Trabalho Escolar: Diário de Lidia Brazzi escrita por Juliiet


Capítulo 9
Dia 4, sexta-feira, 5 de agosto. (parte 2)


Notas iniciais do capítulo

Como eu disse, essa parte é pequena :)



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   Quando acordei, tonta, com sede e com uma tremenda dor de cabeça, precisei de alguns minutos para lembrar onde estava.

   E a verdade veio como um soco.

   Eu estava sozinha num beco escuro e não tinha a menor idéia de como voltar para casa.

   Só mais uma coisa. Eram cinco horas da tarde.

   Eu havia dormido por mais de 9 horas naquele lugar.

   Oh meu Deus, só pode ter sido efeito dos remédios que eu tomei pela manhã.

   Mamãe me mataria, só.

   Levantei-me num pulo e cambaleei. Precisei me segurar numa lata de lixo até recuperar o equilíbrio.

   Dei uma checada em mim mesma. Eu estava num estado deplorável. Minha saia estava manchada e molhada, assim como meu blazer. Minha blusa estava toda amassada e eu tinha certeza que havia perdido alguns botões, só não me pergunte como. E nem vamos falar do meu cabelo.

   Ah, e, é claro, eu não estava com um cheiro muito agradável.

   Humilhante, Sr. Albert, humilhante.

   Fui andando até sair daquela rua, mas todas as outras ruas pareciam iguais e eu não consegui me lembrar por qual delas eu tinha vindo. Meu senso de direção nunca foi muito certeiro.

   Depois de meia hora andando para lá e para cá sem encontrar uma única alma viva ou algum lugar nem vagamente familiar, eu me lembrei de que tinha um celular.

   Pode falar, Sr. Albert, eu mereço. Isso foi mil vezes mais estúpido do que as coisas que eu costumo fazer. Ou não.

   Que seja, não serviu de muita coisa. Ele estava sem bateria.

   E foi aí que bateu o desespero.

   O que eu ia fazer?!

   Bom, eu ainda estava com isso na cabeça quando eles chegaram.

   Uns cinco homens muito, mais muito, suspeitos.

   E aí eu percebi que estava mesmo perdida.

   - Ei gatinha – disse um deles, o mais alto e que estava mais perto de mim. – Está perdida?

   A expressão no rosto dele, e na de todos os outros, mostrava que eles não iriam me ajudar. Não do jeito que eu queria.

   - Não – respondi, depois de hesitar um pouco. – Eu moro aqui perto...

   - Ah, não mora não – disse outro com voz maldosa, um garoto bonito que parecia ser pouca coisa mais velho que eu. – Nós saberíamos.

   - Ah, bem, eu já estou indo, de qualquer jeito – disse, praticamente vomitando as palavras enquanto pensava em como ia me livrar desses caras.

   Bom, eles eram cinco, eu, uma. A coisa mais inteligente a fazer era...

   Correr.

   E bem, eu corri, o mais rápido que pude. Senti que eles me perseguiam e, mesmo não tendo a menor idéia de para onde estava indo, eu acelerei.

   Por favor, que eu não caia, nem tropece, nem capote, nem nada assim...

   Eu percebi, ao longe, no final da rua onde eu estava correndo, uma movimentação maior. Rezando para que fosse a avenida principal, forcei ainda mais as minhas pernas e corri.

   E finalmente cheguei. A avenida principal estava movimentada, os carros estavam com os faróis ligados, porque já estava escurecendo, mas mesmo assim, as pessoas continuavam andando pela rua.

   Olhei para trás. Ninguém. Estava salva.

   Exalando alívio, fui até uma lanchonete próxima e pedi um Milk Shake de morango gigante. Estava morrendo de fome. E seria melhor enfrentar mamãe com alguma coisa no estômago.

   E, sim, as pessoas me olhavam enquanto eu passava – podia ser por causa do estado das minhas roupas ou pelo meu cheiro, ou os dois.

   Não estava no espírito para me importar. Sentia que a qualquer hora eu iria chorar de novo ou gritar ou surtar ou qualquer coisa assim.

   E enquanto estava ali, sentada, saboreando meu Milk Shake, uma voz, agora muito conhecida para mim, disse meu nome.

   - Lidia Brazzi – disse Felipe Madson com aquele deboche que me tirava do sério. O que ele estava fazendo ali?

   Virei-me para ele, pronta para mandá-lo à merda (depois do que eu passei, ninguém pode me culpar Sr. Albert), mas quando ele me olhou direito, seu sorriso arrogante foi substituído por uma expressão de choque e eu não soube o que dizer.

   - O que houve com você, garota? – ele perguntou incrédulo, seus olhos se demorando em minhas meias sujas e rasgadas (duas meias estragadas em uma semana, um recorde, mesmo para mim), minha saia molhada e minha blusa branca que, sem alguns botões essenciais, não escondia muita coisa.

   - Não é da sua conta – disse, um pouco perturbada pelo seu olhar.

   Mesmo de longe eu podia perceber os fios de seu cabelo negro, ainda úmidos do banho que ele, obviamente, havia acabado de tomar. Podia ver suas feições perfeitas contorcidas numa adorável expressão de preocupação, e seus olhos verdes, nebulosos, turbulentos e violentos como uma tempestade. Confesso que seu olhar me assustou, precisava sair dali.

   Paguei o Milk Shake e rumei para fora, mas Felipe me segurou pelo braço.

   - Você vai me dizer o que aconteceu com você – ele disse, parecendo furioso. – E vai dizer agora. Onde você esteve? Por que não foi à escola? Deus, o que você andou fazendo...?!

   - Vê se me esquece – disse, puxando meu braço e saindo da lanchonete.

   Estava tão ocupada vendo se Felipe não estava me seguindo que não prestei muita atenção no meu caminho.

   Bem, e fui atropelada por uma bicicleta.

   E caí.

   Depois de bater minha cabeça num poste.

   E então não lembro de mais nada.

   É, o dia não saiu como eu esperava. Foi pior.

   Mas pelo menos eu pude adiar o momento de ouvir sermão da mamãe.


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Notas finais do capítulo

E aí, gostaram?