Memória escrita por Guardian
Notas iniciais do capítulo
Demorando ou não, consegui responder todos os reviews *O* Gente, desculpa, a preguiça dominou aqui...
Quando eu acordei, instintivamente olhei para o lado e encontrei Matt ainda dormindo profundamente. E como no dia anterior, eu me peguei reparando nele; em seu rosto adormecido, no cabelo bagunçado caindo sobre os olhos, na forma como seu peito movia-se pacificamente seguindo o ritmo de sua respiração, nos seus lábios entreabertos...
...
Por quê?!
Há anos que eu o conheço! Não é a primeira, nem a segunda vez que eu acordo antes dele, não é como se eu nunca tivesse visto seu corpo antes. Então por quê? Por que a visão dele de ontem no chuveiro tem que ficar voltando à minha mente? Por que eu não consigo bloquear a angústia que sempre me invade quando recordo que ele não lembra de mim? Por que me sinto tão bem agora, apenas vendo-o dormir?
Ele se moveu.
Grunhiu alguma coisa e virou para o outro lado, me deixando encarando suas costas então.
...
Ah, mas que droga! Eu tenho que parar com isso, seja lá o que for! Dane-se, se for preciso eu me forço a deixar esses pensamentos e sensações que eu não entendo, de lado. Tudo o que estão fazendo é me deixar confuso, então que fiquem guardados e escondidos em algum canto obscuro do meu ser!
...
Fui profundo agora, não fui?
Com essa decisão em mente, levantei e fui caçar alguma roupa para colocar no lugar da camisa e calça velhas que usava para dormir. Não que alguém ligasse, muitos andavam pelo lugar de pijama mesmo à essa hora, mas eu me trocava mesmo assim, algum problema?
Claro que não esqueci daquilo. Peguei o crucifixo que repousava em cima da minha cômoda e o coloquei onde ficaria durante o resto do dia. No meu pescoço.
Iria tomar café e poderia até trazer alguma coisa para Matt. Não queria acordá-lo agora, e se demorasse demais, tudo seria recolhido, e então, só restaria o almoço horas mais tarde. Pois é, uma das exigências que realmente faziam questão de cumprir na Wammy’s era a pontualidade. Havia um horário para cada refeição, e quem não estivesse no salão se servindo dentre esse período de tempo, ficava sem comer. E por incrível que pareça, eu até que dava algum valor à essa regra.
~x~
- Mello, como Matt está? Ele já se lembrou de alguma coisa? – um garoto, um dos que faziam parte do meu time de futebol de dias atrás, aproximou-se de mim na mesa onde eu comia sozinho, e perguntou.
Ele era o sexto a perguntar e.x.a.t.a.m.e.n.t.e a mesma coisa.
Que merda, será que ninguém entende o recado de eu sentar na mesa mais isolada de todas, longe de qualquer um, sem falar com ninguém pelo caminho, e comer em absoluto silêncio?! “Eu. Não. Quero. Ninguém. Enchendo. O. Saco”. É difícil demais de entender?!
Respirei fundo. Tentei ficar repetindo para mim mesmo que Matt era razoavelmente popular no orfanato, e que era normal que muitos ficassem perguntando como ele estava e tudo o mais, como das outras vezes.
Milagrosamente, funcionou. De novo.
Só não sei até quando isso vai continuar acontecendo antes de eu perder o controle...
- Não, ainda não – respondi seco. Não era bem verdade, já que ele tinha sim lembrado de alguma coisa ontem, mas negar era mais fácil. Precisava falar bem menos.
O garoto soltou uma exclamação de lamento e se afastou. Posso ficar orgulhoso de mim mesmo, não posso?
Só espero que não venha mais ninguém por enquanto, para eu poder terminar de comer em paz e...
- Mello, como...
- Termine a frase e vai parar no jardim. Pela janela – falei ameaçadoramente para o infeliz que tinha acabado de vir para o meu lado. Estreitei os olhos, esperando ele ter coragem de continuar. Não continuou.
Eu desisto!
Assim que ele se afastou todo amedrontado, larguei a torrada que eu tentava comer e levantei com o prato quase cheio. Ingenuidade minha, não é mesmo? O que me fez pensar que me deixariam tomar um mísero café-da-manhã sossegado?! E mais, o que me fez pensar que eu aguentaria mais do que seis pessoas repetindo exatamentes as mesmas palavras, como se esse fosse o objetivo do dia de hoje?! Por acaso o Google tinha feito uma homenagem ao “Dia de Tentar Parecer Solidário” hoje?!
Peguei outra bandeja e preenchi com algumas coisas – entre elas torradas e cereal – antes de sair do salão a passadas largas e pesadas. Desafiava com o olhar, qualquer um a se aproximar e perguntar “Hey, Mello, como Matt está? Ele já lembrou de alguma coisa?”. Ahhh, que um deles se atreva...
~x~
Com certa dificuldade - já que estava com aquela bandeja em mãos - eu abri a porta do quarto e entrei. Esperava ver Matt jogando – era o costume, fazer o quê – ou então mexendo nas suas coisas, para ver se algo lhe parecia familiar, mas não dormindo. Achei que ele já teria acordado a essa hora.
Ah, mas qual o problema em deixá-lo dormir mais um pouco?
Depositei a comida em cima da escrivaninha e peguei um livro de lá, deitando-me de bruços na minha cama em seguida. Faltava apenas alguns poucos capítulos para terminá-lo, agora.
Não deu muito tempo, porém, e um baixo gemido me fez levantar os olhos da trama policial e virar para o lado.
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Tá, eu sei, ficou curtinho, mas... Próximo é narração do Matt, não dava mais pra prolongar essa parte ~