Manchas escrita por Juliiet


Capítulo 35
Capítulo 34


Notas iniciais do capítulo

Oi, gente, tudo bem?
Como foi o Natal e o Ano Novo? Espero que tenham sido bons :3
Muito obrigada a Meri Chan, Camis e girl cocaine pelas recomendações! Amei, pessoas! :3
Desculpem pela demora, mas o capítulo tá grandinho, espero que compense.
Boa leitura :3



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Muitas explicações surgiram na minha cabeça. Uma mais improvável que a outra. Eu não tinha mandado uma grande soma de dinheiro para nenhum paraíso fiscal ultimamente.

O que diabos a polícia queria comigo?

Seria por causa do vandalismo? Mas a madre superiora não tinha concordado que ninguém poderia provar que eu tinha feito aquilo?

Seria... seria alguma coisa sobre a Sofia?

Por muito tempo depois de sua morte, as acusações da minha mãe martelaram minha cabeça. Eu tinha sonhos em que a polícia batia na porta de casa e me prendia, acusando-me de assassinato. Eu acordava suada, chorando. Queria gritar, mas tinha medo. Medo de que meu pai viesse ver porque eu estava gritando.

E medo de que não viesse.

Tentei expulsar tudo isso da minha cabeça enquanto andava apressadamente para o gabinete da diretora. Havia gentilmente recusado a companhia da Rivera. Eu não gostava dela e não confiava nela. Não a queria por perto. Se alguma coisa muito ruim fosse acontecer, eu só queria uma pessoa ao meu lado.

Pena que eu não tinha tempo para caçá-lo pela escola. A polícia estava atrás de mim.

Essa frase dava um novo nível à minha imagem de delinquente.

Antes de perceber, já estava na sala da diretora.

Droga.

Entrei na sala de espera e vi dois policiais. Eles não eram exatamente parecidos, apesar de serem ambos altos. Um era moreno e parecia estar beirando os cinquenta, e o outro era tão loiro e com a pele tão branca que parecia quase albino, além de aparentar ser pelo menos vinte anos mais novo. Mas os dois tinham aquele jeito de policial – aquela qualidade que eles sempre têm na TV, aquela expressão neutra que nunca nos diz nada.

Meu pai estava falando com eles. Quase gritando, na verdade. E a madre superiora tentava fazê-lo se acalmar.

– Minha filha não tem nada a ver com isso, eu já disse! – ele estava dizendo quando eu entrei, e estava tão irritado que nem me viu ali. – Vocês estão enganados! Isso só pode ser uma brincadeira de mau gosto!

– Sr. Trenton, por favor, se acalme – pediu a diretora.

– Senhor, tenho certeza de que sua filha não tem nada a ver com isso... – começou o policial moreno. Ele tinha um cabelo legal, curto e enrolado.

– Então por que querem falar com ela? – papai perguntou, sem deixá-lo terminar.

– Para provar sua inocência – respondeu o mesmo policial, mas, novamente, sua ecxpressão era tão neutra que eu não podia dizer se ele estava sendo sarcástico.

Aquela conversa só estava me deixando confusa e eu não tinha paciência para ficar ali tentando decifrar o que tudo aquilo significava. Então, resolvi fazer minha presença conhecida.

– Papai? – falei, não muito alto.

Quatro pares de olhos se voltaram para mim simultaneamente. Dois neutros. Um preocupado e um muito, muito irritado.

Esse último era meu pai. Mas ele não parecia irritado comigo. Aproximou-se e quase invadiu meu espaço pessoal, uma linha que ele não costumava esquecer que não podia ultrapassar. Afastou-se dois passos quando estava quase perto de me tocar e esfregou a barba por fazer, frustrado.

– Ela já está aqui – falou para os policiais. – Façam logo suas malditas perguntas!

Certo, aquilo estava ficando mais assustador a cada segundo. Meu pai não costumava ser tão estourado, muito menos com estranhos. Muito menos mesmo com policiais. Tinha sido complacente e quase apático quando fui interrogada na época em que Sofia morreu. Então, o que havia de errado para ele estar tão fora de si?

Fui guiada até a sala da madre superiora, onde sentei naquela mesma cadeira de sempre – já estava ficando acostumada com aquele lugar. Mas a madre superiora não se sentou em sua cadeira. Em vez disso, o policial moreno – que se apresentou como oficial Stevens – se sentou em seu lugar. Papai sentou-se na cadeira ao meu lado, e a madre superiora e o outro policial – oficial Klein – permaneceram de pé.

– Srta. Trenton – começou o oficial Stevens, mas eu nem respirei antes de corrigi-lo.

– Vaughan – falei e, como ele só ficou me olhando sem entender, eu completei. – Meu nome é Vaughan.

Não olhei para meu pai enquanto dizia isso. Não queria olhá-lo, mas não podia negar aquilo. Era quem eu era.

– Certo, Srta. Vaughan – o oficial continuou, depois de um rápido olhar para meu pai e a madre. – Nós recebemos uma ligação anônima bastante preocupante esta manhã.

Até então eu ainda não estava entendendo o que aquilo tinha a ver comigo. Mas não parecia ter nada a ver com o que acontecera há dois anos. Soltei o fôlego que não sabia que estava segurando e parei de arrancar as pontas das minhas unhas – o que também não havia percebido que estava fazendo.

Se alguém percebeu alguma coisa, não disseram nada. O que estava bem para mim. Eu continuava nervosa. Policiais sempre me deixavam nervosa. Não era preciso ser formada em Psicologia para saber por que. Minha experiência com eles no pior momento da minha vida meio que explicava muito bem.

Ao ver que eu não falava nada, o policial continuou:

– Foi uma denúncia contra a senhorita.

Dessa vez, não consegui fechar a boca.

– O departamento de polícia de St. Werburgh não deve ter muitas chamadas, não é? Lembro que pensei, logo que cheguei aqui, que o maior crime que essa cidade já deve ter visto deve ter sido algum livro vandalizado na biblioteca – fitei o oficial Stevens por um momento, mostrando para ele que eu também podia fazer uma cara neutra. – Mas quer dizer que vocês atendem ligações anônimas de adolescentes, oficial?

– E como sabe que foi um adolescente que ligou? – ele perguntou, aproximando um pouco seu torso. Mesmo com a mesa entre nós, era meio intimidante.

Dei de ombros.

– Assumo que tenha sido. Além dos outros alunos, eu só conheço freiras e professores nessa cidade. Duvido que um deles fosse ligar para a polícia para falar de mim. Eu não sou uma excelente aluna, mas nunca vi ninguém ser preso por tirar nota baixa em matemática ou faltar à missa dominical.

Todos ficaram em silêncio por um tempo. E, justo quando eu estava achando que o oficial Klein estava ali só para decoração, ele se aproximou e anunciou:

– Acusaram-na de vender drogas na escola, Srta. Vaughan.

Ah.

Não sei por quanto tempo fiquei calada. Mas se eles estavam esperando uma confissão ou algo assim, iriam realmente se decepcionar.

– Seria mais provável eu estuprar todo o segundo ano dessa escola, oficial Klein, a vender drogas em qualquer lugar – eu respondi depois que o silêncio se tornou quase insuportável.

Eu não estava mais nervosa. Estava puta.

O policial Stevens começou a dizer algo, mas meu pai o interrompeu, levantando-se e se inclinando na mesa, para fitá-lo melhor.

– Minha filha mais nova, irmã da Julieta, era usuária de drogas. Ela viu a irmã morrer, oficial, por causa das drogas. Você realmente acha que uma jovem que passou por isso vai chegar em qualquer lugar perto de drogas?

Eu quase sorri. As caras dos policiais e da madre superiora eram tão chocadas que, se o assunto fosse mais leve, eu seria realmente capaz de cair na risada. Mas a morte da minha irmã não tinha nada de engraçado. E, apesar de eu sempre ter achado que meu pai não sabia nada sobre mim, nesse ponto ele estava certo. Eu nunca chegaria perto daquilo que foi um fator decisivo na morte da minha Sofia. Ela morreu por uma série de circunstâncias infelizes – e as drogas eram uma dessas circunstâncias.

– Oh, minha querida – ouvi a madre sussurrar baixinho, mas meus olhos continuavam no policial à minha frente.

– Eu lhe garanto que isso foi uma brincadeira de muito mau gosto – falei, mesmo que eu mesma não acreditasse nisso.

Mas como eu falaria pra um policial que achava que tinha alguém armando para mim se até meu namorado achava que o que eu tinha era um sério caso de mania de perseguição? Então eu fiquei calada sobre isso, até porque não havia nada mais absurdo do que envolver a polícia num problema do tipo. Não era como se alguém tivesse tentando me machucar...

– A senhorita se importaria se nós déssemos uma olhada no seu quarto? – o policial Klein perguntou.

Meu pai e a madre começaram a falar ao mesmo tempo, ambos contrariados, mas eu assenti. Talvez eles encontrassem umas balas de caramelo embaixo do meu travesseiro ou minhas meias sujas enfiadas nos sapatos – eu tinha totalmente esquecido de lavá-las.

– Vão em frente – falei, dando de ombros. – Mas eu divido o quarto com outras duas garotas, então vocês não vão poder mexer no quarto todo, só nas minhas coisas.

Os dois concordaram e todos fomos em direção ao dormitório feminino. A madre ia à frente, liderando o caminho, logo depois os policiais e, atrás deles, meu pai e eu.

Nós ficamos calados o caminho todo, mas eu não me incomodei. Não estava com raiva por ele estar ali. Não pensei que realmente iria vê-lo de maneira diferente tão cedo... mas ouvi-lo dizer aquelas coisas sobre mim talvez tenha ajudado. Meu pai não era o super-herói que toda criança deseja que seu pai seja. Ele era só meu pai. Um cara tão ferrado quanto eu.

Era mais difícil odiá-lo quando eu me permitia pensar que os últimos dois anos foram um inferno para ele também.

Era horário de almoço e, por influência minha, a maioria dos estudantes estava no pátio. E todos viram nosso pequeno grupo indo em direção ao dormitório.

Boa, Julieta.

Como se eu realmente precisasse de mais publicidade.

Luma era uma das que estava ali no pátio e a madre superiora a chamou, perguntando se ela se importaria de nos acompanhar e se permitia que os policiais dessem uma olhada no nosso quarto. Ela não se opôs, mas quando a diretora perguntou sobre Willa, ela não soube dizer onde nossa colega de quarto estava. Então somente ela nos acompanhou, lançando uns olhares indagadores para mim. Pelo que parecia a milésima vez naquele dia, eu dei de ombros.

Chegamos ao quarto e, como era de se esperar, as coisas de Willa estavam perfeitamente organizadas enquanto as de Luma estavam quase perfeitas, exceto pela maquiagem espalhada na penteadeira – ela sempre se atrasava de manhã se fosse guardar tudo depois de usar.

Eu talvez estivesse com um pouco de vergonha da minha parte do quarto. Não parecia nada com o que as pessoas esperam que seja o quarto de uma garota de 16 anos. Os lençóis estavam espalhados e amassados, meu travesseiro havia caído no chão e havia roupas espalhadas por todo canto. Eu podia vislumbrar um sutiã laranja pendurado na poltrona. Enfim, o caos em meio à ordem das minhas colegas.

– Boa sorte – recomendei aos oficiais Stevens e Klein, ao apontar-lhes meu espaço. Não deixei de reparar que a madre superiora me lançou um olhar reprovador. Se foi pelo sarcasmo ou pela bagunça, eu nunca saberia.

Eles procuraram por todo lugar, menos entre as coisas da Becker. Como eu já imaginava, só o que encontraram foram minhas balas de caramelo e meias sujas. Porém, quando já estavam terminando, o policial Klein levantou meu lençol meio caído e se agachou para olhar embaixo da minha cama. Retesei-me na mesma hora. Por um momento tinha esquecido que ali estava guardado a tela de Gabe. E eu não queria que ninguém a visse.

Agora era tarde demais.

Porém, quando Klein levantou o lençol, eu pude ver claramente que não havia nada lá.

Nada.

O quadro havia desaparecido.

A tela em que Gabe havia imortalizado uma Julieta que ele queria que eu fosse. Uma Julieta que eu queria ser. Que estava me esforçando para ser. A pintura em que ele havia colocado seu amor por mim. O amor que ele me ofereceu cegamente.

Devo ter feito algum barulho porque todos se voltaram para mim.

– Alguma coisa errada, Julieta? – meu pai foi o primeiro a perguntar.

Demorei para responder, mas enfim consegui dizer baixinho:

– Não...não. Eu só achei que tivesse visto uma barata. Só isso.

Todo mundo pareceu acreditar, menos o oficial Klein. Ele ficou me encarando um pouco mais do que seria educado, mas finalmente ambos os policiais se desdobraram em desculpas pela inconveniência e foram embora. Aparentemente, minhas balas de caramelo ainda eram legais nesse estado.

– Pode voltar para o seu almoço, Luma – a madre superiora disse, antes de seguir acompanhando os policiais para fora da escola. – E Julieta, se quiser, eu aviso ao seu professor...

– Não vai ser preciso, madre – falei, antes que ela terminasse. – Eu estarei lá na hora para a prova.

Ela assentiu e saiu, logo atrás dos policiais. Luma foi em seguida, ainda me lançando olhares questionadores.

Finalmente fiquei sozinha com meu pai. Sem dizer uma palavra, nós dois saímos do dormitório, mas não fomos em direção ao pátio e ao prédio principal. Começamos a andar a esmo pelo jardim. Era um dia frio, mas claro, bonito. O jardim não tinha muitas flores, mas tinha certo charme e não parecia abandonado de modo algum.

– Certo, isso foi incômodo – eu finalmente quebrei o silêncio.

– Julieta, eu não queria permitir que eles... – papai começou, mas se calou ao ver a expressão resignada em meu rosto.

– Era melhor que vissem que eu não tenho nada a esconder, papai – falei, pensando que não era bem verdade. A tela de Gabe estava escondida. Onde estava agora? Quem a havia tirado de lá?

– É verdade.

Ficamos em silêncio mais alguns minutos. Passei os dedos levemente pelas folhas avermelhadas de um bordo, sentindo sua textura áspera.

– Já viu sua irmã? – papai perguntou, de repente.

– Não – respondi, sem encará-lo.

– Bom... não é surpresa, vocês estão em anos diferentes... – ele se interrompeu e mudou de assunto. – Ouvi que você está novamente em detenção.

– Estou.

Não perguntei como ele soube, estava claro que a madre superiora era uma linguaruda.

– Por quê?

– Fui pega fora do dormitório depois do horário permitido – ou seria antes? Não que fizesse muita diferença, já que essa versão era melhor que a verdadeira. Eu havia passado a noite inteira fazendo coisas ilícitas; começando por dormir no quarto do Chermont a encontrar Gabe no velho chalé no meio das árvores.

Papai não disse nada sobre isso. Estávamos realmente tendo dificuldades para conversar. Eu não estava sendo abertamente hostil como antes, mas também não era receptiva. Não sabia ser.

Mas achei que devia tentar.

– Foi legal... – comecei, incerta, fazendo-o olhar para mim. – Quer dizer, o que você disse para aqueles caras... mais cedo... foi bem legal.

Ele deu o menor dos sorrisos. Mas parecia genuíno.

– E você lidou com toda a situação de forma quase madura – foi o que disse.

Eu ri um pouquinho. Ele também. Estávamos ambos meio incertos, meio constrangidos, quase como se não nos conhecêssemos e quiséssemos causar uma boa impressão. Era terrivelmente incômodo, quase torturante, mas... parecia certo, de alguma forma.

– Sabe o que seria bom? – ele perguntou, meio hesitante, voltando a ficar sério. – Se você e eu...quer dizer, nós poderíamos...bem...eu só queria saber se você gostaria de ir comigo...visitar sua mãe um dia desses. Você... você gostaria?

Uma folha se desprendeu do galho, planando levemente até chegar no chão, bem aos meus pés.

– Sim – respondi. – Sim, eu gostaria.

...

Só consegui ver Paulo depois da última prova. Na verdade, eu precisava tanto vê-lo que entreguei minha prova antes de todo mundo e saí correndo para o dormitório masculino. Por sorte, a maioria dos estudantes ainda estava nas salas de aula e eu tinha quase certeza de que não tinha sido vista entrando ali. Fui para o quarto dele, tirei o casaco e os sapatos e me deitei em sua cama. Tinha aquele cheiro dele que eu adorava.

Não demorou muito para ele aparecer. Eu sabia que ele sempre ia ao quarto antes do jantar.

– Eu estive procurando por você – falou, ao me ver ali.

Eu me sentei na cama e ele correu para mim, me fazendo levantar e me abraçando apertado.

– Eu ouvi sobre o que aconteceu na hora do almoço – falou, o rosto pressionado contra meu cabelo. – Desculpa por não ter estado lá. A madre superiora me contou tudo quando fui entregar uns documentos... foi uma brincadeira de muito mau gosto.

Suas últimas palavras me fizeram empurrá-lo para poder ver seu rosto.

– Paulo, você não pode estar falando sério – falei, cruzando os braços sobre o peito. – Ainda não acredita que tem alguém fazendo todas essas coisas pra me atingir?

Ele coçou a nuca, começando a sorrir, mas parando ao ver minha expressão séria.

– Eu não acredito é que você ainda não tirou essa ideia boba da cabeça – falou, se aproximando para tocar meus braços, mas eu me afastei.

– Ideia boba? – ecoei, sem acreditar. – Paulo, alguém ligou para a polícia para me acusar de ser traficante de drogas. Semana passada alguém vandalizou propriedade da escola e eu fui a única culpada. Quando quebraram as janelas do refeitório e machucaram a Becker, alguém incitou todo mundo a acreditar que fui eu. Desculpe-me, mas eu acho que estou no meu direito de pirar um pouquinho – terminei com raiva, dando as costas a ele e olhando o jardim escuro lá fora através da janela.

Paulo se aproximou e passou as mãos suavemente pelos meus braços. Eu deixei dessa vez. Eu não conseguia deixar de me sentir melhor quando ele me tocava. Fechei os olhos e senti a parte da frente do seu corpo tocar minhas costas e seus braços me rodearem num abraço. Ele era alto demais para apoiar sua cabeça no meu ombro, então apenas beijou o topo da minha cabeça.

– Desculpa – sussurrou. – Eu só não acho que exista alguém capaz de machucar uma garota tão incrível como você de propósito. Acho que são só coincidências.

Eu me virei, mas sem afastá-lo. Passei meus braços por sua cintura e apoiei minhas palmas em suas costas. Descansei minha bochecha em seu peito, porque abraça-lo era como estar num lugar bonito, seguro. Mesmo que fosse apenas ilusão.

– Eu gosto disso, sabia? – falei baixinho. – Me irrita até eu achar que vou quebrar alguma coisa na sua cabeça, mas eu não posso deixar de gostar.

– Do que você está falando?

– Da sua ingenuidade.

– Eu não sou ingênuo! – reclamou, mas não me soltou.

– É sim – discordei. – Mas é algo bom. Quer dizer que a vida ainda não foi a maior vadia com você. Significa que você ainda não foi muito machucado. Você nunca precisou juntar os pedacinhos de si mesmo depois de um golpe muito forte. Eu gosto disso em você.

Ele não disse nada e nós ficamos abraçados por mais algum tempo, mas eu tinha outras coisas para falar, então lentamente me afastei dos seus braços e voltei a me sentar na cama, enquanto ele sentava na cadeira.

– E quando você pretende me dizer o que estava fazendo com minha irmã no pátio num, segundo Luma, “clima sombrio”? – perguntei, arqueando uma sobrancelha.

Ele pareceu meio desconfortável, passando os dedos pelos cabelos, evitando meu olhar, essas coisas.

– Bom, não era exatamente um clima sombrio – ele respondeu, ainda sem olhar nos meus olhos. – Eu que estava meio irritado. Depois de tudo o que você me falou, eu não queria contato com a sua irmã, então suponho que eu parecesse um pouco contrariado.

– Mas sobre o que vocês estavam falando? – insisti.

Ele deu de ombros.

– Ela pediu para a madre superiora para alguém acompanhá-la num tour pela escola na hora do almoço. Eu fui a escolha óbvia.

Assenti. Fazia sentido. Afinal, meu namorado era o cara certinho e chato da escola. Era só novidade para mim, andar com as pessoas certas em vez dos delinquentes juvenis.

Se bem que Gabe e eu erámos os únicos delinquentes da escola, não é como se tivesse uma escolha muito variada.

Pensar em Gabe me fez lembrar de uma coisa importante – e o melhor seria que eu falasse com Paulo sobre isso de uma vez.

–...muito simpática. Perguntou sobre você e tudo – ele estava dizendo, ainda parecendo meio incerto. – Eu não saberia dizer se ela estava sendo irônica ou não...

Ah, ele ainda estava falando sobre Bianca.

– Querido, você não reconheceria uma ironia se ela te fizesse uma lap dance – comentei, fazendo-o me olhar com raiva.

Mas antes que nós entrássemos numa discussão sobre as faltas de experiências de vida do monitor mais lindo da Werburgh, eu me levantei e comecei a dar voltas pelo quarto. Isso o parou no meio de um processo de pensamento em que – provavelmente – iria perder tempo argumentando que até ele podia ser irônico, às vezes.

É, certo.

– Qual o problema? – foi o que acabou perguntando.

Virei-me para ele e mordi o lábio inferior, eu não queria que aquilo acabasse em mais uma crise de ciúmes.

– Hoje, quando os policiais estavam revistando meu quarto – comecei, mudando o peso de um pé para o outro repetidamente e pensando em como essa era uma frase errada, que me fazia sentir uma mercenária – um deles foi olhar debaixo da cama. E não havia nada lá.

Paulo só me olhou como se eu tivesse sofrido traumatismo craniano.

– Vai ver que seu monstro se escondeu em outro lugar – comentou, com um meio sorriso.

E não é que o cara realmente podia ser irônico?

Peguei um dos meus sapatos do chão e joguei nele. Infelizmente, ele tinha reflexos rápidos e desviou.

– Não tem graça – falei quando ele começou a rir. – O problema é que antes havia algo lá. Algo importante que eu tinha escondido.

– Por que você esconderia algo importante embaixo da cama? – perguntou, ainda não totalmente sério.

– Bom, era grande demais para esconder em qualquer outro lugar.

– E o que era?

Hesitei e, mais uma vez, mordi o lábio.

– Era uma tela – disse então. – Um quadro.

Ele pareceu pensar por um momento, e então a ficha caiu.

– Um quadro...? Do Kimak? – falou, soltando o ar pela boca como numa risada sem humor.

Rolei os olhos. Ia começar...

– Bom, o Gabe pintou, mas me deu. Então é meu. E agora sumiu.

– Ótimo – Paulo resmungou.

– Paulo!

Ele se levantou e foi para o outro lado do quarto, se apoiando na bancada da janela.

– Deixe-me adivinhar – falou. – É algo muito importante e você quer que eu encontre.

Assenti.

Ele ficou calado pelo que me pareceu uma eternidade. Eu continuei ali, de pé, mordendo o lábio e brincando com meu cabelo, esperando para saber se eu devia abraçá-lo ou quebrar a cabeça dele com um martelo.

Era algo importante para mim. Restava saber se isso seria o suficiente para ele.

Finalmente, depois de uma eternidade, ele se aproximou de mim e disse:

– Bom, se desapareceu, alguém pegou. E se alguém pegou, é roubo, algo que essa escola não tolera – ele tirou a mecha de cabelo dos meus dedos e enrolou no seu. – Não se preocupe, vou acha-lo pra você.

Fiquei na ponta dos pés e dei um rápido beijo em seus lábios.

– Eu já disse hoje que você é o melhor namorado do mundo?

Ele sorriu, meio contrariado.

– E eu já disse que você é uma criaturinha exasperante?

Sorri de volta.

– Nem precisa.

Ele me beijou e eu passei os braços por seu pescoço. Seus lábios eram suaves e persuasivos e beijá-lo era o ponto alto do meu dia. Ele sempre me beijava com todo o corpo, com tudo de si. E eu sempre sentia que não me largaria nunca, que nos beijaríamos para sempre.

Então era sempre uma surpresa quando nos afastávamos.

– Você está com cara de boba – ele sussurrou em meus lábios quando paramos de nos beijar.

– Você só está vendo o que quer ver – retruquei.

Ele sorriu e me deu um último beijo antes de ir ao banheiro lavar o rosto e trocar de camisa. Eu seria a porquinha que não me lavaria antes do jantar, mas quem estava ligando?

Até porque seria estranho, para não mencionar suspeito, se eu aparecesse no refeitório com uma camisa do Chermont.

Calcei meus sapatos e peguei meu casaco. Fiquei olhando pela janela para a escuridão lá fora. Mal podia discernir algumas formas de árvores e sebes. O poste de luz tinha se apagado – aquela velharia.

Suspirei. Ver aquela escuridão levou meus pensamentos para a noite em que havia encontrado Gabe em nosso pequeno esconderijo. Na noite em que ele me deu o maior presente que uma pessoa pode dar a outra. E meu cuidado com seu quadro foi tão relapso quanto com seus sentimentos. Eu não sabia como iria contar que o quadro havia sumido. Eu podia enxergar em cada pincelada o amor dele por mim. E doía. E era lindo. Não estava falando de mim. Mas o modo como ele me via, sim, era lindo.

– Julieta? – Paulo perguntou atrás de mim, tão de repente que eu me virei, assustada. – Por que você está chorando?

Levei uma mão ao rosto e senti as lágrimas que eu nem percebera derramar.

Sequei-as na manga do meu uniforme e disse:

– Eu não percebi que estava chorando.

Paulo me abraçou e perguntou:

– Mas no que você estava pensando pra ficar tão triste?

– No Gabe.

Ele me soltou imediatamente, deu as costas pra mim e passou a mão violentamente pelos cabelos, deixando-os completamente revoltos.

– Por que você sempre tem que falar nele quando estamos juntos? – perguntou irritado, mais alto do que o normal. – Será que você não entende que eu o odeio?

Respirei fundo. Eu sabia que aquilo provavelmente não daria em nada, mas eu não podia desistir antes de tentar.

– Ele é meu melhor amigo – falei.

– Eu o odeio! – gritou, virando-se para mim.

– E por acaso você odeia sua ex-namorada morta?

Ele pareceu confuso por um segundo, como se minha pergunta não fizesse sentido.

– Quê?...não!

Aproximei-me e larguei meu casaco no encosto da cadeira, para ficar com as mãos livres.

– Ela o traiu tanto quanto Gabe – argumentei. – Ela errou tanto quanto ele. Por que ela merece uma segunda chance e ele não?

Paulo me segurou pelos ombros de repente, fazendo-me arregalar os olhos em surpresa.

– Ela não tem uma segunda chance! – gritou, balançando-me. – Ela está morta! Ele a matou!

Soltou-me tão rapidamente quanto me segurou, como se tivesse se dado conta do que estava fazendo. Movimentei o ombro dolorido e fitei-o com raiva.

Por que ele tinha que ser tão intolerante?

– Você não sabe – falei, realmente chateada. Será que ele não via as semelhanças com a minha própria história? – Você não tem ideia de como é pesado o fardo da vida de uma pessoa. Especialmente quando você não é culpado pela perda dela. Especialmente quando você não sabe disso. E quando as pessoas que você ama também não .

Ele finalmente pareceu ter alguma noção do que eu estava falando, porque tentou se aproximar, mas eu me afastei.

– Julieta, - começou, parecendo angustiado – não é a mesma coisa, é...

– É claro que é a mesma coisa! Alguma vez você perguntou a ele o que aconteceu? Alguma vez você deu a ele o benefício da dúvida?

Paulo não disse nada, então eu peguei meu casaco e o vesti, depois fui em direção a porta.

– Gabe precisa morrer como Clara para que você possa perdoá-lo? – perguntei enquanto segurava a porta.

Ele deu de ombros.

– Talvez precise.

Bati a porta. E fui embora.

...

Fui direto ao refeitório. Era cedo e apenas alguns poucos estudantes já estavam lá. Luma me alcançou ainda no corredor e entrou comigo.

– Certo, pode ir falando – ela começou, ansiosa. – Que papo todo foi aquele da polícia revistando nosso quarto? E por que tem um clone seu andando pela escola?

Não era como se eu sentisse falta de quando era tão sozinha que conversava comigo mesma apenas para ouvir a voz de outro ser humano. Mas em algumas horas... você só quer ficar só por um momento. Organizar a tormenta de pensamentos que parecia fazer estragos na minha cabeça, tentar entender o que eu devia fazer, como devia lidar com o mundo ao meu redor.

Então eu parei e me virei para Luma, suspirei e disse, sucinta:

– O clone é minha irmã mais velha e a polícia foi obra de alguém com muito tempo livre.

– Espera, exp... – ela começou a pedir mais explicações, como eu sabia que faria, mas eu levantei as duas mãos com as palmas para cima e ela parou.

– Sinto muito, Luma – falei. – Eu acabei de brigar com o Paulo e não quero conversar com ninguém.

Não esperei que ela respondesse, apenas me apressei para pegar alguma coisa para comer e voltar ao quarto. Eu não queria encontrar Bianca. Ou Paulo. Ou Gabe. Ou qualquer outro ser humano. Eu só queria ficar sozinha.

Depois de pegar um sanduíche e uma caixinha de suco, voltei quase correndo para o dormitório. O meu. Entrei no meu quarto vazio e me sentei no chão, encostando-me na lateral da cama. Coloquei o canudinho no meu suco, mas não consegui me obrigar a bebê-lo.

Eu era uma completa idiota, não? Claro que sim. Não por ter pressionado meu namorado sobre um assunto que claramente lhe era doloroso, mas por me sentir tão culpada de tê-lo feito. Não podia protegê-lo para sempre, em algum momento ele teria que perceber não dava simplesmente para ignorar as coisas da vida que machucam.

Eu percebi.

Mas ao mesmo tempo, eu queria trair meus pensamentos. Queria sair correndo, queria que estivesse chovendo e, como num filme que tem um final feliz, correr até ele, pular em seus braços e girar com ele.

Patética.

Eu era uma idiota. Ele também. Ambos éramos.

Aquela constatação não mudaria nada da minha vida e eu realmente precisava focar minha mente em coisas mais importantes. Levantei-me e peguei meu sanduíche e suco intocados e saí do quarto, jogando-os displicentemente no lixeiro do corredor. Voltei, prendi meu cabelo num rabo de cavalo alto e peguei uma toalha. Se eu ia pensar, podia muito bem ser embaixo de um jato de água quente.

Entrei no banheiro – esperando encontra-lo vazio. Mas havia alguém lá. Alguém ajoelhada em um cubículo aberto, vomitando. Larguei minha toalha no banco comprido e corri até ela.

– Willa! – exclamei, quando vi a massa de cabelos castanhos e seu rosto pálido aparecendo por entre ela. – O que aconteceu?

Ela se virou para mim, parecendo assustada como se eu fosse um fantasma. Mas, mesmo apavorada, ela agarrou a frente do meu uniforme e me puxou para ela, tão perto que eu podia sentir o cheiro doce e enjoativo do seu hálito, o que me fez prender a respiração.

– A polícia! – falou, sem ar, e eu reparei que seus lábios estavam meio azuis. – O que a polícia estava fazendo aqui hoje à tarde?

Tentei afastar-me, coloquei a mão em cima da dela em minha blusa, mas só consegui alguns centímetros. Ela devia estar fraca, mas algo a fazia me segurar como se eu fosse a última tábua flutuante no naufrágio do Titanic.

– Acalme-se – eu falei, tentando usar um tom apaziguador. – Willa, o que...

– A polícia esteve aqui! O que eles queriam?! Por que estavam no nosso quarto?! – ela soava como se quisesse gritar, mas o mais alto que conseguia era um sussurro estrangulado.

Desisti de tentar me afastar e, mesmo meio enjoada com o cheiro, tentei acalmá-la. Coloquei uma mão em seu ombro, enquanto a outra ainda estava em cima da sua, que agarrava minha camisa. Dei batidinhas tranquilizadoras – se é que algo assim existia. Eu realmente não era a pessoa mais indicada para lidar com adolescentes histéricas.

E ela estava começando a me assustar.

– Foi uma brincadeira de alguém idiota – falei, ainda continuando com as batidinhas, embora não tivesse certeza nenhuma da sua eficácia. O que mais eu poderia fazer? – Não tem nada a ver com você. É só alguém que não gosta de mim.

Ela pareceu se acalmar apenas um pouco. No entanto, não me soltou.

– Julieta... – ela começou, ainda ofegante. – Eu... eu...

Willa estava soando como se fosse compartilhar o segredo do universo num sussurro proibido. Eu estava completamente atônita e confusa. O que tinha deixado a garota tão nervosa?

Mas qualquer coisa que ela fosse me dizer ficou entalado em sua garganta, quando a porta do banheiro se abriu e alguém entrou.

Meu clone.

Ou melhor, minha irmã.

Bianca já estava vestida com o uniforme da escola e, apesar de nossos corpos parecidos, ele parecia melhor nele que em mim. Não por ela ser mais bonita que eu. Bianca simplesmente parecia mais confiante usando aquela roupa do que eu. Ela parecia gostar.

Eu trocaria aquela meia calça por um moletom a qualquer hora.

– Nossa, o que aconteceu com essa garota? – ela perguntou, parecendo genuinamente preocupada.

Não respondi nada.

Em minha defesa, eu realmente não estava preparada para vê-la ainda. Achava que estava, mas não estava. Esperei toda a mágoa e o rancor que tinham me acompanhado por tanto tempo aparecerem – mas eles não estavam mais ali. Eu a olhava e só doía como quando você acha um ursinho de pelúcia empoeirado no sótão – e ele costumava ser seu brinquedo preferido na infância. Era apenas uma saudade dolorosa. Saudade de quem ela tinha sido e de quem eu tinha sido. E do que tínhamos sido juntas. E que havia se perdido.

Podia culpá-la por isso como vinha fazendo? Já tinha decidido que não. Podia culpar a mim? Não totalmente. Não importava quem havia errado primeiro. Não importava nem o erro. O que havíamos perdido era um preço alto demais para se pagar por qualquer que tenha sido. E não adiantava culpar ninguém.

– N-não sei – consegui gaguejar depois de um tempo.

Logo atrás de Bianca, outra garota entrou no banheiro. Era Luma e, assim que me viu agachada com Willa no chão, correu para nós.

– O que aconteceu?! – perguntou, ansiosa. – Você está bem? – essa foi direcionada a Willa.

A garota apenas balançou a cabeça bem fraquinho e me lançou um último olhar angustiado antes de permitir que Luma a ajudasse a se levantar.

– Vou levá-la à enfermaria – disse para mim, enquanto apoiava Willa. Ela era alta demais para tentar passar o braço da amiga por seus ombros. – Você vem?

– Em alguns minutos – falei.

Não queria ir à enfermaria. Mas queria saber qual era o problema da Becker. E o que ela parecia querer me dizer.

Por que ela parecia tão assustada com a polícia? O que ela havia feito para ficar com tanto medo?

As duas saíram e eu me senti apenas um pouquinho culpada por não ajudá-las. Mas eu precisava ficar e falar com Bianca. Aquele era um reencontro muito diferente do anterior. Antes eu sabia o que dizer, eu sabia como me sentir, e de repente... era como se meu chão tivesse desaparecido e meus pés estivessem balançando no ar. E eu não sabia o que me impedia de cair.

Era ainda pior do que a conversa com meu pai mais cedo. Era ainda mais assustador. Mais errado.

– Oi – falei, aproximando-me um pouco. Se esticasse meu braço, ainda assim não poderia tocá-la.

– Oi – ela respondeu, neutra.

Engoli algumas vezes e umedeci os lábios. Eu não sabia como perdoá-la. Eu não sabia como conversar com ela. Eu não a conhecia.

Mas eu precisava tentar.

– Como você está? – tentei.

Ela sorriu, mas não parecia especialmente feliz. Suspirou, olhou para os lados e depois fixou toda a frieza daquele olhar azul em mim. Em um segundo, seus olhos pareciam surpresos – como estavam quando ela entrou no banheiro – e no outro, não havia ninguém ali. Nada.

– Não – ela disse.

– Não o que? – perguntei.

– Não se atreva a fazer isso – ela deu dois passos pequenos na minha direção e levou as mãos até a gola do meu uniforme, e começou a arrumá-la. – Não tente ser a irmã boazinha de novo. Você desistiu do cargo há muito tempo, Julieta.

– Eu...

– Você desistiu de ser a mais querida – falou, ainda olhando para mim com aqueles olhos vazios, as mãos ajeitando minha roupa de modo ausente. – Você desistiu de ser a mais amada. De ser a melhor. De ser você. E agora é tarde.

Minha respiração estava superficial como se eu tivesse corrido e eu sentia gotinhas de suor se formarem em minhas costas.

– Eu não entendo.

– Devia.

Então ela me largou, voltou a sorrir e, de repente, seus olhos não eram mais poços azuis e inabitáveis. Foi como se uma lâmpada tivesse sido acesa neles.

– Tudo o que você foi, irmãzinha – falou e sua voz era agradável –, tudo o que você tinha. Agora é meu. Agora sou eu.

Deu um tchauzinho com os dedos para mim e saiu do banheiro. Deixando-me só e confusa.

Olhei-me no espelho quase sem querer. Meu uniforme estava impecável.

Mas eu cheirava a vômito.


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Notas finais do capítulo

E aí, gostaram?
Bom, qualquer erro me avisem, ok?
Então, gente, acho que faltam só uns 3 capítulos pra Manchas acabar. Aproveitem pra comentar antes que acabe herushaeuhase. Se vocês quiserem, eu talvez faça uma side story de algum personagem ou mesmo dos protagonistas - nada muito elaborado. Só me dizer o que querem :3
Beijoooos :***