Manchas escrita por Juliiet


Capítulo 3
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Não revisei, então me perdoem os erros, por favor. Espero que gostem :)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/162378/chapter/3


Consegui sair do dormitório sem problema nenhum, o lugar estava tão vazio que parecia abandonado. As garotas não voltavam para o dormitório para tomar banho e trocar de roupa antes do jantar?

Que nojeira.

Eu estava caminhando para o prédio do meio, onde ficava o refeitório. Eu não podia distinguir nada nas sombras e o lugar estava quieto demais. Isso sem falar no vento frio que vencia a resistência das minhas roupas e me fazia tremer.

Aquela escola era definitivamente assustadora.

Pensei ter escutado o som de um galho se quebrando e apertei o passo. Sabia que aquilo era idiotice, mas mesmo assim fiquei com medo e respirei aliviada quando finalmente entrei pelo enorme corredor de pedra que, eu esperava, fosse acabar no refeitório.

Do corredor parcialmente iluminado eu podia ouvir vozes e risos, com certeza estava perto de algum lugar minimamente habitado por seres vivos. Estava tão distraída em meu caminho que acabei por esbarrar em alguém.

- Oh, Julieta! – exclamou irmã Manuela, ajeitando sua roupa horrorosa de freira. Como é que alguém, de livre e espontânea vontade, escolhe ser freira? Só para me fazer vestir aquele hábito, seria preciso, no mínimo, um bom dinheiro e eu não acho que as freiras ganhem muito, se é que ganham alguma coisa.

- Eu estava indo buscá-la para o jantar – disse a freira, depois de se ajeitar. – Mas parece que você já achou o caminho sozinha, não é?

- Não, - respondi, revirando os olhos. – Eu ainda estou no meu quarto e você deve ter bebido o vinho da missa e está tendo alucinações.

Irmã Manuela me olhou com espanto, mas eu não podia fazer nada. Eu já não sou simpática normalmente, com fome então...

- Bom – a freira disse, um pouco embaraçada. - O refeitório é por aqui. Venha.

Fui arrastando os pés atrás dela e logo chegamos ao refeitório. Uma sala enorme, com pé direito alto e enormes janelas de vidro.

- Que diabo de lugar é esse? Hogwarts? – soltei.

Fala sério. Em vez de várias mesas de quatro ou oito lugares, o salão possuía apenas duas mesas retangulares gigantes, onde todo mundo sentava.

Olhei para irmã Manuela, que me fitava com espanto. Será que foi por que eu disse diabo?

O refeitório, antes barulhento, caiu num repentino silêncio e todos olhavam para mim. Bom, eu presumi que fosse para mim porque a outra opção seria a irmã Manuela e, se quiser saber minha opinião, eu sou bem mais interessante de olhar do que ela, apesar dos traços delicados do seu rosto.

Aquele hábito era mesmo muito feio.

Logo percebi, antes mesmo de irmã Manuela cochichar no meu ouvido, que a mesa da esquerda era para as garotas e a mesa da direita era para os garotos e não podia haver mistura. Percebi também que o uniforme era a coisa mais nojenta desse mundo.

A maioria das garotas estava sentada – assim como os garotos – mas algumas estavam em pé, servindo-se de comida. E eu pude ver, com uma pontada de horror, que elas vestiam saias.

Saias azul marinho na altura dos joelhos, camisa azul clara com mangas compridas e abotoadas até a gola, e sapatos pretos fechados com salto baixo, algumas também usavam casaco azul marinho. Mas o pior de tudo não era nada disso.

Todas usavam meia calça.

Por acaso essas freiras tinham noção da tortura que é usar meia calça?

Não, meia calça não ia rolar para mim, de jeito nenhum.

Irmã Manuela me deu um pequeno empurrão para me fazer acompanhá-la, já que eu estava estática de choque. Me senti uma alienígena ali, com meus jeans e moletom. Passei os dedos nervosamente pela minha trança, reparando que todas as outras garotas estavam com os cabelos bem arrumados, a maioria delas os usava soltos e algumas os usavam presos do lado apenas por uma fivela.

Atravessamos o refeitório e o burburinho começou. Estava na cara que estavam falando de mim. Não dava para ouvir nada além do ruído de conversas desconexas, mas eu sabia que era o assunto principal.

- Julieta – irmã Manuela tirou-me dos meus devaneios e enfiou uma bandeja em minhas mãos. – Sirva-se ali. Hoje temos salada de frango e sopa de legumes. Ah, e torta de maçã para a sobremesa.

Depois disso, virou-se e foi embora, deixando-me sozinha com os leões.

Algo me diz que eu não deveria ter sido grossa com ela.

Servi-me de uma montanha de salada de frango, o suficiente para alimentar uns três caminhoneiros, e peguei uma latinha de suco. Fui andando para a mesa das garotas, mas parei no meio do caminho.

Algumas riam de mim e das minhas roupas, outras me olhavam com desdém e superioridade, outras ainda fitavam meu prato cheio com horror.

Sinto muito, anorexia não faz meu estilo.

Olhei para a mesa dos meninos e vi que eles também olhavam para mim. A maioria com curiosidade.

E o uniforme deles não era tão ruim quanto o das garotas. Calça azul marinho, camisa azul clara e casaco azul marinho também. Mas como a maioria dos garotos sentados na mesa, pelo menos os que estavam no meu campo de visão, eram belos exemplares da espécie, a roupa até que lhes caía bem.

Não foi uma escolha difícil. Entre sentar com um bando de garotas frescas e com nariz empinado (que ainda por cima usavam meia calça) e sentar numa mesa com garotos bonitos que, obviamente, me acharam uma novidade interessante, é lógico que eu escolhi a segunda opção.

O que deixou todo mundo meio chocado.

- Dá pra afastar? – eu disse para um garoto de cabelos loiros quase brancos que estava sentado na ponta da mesa.

- Como? – ele perguntou, espantado.

- Muito obrigada – disse, empurrando-o com o cotovelo e me aboletando no banco. Coloquei minha bandeja na mesa e comecei a comer.

Depois de alguns segundos de silêncio, o burburinho recomeçou.

Os garotos sentados perto de mim olhavam-me como se eu tivesse duas cabeças, mas eu não me importei. Lá o clima era bem melhor do que na mesa das garotas e, além disso, eu achava ridícula aquela segregação. Por que garotas não podiam sentar com garotos? Será que as freiras tinham medo que rolasse algum tipo indevido de contato físico?

Fala sério, quando garotos e garotas querem transar, o último lugar em que iriam pensar era um refeitório lotado. Bom, pelo menos a maioria. Com tanta gente doida no mundo a gente nunca sabe.

Estava mastigando um bocado da salada de frango – que estava surpreendentemente boa – quando alguém disse às minhas costas:

- O que você pensa que está fazendo?

Virei para ver quem falava comigo e quase engasguei com a comida.

Era o garoto mais bonito que eu já vi na vida e eu já vi muitos garotos bonitos.

Ele devia ter pelo menos 1,90 m de altura, uma montanha, tinha cabelos ondulados e castanhos que caíam na testa e olhos castanhos...não, verdes...uma mistura dos dois. E, pelo que eu pude perceber, sob aquele uniforme ele tinha um corpo que eu não jogaria fora.

- Estou jantando – disse depois de engolir.

- Você não pode sentar nesta mesa – o garoto insistiu. – Seu lugar é do outro lado.

Para um deus grego ele era bem irritante.

- Não sei não – respondi, despreocupadamente. – Acho que combino mais com este lado do refeitório. Olha só, se você analisar racionalmente a situação vai concordar comigo.

- Aonde você quer chegar, novata?

Segurei-me para não mandá-lo para o inferno. Odeio ser tachada de novata

- Daquele lado elas usam saias, deste lado vocês usam calças. Se você prestar bem atenção, talvez repare que eu me encaixo na última categoria. Bom, agora que está tudo resolvido, vou terminar de comer.

Antes que eu pudesse lhe dar às costas, o deus grego segurou-me pelo braço, um pouco rudemente, e me fez levantar.

- Estou dizendo para você se levantar daqui e sentar-se à mesa das garotas agora. – ele disse, nada satisfeito com a minha explicação que me pareceu até bem razoável. – São as regras e você vai cumpri-las.

- Ah, e quem você pensa que é para achar que pode mandar em alguma coisa? – retruquei, irritada, soltando meu braço do aperto dele com um puxão.

- Paulo Chermont – respondeu ele, olhando-me com aquele ar de superioridade que eu tanto detesto nas pessoas. – Sou monitor da escola e presidente do conselho estudantil e uma das minhas funções é fazer com que todos os alunos cumpram às regras. Em outras palavras, que talvez um tipinho como você entenda melhor, eu mando e você obedece.

- Você só pode estar de brincadeira, não é? – ri. – Um tipinho como eu? O que você quer dizer com isso? Alguém que realmente usa a massa cinzenta que tem na cabeça e que tem um pouquinho de personalidade? Alguém que não vai aceitar ordens de um idiota? Porque esse é o meu tipinho. Se você quer obediência, compre um cachorro.

Sentei-me de volta no banco, mas nem pude colocar uma garfada do meu jantar na boca, já que aquele deus grego irritante do capeta segurou meus dois braços e praticamente me arrancou da mesa.

- Agressão física tá valendo também? – perguntei, com raiva e...bom, não sei bem, mas eu estava gostando daquilo. Eu queria mesmo arrumar uma boa briga. – Você pode sair machucado também, querido.

Eu estava só procurando um motivo para bater em alguém.

É, eu não me orgulho disso.

- Você vem comigo – Chermont respondeu apenas, puxando-me pelo pulso para fora do refeitório.

Vejam só, em menos de vinte e quatro horas, Julieta Vaughan já arrumou uma bela confusão na porcaria da escola nova. Uma proeza, mesmo para mim. Eu normalmente só acabo na direção umas duas semanas depois, quando as coisas começam a ficar meio entediantes no Ensino Médio.

Começamos a andar pelo corredor, sem dizer nada. Eu sempre me perguntei por que faço essas coisas, mas nunca encontro resposta. Não é como se eu planejasse, nada disso, quando percebo, já estou no meio de uma confusão, é mais forte do que eu.

E o problema, de acordo com todos os terapeutas a que fui obrigada a ir nos últimos dois anos, é que eu gosto disso.

Eu gosto de ser antipática, irritante e, vamos ser honestos, um pé no saco. Vai ver é porque é o que eu faço de melhor.

Saímos para a noite escura e Paulo me puxava na direção do dormitório feminino. Aquele negócio de ser puxada para lá e para cá feito um cachorrinho já estava me deixando danada, então eu finquei os pés no chão e puxei meu braço.

- Onde estamos indo? – perguntei, quando ele se virou para mim.

- Colocar um uniforme em você – ele respondeu.

- Eu não tenho o uniforme.

- Já devem ter colocado um no seu quarto. Se você tivesse se dado ao trabalho de abrir o armário, veria.

O que aquele garoto tinha de bonito, tinha de irritante. E eu de repente me senti cansada. Aquela brincadeira não era mais divertida.

Estou cansada disso tudo. Dessa minha vida que não tem nenhum sentido. Da mesma repetição, de novo e de novo. De ser expulsa e ficar trocando de escola. De ficar sendo odiada por todos e olhada com desprezo. Sei que mereço, mas...tem uma hora que tudo o que você quer é levantar a bandeira branca.

Claro que eu não posso fazer isso. Não é como se fosse resolver a minha vida.

- Esquece – eu disse. – Volte para o refeitório e vá jantar com o resto dos idiotas dessa escola. Eu perdi a fome e vou para o meu quarto.

Dei as costas a ele e fui andando, mas ele me parou segurando em meu ombro, rude.

- Qual o seu problema, novata? – ele perguntou com cinismo. – Reconheceu minha supremacia sobre a situação?

- Não – respondi, ácida. – Só percebi que não quero perder meu tempo discutindo com um idiota. Devo estar perdendo uma grande parte dos meus neurônios só de falar com você. Não posso correr esse risco.

Paulo me fitou com fúria.

- É melhor você ir começando a se comportar, novata. – disse, ainda segurando-me pelo ombro. – Não tenho a menor paciência para aturar uma garota mimada da cidade grande que não tem respeito por nada.

- E é melhor você ficar fora do meu caminho – disse, tirando, pelo que me pareceu a milésima vez, suas mãos de mim. – Não me responsabilizo se você acabar com os dedos quebrados.

Dessa vez, quando eu virei as costas, ele não me parou. Mas eu ainda o ouvi dizendo:

- Vou chutar você daqui antes da missa de domingo.

Ele não tinha ideia do favor que estaria me fazendo.




Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Mandem reviews, mesmo se for pra dizer que tá horrível. Aceito créticas porque acho que elas fazem o autor (no caso, eu aqui) se esforçar mais. Beijos!