No primeiro momento eu não soube o que fazer. Não soube como pensar. Esqueci todos os comandos do meu próprio corpo enquanto ouvia o baque barulhento de um corpo sem vida batendo no chão. Não podia olhá-lo. Não podia suportar a dor de vê-lo sem vida. Assim que consegui raciocinar, usei toda a força que ainda me restava para levar uma mão ao bolso da jaqueta. O vira-tempo ainda estava ali, intacto. Ainda havia esperança. Senti lágrimas correrem ainda mais livres, mas dessa vez nessas lágrimas havia um pouco de felicidade.

– Eu não vou te matar! - Uma gargalhada ecoou. - É melhor que você sofra!

Encarei-a e senti todo o ódio do mundo dentro de mim. Eu seria capaz de estrangulá-la - se conseguisse ao menos me mover. George ergueu sua varinha, parecendo compartilhar do mesmo ódio que eu, mas antes que pudesse fazer qualquer coisa, também fora lançado contra a parede.

– Você é um lixo. – Dora sussurra. – Isso não está no meu sangue...

Ela parecia ter recolhido todas as suas forças para dizer aquelas pequenas frases. Só agora tive tempo de olhá-la – e por Merlin – ela parece terrível. Com cortes em cada centímetro de seu corpo e uma poça significativa de sangue cercando-a. Bellatrix encarou-a com uma gargalhada.

– De pensar que sua mãe era uma Black... – A morena disse friamente. – Ela se parecia comigo... Vocês não merecem o sangue que carregam! Tudo o que você merece, traidora, é a morte!

Poucos segundos antes do raio verde atingir Tonks, Remus se jogou na frente. O feitiço acertou-o em cheio, fazendo com que a metamorfomaga no chão só se contorcesse mais de dor. E claro, fez Bellatrix se iluminar ainda mais de felicidade.

– Então seu cachorrinho dá a vida por você? – Gargalha, parecendo sentir-se excitada com a situação. – Não importa. Agora só quero que sofra com a morte do seu “animal de estimação”. Você sobreviverá, traidora. Só para que conte o quanto eu sou boa.

Disse a palavra “animal de estimação” com a maior carga de nojo que conseguira. Só queria conseguir me mover. Queria conseguir acordar George, que se encontrava desmaiado bem ao meu lado. Queria gritar por socorro, me levantar, ajudar, bater, espernear, lançar feitiços, fazer qualquer coisa útil para ajudá-la. Mas tudo que eu conseguia fazer no momento era continuar sentada. Sentindo minhas lágrimas escorrendo livres, enquanto me perguntava se seria capaz de salvá-los ao voltar no tempo.

– Você é uma vergonha. – Um sussurro praticamente inaudível saiu da boca de Tonks antes do crucio de Bellatrix envolvê-la.

A morena girou em seus calcanhares, sorrindo para mim e logo depois aparatou. Apesar de se debater por alguns segundos e soltar longos gritos de dor, a bruxa ao lado de Remus estava imóvel. Seu corpo não aguentou a dor do sectumsempra seguido do crucio. Ela não sobrevivera. A dor do mundo pareceu cair sob meus ombros de uma vez só. Apesar de estar fisicamente exausta e incapaz de me mover, por dentro tudo parecia ainda mais destruído. Três corpos sem vida nos primeiros minutos de batalha. Três pessoas que amo. Três pessoas que fazem toda diferença no meu mundo estavam ali, deitadas, sem vida.

Evitava o máximo pensar nele. Novamente, obriguei-me a levar a mão ao bolso da jaqueta. Ele ainda estava lá. Eu teria uma chance.

Hesitei por um momento e procurei-o com os olhos. Ele estava ali. Seus cabelos ruivos despenteados e seu corpo dolorosamente imóvel. Meu subconsciente esperava que ele acordasse. Que sorrisse e dissesse que era apenas uma brincadeira. Mas não. Estava imóvel. A vida já havia sido soprada de seu corpo há alguns minutos e eu não consegui salvá-lo. Senti um abraço desesperado de lado e uma dor incrível latejou em todos os lugares possíveis de meu corpo. Eu sabia que seria impossível sair dali daquela forma. Eu mal conseguia me mexer. Como eu poderia continuar lutando em uma guerra quando nem ao menos conseguia me levantar? George soluçava alto, segurando-me com força. Ignorei a dor e encarei-o. Parecia perdido. Talvez mais perdido que eu. Seu irmão gêmeo estava ali, imóvel e sem vida – não consegui evitar e fitei-o por alguns segundos, logo depois voltando o olhar à George. Eu tinha a esperança do vira-tempo, George não tinha mais nada. Só a certeza de que jamais veria seu gêmeo e jamais dividiria sua vida com ele.

– A gente precisa... – Sussurro.

– Vou te levar daqui. – Ele se levanta, ainda parecendo um zumbi. – Não posso olhá-lo, Hermione. Não consigo sequer encará-los.

Primeiro se dirigiu somente ao cadáver de seu gêmeo, e depois olhou um pouco além, onde Tonks e Remus estavam imóveis e tão próximos que era impossível movê-los separadamente. Meu estômago deu uma volta de trezentos e sessenta graus. Bellatrix ia mantê-la viva e nem ao menos lançou a maldição da morte, mas o crucio foi suficiente. O pouco de força que existia dentro de Nymphadora se extinguiu no último feitiço de sua “tia”. Como aquela mulher conseguia ser tão intragável e maldita? Como podia ter feito aquilo com alguém que tinha seu sangue correndo nas veias? Oh, claro... Isso não poupou a vida de Sirius, não pouparia também a de Tonks.

– Você consegue se levantar? – George pergunta, segurando minha mão com cuidado.

– Não consigo me mexer, George. – Soluço, reparando que as lágrimas rolavam todo esse tempo involuntariamente.

George W

"É como se você fosse o meu espelho

Meu espelho olhando de volta para mim

Eu não poderia ficar maior

Com mais ninguém ao meu lado

E agora está claro como esta promessa

Que estamos fazendo

Dois reflexos em um

Porque é como se você fosse o meu espelho

Meu espelho olhando de volta para mim"

Deixo Hermione sem dizer nada e caminho até ele; meu espelho. Imóvel, dolorosamente calado e frio. Ajoelho-me ao seu lado e dou uma olhada em seu rosto. Os olhos ainda abertos e seus lábios contorcidos em um sorriso macabro. Fecho seus olhos e sinto sua pele gelada. Descanso minha cabeça em seu peito, esperando que ele se mexa. Inútil.

– Eu não pude ver. – Sussurro. – Não pude te ajudar... Eu sinto muito. Eu sinto muito, parceiro.

Ouço os soluços de Hermione cada vez mais altos. É doloroso demais olhá-la. Sentir toda a dor contida dentro de seus olhos castanhos. A pessoa mais apaixonada por Fred, depois de mim. Eu podia sentir a dor que ela sentia, mas era pior. Ele era a única pessoa com quem eu podia contar para tudo. Aquele que havia crescido ao meu lado e me apoiado em todos os momentos de minha vida. Ele estava lá, fazendo meu reflexo desde o primeiro dia... E agora...

– Meu espelho... – Sussurro, bagunçando os cabelos ruivos idênticos aos meus. – Ninguém nunca vai te substituir, ouviu bem? Nunca. Eu te amarei para sempre, Freddie.

Beijo a testa de meu irmão, em sinal de carinho e respeito. “Preferia ter ido em seu lugar...” Sussurro e me levanto, levantando-o junto comigo e arrastando-o para perto de uma das paredes. Para perto de Tonks e Remus. Assim eles podiam ficar bem escondidos e eu viria buscar os corpos assim que pudesse. Depois de me certificar que ele estava bem escondido, dei uma última olhada e um meio sorriso. “Eu nunca vou te esquecer.” Sussurro e me afasto. Quando carreguei Hermione nos braços e me afastei da torre de astronomia, sabia que grande parte de mim havia se perdido naquela noite, meu eu. “Vou sentir falta de você enquanto respirar...”

"Porque eu não quero perder você agora

Estou olhando bem para a minha outra metade

O vazio que se instalou em meu coração

É um espaço que agora você guarda"