Deusa do mar. escrita por Cora


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

A felicidade é simples, e quando você descobre isso ela deixa de ser uma espera e passa a ser um minuto, um segundo. E é de minutos e segundos que se faz a vida.
Tati Bernardi.



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Raios quentes de sol entravam pelas janelas do palácio dourado, que pela primeira vez não demonstrava o menor sinal de vida. Poseidon estava sentado em seu trono, com seu tridente em uma mão, e uma grande taça de vinho em outra. Havia passado a noite em claro, sozinho, atormentado pelas lembranças do dia anterior que o perseguiam em seus sonhos

Em todo o vasto reino submarino, não havia uma única criatura que não percebesse o vazio e a solidão das águas, que sempre foram agitadas e tão cheias de vida, e que agora estavam quietas. Não havia ondas, tão pouco uma brisa sequer soprando, apenas uma imensidão azul sem vida.

O sentimento do rei afetava todo seu império.

As lembranças iam e voltavam o tempo todo. Consumindo o deus até não restar uma única gota de esperança. Cada gole daquele vinho forte era como um veneno, e a lembrança daquelas lágrimas frias eram como uma facada em seu peito. Pela primeira vez ele se sentiu perdido, se sentiu sozinho, sem saber qual decisão tomar. Naquela noite, enquanto nadava tentando alcançar Anfitrite, e gritava desesperado tentando de alguma forma chamar sua atenção, ele entendeu que não poderia obrigá-la a nada. Ela não era uma de suas posses. Mas infelizmente ele tinha percebido isso tarde demais, e agora seu único conforto era aquela solidão atordoante.



Sala de reuniões - Palácio dourado




A sala de reuniões era composta por uma enorme mesa posicionada bem ao centro da sala, havia 12 cadeiras, uma para cada general da guarda marinha. Cada um daqueles generais era dotado de uma inteligência militar capaz de invejar até a própria Athenas, os 12 generais eram os homens de maior confiança do Imperador dos mares. Mas havia um em especial, ele era comandante da guarda do castelo, e cuidava de toda a proteção de Poseidon, e de seu reino. Seu nome era Delphin, deus dos golfinhos e amigo do imperador. Por isso dentre todos os 12­, ele era quem estava mais preocupado, não somente com o reino, mais também com o amigo. Delphin conhecia Poseidon, sabia que aquela atitude não era comum ao deus, por isso ele precisava de alguma forma, conversar com o amigo.

– Você está louco Delphin?- disse-lhe Glauco- Você não ouviu o que as dríades nos disseram? Ninguém pode entrar na sala do trono. Você quer morrer?

– Mas eu preciso falar com ele, mesmo que seja preciso desobedecê-lo!

– Tudo bem, mais não vamos nos responsabilizar se algo acontecer, essa decisão é somente sua. Desejamos-lhe sorte

– Obrigada- disse Delphin, e se retirou rapidamente.






Salão do trono - Palácio dourado







Poseidon bebeu mais um gole de vinho, aquela deveria ser sua quinta ou sexta taça, ele nem se importava mais. Beber era a única forma de esquecer. Embora precisasse mais do que alguns taças de vinho para deixá-lo embriagado.

Uma pequena ninfa entrou no salão, ela usava uma túnica branca e tinha cabelos verdes muito longos. Ela parecia nervosa e um pouco assustada, o que irritou mais ainda o deus.

– Pensei que havia dito que não queria ver ninguém hoje.

– P-Perdoe-me s-senhor, mais ele disse que se não deixasse ele entrar ele-ele...

Então as enormes portas douradas do salão se abriram, e um pequeno e familiar golfinho azul-acinzentado usando uma armadura surgiu.

– Vamos imperador, não quer nem ao menos receber um velho amigo?

Delphin sorriu, mas seu coração se entristeceu ao olhar para Poseidon. Seu tridente estava encostado ao lado do trono branco, onde ele estava sentado desde o dia anterior. Em sua mão direita havia uma grande taça prateada, e em seu rosto uma expressão cansada e vazia. -Por Zeus – pensou o golfinho. ­O que aconteceu com ele?.

– Acho que essa não é uma boa hora para conversarmos Delphin.

– Do contrário senhor, acho que o quê você mais precisa é conversar.

Poseidon suspira

– Me diga meu amigo – disse Delphin – o quê de tão ruim poderia ter acontecido ontem, para lhe deixar assim?

– O nome dela é Anfitrite, e ela não é algo que possa ser chamado de ruim. Ela tem uma beleza capaz de destruir qualquer deus.

– Entendo...

– Eu fui um idiota meu amigo, e agora ela deve me odiar.

– Como assim? Odiá-lo por quê?

Então Poseidon contou ao amigo tudo o que tinha acontecido, e por fim contou-lhe que já não tinha mais esperanças.

– Então você vai ficar ai, parado?

– O que quer que eu faça? Mesmo que eu a encontre, ela jamais iria falar comigo.

– Eu vou...

– O quê?

– Descubra onde ela está, e eu irei falar com ela.

Uma pequena luz brotou na escuridão dos pensamentos do deus, ele se levantou e abraçou o amigo, que sorriu ao ver os olhos de Poseidon brilharem mais uma vez.

– Mas onde vou descobrir isso Delphin?

– Fale com Nereu meu amigo, o velho sábio do mar deve saber onde ela está.

Poseidon sorri para o golfinho, e rapidamente sai do salão.


Anfitrite colocou os pés na água, uma pequena abertura que era o único meio de entrar e sair daquela caverna. Ela tinha nadado quase a noite toda, seus braços e pernas estavam doloridos e ela estava cansada e com sono, mas não queria dormir. Tinha medo do que veria em seus sonhos, medo de sentir-se ainda mais vazia. Ela vasculhou a caverna, a antiga caverna que foi seu refúgio quando criança. Anfitrite havia encontrado ela em uma das brigas que teve com a mãe, ela tinha fugido do palácio e não queria voltar tão cedo. Sabia que havia alguns dessas cavernas escondidas aos pés de algumas ilhas, mas foi muita sorte ter encontrado essa. Era uma caverna pequena, com paredes de algum cristal azul que ela não conhecia. Por causa dos cristais o brilho celeste da água era refletido no teto e no chão de calcário frio. Ela se deitou e olhou para cima, para o topo da caverna, era como olhar para o céu, totalmente calmo e tranqüilo. Então ela se lembrou dos olhos dele, eram tranqüilos e serenos como o teto daquela caverna, e tinha aquela mesma cor azul-esverdeada do mar. Era fácil lembrar daqueles olhos, mesmo sem perceber sua mente se focava naquela expressão calma e naquele olhar gentil, completamente diferente daquele monstro que a tinha segurado pelos pulsos e a machucado por dentro e por fora. Ela abraçou as próprias pernas, o que estava acontecendo com ela? Porque todo aquele vazio e aquela culpa por ter partido? Ela só conseguia pensar em uma resposta, mas aquilo era loucura, ela não poderia estar... Não, ela não poderia estar apaixonada, ou poderia? Mas eles só tinham se visto algumas vezes. Poucas vezes que foram tão felizes para ela. Não, talvez ela estivesse louca, delirando por causa do cansaço e do sono. Sim, deveria ser isso. Então ela fechou os olhos, e quase de imediato, dormiu.


Palácio de Nereu



Poseidon empurrou as portas do salão, que se abriram rapidamente. Nereu estava sentado ao lado da esposa em seu trono, ao perceber a presença do deus ele logo se levanta e caminha em direção a ele, que traz consigo Delphin.

– Ousa vir até minha casa depois do que fez a minha filha?- Diz Dóris que se levanta e olha furiosa para os dois.

– Acalme-se Dóris- responde Nereu repreendendo-a

– Me acalmar? Como você quer que eu me acalme depois do que ele fez?

– Dóris escute, eu amo sua filha, e sinto muito pelo que fiz.

– Senti não mudará nada

– Eu quero me casar com sua filha, mas não quero obrigá-la a nada.

– E o que você pretende fazer? – pergunta Nereu.

– Delphin vai tentar conversar com ela, e trazê-la de volta não importando a resposta, mas antes preciso saber onde ela está.

– Eu realmente quero lhe ajudar Poseidon, mas não sei aonde minha filha foi.

Delphin olha nervoso para Poseidon, que respira fundo e olha fixo para Dóris, que observa a tudo em silencio.

– Mas eu sei – diz ela com rispidez – mas não sei se vale a pena lhe contar, Poseidon.

– Não sei vai valer à pena ou não, mas pretendo fazer dela minha rainha, e tudo que me pertence também pertencerá a ela. Meu palácio, meus servos, meu reino. Tudo. Mas eu faço qualquer coisa para encontrá-la.

Dóris olha curiosa para Poseidon, os olhos verdes brilhando de puro interesse e cobiça. Ele havia tocado no ponto certo, na maior fraqueza dela. Dóris sorri, olhando mansamente para o deus.

– Ela está uma pequena caverna ao oeste do monte aonde o titã Atlas segura os céus. Ela sempre fugia pra lá quando era criança, e eu tenho certeza de que ela se escondeu lá.

Poseidon e Delphin se entreolham, e Delphin sai apressado dali.

– Obrigado – diz o imperador antes de sair.

Dóris sorri e se senta em seu trono novamente.

–Eu quem agradeço...


O sol já estava se pondo quando Anfitrite acordou. Seu corpo doía por ter ficado tanto tempo deitada no chão duro e frio da caverna, ela se levantou, esfregou os olhos caminhou em direção a pequena entrada, a fim de molhar o rosto e as mãos. Mas antes que pudesse encostar na água, uma pequena figura saltou e emergiu novamente.

Anfitrite olhou mais uma vez, e uma cabeça acinzentada saiu da água. Era um lindo golfinho.

– Eu a assustei? Desculpe, não foi minha intenção...

Disse o animal

– Não, não se preocupe, está tudo bem agora.

– Como você é bonita!

– Obrigada –diz ela sorrindo –Eu me chamo Anfitrite, e você?

– Eu sou Delphin

– O deus dos golfinhos? Que prazer conhecê-lo!

– Eu digo o mesmo Anfitrite.

– Mas me responda uma coisa Delphin, o que você está fazendo aqui?

– Eu estava te procurando.

– Me... procurando?

– Sim, ele está muito preocupado com você, estava triste. Por isso eu disse que a levaria de volta.

– Diga ao meu pai que eu estou bem Delphin, e que em breve eu voltarei para casa.

– Não... Não seu pai, Poseidon.

Anfitrite olha assustada para o golfinho

– Poseidon...?

– Sim, o imperador, desde que você partiu, ele não sai mais do palácio, e nem fala com ninguém. Por isso vou levá-la de volta.

– Mas eu não sei se quero voltar Delphin.

– Porque Anfitrite?

– Porque eu estou com medo

– Ter medo é normal, todos têm, e eu sei que ás vezes Poseidon age de um jeito ruim, mas ele está arrependido Anfitrite, eu sei disso. E você também sabe, sei que no fundo do seu coração você o perdoou.

– Mas e se ele não quiser mais me ver?

– Tenho certeza que a coisa que ele mais deseja é vê-la.

Lágrimas começam a descer pelo rosto da deusa, que se ajoelha próximo ao Delphin e lhe dá um beijo em sua cabeça, e em seguida mergulha junto ao golfinho, que a conduz de volta para casa.


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Notas finais do capítulo

Eu amei escrever esse capítulo ^^
Espero que gostem de lê-lo.
Será que Poseidon a receberá?
E será que mesmo depois de tudo, ainda haverá o tão esperado casamento?
Não perca o próximo capítulo.
Se gostou comente.
Até a próxima.
Beijos da sua Nessie-chan



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