Trabalho Escolar: Diário de Lidia Brazzi escrita por Juliiet


Capítulo 32
Dia 16, quarta-feira, 17 de agosto. (parte 1)


Notas iniciais do capítulo

TANTANTANTAN! O último capítulo! Ou pelo menos, a primeira parte dele :) Enfim, ficou confuso, confesso, mas eu não tive tempo nem paciência pra reescrever. Espero que vocês gostem, mesmo estando um pouco melosinho demais :)



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   Eu estava fingindo dormir. Não queria abrir os olhos e encarar as consequências do que havia feito.

   Não que eu estivesse arrependida. Não estava. De todas as coisas que eu já havia feito na vida essa era, com toda a certeza, a que eu lembraria com amor até o fim.

   Eu o amo. E não me canso de dizer isso.

   Não vou dizer que Felipe era minha razão de viver, o oxigênio que eu respirava, o sangue que fluía pelas minhas veias. E que eu morreria sem ele.

   Fala sério.

   Porque o fato é que eu, sim, sobreviveria sem ele. Mas seria uma vida miserável. A vida de uma pessoa que conheceu o paraíso por um tempo antes de ser relegada ao purgatório. Eu continuaria a respirar, a falar, a comer...mas vida não é apenas isso.

   Uma parte de mim sempre saberia que havia algo faltando.

   Eu seria...incompleta.

   Senti uma súbita vontade de rir. Eu estava melancólica demais para alguém que havia acabado de viver uma das experiências mais importantes na vida de uma garota. Mas eu sabia que Felipe não me amava, então, mesmo depois do que havia acontecido, eu sabia que não seria para sempre.

   Amor unilateral é uma droga.

   Quis chorar. Depois rir. Eu estava a ponto de fazer as duas coisas. Sentia-me diferente. Triste...feliz...resignada.

   Não se pode forçar o amor de alguém. E eu estava triste por saber que não era correspondida, mas ao mesmo tempo feliz apenas por amá-lo. Apenas saber que meu coração pertencia a Felipe, mesmo que ele não o quisesse, já me aquecia e me confortava.

   O amor é um sentimento lindo e somente amá-lo teria de ser suficiente para mim.

   Teria de ser...precisava ser...

   Apertei os olhos. Estava de costas para Felipe, não podia vê-lo, mas sentia sua pele tocar na minha. Apenas aquele leve toque era suficiente para me fazer pensar em desistir de minha resolução de sair daquele relacionamento com o que restava do meu orgulho intacto. Tudo o que eu queria era me jogar aos pés de Felipe e implorar por seu amor.

   Não, Sr. Albert, não vou fazer isso, relaxa.

    Felipe estava acordado. Eu soube disso quando senti seus dedos deslizarem delicadamente por meus ombros. Não pode evitar um arrepio, seguido de um suspiro.

   - Eu sei que você está acordada, Lidia – Felipe disse, numa voz tão sensual que me fez tremer. – Por que não olha para mim?

   - Não posso – respondi, ainda com os olhos apertados. Quase não ousava respirar. Estava completamente rígida.

   Felipe acompanhou com a boca o caminho que os dedos fizeram. Sua respiração na pele sensível do meu pescoço era mais do que eu podia aguentar. Mordi o lábio inferior até feri-lo, mas nem o gosto metálico de sangue foi capaz de desviar minha atenção das sensações descontroladas que tomavam conta de mim quando Felipe me tocava daquele jeito.

   Como garotas comuns lidam com isso? É sempre assim? Eu continuava querendo-o, desejando-o, e isso não tinha fim. Quando para, Sr. Albert? Quando essa necessidade de ter Felipe perto de mim vai passar? Por que até a voz dele me fazia derreter? A voz, o toque, o beijo...era como se ele fosse feito para mim.

   Precisava urgentemente de um psiquiatra, ou de um copo de uísque, ou de um pai de santo. Qualquer coisa que me fizesse parar de sentir aquelas coisas. Ou pelo menos entendê-las...

   Mas acho que o amor não foi feito para ser entendido. Nem o desejo, por sinal...

   - Lidia – Felipe disse, ainda com aquela voz macia que parecia derreter na minha pele. – Se você não falar comigo, podemos continuar o que começamos ontem...

   Ok, aquilo provocou uma reação em mim, me virei e cobri-me com o lençol, colocando-me o mais longe possível de Felipe. O que não era realmente muita coisa, já que eu não podia exatamente levantar dali e fugir para Plutão.

   Sei que vai soar repetitivo, mas vê-lo foi como sentir um gosto doce e amargo na boa. Ele estava lindo, os cabelos bagunçados cobrindo a testa e caindo nos olhos tão verdes como a primavera. A boca estava vermelha dos meus beijos, o peito nu e perfeito que agora eu conhecia de cor, os ombros com marcas das minhas unhas. E quando ele me olhou, confuso, e passou os dedos pelos cabelos para bagunçá-los ainda mais, naquele gesto que eu conhecia tão bem...com aquelas mãos grandes e firmes, que agora me conheciam melhor que qualquer outra pessoa, tanto quanto as minhas o conheciam.

   Ai, Sr. Albert, o que eu podia fazer? Não confiava em mim mesma para ficar perto dele. Que merda! Minha mente e meu corpo simplesmente sofrem uma pane quando ele está por perto e param de me obedecer! Culpa desse garoto arrogante e idiota que me faz esquecer de tudo quando estou em seus braços...

   - Lidia...- ele começou, aproximando-se de mim.

   - Não – eu disse, colocando minha mão espalmada no peito dele. Inferno! Eu não devia ter feito isso...O lençol dele escorregou um pouco quando eu me movi. Fechei os olhos, ele não estava vestindo nada!

   Bom, eu também não estava e eu não tinha exatamente reclamado disso ontem...mas sei lá, ele pelo menos podia ter tido a decência de ter colocado alguma coisa...Felipe não parecia nem constrangido!

   - Lidia, pare com isso – ele falou, sem o menor vestígio daquela maciez na voz. Agora sua voz era dura, com raiva. E eu senti aquela voz em todas as minhas terminações nervosas.

   Mesmo com raiva, Felipe ainda consegue me fazer virar geléia.

   - Felipe, eu... – comecei, mas ele fez um gesto com a mão para que eu me calasse.

   - Não vou deixar você continuar o que está fazendo – ele declarou com fúria nos olhos verdes.

   - Eu não estou fazendo nada, eu... – gaguejei, mas ele segurou meu pulso e eu não consegui mais lembrar como mover a boca para articular palavras.

   - Você está se afastando de mim. Não vou deixar que faça isso. Não depois de ontem.

   Eu não percebi que estava chorando até que Felipe passou os dedos por minha bochecha molhada de lágrimas.

   - Não! – gritei, entre soluços. Estava assustada, confusa...não sabia o que fazer, o que pensar...por que Felipe tinha de fazer isso comigo? Por que simplesmente não desaparecia da minha vida e me deixava chorar e lamber minhas feridas? Não, ele precisava me atormentar...

   Felipe puxou-me para ele. Era inútil tentar me desvencilhar daqueles braços. Acabei com a cabeça encostada no ombro dele, suas mãos passeando por minhas costas.

   - Lidia, meu amor, eu a machuquei? – Felipe perguntou, a voz abafada pelos meus cabelos.

   “Sim!” quis gritar “você acabou comigo!”. Mas não era ao meu coração a que ele se referia...

   A única coisa que consegui fazer foi soluçar mais agarrada ao seu ombro.

   - Meu amor – Felipe repetiu, abraçando-me com tanta força que eu pensei que minhas costelas fossem partir. – Meu amor...me perdoe...eu prometo, nunca mais vai ser assim...eu nunca vou machucá-la outra vez...

   Quase soltei uma gargalhada. A risada estava entalada em minha garganta, junto com as lágrimas. Felipe achava que eu estava machucada do jeito errado! Mal ele sabia que, se eu pudesse voltar no tempo, não mudaria em nada o que havia acontecido... E que história era aquela de “outra vez”?! Não haveria outra vez!

   - Pare de me chamar de meu amor! – gritei, surpreendendo Felipe. – Eu não sou o seu amor!

   Soltei-me dele e agarrei o lençol contra mim com força, as lágrimas insistiam em escorrer por meu rosto.

   - Tudo bem – ele disse, fitando-me com toda a força daqueles olhos. – Eu a chamarei do que você quiser. Mas não volte a dizer o que disse. Nunca mais.

   Pestanejei. Do que ele estava falando?

   - Não volte a dizer que você não é o meu amor – ele disse – Porque você é. E eu nunca tive tanta certeza de algo na vida como tenho em relação a você. Você me ama. Eu te amo. Nós pertencemos um ao outro. Por que você insiste em ficar longe de mim?

   Pisquei uma, duas, três. Quatro vezes. Ele não podia estar falando sério. Ele estava brincando comigo...

   - Felipe – eu comecei, baixando os olhos e secando as lágrimas com os pulsos. – Pare com isso. Não brinque comigo assim...

   Felipe me segurou pelos ombros e me forçou a olhar para ele.

   - Você realmente acha que eu sou tão cruel a ponto de brincar com uma coisa dessas? – perguntou, cuspindo as palavras, como se fosse difícil colocá-las para fora. – Principalmente depois do que aconteceu entre nós?

   - Felipe, - tentei outra abordagem – se foi por causa de ontem, esqueça. Não precisa dizer que me ama só por causa disso. Você não me ama.

   - Eu te amo.

   - Pare! – gritei, não conseguindo mais sustentar o olhar intenso dele. – Você não me ama, você mesmo me disse! Você me quer, me quis, sei lá. Mas não ouse chamar isso de amor! Você não tem ideia de como me amar, você não sabe nada sobre o amor!

   Como eu me odiava! Por que eu não conseguia parar de chorar?

   Felipe segurou meu rosto com as duas mãos, a expressão mais branda.

   - Você tem razão – disse, apenas.

   Eu pensava já ter sentido todas as dores que meu coração podia suportar, mas estava enganada.

   No fundo, ainda guardava a esperança de que pudesse ser verdade...

   - Eu disse que não te amava – continuou. – E menti.

   Olhei para ele por entre as lágrimas. O que ele estava querendo dizer?

   - O que você queria que eu dissesse? – ele perguntou, fitando-me intensamente, franzindo o cenho como se a lembrança fosse dolorosa. – Você tinha passado a noite com outro! E não qualquer outro, mas o garoto que você mesma me falou que ainda estava no seu coração... – ele suspirou e soltou-me. – Eu estava me sentindo traído, meu orgulho estava ferido, mas...isso não foi nada em comparação a dor que eu senti no meu coração por saber que bastou aquele idiota voltar para você ir correndo para ele...e que eu não era nada pra você.

   Esse garoto anda fumando? Estava tão na cara, todo esse tempo, que eu sou completa e loucamente apaixonada por ele...minha cabeça dava voltas e eu não conseguia dizer nada. Era impossível digerir tudo aquilo, ainda mais quando eu olhava para ele e sabia que ele não tinha nada sob o lençol.

   Tarada, oi?

   - Eu me apaixonei por você no dia em que pensei tê-la perdido – ele foi dizendo, sem nunca parar de me fitar, aproximando-se para novamente acariciar meu rosto com delicadeza. – Eu cheguei tarde no colégio e não vi você. As aulas terminaram e ninguém tinha te visto, você não estava em lugar nenhum. As horas foram passando. Você não estava em casa, não estava com nenhuma amiga...Me desesperei, resolvi eu mesmo procurá-la. Sorte minha que eu resolvi vasculhar cada cantinho daquele colégio. Eu só pensava no dia em que você bateu a cabeça e eu precisei levá-la para a minha casa...percebi que estava tão desesperado, tão louco de preocupação que só podia significar uma coisa...eu não podia perdê-la, não conseguiria viver sem poder me ver refletido nos seus olhos todos os dias da minha vida.

   Não consegui dizer nada. Ele não podia simplesmente brincar comigo assim...dizer essas coisas e pensar que eu acreditaria...não depois de tudo que eu passei...

   - Quando eu a vi caída e machucada – ele continuou, passando o braço pela minha cintura e me puxando para mais perto dele, abraçando-me e beijando o topo da minha cabeça. – Eu jurei para mim mesmo que cuidaria de você, que nunca te deixaria sozinha, que você nunca mais se machucaria. Nem por mim, nem por ninguém. Por isso insisti tanto em levá-la comigo para casa, por isso apresentei você como minha namorada. Era a única forma que eu tinha de prendê-la a mim, de protegê-la. Mas, droga! Você é muito difícil, Lidia, eu nunca consigo te agradar!

   - Você não tentava – eu disse, com a bochecha colada no ombro de Felipe. – Você sabe, me agradar – honestamente, eu não sabia o que dizer. Era quase como se eu entendesse suas palavras, mas elas não fizessem sentido quando eu tentava encaixá-las na minha realidade.

   Ele me afastou e me fez olhar para ele.

   - Não tentava? – ele ecoou. – Eu fiz de tudo para te agradar!

   Soltei-me dele completamente, afastando-me o máximo que pude.

   - Felipe – eu comecei, com voz embargada, não aguentando mais aquilo. – Você só se aproximou de mim para se vingar da minha mãe, o Daniel me contou tudo! Não acredito em nada do que você está dizendo, sei que nunca gostou de mim! Se gostasse, não teria feito todas as coisas horríveis que fez – eu parei por alguns segundos, lembrando de tudo pelo que ele me fez passar, desde o início. - É, eu realmente gostei quando o colégio todo parou de falar comigo, quando você me derrubou na aula de educação física e quando me largou no meio da rua no caminho para a escola. Adorei ver você zombando de mim com seus amigos e aquela proposta ridícula de trabalhar pra você. Não tenho nem palavras pra descrever a felicidade que eu senti ao ser deixada sozinha naquela primeira manhã que passei na sua casa e quando você não me deixou ficar na casa da Renata. E amei quando você me acusou de estar me encontrando com o Leo enquanto estávamos juntos, não há nada melhor que ser chamada de cachorra! Mas o pior...o pior de tudo... – eu já quase me engasgava com as lágrimas – foi quando você quebrou meu coração...quando eu descobri que não era nada para você além de um meio para chegar a um fim. Você só queria se vingar e eu servia aos seus propósitos. Por que, Felipe? Por que você precisou me fazer amar você?

   Estava sem fôlego, mas me sentia muito melhor depois de ter colocado tudo para fora.

   Felipe não falou nada, apenas ficou acariciando meus cabelos.

   - Será que eu posso me vestir agora? – tentei perguntar com o máximo de dignidade que possuía.

   Felipe assentiu com a cabeça e disse:

   - Suas roupas devem estar secas agora, eu vou buscá-las.

   Ele me soltou e eu me virei para o outro lado. Ouvi enquanto ele vestia as próprias roupas e saía do quarto. Voltou logo depois com minhas roupas, agora secas, e colocou-as na cama, então saiu para que eu me vestisse.

   Eu não conseguia pensar. Não conseguia imaginar porque Felipe dissera todas aquelas coisas. Não conseguia acreditar no que estava acontecendo.

   Ele era assim tão cruel a ponto de brincar comigo depois de tudo? Ainda era parte da sua vingança? Ou eu estava deixando escapar alguma coisa? Dizem que o amor cega, mas isso vale para as coisas boas e as ruins? E se eu estivesse sendo injusta com o Felipe...e se fosse realmente como o Daniel havia dito...

   Depois de me vestir, fui atrás dele. Precisávamos voltar, as pessoas deviam estar preocupadas. E eu decidi, de uma vez por todas, esclarecer tudo entre a gente. Queria saber se eu podia amá-lo sem sentir tanta dor ou se, no fim, seria um amor que se transformaria naquelas feridas que ficam abertas para sempre.

   Encontrei-o no único outro aposento daquela casinha. Era para ser uma sala de estar, mas as paredes estavam descascadas e só havia um sofá cheio de calombos lá, de frente para uma lareira, onde eu supus que minhas roupas estiveram secando. Felipe estava sentado no sofá, com os cotovelos apoiados nos joelhos, a cabeça baixa, as mãos na nuca.

   Pigarreei para limpar a garganta e disse:

   - Acho que é melhor irmos embora. Os outros devem estar preocupados com a gente – havia perdido toda a coragem. Não sabia mais se o melhor era a verdade, ela podia tanto ser melhor ou pior. Nunca disse que era corajosa.

   Ele assentiu com a cabeça e virou para me olhar.

   - Com certeza estão preocupados – disse. – Mas nós só vamos voltar quando você me ouvir.

   Rolei os olhos. Definitivamente era melhor ficar sem saber.

   - Felipe, esquece isso.

   - Não.

   Ele se levantou e foi até mim. Puxando-me pelo cotovelo, fez com que eu sentasse no sofá, sentando-se ao meu lado. Ele segurou minhas mãos, fazendo círculos na minha pele com o polegar, parecendo estar satisfeito só pelo fato de me tocar. Seus olhos, a princípio baixos, olhando para nossas mãos unidas, encararam os meus e eu soube. O que quer que ele dissesse para mim naquele momento, viria do fundo do seu coração. Seus olhos verdes tão especiais para mim brilhavam com honestidade e confiança. Havia chegado a hora de acabar com todas as mentiras e os mal-entendidos.

   Eu só não sabia se estava preparada para isso.

   - Lidia – ele finalmente disse, a voz séria. – Antes de qualquer coisa, eu preciso que você escute e acredite em três coisas. A primeira é que...eu sou um idiota.

   Meus lábios se curvaram involuntariamente para cima. Bom, isso é verdade.

   - A segunda é que eu sou um idiota arrependido. Muito arrependido – suas mãos apertaram as minhas com um pouco mais de força, como se ele estivesse inseguro e precisasse de conforto. – E a terceira, a mais importante, é que eu sou um idiota arrependido e...completamente apaixonado. Por você. Eu te amo, Lidia.


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Notas finais do capítulo

Hoje à noite, eu posto a parte 2 e as Notas Finais, que são como se fossem uma conclusão (afinal, mesmo que não pareça, o diário da Lidia é pra ser um trabalho da escola¬¬). Beijos e mandem reviews, ok? É o último capítulo, me façam feliz :)