Sorri para o senhor a minha frente, fazia alguns meses que ele não visitava meus sonhos, tudo estava bem novamente.

- Vovô? – chamei sua atenção, que estava em algum lugar que eu não poderia ver.

- Kendra – ele se virou para mim, sorrindo – Estava lhe esperando.

- Está acontecendo alguma coisa? – perguntei com receio, algo estragaria nossa recente paz, depois de tanto tempo?

Ele me olhou por alguns segundos, nunca tirando o sorriso sereno do rosto.

-Sempre está acontecendo algo, querida – ele olhou para o nada – Nós só temos que julgar se é ruim, ou não.

Suspirei, me deixando absorver as palavras em silêncio.

- Pensei que não o veria mais – falei, nostálgica.

- Eu estarei aqui enquanto precisarem de mim, te lembra algo? – ele murmurou e eu ri levemente, assentindo – Mas creio que saiba o motivo de estar aqui, penso que tenha algumas perguntas, não?

- Eu não... – pausei minha fala quando ele me olhou novamente, com se me radiografasse com os olhos azuis – Por que essas coisas acontecem comigo? Digo, não conheço muitas pessoas que falem com parentes supostamente mortos, nem que derrubem árvores quando estão irritados, ou que lessem as emoções dos outros, ou que sumam com varinhas e pessoas por uma estranha luz, que sai deles mesmos e às vezes, façam com que eles flutuem... O que eu quero dizer é, por que eu? Por que eu sou assim? Por que sou diferente?

- Você acredita em destino, Madeleine? – ele me olhou intensamente, fazendo com que eu fechasse os olhos, sem saber o que falar – Talvez você seja assim porque precisavam de alguém assim. Precisavam de alguém diferente, alguém que pudesse desaparecer com pessoas e coisas, alguém que pudesse sentir as emoções dos outros, alguém que pudesse ajudar Harry Potter a derrotar Voldemort, alguém que pudesse mudar Draco Malfoy. Talvez, tudo sempre esteve premeditado, planejado milimetricamente. Talvez, você apenas teve que ser, e foi.

- Mas...

- Ou talvez, isso seja apenas mais uma das alucinações de um velho caduca e morto – ele riu, suavemente – E isso apenas seja o acaso, apenas uma grande coincidência, existir alguém para fazer tudo isso.

Ele pausou a fala por curtos minutos, não olhava mais para mim.

- Não cabe a mim escolher a opção mais verdadeira, só você pode saber disso, Kendra. O que seu coração diz?

- Não acho que ele diga alguma coisa – suspirei, absorvendo tudo o que ele falara – Acho que não importa realmente. Coincidência, destino... O que podemos dizer é que aconteceu e foi bom, premeditado ou não, estou aqui e pronto.

Ele riu, os olhos azuis genuínos brilhando animados. Meu avô parecia tão bem, tão vivo...

- Fico feliz por sua conclusão, Madeleine – ele falou sinceramente – Mas acho que nosso encontro termina aqui, está tarde.

- Nos veremos novamente? – eu perguntei, infantilmente, com medo de que nunca mais pudesse entrar em contato com meu avô.

- Possibilidades, possibilidades – ele sorriu, se levantando – Quem sabe sim? Ou talvez não... Não deveria se preocupar com isso, pequena Kendra.

- Sentimos sua falta – eu murmurei, o abraçando.

- Sempre estarei com vocês, querida – ele falou, me reconfortando.

- Sei que sim – respondi, a voz levemente embargada – Mas por que eu sinto como se não fossemos nos ver mais? Por que isso parece um fim, uma despedida?

- Talvez você não precise mais de mim – ele disse, me afastando um pouco para que pudesse me olhar nos olhos.

- Eu sempre precisarei do senhor – murmurei com infantilidade.

- Se for verdade, então eu sempre estarei aqui – ele falou – Mas talvez, seja a hora de um adeus final, você tem sua vida agora, não deveria se apegar ao passado. Draco precisa de você muito mais que você precisa de mim e você também precisa dele.

- Adeus vovô – falei, deixando uma pequena lágrima escorrer. Talvez eu não precisasse dele mais, apenas não queria deixa-lo ir, deixa-lo seguir em frente.

- Adeus Madeleine – ele sorriu mais uma vez, enquanto minha visão escurecia aos poucos e eu me sentia cair.

Abri os olhos atordoada enquanto sentia alguém me sacudir.

- Acorda Madeleine! – a voz irritada me deixou um pouco confusa, enquanto um ser tão vermelho quanto seus cabelos me encarava com raiva.

- Gina? – sentei, a visão um pouco turva ainda.

- Até que enfim! – ela resmungou, saindo de minha cama – Draco está impaciente te esperando lá embaixo – ela revirou os olhos, ainda fingia que não gostava dele.

Era realmente engraçado ver as discussões entre os dois e eu fingia não ver o sorrisinho que ela dava quando ele rebatia suas provocações.

- Que horas são? – perguntei, saindo de meus pensamentos.

- Hora de você sair dessa cama e começar a se arrumar, vamos nos formar! – ela vibrou, fazendo uma dança estranha, que me fez rir.

- Vá seduzir o Harry com isso, por Merlin – resmunguei brincando, enquanto tampava os olhos.

- Idiota – ela me deu língua, parando de dançar.

- Sei que me ama – joguei um beijo para ela, levantando da cama e correndo até o banheiro antes que ela pudesse me jogar um travesseiro.

Fiz minha higiene matinal, ainda rindo da ruiva, que resmungava algo no quarto.

- Vou falar com Draco, ainda falta horas para a formatura! – eu exclamei para Gina, que jogava vestidos para todos os lados, a procura do que havia comprado para a ocasião.

- Se você aturar por causa daquele loiro aguado, eu mato os dois – ela resmungou, sem me olhar.

- Qual o preconceito contra loiros? – coloquei os braços na cintura, parando em sua frente.

Ela virou seu olhar para mim, provavelmente analisando meus cabelos de um tom parecido como o de Draco, os olhos azuis e a pele branca.

- Não tenho preconceito contra loiros, tenho preconceito apenas contra um loiro especificamente – ela respondeu, dando a língua novamente.

Eu ri, saindo de sua frente, andando em direção à porta. 

- Por que não admite que gosta de Draco? – eu falei alto, saindo do quarto.

- Nunca! – ela exclamou, como um grito de guerra, fazendo-me gargalhar.

- Pensei que não a veria antes da formatura – Draco comentou, sorrindo minimamente, enquanto pegava uma de minhas mãos.

- Se fosse por Gina, aconteceria isso mesmo – falei rindo enquanto ele revirava os olhos comentando algo como ‘ruiva implicante’.

Caminhamos em silêncio por alguns segundos, o castelo parecia exatamente como antes. Era como se a guerra nunca tivesse acontecido e Hogwarts nunca tivesse sido destruída.

- Nem acredito que vamos nos formar em algumas horas – comentei, suspirando – Chega a ser surreal, depois de tanta coisa que aconteceu conosco, um baile de formatura.

- Por mim não teria esse acontecimento idiota – Draco resmungou, ele não queria ir ao baile, mas eu consegui convence-lo, depois de muito custo.

- Vai ser legal! – eu exclamei, tentando anima-lo. O fato é que eu não estava tão empolgada quanto antes, ficar com Draco sozinha parecia muito melhor, mas Gina me mataria se eu sequer cogitasse essa ideia.

- Ah, claro que sim – ele comentou sarcástico.

Eu apenas ri, nunca havia me sentido tão feliz quanto ultimamente. Sem qualquer ameaça, sem medo de morrer a cada dia que acordava. Era tudo tão feliz, tão leve, tão certo...

- Acho que se isso tudo fosse uma história, esse seria o meu ‘feliz para sempre’ – ri, enquanto ele me encarava sério, antes de soltar uma risada alta.

- Lendo contos trouxas novamente, Madeleine? – ele perguntou, fingindo negação.

- Talvez um ou dois – fingi indiferença, dando de ombros.

Ficamos em silêncio novamente, eu realmente amava como aquilo parecia certo, estar com Draco.

- É, talvez você tenha razão e esse seja o nosso ‘felizes para sempre’ – ele sorriu minimante, parando a minha frente – Mas agora é melhor você ir se arrumar, a ruiva não parece muito contente agora.

Ele apontou para Gina, que vinha marchando em minha direção, resmungando sobre minha falta de responsabilidade e outras coisas.

- Nos vemos mais tarde? – perguntei para Draco por cima do ombro, enquanto Gina me puxava até o Salão Comunal.

- Não é como se eu tivesse alguma escolha – Draco deu de ombros, contudo, sorria.

Sorri também, me virando para frente.

Tudo estava bem...