irlandês nos lados de Southwark que manjava de cálculos e vivia se metendo em encrenca com o Ministério. Um tal de Finnigan...

Hermione aproveitou e saiu junto com Dean, levando Ron e as louças sujas para a cozinha. Estando sozinho com Draco, Harry sorriu.

– Está tudo bem?

Malfoy estreitou os olhos:

– Está...

– Então vamos falar sobre a situação. Pesquisamos sobre sua família, mas seus pais estão desaparecidos desde que você foi levado. Todas as propriedades dos Malfoy assim como o cofre em Gringotes estão em seu nome. Existe mais alguém que possamos tentar contato?

O loiro pensou por um segundo. Havia uma irmã de sua mãe, a tia Bellatrix... estremeceu com a idéia. Entre ela e Você Sabe Quem a diferença era mínima.

– Não. Não conheço ninguém.

– Entendo. Temos amigos que podem ajudar a encontrar um lugar seguro pra você. Resgatamos Longbottom e Lovegood. Ambos estão bem e seguros, recomeçando uma nova vida.

– Vocês libertaram os dois? Porque?

– Voldemort matou meus pais. Ele pensou que eu tinha algum poder especial. Mas não tenho. A única coisa que me faz especial é ter coragem de desafiá-lo. Faço isso pra me vingar.

– Você é louco – Draco afirmou sem intenção de ofender, apenas constatava um fato.

– E graças a isso te libertei, não é? Vamos deixá-lo n’A Toca. A senhora Weasley vai cuidar bem de você até que tenhamos um abrigo seguro, não se preocupe.

– Eu... obrigado... – o loiro sussurrou.

– Não me agradeça. Vamos navegar por mais dois dias pra despistar. Depois seguiremos pra casa de Ron. Pode ficar a vontade por aqui, e utilize aquela cabine como sua, é a mais confortável. Acho que deve aproveitar para descansar. Foi um dia e tanto.

Draco Malfoy concordou com um aceno de cabeça. Estava limpo, bem alimentado e livre. Com certeza um dia e tanto.

Continua