Blood, That Will Never Be Enough escrita por Mandoka_chan


Capítulo 18
VI (parte 3)


Notas iniciais do capítulo

muito obrigada :3



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   Eu joguei a arma para o ar e me afastei. Eu esperava que alguém deles, principalmente o Gustav, me impedisse. Mas eles não o fizeram. Quando eu me virei, com os olhos ardendo, quatro pares de olhos me encaravam perplexos.

   -- Gente...? – eu chamei.

   -- Amy, você... – Gustav travou por alguns segundos -- Você tem idéia do que acabou de fazer?

   -- Jon...Jon, é ela...É ela! – Spencer apontou para mim, um tanto exasperado -- É o sacrifício!

   -- Como é que é? – eu franzi a testa e me aproximei deles. Eu estava vacilante, mas ainda queria uma explicação.

   Gustav olhou torto para Spencer, censurando-o.

   -- Bom, temos uma teoria que...Que lemos em um livro antigo. Existiria um sacrifício entre os Slayers que, na batalha contra os vampiros originais, bom...Morreria para que todos os outros tivessem sua força aumentada...

   -- É uma honraria e tanto – eu o interrompi irônica – mas eu dispenso a parte da minha morte. Além do mais, eu não sou um Slayer.

   -- Ainda – Gustav completou – Mas se você for mesmo o sacrifício, não haverá escolha.

   -- “Se”...Por que diabos eu seria esse sacrifício? -- senti meu coração falhar.

   -- Você largou a arma no chão como se ela não fosse pesada – Spencer começou a argumentar.

   Eu olhei para a arma. Ela ainda não me parecia pesada.

   -- Quatro quilos e meio – Gustav apareceu do meu lado -- É o peso da arma.

   -- Você só pode estar brincando comigo... -- mas quando vi a feição séria dele percebi que aquela teoria não era totalmente absurda – Gustav, não...eu não

   Ele segurou as minhas mãos.

   -- Amy, é só uma teoria. Quem poderia saber o que vai acontecer na batalha final? Nós não temos uma bola de cristal...

   Ah! Meu Deus!

   A vidente. Lindsey. Ela não me escolhei à toa. Ela sabia, deveria saber que eu... Que eu seria o sacrifício.

   Senti meus joelhos falharem e se não fossem os braços do Gustav, eu cairia no chão. Eu não conseguia mais pensar em nada, não esboçava nenhuma reação. Estava em pânico, os olhos vidrados.

   Os três concluíram que eu não poderia mais treinar naquela tarde e então fomos embora. Por todo o caminho de volta, eu tentei ter uma visão da hora da minha morte, mas minha mente estava em branco.

   Eu mal percebi quando dormi, encostada no vidro do carro.

 

[...]

   Eu estava em uma espécie de parque, vestida com roupas de época. Eu comecei a andar e de repente, várias árvores apareceram ao meu redor.

   Mas eu sabia que deveria continuar andando, por algum motivo.

   Depois de algum tempo, eu cheguei perto de um playground bem rústico, os brinquedos feitos de madeira. A iluminação vinha de vaga-lumes que voavam por lá. Vi nos balanços uma figura solitária, de beleza imensurável, se balançando lentamente.

   Era o Mikey. E não era uma visão.

   Eu estava sonhando.

   -- Mi-Mikey? -- eu o chamei. Ele levantou a cabeça e sorriu para mim.

   -- Boa noite, Ali ele disse, estendendo a mão para mim. Eu queria dizer que aquele não era o meu nome, mas não consegui.

   -- Eu sinto sua falta, Mikey...Meu pai quer que eu case e... -- ele colocou a ponta do dedo indicador nos meus lábios, me impedindo de continuar. Quente, aquele fora um toque quente.

   -- Não vamos viver a realidade, Ali...Aproveite esta noite, como se fosse um sonho -- eu ergui uma sobrancelha -- Ficou muito Shakespeare, não é? -- ele deu uma risada baixa.

   -- O que vamos fazer agora? -- eu estava ansiosa.

   Os olhos deles ficaram negros.

   Eu sabia o que ele queria. E estava mais do que pronta.

   Sangue.

  Todo ele.

 

[...]

 

 

   -- Bom dia Amy – Saki disse. Ele parecia estar arrumando uma mala -- Você precisa se apressar, logo nós vamos pegar a estrada.

   -- Estrada? -- eu levantei. Toodo o quarto estava vazio, a não ser pelos móveis -- Vocês vão...embora?

   -- Bom, o Gustav disse que você vai com a gente... – ele olhou para mim.

   Eu não queria ir. Eu ainda esperava que algum daqueles vampiros viesse me buscar. Mesmo que eu não ajudasse em nada com meus poderes limitados de vidente, eu achava que havia um pouco de consideração.

   Mas  já tinham se passado muito tempo. Eu precisava ser realista.

   -- Certo... Mas eu quase não tenho roupas..

   -- O Georg pegou tudo o que você poderia precisar na sua casa – dessa vez, o Gustav que falou. Ele entrou um tanto exaltado no quarto -- Você ainda está na cama?

   Tentei afastar a imagem do Georg fuçando minha gaveta de calcinhas.

   -- Desculpa -- eu pedi. Levantei-me com um salto.

   Alguns minutos depois, nós estávamos entrando na van deles, saindo de N.Y. Eu não me sentia triste, mas meu corpo estava em pedaços.

   -- Amy, você pegou os pacotes de sal grosso?

   Eu desviei o olhar do lado de fora da janela para o Gustav.

   -- Sim -- dei uma resposta curta.

   -- E onde... -- do nada, ouvimos um estrondo vindo pela lateral da van. Saki jogou o carro para a outra faixa e acelerou.

   -- Estamos sendo atacados -- Jon gritou e puxou uma arma do assoalho. Deu tiro para fora da janela.

   Ouvi um guincho de dor.

   -- São eles – Gustav me deu um olhar temeroso. Ele esperava que eu me decidisse de vez em que lado ficaria.

   -- Amy! -- Mikey apareceu na janela. Ele estava correndo. Correndo! -- Amy abra logo essa droga de porta...!

   Minha mão foi instantaneamente até a maçaneta. Mas consegui me impedir.

   -- Por quê? O que você quer comigo?

   -- Eu vim te buscar Amy...Não é óbvio? -- ele deu um murro na porta. A lataria amassou.

   Eu ouvi um tiro. O Mikey sumiu.

   Gustav apontava a arma para onde o Mikey estava;

   -- Você não vai leva-la maldito! -- esbravejou.

   Não.

   -- Fica calma, não acertei.

   E comprovando isso, logo à frente na estrada, Mikey apareceu. Ele esticou os braços, queria parar o carro.

   -- Não... -- eu sussurrei.

   E então tudo parou.

   Por alguns instantes, eu não tive consciência do espaço ao meu redor. Mas quando finalmente abri os olhos, eu percebi o que tinha contecido.

   O carro tinha parado antes de chegar ao Mikey. Eu olhei para os caçadores, que estavam assustados, trêmulos.

   Comigo.

   Eu me senti acuada. Eu queria sair correndo e o fiz. Nenhum deles me impediu.

   -- Lyth. Eu sabia que era você, Amy – a voz do Mikey soou na minha frente.

   Ele estava em pé, na mesma posição. Só que o braço estaendido, agora me chamava.

   -- Lyth – ele repetiu.

   Por reflexo, eu fui até ele, andando rápido.

   Mas então eu vi os orbes negros e as presas escancaradas. Ele estava me controlando, de algum jeito. Ele iria me morder.

   E eu, como no sonho, não conseguia me impedir.

 


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