Manchas escrita por Juliiet


Capítulo 32
Capítulo 31


Notas iniciais do capítulo

NÃO É MIRAGEM!
Isso aí, não é miragem, sou eu de verdade, postando só SETE dias desde a última atualização. Pois é, milagres acontecem :))) É que eu fiquei feliz com os reviews e bateu aquela inspiração e tals, e aqui estou eu :) E também respondi TODO MUNDOOO O/
Então, espero que gostem e vejo vocês lá embaixo :**



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   Encontrei-me com Paulo na hora do almoço e fomos, pela primeira vez, juntos ao refeitório.

   Eu realmente precisava falar com ele sobre tudo o que Luma me dissera. Precisava perguntar por que ele não tinha me dito nada.

   Mas até aquele momento, não tinha conseguido ficar um segundo sozinha com ele. A manhã estava sendo surreal e desagradável. Parecia a primeira semana toda de novo – só que mil vezes pior. Eu havia voltado a ser a atenção principal da escola e me sentia quase sufocada pelo peso dos olhares que me seguiam pelos corredores. A diferença era que ninguém era abertamente hostil. Talvez ninguém se atrevesse a me tratar mal por eu ser a nova namorada do Chermont ou algo assim, o menino parecia realmente ter influência naquele pequeno mundinho. Eu me sentia a namorada do chefe da máfia russa, não do monitor certinho da Werburgh.

   Mas eu podia jurar que havia visto algumas pessoas sorrirem para mim.

   Aparentemente, nem todo mundo ali pensava que eu era uma louca destruidora de propriedade escolar e cabeças alheias. Talvez também me vissem como vítima, afinal eu estava andando por aí com um corte na testa estilo Harry Potter.

   Tudo bem, era só um cortezinho. Nem ia ficar cicatriz.

   Só uma pessoa parecia não disfarçar seu ódio por mim e passou a manhã inteira me encarando como se desejasse que eu entrasse em combustão espontânea, não querendo perder o show. O ataque verbal começou quando eu passei por ela para entrar no banheiro feminino depois da terceira aula.

   – Não fica se achando muito, não – murmurou Beatrice, a responsável pelas aulas de música que, por algum motivo, me odiava e já havia me atacado no banheiro uma vez. – Logo, logo ele vai se cansar da prostituta violenta e vai procurar alguém digna dele.

   Ignorei-a, não precisando perguntar quem era ele. Aparentemente, meu namorado tinha uma admiradora não tão secreta. E eu era uma prostituta.

   Então, quando cheguei ao refeitório com Paulo, eu me sentia sob os holofotes da Werburgh. E, para ser sincera, estava com muita vontade de agarrar o monitor e fazer coisas ruins com ele ali no meio, só pra chocar geral e dar um assunto para as fofocas do mês. Eu já estava sendo o assunto delas mesmo, pelo menos eles podiam ter algo interessante para falar.

   Mas, no fim, quem ficou chocada fui eu, quando Paulo me guiou até a mesa das meninas, beijou gentilmente minha testa e murmurou um “vejo você depois”, antes de se virar para ir para a mesa dos meninos.

   Eu já havia dito o quanto odiava aquela regra e achava algo totalmente sem sentido já que, repetindo, dificilmente aquela garotada faria uma orgia em cima da mesa se sentassem juntos. Não com tantos almoxarifados por aí...

   Uma garota tem que estudar suas opções.

   Mas eu não me sentei na mesa, eu segurei Paulo pelo braço antes que ele desse dois passos.

   – Você não pode estar falando sério – reclamei, não acreditando naquilo. Eu realmente o queria ao meu lado, eu havia aguentado aquela manhã horrível totalmente sozinha e não queria continuar assim. – Você realmente vai me deixar aqui? – jogada às cobras, quis acrescentar.

   – São as regras – ele respondeu, dando de ombros, como se aquilo fosse uma verdade absoluta.

   E realmente foi embora!

   Eu o vi se sentar junto do seu irmão idiota e do Vicentini. Havia mais dois garotos com eles, cujos nomes eu não conseguia me lembrar, mas sabia que um deles – o magrelo baixinho de cabelos castanhos muito lisos – era namorado de Maya, a irritante amiga das minhas colegas de quarto. O outro também tinha cabelos castanhos, mas eram totalmente cacheados e pareciam apontar em todas as direções. Ele usava óculos e era quase tão alto quanto Paulo, mas todos aqueles centímetros só pareciam deixá-lo desengonçado.

   Eu estava realmente irritada e frustrada. Era apenas a hora do almoço e eu já tinha tido um dia de merda, que havia começado com a visita do meu pai e da minha irmã, com aquela notícia que havia feito com que eu quisesse socar alguém. E meu namorado ainda me deixava sozinha para almoçar com garotas que ou me odiavam ou me desprezavam, justamente quando eu mais precisava me sentir...

   Protegida?

   Em uma semana, minha irmã se mudaria para St. Werburgh e seria a mais nova aluna do internato. E, sim, talvez eu estivesse exagerando, mas eu não podia mudar o jeito como me sentia. E eu sentia que tudo estava se quebrando ao meu redor. Não era só ter a irmã com quem eu não me dava bem invadindo meu pequeno mundo. Bianca era como...meu passado voltando para me assombrar. Ela era a lembrança constante de tudo que eu estava aprendendo, não a esquecer, mas a aceitar.

   E eu sabia que ela podia destruir tudo o que eu havia, muito duramente, conquistado.

   Para completar, se Luma estivesse certa – e meu instinto dizia que ela estava –, Bianca teria concorrência, já que já havia alguém naquela escola que queria me fazer mal.

   Então era pedir muito um pouco de conforto daquele que havia jurado que ficaria ao meu lado e me protegeria? Era muito pedir que ele segurasse meu mundo, que parecia começar a desabar?

   Eu era muito idiota em pensar que Paulo fosse realmente deixar de cumprir suas amadas regras por mim.

   Respirei fundo, acalmando minhas emoções exacerbadas. O garoto era certinho mesmo e eu gostava dele. Assim mesmo. Não podia esperar – nem querer – que ele mudasse. Embora fosse totalmente frustrante que ele se preocupasse em obedecer regras quando eu estava quase tendo um ataque de pânico.

   Inquieta, me levantei da mesa. Todas as conversas pararam subitamente e todos os olhares se fixaram em mim, como se todos estivessem esperando ansiosamente para ver o que eu iria fazer.

   Como se eu fosse começar a dançar ou cuspir fogo ou fazer acrobacias com as apostilas.

   Babacas.

   Caminhei calmamente para a fila da comida, ignorando todo mundo. Peguei uma bandeja e enchi meu prato com macarrão com queijo. Peguei uma garrafa de água e me virei. Todos continuavam me encarando, nem se preocupando em disfarçar. Até Paulo me fitava. Percebi que a expressão no meu rosto não devia ser das melhores, porque ele parecia alarmado. Talvez tivesse medo que eu desse uma repetição da minha primeira noite, quando havia sentado na mesa dos meninos e fiz toda aquela confusão só porque estava entediada.

   A ideia até havia passado pela minha cabeça, mas eu não estava entediada naquele momento. Eu estava cansada. E assustada. Cansada de brigar, de ser sempre apenas eu contra o resto do mundo. E assustada por pensar na possibilidade de tudo voltar a ser como antes, quando eu vivia aquela existência miserável e não conseguia respirar sem sentir culpa por estar viva.

   Bianca poderia me fazer reviver tudo aquilo. E eu tinha medo.

   Ergui a cabeça e atravessei o refeitório em direção ao pátio.

   Não iria continuar lá dentro por nada. Não concordava com aquela regra estúpida e, sinceramente, precisava me sentir livre de toda a pressão daqueles olhares. Eu não queria brigar, mas minha saída era como um protesto, silencioso, mas ainda assim um protesto.

   Talvez, se eu tivesse disposição, na próxima vez eu poderia dançar nua na mesa dos garotos. Esse sim seria um protesto e tanto.

   Eu só não esperava que outras pessoas se sentissem como eu – não sobre dançar pelada, mas sobre a segregação em si. E muito menos que fossem me seguir.

   Mas foi o que aconteceu.

   Eu tinha acabado de me sentar em um dos bancos de pedra do pátio vazio, quando vi Luma, Willa, Maya, seu namorado, Pietro e o garoto desengonçado saindo do refeitório com suas bandejas. Vieram na minha direção, quase todos sorrindo. Willa não me olhava e sua expressão era assustada e tímida, como sempre. Já Luma me olhava como se...como se houvesse um tipo de entendimento entre nós. Talvez fosse uma trégua.

   – Sempre achei essa regra ridícula – ela anunciou quando chegou perto o suficiente. E finalmente sorriu, mas seus olhos eram cautelosos.

   Depois de alguns segundos meio tensos – talvez apenas para mim, porque foi muito rápido –, ela pareceu relaxar e se sentou ao meu lado. Os outros também se acomodaram. Maya se sentou do meu outro lado no banco e os outros se sentaram no chão mesmo. O namorado dela se apresentou como Yuri – e ele parecia tímido como Maya era extrovertida – e o garoto de óculos se apresentou como Rob.

   Eu continuava embasbacada enquanto via mais alguns – poucos – alunos saírem do refeitório com suas bandejas, entre eles a garota nerd que eu achava que chamava Rivera, que se sentou num banco não muito longe do meu, ao lado de uma garota ruiva. Também vi Gabe, que me lançou um olhar curioso – mas não hostil! –, antes de ir sentar sozinho, longe de todo mundo.

   Era impressão minha ou o mundo havia acabado de virar de cabeça para baixo?

   – Concordamos com você, minha pequena revolucionária – Pietro disse, fazendo-me voltar minha atenção para ele, que estava sentado aos meus pés, sorrindo.

   – Algumas regras dessa escola precisam ser revisadas – completou Maya, sorrindo também. – Tradição é legal, mas inovação também.

   – E o jeito como você saiu do refeitório... – continuou Pietro, antes que mais alguém dissesse alguma coisa. – Foi como um desafio, sabe? Despertou o sentimento de rebeldia no resto de nós.

   Maya deu um tapa na parte de trás da cabeça dele, dizendo:

   – Você sempre foi rebelde, não culpe a garota por isso!

   Todos riram e olharam para Pietro, que passava a mão no local atingido.

   – Lembram daquela vez em que ele explodiu o banheiro? – perguntou Rob, rindo com a lembrança e fazendo todos voltarem a rir e a falar ao mesmo tempo.

   – Foi um acidente! – o garoto parecia indignado e tentava se defender. – Os mentos caíram acidentalmente na garrafa de coca cola...

   – E o que você fazia com uma garrafa de coca cola no banheiro?

   – Além disso, o estrago foi muito grande para ter sido só um simples caso de mentos com coca cola...

   – Para mim, aquilo era uma bomba caseira, só falando.

   – Pietro terrorista!

   Todos eles riam e zoavam o garoto e a si mesmos. Só Willa parecia meio quieta e distante, retraída. Mas talvez ela ainda estivesse pensando em toda a história da pedrada. Ela ainda exibia um enorme curativo na cabeça, diferente de mim.

   Mas tirando isso, todos pareciam bem felizes e confortáveis. E, de repente, eu me peguei sorrindo. Eu não conversava com aquele grupo ao meu redor e nem eles interagiam muito comigo, mas...eles estavam ali. E eu também.

   Eu me sentia...aceita. Como se eu pertencesse a algo, como se...como se eu fosse uma garota completamente normal e eles fossem meu grupo de amigos. Como se nós saíssemos juntos e conversássemos e brincássemos uns com os outros.

   Não importava muito que Paulo não estivesse ali. Pela primeira vez, eu me sentia feliz não graças a alguém. Não era por Paulo ou por Gabe. Era por mim. Eu estava feliz por ter feito algo que havia atraído aquelas pessoas para perto de mim, mesmo que nem soubesse que o estava fazendo.

   Sim, eu sabia que eles não eram meus amigos, que não me conheciam e que alguns, inclusive, haviam me detestado no momento em que puseram os olhos em mim. Mas eu sentia que aquilo era um começo. Que eu podia ser alguém de quem as pessoas gostassem.

   Agora que eu finalmente havia aprendido a gostar de mim mesma.

...

   Eu estava deitada na cama de Paulo aquela noite, brincando distraidamente com a ponta do lençol, esperando ele sair do banho. Ainda era cedo e eu esperava poder conversar com ele, já que o dia havia sido movimentado demais para que ficássemos sozinhos.

   Depois do intervalo, eu o vi enquanto caminhava para a minha aula de música e ele me presenteou com um enorme sorriso, como se dissesse que estava orgulhoso de mim. Eu sorri de volta, sentindo-me satisfeita comigo mesma.

   E foi só o que me fez conseguir ficar sã pela hora que se seguiu.

   Beatrice já era uma vadia comigo normalmente, mas naquele dia ela estava particularmente insuportável. Eu odiava admitir que ela tinha talento e tocava piano como eu nunca havia visto ninguém fazer, mas naquele dia ela parecia socar as teclas enquanto me lançava raios lasers mentais através dos olhos.

   Em compensação, na aula de equitação, Paulo me deixara montar pela primeira vez. Ele ficou surpreso ao ver que eu conseguia não me derrubar no chão, mas foi logo dizendo que minha postura estava errada, que eu deixava as rédeas muito soltas e mais um monte de outras coisas.

   Não prestei atenção em nada, tocada pela sensação de liberdade que sentia ao galopar.

   Depois da aula, corri até meu dormitório e tomei um banho antes do jantar, que dessa vez aconteceu dentro do refeitório porque estava muito frio lá fora. Acabei sentando-me com Luma, Willa e Maya. Não era exatamente confortável e nós ficamos em silêncio a maior parte do tempo, mas algumas vezes Luma e Maya tentavam conversar comigo. Maya perguntou-me sobre meu relacionamento com Paulo e como estiveram rolando apostas durante todo esse tempo sobre se eu o aceitaria ou não.

    Aparentemente, toda a escola sabia que o garoto estava apaixonado por mim antes que eu mesma soubesse.

   – Ele nunca correu atrás de garota nenhuma – Luma revelara. –E só teve uma namorada antes de você. Ele é um menino sério.

   Por trás de suas palavras estava implícito que ela me quebraria em dois se eu o machucasse. O sentimento que Luma nutria por Paulo era complicado, mas agora que eu a enxergava com um pouco de clareza, podia ver que era puramente fraternal. Luma o amava como a um irmão e se preocupava com ele.

   Luma também brincou sobre como eu não tinha pijamas e sempre ia dormir com alguma camisa extragrande, normalmente de alguma banda da qual ela nunca ouvira nem falar. Eu nem notara que ela prestava atenção em mim.

   Mas nós morávamos juntas, não era como se pudesse ser evitado.

   A única que ficou calada o jantar inteiro foi Willa. E eu tinha começado a me perguntar se ela estava com medo de mim. Talvez, apesar de tudo o que sua amiga havia dito, ela achasse que eu havia jogado aquela pedra nela.

   Mas não pensei muito sobre isso, porque um pouco antes de o jantar terminar, Paulo foi me buscar na minha mesa e havia praticamente me arrastado para o quarto dele, antes que os dormitórios ficassem cheios de alunos e alguém nos visse.

   – Então quer dizer que na frente dos outros, você respeita as regras, mas quando ninguém está olhando, você é um garoto muito, muito mau – havia dito enquanto subíamos as escadas.

   – Aprendi com a melhor – havia respondido com uma piscadela. E depois de um rápido beijo, se enfiou no banheiro.

   Como eu já havia tomado banho, tirei meus sapatos, meia calça e blazer e me joguei na cama dele, aspirando seu cheiro e pensando em como um dia que havia começado da pior maneira possível, havia se tornado tão bom.

   Se pelo menos eu não estivesse brigada com Gabe e a chegada de Bianca na próxima segunda feira não estivesse pendurada sobre a minha cabeça como um mau agouro...

   – Um beijo pelos seus pensamentos – Paulo sussurrou na minha orelha e eu quase pulei de susto. Estava tão distraída que não o vira se aproximar.

   – Idiota – empurrei-o. – Quem disse que quero um beijo seu?

   Ele fez uma cara de cachorrinho sem dono e eu ri, dando um rápido selinho em seus lábios. Foi então que vi que ele vestia só uma bermuda. E não havia secado direito seus cabelos, já que pequenas gotinhas se desprendiam das pontas e vagavam por seu pescoço e peito, chamando minha atenção para aquela pele sempre ligeiramente dourada e macia.

   – Você nunca tem frio? – perguntei, ainda olhando para as gotas de água em sei peito.

   – Não com você aqui para me aquecer – respondeu, inclinando-se sobre mim.

   Fiz um pequeno som de indignação.

   – Ei! Eu só pensei em te abraçar – ele disse, com um sorriso malicioso, o rosto cada vez mais perto de mim. – Não tenho culpa se essa sua mente é poluída...

   Seus lábios tocaram os meus lentamente, sua língua brincando com meu lábio inferior antes de tocar a minha. Beijá-lo fazia minha cabeça ficar leve, fazia com que meu cérebro derretesse, com que todos os pensamentos fugissem, exceto um. O de tê-lo mais perto. Passei os braços por seu pescoço e senti suas mãos se insinuarem por baixo da minha blusa.

   Porém, antes que ele pudesse desabotoá-la, eu consegui lembrar vagamente de que precisava conversar com ele.

   – P-paulo – gemi, mas do que falei, enquanto ele seguia com seus lábios por minha mandíbula e pescoço. – Luma me disse que...que...

   O que Luma havia dito mesmo?

   – Que talvez alguém...tenha armado para mim – consegui dizer finalmente, ainda que meus pensamentos estivessem embaralhados agora que seus dedos começavam finalmente a desabotoar minha blusa. – Você sabe, no sábado.

   Suas mãos não pararam, mas seus beijos sim. Ele levantou o rosto lentamente para me olhar. Seus olhos estavam escuros, seu rosto corado, sua respiração pesada, como sempre ficava quando nos beijávamos.

   – Luma tem a imaginação muito fértil, Julieta – disse, separando minha blusa depois de terminar de desabotoá-la e tocando gentilmente meu ombro com seus polegares. – Como alguém saberia que você estaria aqui depois de ter ido embora comigo? E por que alguém se daria ao trabalho de fazer tal coisa? Foi só um idiota querendo chamar atenção, você não tem nada com o que se preocupar.

   Suas palavras me fizeram sentir um pouco boba. Ele tinha razão, não tinha? Parecia muito improvável mesmo que alguém se desse ao trabalho de fazer algo assim só para me prejudicar. Quem me odiaria tanto?

   Mas algo ainda me fazia irrequieta. Algo ainda não estava certo. Eu sabia que não.

   Mas esqueci isso quando Paulo voltou a me beijar, suas mãos acariciando meu corpo enquanto as minhas se perdiam em seu cabelo.

   E ele estava certo. Nenhum de nós ficou com frio.

...

   Acordei com meu celular vibrando no bolso da minha saia. Eu continuava na cama do monitor, com o próprio atrás de mim e seu braço enrolado em minha cintura, sua respiração quente em meu pescoço. Eu estava vestida só com minha saia e o sutiã, e cuidadosamente – para não acordar Paulo – peguei meu celular. Vi primeiro as horas. Passava um pouco das duas. Depois, percebi que havia uma mensagem de Gabe, e era por isso que meu celular tinha vibrado.

   Se estiver acordada, por favor, venha até o bosque. Tem algo que eu preciso te dar.

   Franzi o cenho, sem entender. O que diabos...? O que Gabe poderia querer àquela hora? E ele não estava com raiva de mim? Depois do que eu o havia acusado, eu não esperava que ele fosse voltar a falar comigo tão cedo, e eu ainda nem havia me desculpado!

   Eu podia mandar uma mensagem de volta, falando que estava muito tarde e que o que quer que ele quisesse me dar, poderia ser amanhã. Aí eu poderia me desculpar e eu tinha esperanças de que ele me perdoasse.

   Mas é claro que eu não fiz isso.

   Levantei-me ainda mais cuidadosamente para não acordar Paulo, que só se virou e enterrou a cabeça no travesseiro. Sem fazer barulho, vesti minha camisa e meu blazer, e peguei meus sapatos. Saí sorrateiramente do quarto e fechei a porta com muito cuidado. Desci as escadas descalça e correndo, e só coloquei meus sapatos quando cheguei ao hall escuro.

   Quando saí, e o frio me atingiu, quase voltei para o quarto. Mas algo me incitava a ir em frente. Olhei para todos os lados e me certifiquei de que o lugar estava deserto, antes de começar a caminhar rapidamente para o bosque, abraçando meus braços fortemente contra o corpo. O céu era negro e pesado, sem qualquer brilho de estrelas. A única luz via de alguns dos postes ao redor dos dormitórios, mas quanto mais eu me afastava, mas escuro e sombrio ficava. Meus passos pareciam barulhentos na grama e até o vento parecia sussurrar em meu ouvido.

   Eu estava assustada. Sentia como se alguém estivesse me observando. Como se as sombras ao meu redor fossem, lentamente, me sufocando. Como se estivessem se aproximando, chegando cada vez mais perto...

   Comecei a correr.


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Notas finais do capítulo

Quem ama o Gabe??? EEEEEEEU O/
Então, o que acharam? Eu to MUITO nervosa com esse capítulo, então, POR FAVOR, me digam o que vocês acharam. Fantasmas, apareçam! A história já tá no final e eu quero muito que vocês me deem a opinião de vocês.
Então, não me odeiem por acabar aí e por não saber quando será a próxima atualização D:
Adoro vocês, beijoooos :***