Trabalho Escolar: Diário de Lidia Brazzi escrita por Juliiet


Capítulo 4
Dia 2, quarta feira, 3 de agosto.(parte1)


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo, espero que vocês gostem :)



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   É, eu estava enganada.

   Eu percebi isso no momento em que desci do ônibus da escola com a Renata.

   Sr. Albert, eu resolvi pular a parte do “acordei atrasada, pulei o café da manhã, me entupi com os biscoitos da Renata...” porque sinceramente, todo dia é a mesma coisa.

   Voltando ao que interessa. Assim que Renata e eu descemos do ônibus, percebi que havia alguma coisa errada.

   As poucas pessoas que normalmente falavam comigo todas as manhãs passaram direto por mim e me lançavam olhares estranhos. As pessoas com quem eu nunca falava me fitavam do mesmo jeito. Ninguém se aproximava.

   - Renata, você está sentindo...esse clima estranho? – perguntei.

   - Você está perguntando se eu reparei em todas essas pessoas te encarando? – ela perguntou, direta como sempre, e sem esperar resposta, completou – É, reparei.

   - O que será que está acontecendo aqui? – perguntei, começando a ficar preocupada.

   - Não tenho a menor ideia, mas – Renata foi interrompida por meu celular, que começou a tocar.

   - Alô? – atendi.

   - Irmãzinha, há quanto tempo eu não te vejo – a voz de Fred disse do outro lado da linha. – Nem parece que moramos na mesma casa.

   - O que você quer, Fred? – perguntei suspirando. – Minha aula já vai começar.

   - Você não quer saber por que as pessoas estão te encarando por toda a escola, irmãzinha? – ele perguntou, num tom cínico.

   - Você sabe?! – Espera um pouco, que papo é esse?

   - Sei.

   - Então me diz!

   - Infelizmente, isso não será possível.

   Aí ferrou, no que esse meu irmão estava metido?

   - Por quê? O que custa me dizer? Você tem alguma coisa a ver com isso?

   - Nada, mas é algo que eu só posso fazer pessoalmente.

   - Então eu encontro com você na hora do intervalo.

   - Negativo, tem que ser agora.

   - Mas a aula já vai começar!

   - Ah tudo bem, se você não quer saber...tchau irmãzin-

   - Não, não! – interrompi desesperada. – Tudo bem, onde eu encontro você?

   - No estacionamento – e desligou.

   - O que aconteceu, Lidy? – Renata perguntou. - O que o Fred sabe?

   - Renata, você diz para o professor de português que eu estou na enfermaria, por favor? – pedi.

   - O quê? Você vai matar aula?

   - Por favor, Rê...

   - Tudo bem, mas só se você me prometer que vai me contar tudinho quando voltar.

   - Eu prometo! – disse e lhe dei um beijo no rosto, antes de sair correndo para o estacionamento do colégio.

   Sr. Albert, o senhor precisa saber que eu nunca matei aula antes e que, visto que esta é uma redação obrigatória sobre a história da minha vida, o senhor não poderá punir-me por contar a verdade.

   Pois então, eu matei aula mesmo.

   Não que eu esteja orgulhosa disso, mas eu precisava saber por que, do dia para a noite, havia me tornado a ignorada do colégio.

   Acredite, isso não é uma coisa legal.

   E foi por isso que eu fui encontrar meu irmão no estacionamento. E o senhor não imagina a minha surpresa quando eu encontro lá, não apenas Fred, mas a cambada toda: Vítor Miranda, Alex Mileto, Daniel Corelli e, é claro, Felipe Madson.

   - O que está acontecendo aqui, Fred? – perguntei, incrédula.

   - O que é isso, Lidia? – Fred disse, sorrindo. – Não foi essa a educação que você recebeu. Cumprimente meus amigos.

   - O quê? – gritei. – Seus amigos? Desde quando você anda com esse tipo de gente?

   Até meu irmão vagabundo precisa saber a hora de elevar o nível, por favor.

   - Com licença garotinha, mas isso foi uma ofensa? – Alex perguntou, não parecendo muito satisfeito.

   - Olha aqui, garotinha é a –

   - Lidia, pare com isso e seja educada – Fred disse, perdendo a paciência.

   - Ah, faça-me o favor, logo você vem me falar de educação...

   - Fred, deixa pra lá – Felipe disse com uma expressão que eu não consegui decifrar, mas que definitivamente não era boa. – Já estou me acostumando com a falta de delicadeza da sua irmã.

   Não acredito! Falta de delicadeza? Disse o cara que passou com o carro em cima de uma poça de lama só para me deixar toda suja!

   - Tem razão, Felipe – Fred concordou. – Lidia sempre foi assim, não sei por que.

   Cinismo é mesmo uma merda.

   - Fred, fala sér- tentei dizer, mas Felipe me interrompeu.

   - Lidia – ele começou. Já não gostei do modo como ele disse meu nome, devagar, pausadamente, como se fosse algo que ele estivesse saboreando. – Fred ligou para você dizendo que sabia por que as pessoas da escola estão te tratando diferente, não é?

   - É – respondi, finalmente estávamos chegando a algum lugar. – E é por isso que eu estou aqui. Só não entendo o que você e seus amigos têm a ver com isso.

   - Tudo – disse Vítor, soltando uma gargalhada.

   - Espera aí – disse, começando a ficar furiosa. - O que você fez, Madson?

   - Eu nada. – ele respondeu. – Você fez.

   O garoto é louco, Sr. Albert, só digo isso. E cadê o imprestável do meu irmão nessas horas para me salvar da insanidade desse Felipe?

   - Fred, você não vai fazer nada para me defender? – perguntei, incrédula. Ele era meu irmão, sangue do meu sangue, apesar de tudo. – Não está vendo como esse garoto me trata?

   - Lidia, você começou tudo isso. – Fred disse, como se estivesse decepcionado com uma filha. – Felipe é um cara legal, é meu amigo, e você não devia tê-lo tratado da maneira como tratou.

   Sr. Albert, o senhor pode acreditar numa coisa dessas?

   Sabe de uma coisa? Esqueça tudo o que eu disse na minha introdução sobre ser uma garota normal. GAROTAS NORMAIS não passam por isso. Eu estou começando a achar que, na verdade, eu sou uma garota azarada cujo destino está repleto de desastres.

   - Então é isso? – perguntei. – Você fez todo mundo na escola me odiar só por causa do seu orgulho ferido? – que só pra começar, nem tinha que estar ferido. Ok, eu mostrei o dedo do meio pra ele e, sim, eu me neguei a entrar no carro com ele. Nossa, que pecados imperdoáveis eu cometi.

   O garoto ia sobreviver, por que então não parava logo com aquela palhaçada?

   - Eu não fiz todos na escola odiarem você – Felipe respondeu calmamente. – Apenas os proibi de falar com você.

   - O quê? Você não pode proibir a escola toda de falar com alguém. É impossível!

   - Ah é? Você tem certeza? Então por que ninguém falou com você esta manhã?

   Inacreditável. Felipe Madson havia proibido a escola toda de falar comigo. Mas eu não ia dar o braço a torcer.

   - Renata falou comigo esta manhã – disse, empinando o queixo.

   - Eu decidi que tirar tudo de você seria crueldade demais – Felipe disse, cruzando os braços.

   Sr. Albert, por favor, ouça minha súplica e expulse esse monstro destruidor de vidas deste colégio!

   - O que você quer? – perguntei, me rendendo. – Desculpas pelo meu comportamento em relação a você? Então me desculpe. Desculpe por não ter me ajoelhado aos seus pés na primeira vez que o vi entrar neste colégio. Desculpe se tenho opiniões diferentes das suas e se não quis me submeter às suas ordens. Satisfeito? Agora você pode, por favor, me deixar em paz?

   Tentei manter a ironia longe do meu tom, mas não sei se tive muito sucesso. Mas não importa, já que, pela cara do Madson, a minha humilhação o tinha agradado.

   Posso matar esse idiota, Sr. Albert? Diz que sim, pode ser?

   - Bom, isso já é um começo. – Felipe disse com um sorrisinho vitorioso. – Mas as coisas não serão tão fáceis assim para você.

   - Lidia, - Fred disse. – Para você ver como Felipe é uma ótima pessoa, ele resolveu te dar uma chance de se redimir.

   - Redimir? – ecoei. Por que eu sentia que eu não ia gostar nada do que vinha pela frente?

   - Sim – Felipe respondeu. – Eu quero que você trabalhe para mim.

   O quêêêêêêê?

   Esse cara só pode estar de brincadeira.

   - Eu quero que você seja minha secretária particular – ele continuou. – Você terá que ir para a minha casa todos os dias depois da escola e sairá às oito. É claro que você receberá um salário, o que, de acordo com o que o Fred me disse, ajudará muito a sua família.

   Eu simplesmente não estava acreditando. Quem esse cara pensa que é? E o pior de tudo era que ele estava mancomunado com o meu próprio irmão!

   - Fred, você está de acordo com isso?! – perguntei, incrédula.

   Não posso deixar de comentar que a primeira coisa que me passou pela cabeça quando ouvi esse papo de “secretária particular” foi que soava mais como “prostituta particular”. Ok, Sr. Albert, eu sei como isso soou baixo. Mas o que interessa é que irmãos mais velhos, teoricamente, detestam essas coisas, não é? Saber das irmãzinhas dando por aí?

   - É claro, irmãzinha – meu irmão respondeu, sorrindo. – Você não poderia arrumar emprego melhor.

   É, aparentemente, meu irmão é do tipo que venderia o corpo da própria mãe.

   - Eu só tenho 15 anos, você é que devia trabalhar! – argumentei, tentando tirar essas coisas da minha cabeça. Era loucura minha, claro. Afinal, o que um garoto como o Felipe iria querer comigo? Podia ter meninas muito mais bonitas que eu e nem precisaria pagar nada.

   - Eu não posso, estou estudando para o vestibular

   - E desde quando ficar bêbado em barzinhos de beira de estrada conta como estudar? Para de mentir, que você não estuda nada, é só um preguiçoso!

   - Felipe, - Daniel disse. – A campainha da segunda aula já vai tocar, temos que ir.

   - Já vamos – Felipe respondeu e então se aproximou de mim mais rápido do que eu pensei ser possível, segurando meu queixo com a mão. – O que você diz sobre a minha oferta, Lidia?

   - A resposta é não! – respondi, me afastando. Eu já estava de saco cheio desse garoto metido. Por mim, ele podia morrer e levar todos esses amigos ridículos com ele, incluindo meu irmão.

   Meu lado Lidia Vingativa está aflorando, Sr. Albert.

   - Lidia, Lidia, você já não aprendeu que não deve dizer “não” para mim?

   - Vai à merda. - Sr. Albert, mais uma vez me desculpe pela palavra de baixo calão. É que, realmente, há certos momentos na vida que um palavrão é inevitável. E eu nem sei por que estou pedindo desculpas agora, depois de ter falado um monte.

   - Lidia! – Fred exclamou, furioso. – Olha aqui garota, você tem que aprender a tratar bem os meus amigos ou –

   - Fred, - Felipe interrompeu, mantendo seus olhos verdes em mim. – Tudo bem. Lidia vai voltar atrás na decisão dela antes do final da semana, quando as coisas piorarem para ela.

   - Eu não vou voltar na minha decisão – disse, antes de me virar para ir embora. – Você pode fazer o que quiser.

   - Acredite, eu irei. – O ouvi dizer enquanto eu corria de volta para o colégio.


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Notas finais do capítulo

Vou ajeitar a parte 2 e mais tarde, posto :)