Eu simplesmente não estava entendendo o comportamento de Fred Weasley. Quando esfreguei os olhos com sono e me ajeitei no assento do expresso, Fred me olhou com um sorriso enorme.

- Enfim, a bela adormecida acordou. – Ele disse e eu ergui uma sobrancelha.

- O que você sabe sobre a bela adormecida? – Perguntei confusa. – Peraí, quem é você e o que você fez com o Fred?

Ele deu uma gargalhada. Mas eu realmente estava confusa. Desde quando Fred se interessava por “contos trouxas”?

- Me desculpa se eu, absolutamente sem querer, acabei descobrindo a história da tal bela adormecida. – Ele disse jogando as mãos pro alto, como se estivesse se rendendo.

- Duvido que saiba mesmo a história. – Empinei o nariz e o encarei, esperando que me contasse o conto trouxa.

Olhei em volta, me recuperando do susto de ter sido chamada de “bela adormecida” por um bruxo que nunca se interessou por assuntos trouxas e notei que estávamos sozinhos. Depois que Fred me contasse o conto, e onde o conheceu, eu perguntaria onde estão os outros.

- Tudo bem, você venceu. – Ele disse, por fim. – Alguma coisa sobre uma bruxa malvada que se vingou de um bebê lançando-o uma maldição terrível.

Ele fez uma careta de “como isso é tedioso” e eu gargalhei do jeito estranho que ele começou narrar à história, mas mesmo assim, deixei-o continuar.

- E nessa maldição, dizia que quando ela completasse dezessete anos... – “Quinze”, eu sussurrei e ele afirmou com a cabeça. – Tanto faz quantos anos... Ela espetaria o dedo numa roca de fiar e adormeceria eternamente... Quero dizer... Por cem anos, até receber o beijo do amor verdadeiro.

Depois de Fred terminar, ficamos em silêncio. Seus olhos novamente me convidaram ficar olhando-os por horas. “Veja como são lindos...” Minha consciência gritou. Revirei os olhos e de repente, eu e Fred explodimos na gargalhada ao mesmo tempo.

Acho que fiquei roxa de tanto rir. Não sei o motivo, mas a história da "Bela Adormecida" pareceu uma porcaria na narrativa de Fred. Rimos tanto, mas tanto... Que só paramos de rir quando Ron, George e Ginny entraram na cabine. Respirei fundo e tentei parar de rir. Os três nos olhavam incrédulos.

- “Não vou ir ajudar procurar o Harry porque se eu levantar, a Hermione pode acordar...” – Ginny disse imitando a voz de Fred. – Como você é mentiroso, Friederich.

- Eu não sou mentiroso. – Ele disse, parecendo ofendido. – Ela acabou de acordar.

- E já está roxa de rir. – Ron observou, sentando-se minha frente.

- Procurar Harry? – Perguntei preocupada. – Ele ainda não voltou?

- Não. – Respondeu George, parecendo preocupado. – Estávamos procurando ele, e também trocando as vestes.

- E agora... – Disse Fred se levantando.  – Acho que é minha vez.

- Estamos quase chegando. – Disse Ginny apontando pra janela. – Separe-se da Hermione por alguns minutos... Não vai te arrancar pedaços.

- Há-há-há. – Eu disse sarcástica. – O Fred sabe muito bem se virar sem mim.

- Que alivio. – Disse George. – Achei que você ia ter que ir ajudá-lo à trocar as vestes.

Não resisti e gargalhei junto com os outros. Fred nos lançou um olhar feio e saiu da cabine. Continuei rindo. “Acho que ser acordada e chamada de princesa fez meu humor se elevar muito.” Pensei com um sorriso, e abracei Ginny. Ela parecia muito nervosa pelo fato de não terem encontrado Harry.

- Lembre-se de quem é seu futuro namorado... – Sussurrei só pra ela escutar. – Ele é Harry Potter! E não é qualquer aluno de Hogwarts que vai fazê-lo mal. Não se preocupe, ele estará em seus braços em pouco tempo.

Ela se deitou no meu colo e me deu um sorriso – ainda com um toque de preocupação. Depois de alguns minutos Fred voltou pra cabine e se sentou entre Ron e George. Ficaram os três conversando sobre uma “informação privilegiada dos garotos Weasley”, enquanto eu afagava o cabelo da ruiva, tentando afastar seus pensamentos ruins.

-x-x-x-

Já faz mais de um mês que estamos em Hogwarts. Ginny e eu estamos cada vez mais unidas – e Ginny cada vez mais bonita e sexy. Ela tentava me arrumar, mas eu nunca aceitava. Acabei cedendo depois de um tempo, e agora deixo-a cuidar do meu cabelo e passar maquiagem no meu rosto. Não faço muita questão de me olhar no espelho depois dos “tratos” de Ginny. Ela trança, faz coques, prende, penteia, hidrata... Me maquia e depois fica me encarando com orgulho e os olhinhos brilhando de tão feliz. Me olhar no espelho é desafiador demais. Se Ginny julga um bom trabalho, sei que está ótimo. Confio nela cegamente e sei que é recíproco. Só sei que, desde quando ela começou me arrumar, os olhares masculinos – e femininos, principalmente sonserinos – em cima de mim dobraram. Mas como sempre, eu me finjo de nerd idiota e sigo normalmente pras aulas.

Falando em aulas, Ranhoso Snape agora é o nosso professor de DCAT. Ele é insuportável. Merlin, como pode existir alguém tão inútil como Severus Snape nesse mundo? Eu devo ter feito algo MUITO mal na encarnação passada, pra que Merlin colocasse aquele... Seboso no meu caminho. Outro dia, ele me deu uma detenção só porque “inocentemente”, depois de uma bronca, falei mal dele, o chamei de “ranhoso”, “seboso” e ainda disse que seu cabelo é oleoso. Claro que fiz isso em silêncio, mas como ele provavelmente já esperava essa reação, usou suas habilidades de legimens, acabou tirando alguns pontos da Grifinória e ainda me colocando em detenção.

A única coisa boa nessa história, é que Fred e George pegaram detenção também. Fred me disse que estouraram uma bomba-de-bosta nas masmorras, e Snape estava por perto, – grande vacilo –, mas mesmo assim, os dois me disseram que não se arrependiam de nada.

Nossa detenção foi limpar o banheiro da murta. Onde já se viu... Limpar aquele banheiro! O seboso estava mesmo com raiva por que... “Porque diabos alguém iria querer que limpássemos o banheiro da murta?” Só se for a própria murta, querendo “viver” uma morte mais higiênica.

O que fez a detenção maravilhosa foi que os gêmeos ficaram o tempo todo comigo. Passamos a madrugada de sexta brincando da snap explosivo e eu os contei algumas piadas trouxas.

A aula de poções agora sem o Snape é muito mais agradável. Tirando o fato de que Harry é o favorito de Slughorn.  É irritante ver o magricela fazendo todas as poções perfeitas – todo mérito ao tal livro do príncipe mestiço. O tal livro foi parar nas mãos de Harry, e isso o fez o melhor aluno de poções... O livro é cheio de rabiscos e instruções mais seguras e aperfeiçoadas sobre todas as poções. Harry segue o livro e no final, sempre faz a melhor poção da sala.

Falando em poções, acho interessante ressaltar que outra coisa – sobre Fred – me assustou. Eu não sei – sinceramente, não sei – o que eu esperava sentir quando me aproximei do caldeirão de amortentia, mas provavelmente, o aroma doce e envolvente de Fred era uma das últimas coisas que achei que fosse sentir. Quando Slughorn me perguntou quais cheiros havia sentido, não menti. Mas também não disse que todos os cheiros misturados formavam o aroma de Fred Weasley. Iam me chamar de louca e me mandar pra Azkaban.

-x-x-x-x-

- Sujeitinha de sangue-ruim. – Disse Malfoy se aproximando, com uma Parkinson pendurada em seu pescoço. – Não acha que está tarde pra passear pelo castelo?

- Cadê seus fieis escudeiros? – Perguntou a garota, só não sei se ela se referia aos gêmeos, ou Ron e Harry.

Revirei os olhos e os ignorei. Estava indo até a sala de Snape e não iria parar no meio do caminho por culpa dos dois trasgos que me interromperam.

- Deve estar de detenção. – Escutei Malfoy falando com uma voz divertida. – Agora que está andando com as duas cenouras idênticas, a Granger deixou de ser CDF e começou à se aventurar. Tomara que seja expulsa.

Ignorei novamente as palavras que saiam da boca daquele idiota arrogante, e segui pra sala do Snape.

Antes que pudesse bater na porta, ela se abriu.

- Entre. – Sua voz soou alta e eu não pude identificar de onde vinha.

Entrei em sua sala e a porta bateu logo atrás de mim.

- O que quer aqui, senhorita Granger? – Perguntou áspero.

Não respondi, e muito menos sabia o que responder. Foi um impulso enorme que me trouxe à sala de Snape, e eu não sei se devo contá-lo sobre meu pesadelo.

- Sente-se. – Ele apontou pra cadeira que estava sua frente. – Não acha que está tarde pra se aventurar pelo castelo?

Ele perguntou cerrando os olhos. “Irritante como sempre.” Pensei e um alivio tomou conta do meu corpo quando sua expressão continuou a mesma. De dois, um: ou Snape não estava concentrado em minha mente, ou ele tinha se acostumado à ser um irritante.

- Senhorita Granger, seus pensamentos sobre o quanto me acha irritante não estão esclarecendo muito a razão de estar aqui. – Ele disse parecendo mais irritado que o normal. – Será que tem uma razão, ou será que é só uma desculpa pra estar fora do dormitório?

- Não é uma desculpa. – Disse e saiu como um sussurro. – Eu tive um pesadelo.

- E espera que eu faça o que? – Ele disse dando um sorriso sarcástico. – Esquente sua mamadeira e te faça dormir?

Snape ergueu a sobrancelha e eu respirei fundo, evitando ficar muito nervosa.

- Foi um erro ter vindo aqui, professor. – Eu disse me levantando. – Mesmo o senhor sendo a figura mais marcante no pesadelo, acho que o senhor não está interessado. Então voltarei pro meu dormitório e...

- Sente-se, Granger. – Ele me interrompeu com ar autoritário e eu me sentei ao mesmo tempo. – Não precisa “contar” o pesadelo. Apenas feche os olhos e se perca na lembrança e eu saberei o que viu.

Fiz o que Snape mandou. Fechei os olhos e forcei minha mente à voltar no cenário macabro onde aconteceu meu pesadelo. Uma noite fria e cinza, um cemitério enorme nos arredores de Hogwarts. Era o pior cenário que eu poderia imaginar. Eu caminhava de cabeça baixa, chorando e soluçando. Meus olhos ardiam e eu sabia o motivo: pessoas da escola estavam mortas. E agora, eu não tinha nada a fazer a não ser visitar os túmulos. Procurava incansavelmente algum nome conhecido, mesmo sem saber o que encontraria. Surpreendi-me quando li “Fred Weasley”. Instantaneamente, caí de joelhos na frente da lápide e desabei em lágrimas. Doía tanto, que chegava ser real. Perto de sua lápide, haviam algumas rosas e um pergaminho escrito “Eu te amo, parceiro de crimes. Feorge W.” E então ficou mais impossível respirar e pensar. Parecia que uma dor enorme tinha atingido meu peito, apertando-o e estraçalhando-o em pedaços. Levantei-me com bastante custo e olhei pra lápide mais uma vez. Deixei mais lágrimas rolarem livremente e depois me pus á caminhar novamente. As lápides estavam cheias de rosas, e parecia tão doloroso caminhar por entre elas... Era insuportavelmente frio, e alguns cortes no meu rosto pareciam ter prioridade especial no quesito “dor”. Depois de andar mais um pouco, me deparei com uma lápide desesperante. “Severus P. Snape” assim que li aquele nome, caí de joelhos novamente e me entreguei às lágrimas grossas que molhavam meu rosto. Assim como na lápide de Fred, haviam varias flores em volta. Rosas, e uma quantidade enorme de lírios. Um pedaço de pergaminho me chamou atenção. Estava virado para baixo, então, exigindo muito mais força do que meu corpo parecia ter, alcancei o pergaminho e o virei, lendo com dificuldade as palavras na caligrafia confusa do meu melhor amigo... “O homem mais corajoso que conheci. H. Potter.” Fiquei confusa com o que li. Passei a mão sobre a lápide de Snape e deixei mais algumas lágrimas rolarem. Quando achei que as sensações não podiam piorar, desmaiei.