Trabalho Escolar: Diário de Lidia Brazzi escrita por Juliiet


Capítulo 34
Dia 16, quarta-feira, 17 de agosto. (parte 3)


Notas iniciais do capítulo

Finalmente, a última parte do capítulo. Espero que vocês gostem e, quando chegarem lá embaixo, apertem em 'próximo' porque tem mais um pedacinho :) Espero que gostem. Beijos :)



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   Enquanto entrávamos no ônibus, percebi que as pessoas não estavam tão aborrecidas com a gente como deviam estar. Para falar a verdade, pareciam até felizes por Felipe e eu termos nos acertado. Não sabia até que Daniel disse parar mim que todos sabiam que nós nos amávamos profundamente e que éramos muito idiotas para perceber.

   Fiquei chocada.

   Felipe também.

   Nós éramos o melhor estereótipo de casal grudento, nos abraçando o tempo todo, sorrindo com a boca e os olhos, com aquela cara de bobos apaixonados.

   Mas eu adorava me sentir assim, uma boba apaixonada. E não estava ligando muito para o lance de casal grudento. Quando a gente gosta, a gente quer estar perto, não é?

   Pensar nisso fez meu estômago revirar, enquanto sentava na minha poltrona. Eu ainda não havia contado para o Felipe sobre a mudança. Simplesmente não tive coragem. Não agora que tudo estava indo tão bem, estávamos tão felizes!

   Mas uma hora eu teria de falar. Bom, deixaria essa missão para quando chegássemos em casa, por enquanto apenas aproveitaria o tempo que tínhamos juntos.

   Por um lado eu estava feliz por pensar no quanto meu pai parecia ter gostado da ideia de eu morar com ele e sua família, era como se ele me considerasse parte dela. Eu sentia muita falta do meu pai, do convívio com ele e tudo. Além disso, a mulher dele (acho que ela se chama Helena) pareceu ser bem legal nas duas vezes em que eu a vi.

   E crianças não podem ser tão ruins.

   Eu esperava.

   E faria bem sair um pouco da confusão da cidade, de todos os problemas com a minha mãe e passar um tempo no rancho. Eu gostava muito daquele lugar, apesar dos mosquitos e do lance de precisar acordar junto com o sol se quiser chegar cedo em qualquer lugar civilizado.

   Acho que a escola mais próxima do rancho fica a umas duas horas de carro.

   Merda, onde eu fui me meter?

   - Lidia, você está bem? – Felipe perguntou, ao se sentar na poltrona ao meu lado.

   É, minha cara não devia estar das melhores.

   - Estou ótima – menti, mas não muito bem, se a expressão de descrença no rosto de Felipe servir como indicação. – Só estou um pouco cansada, sério.

   Ele assentiu e me puxou para os braços dele. Ah, como eu adorava aquele abraço! Recostei-me em seu ombro fiquei ouvindo sua respiração. O ônibus finalmente começou a se mover e o barulho das conversas enchia o lugar. Era tudo muito agradável e, com aquela cacofonia de vozes, o leve balanço do ônibus e o cheiro de Felipe, eu caí no sono.

   A viagem foi tranquila. Dormi até chegarmos num restaurante para almoçar e fiquei numa mesa com Felipe. Renata, Daniel e Leo ficaram numa outra mesa e Renata não parava de sorrir para mim. Ela sabia exatamente como eu me sentia e sabia tudo sobre a mudança também.

   Eu tinha que contar pra alguém, não é?

   Eu dormi o resto da viagem quase inteira, com os dedos de Felipe passeando pelos meus cabelos. Quem diria que ele seria um namorado carinhoso?

   Namorado.

   Essa palavra significa muito mais agora que eu sei que ele me ama.

   Ele iria querer ser meu namorado mesmo quando eu dissesse que iria me mudar? Ele aceitaria um relacionamento à distância?

   Quando chegamos ao colégio, todos os pais estavam lá esperando. É isso aí, mico comunitário. Nada melhor do que juntar uma legião de pais se você quiser vergonha garantida.

   - Sua mãe está lá fora – eu disse a Felipe, enquanto ele pegava nossas coisas e me ajudava a descer do ônibus.

   - A sua não está – ele respondeu, franzindo o cenho.

   É, minha mãe não estava lá. Mas meu pai estava. Meu coração havia saltado ao vê-lo, ele parecia menor, mais velho, com muitos fios brancos nos cabelos castanhos, mas com um sorriso tão grande que eu não duvidava de que ele era feliz.

   - Está vendo aquele homem de camisa branca e calça jeans? – perguntei a Felipe e ele assentiu com a cabeça. – É meu pai.

   Ele me fitou, surpreso.

   - Você nunca fala do seu pai, - disse. – Achei que não tivesse um bom relacionamento com ele. E Fred me disse que ele mora em outra cidade, o que está fazendo aqui?

   Antes que eu pudesse falar, meu pai nos alcançou e me pegou num abraço.

   - Filhinha! – exclamou, enquanto me abraçava. – Não sabe como eu estava com saudades de você.

   - Eu também, pai – abracei-o de volta.

   - Não sabe o quanto eu estou feliz por você ter decidido ir morar comigo! – ele continuou. – Helena arrumou o quarto de hóspedes para você, tenho certeza que vai adorar! Todos estão muito empolgados!

   Não tive coragem de olhar na direção de Felipe, então só fechei os olhos e concordei com meu pai. Fred desceu do ônibus logo depois e papai pediu licença e foi falar com ele, fazia muito tempo que os dois não se viam também.

   - Então é isso – Felipe disse com uma voz cortante e fria. – Você vai embora e simplesmente esqueceu de me dizer.

   - Felipe, por favor – eu comecei, angustiada. – Não é assim, eu –

   - Eu achei realmente que significava alguma coisa pra você, mas vejo que não. Você nem hesita em me deixar!

   Ele se virou e foi em direção a sua mãe e Paula, que estavam ali perto. Elas me viram e sorriram para mim, mas eu não consegui sorrir de volta.

   Voltei para casa com papai e Fred. Mamãe me fez sentar no sofá da sala e ela e o papai começaram a brigar comigo por ter sumido naquela nevasca, mas não foi o tipo de bronca que eu costumo ouvir, Sr. Albert. Mamãe realmente ficou preocupada comigo. Não posso dizer que eu já a perdoei, porque não é verdade, ela cometeu muitos erros e eles ainda estão frescos na minha mente e no meu coração. E o modo como ela me tratou...me fez sentir horrível, sozinha, sem ninguém no mundo. E essa não é uma sensação boa. Saber que a pessoa que deveria estar lá para mim, para me apoiar e proteger, para cuidar de mim nos maus momentos e ser feliz comigo nos bons, simplesmente me virou as costas.  

   Então, não, eu não podia perdoá-la ainda, nem podia fingir que nada havia acontecido. Mas não importa o que aconteça, eu ainda a amo, porque ela é minha mãe, e eu sei o quanto ela sofreu para cuidar do Fred e de mim depois que o papai foi embora. Ela tem seus defeitos, que ficam cada vez mais visíveis com o passar dos anos, mas eu não posso simplesmente condená-la para o resto da vida e fingir que não tenho mãe.

   Porque a verdade é que eu preciso dela. E ela precisa de mim.

   Então, eu estava fazendo um bem enorme me afastando por uns tempos, para colocar nosso relacionamento em perspectiva, para poder esfriar a cabeça e, um dia, perdoá-la. Por esse lado, eu me sentia feliz de estar indo embora.

   Papai precisava ir para casa imediatamente, pois ia viajar a trabalho no dia seguinte, e queria me levar logo com ele. Mamãe já havia aceitado a coisa toda de eu me mudar, porque os dois haviam conversado, mas mesmo assim, as coisas não estavam certas. Quer dizer que minha história com o Felipe acabaria desse jeito?

   Mas era melhor mesmo eu ir embora, então arrumei uma mala com algumas coisas e resolvi que voltaria para pegar o resto depois.

   - Tchau, mãe – eu disse, com lágrimas nos olhos, enquanto entrava no carro do papai. - Tchau, Fred.

   Eu estava chorosa por deixar minha vida, meu irmão, Renata e até minha mãe. Mas principalmente, por deixar meu coração para trás. Algo me dizia que eu estava fazendo tudo errado, que não era certo deixá-lo, mas eu não podia voltar atrás.

   - Tchau, pentelha – disse Fred, dando-me um abraço rápido e um beijo no topo da cabeça. – Estou muito feliz que vou me ver livre de você – ele completou, mas seu sorriso era brincalhão.

   - Tchau, Lidia – mamãe disse, hesitando em se aproximar de mim. – Eu...acho que errei muito com você. Espero que eu possa consertar tudo.

   - Eu também espero. Mas está tudo bem agora.

   Não estava.

   Eu estava indo embora e deixando a minha felicidade para trás.

   Ele era o amor da minha vida e eu o estava abandonando!

   Mas não dava para voltar atrás agora. Dava?

   Entrei no carro com o papai e nós saímos. Eram dois dias de carro para chegar até a cidade em que ele morava agora, por isso nós íamos de avião. Eu tinha de fazer uma decisão. Já.

   Eu não conseguia pensar em mais nada. O que diabo eu estava fazendo? Por que estava indo embora? O que me impedia de ficar?

   Eu sabia que meu pai estava todo animado com isso, mas ele entenderia.

   Então por que eu não pedia para ele simplesmente dar meia volta?

   Por que eu tinha tanto medo?

   Do que eu estava fugindo?

   - Pai, para o carro! – gritei.

   Papai olhou confuso para mim, mas diminuiu até parar no acostamento.

   - O que houve, filha? – perguntou. – Você está bem?

   - Nunca estive melhor – sorri. – Pai, eu te amo muito e morar com você seria muito bom, mas existem coisas aqui que eu simplesmente não posso deixar.

   - Mas filha...

   - Eu simplesmente não posso ir – falei e desci do carro. Papai desceu também. – Relaxa, que eu volto de táxi. Anda logo senão você vai perder seu vôo.

   - Lidia!

   Papai ainda tentou me convencer, mas eu estava decidida. Eu não teria mais medo dos meus sentimentos, não seria mais covarde. Eu amava Felipe e era com ele que eu queria estar!

   - Então vamos fazer um acordo – ele disse, finalmente. – Você fica o resto do mês aqui e então vai passar um tempo comigo. Aí você tem tempo suficiente para resolver suas coisas.

   - Tudo bem, pai – eu respondi, já que era o máximo que ia conseguir dele. E corri para pegar um táxi.

   Eu ainda estava com a minha mala, mas nem morta que eu iria para casa. Eu dei o endereço do Felipe e pedi para o motorista ir o mais rápido possível. Eu teria de fazer Felipe entender que eu o amava e que ele era o que eu tinha de mais importante na vida. Eu simplesmente não podia ir embora brigada com ele.

   Não podia.

   Começou a chover. Eu via as gotas escorrerem pela janela do carro. Por que chuva sempre me deixava deprimida?

   Estava quase chegando na rua de Felipe quando vi um carro muito parecido com o dele passando na direção contrária.

   Sr. Albert, não era parecido não, era o carro dele!

   - Moço! – gritei para o motorista. Ele me olhou assustado. – Volta tudo! Siga aquele carro!

   O motorista fez o que eu mandei e rapidamente nós alcançamos o carro de Felipe. Quando paramos no sinal fechado, eu desci do carro que nem uma louca.

   - Felipe! – gritei. Meus sapatos estavam escorregando no asfalto molhado, mas eu dei um jeito de permanecer de pé. Corri até o carro e praticamente me joguei na frente dele.

   A porta do motorista se abriu imediatamente e Felipe saiu de lá. Estava pronta para correr para os seus braços quando ele gritou:

   - Lidia, você enlouqueceu?! Eu podia tê-la matado! VOCÊ QUER SER ATROPELADA?

   Nem liguei para o que ele dizia. Para falar a verdade, Sr. Albert, eu nem entendi. Só conseguia enxergar aquele garoto tão amado, lindo, ali parado, olhando para mim com raiva, a chuva fazendo seus cabelos grudarem na testa, os olhos verdes tão determinados.

   Sorri e corri até ele, abraçando-o com força.

   - Eu te amo – disse. – Eu falei sobre morar com meu pai antes de saber que você me amava. Eu precisava ficar longe, para não sofrer. Mas a verdade é que eu sofreria de qualquer forma se não tivesse você na minha vida.

   Percebi que Felipe soltou um suspiro. De alívio? Então minha atenção acabou toda voltada ao beijo que ele estava me dando. Ouvi o barulho das buzinas dos carros, cujos motoristas furiosos queriam que Felipe tirasse o carro do meio do caminho.

   Eu não estava nem aí. Por mim o mundo poderia vir a baixo, contanto que Felipe continuasse me beijando. Eu poderia morrer nos braços dele.

   - Acho melhor a gente sair daqui – Felipe disse, interrompendo o beijo, mas ainda roçando os lábios nos meus. Sentia sua respiração quente na pele, junto com as gotas da chuva.

   - Onde você estava indo? – perguntei, ignorando o que ele havia dito.

   - Atrás de você. Não pensou mesmo que eu fosse te deixar ir embora assim, não é? Eu te amo e você é minha. Vai ter que me aturar até o fim da vida.

   Eu ri. Era tudo o que eu mais queria.

   - Eu vou me mudar daqui a um mês – revelei, triste. – Foi só o que eu consegui com meu pai.

   - Não importa, eu vou com você.

   - Mesmo? – perguntei, incrédula.

   - Não importa para que lugar do mundo você for, desde que me deixe ir com você.

   Nos beijamos mais uma vez, ali na chuva, no meio da rua, tendo como orquestra as buzinas e os gritos irados dos motoristas.

   Eu estava tendo, finalmente, meu final feliz.

   E tudo bem que meu príncipe encantado não era muito convencional, Sr. Albert. Mas era ele mesmo que eu queria. E ia querer para sempre.


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