Trabalho Escolar: Diário de Lidia Brazzi escrita por Juliiet


Capítulo 26
Dia 13, domingo, 14 de agosto. (parte 1)


Notas iniciais do capítulo

Não resisti. Precisava postar esse capítulo, mas to muito nervosa. Espero que vocês gostem :)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/159744/chapter/26

   Algo estava errado.

   Tipo, eu estava deitada, ainda meio adormecida, nos braços de alguém.

   E eu sabia que havia algo errado.

   Não por estar nos braços de alguém ou coisa parecida. Acordar daquele jeito até que seria muito agradável se aqueles não fossem...

   Bem, os braços errados.

   Senti vontade de chorar. Ali estava eu, nos braços de um cara fofo pra caramba que gostava muito de mim, sonhando estar nos braços de um garoto arrogante e desprezível.

   Mamãe deve ter me derrubado quando eu era bebê, não é possível que eu seja tão estúpida assim por natureza.

   Naquele momento percebi que não ia dar. Eu não conseguiria voltar com Leo (não que ele tivesse mencionado algo assim, mas seus beijos meio que me deram uma dica) e nem ficar com nenhum outro cara. Eu tinha sido marcada por Felipe.

   E não tipo um boi que aqueles fazendeiros sem noção marcam com ferro. Não sei por que me veio na cabeça essa comparação ridícula.

   Mas marcada por dentro. Mesmo se eu viesse a ter outro namorado, eu iria sempre compará-lo com Felipe. Algo sempre estaria faltando. Seria como se eu nunca pudesse alcançar a coisa que me faria feliz. E eu não poderia suportar isso. Não poderia suportar mais decepção.

   Felipe tinha me destruído para o amor.

   E é por isso que eu decidi virar freira.

   Não foi uma piada.

   Ok, já pode parar de rir, Sr. Albert.

   Não que eu tenha as virtudes necessárias para ser freira, mas ei, o mundo dá voltas e, quem sabe, você não vai me ver seguindo os passos da madre Teresa?

   Coisas mais bizarras acontecem...

   Depois de tomada a minha decisão de devotar minha vida a Deus, resolvi me desvencilhar do abraço de Leo, levantar, tomar um banho, comer alguma coisa e, talvez, tocar minha vida. Eu não poderia morar com Leo a vida toda.

   Mas antes que eu pudesse fazer qualquer uma dessas coisas (eu ainda estava sonolenta, portanto, lenta) as batidas começaram. Batidas violentas e incessantes que pareciam vir da porta. Levantei-me imediatamente e Leo acordou. Quem diabo estava perturbando às (peguei o pulso de Leo e olhei as horas) dez da manhã?

   Onde foi parar o respeito, Sr. Albert, onde?

   Como Leo ainda estava em seu estado catatônico pós-sono eu resolvi ir abrir a porta antes que aquelas batidas fizessem um buraco permanente em meu cérebro.

   Não parei para pensar. Simplesmente fui até a porta, a abri e tomei ar para começar a quebrar o pau com o indivíduo que ousava fazer aquela balbúrdia quando olhei quem estava lá e engasguei.

   Comecei a tossir. Que filho da mãe! Como ele ousava ir até ali?! Como ele sabia onde eu estava? Eu não havia dito nada...

   Paula.

   A irmã duas caras me entregou.

   Vou ter de por assassinato na minha lista de coisas a fazer hoje.

   Felipe parecia mais furioso do que eu já o tinha visto. Encolhi-me, não pude evitar. Ele estava insano.

   E eu fiquei com medo.

   Seus olhos em chamas percorreram todo o meu corpo. Ele registrou que eu estava apenas vestida com roupa íntima e uma camisa masculina. Ah Deus, que ideia ele estaria formulando em sua cabeça maníaca?

   Pela hostilidade palpável que eu sentia nele, com certeza era a pior de todas.

   - Pegue suas coisas – ele disse, num tom que sugeria torturas para mais tarde, a voz capaz de congelar um vulcão. – Vamos embora.

   Juro Sr. Albert, que em nenhum momento passou por minha cabeça desobedecê-lo. Eu tinha medo de que o estrago fosse muito grande se ele explodisse.

   Não percebi Leo se levantar, mas de repente ele estava bem atrás de mim. Desperto e desconfiado.

   - Quem é esse cara, Lidy? – perguntou, fitando Felipe como se avaliasse um adversário.

   Oh Sr. Albert, por que os deuses insistem em tirar uma da minha cara? Será que eu sou tipo o bobo da corte do paraíso? Quanta maldade, galera. Dá uma folga.

   Felipe parecia prestes a crescer 3 metros e ficar verde. Estava em dúvida entre o Hulk e o Godzila, mas ambos iam causar problema.

   Respirei fundo e tentei pensar numa solução...mas não deu. Não tinha ideia do que fazer com aqueles dois.

   - Vamos Lidia – Felipe repetiu, ignorando Leo propositalmente. – Pegue suas coisas e vamos. Não tenho o dia todo.

   - Felipe – comecei,mas Leo me interrompeu.

   - Como é que é? – perguntou, irritado. – Quem você pensa que é para falar com a Lidia desse jeito?

   Ao dizer isso, Leo pôs as mãos no meu ombro de forma possessiva.

   Ai Deus.

   Só tive tempo de fechar os olhos e sentir que era puxada para frente. Felipe me pegou pelo braço e praticamente me jogou para trás antes de avançar para Leo.

   - Não ouse tocar nela – disse, arrastando as palavras e fazendo com que elas soassem quase como um rugido. – Não ouse tocar nela nunca mais.

   - Como você se atreve?! Lidia não reclamou, reclamou? Tocarei nela enquanto ela consentir e você não tem nada a ver com isso!

   Comecei a tremer, mas não era de frio, apesar de estar bem gelado ali no corredor. Por favor, Deus, não permita que os dois briguem.

   Até por que nenhum dos dois tinha motivo para brigar. Leo era meu ex e Felipe...bom, eu pensei ter posto um fim naquela história quando deixei sua casa. E além do mais, ele nem gostava de mim.

   - Desça Lidia – Felipe disse, sem tirar os olhos de Leo. – Alfie está no carro esperando por nós. Vá logo.

   Não me mexi. Não deixaria os dois ali até que eles parassem de se olhar com uma fúria assassina.

   - Lidia não vai a lugar nenhum! – gritou Leo. – Ela vai ficar aqui comigo!

   - Não, ela não vai – replicou Felipe, frio.

   Leo tentou passar por Felipe para chegar a mim, mas Felipe se interpôs entre nós. Por favor, acalmem-se! Quis dizer, mas minha boca estava seca.

   - Ande Lidia – Leo disse, tentando outro tipo de abordagem. – Volte para dentro. Eu disse ontem quando que iria cuidar de você. E vou.

   Leo não deveria ter dito isso...

   Eu não vi o punho e, aparentemente, nem Leo. Não até que ele estivesse enterrado na sua cara.

   Sério, Sr. Albert, parecia que eu estava vendo um documentário do Animal Planet ao vivo. Aqueles dois pareciam leões lutando pela fêmea.

   O que não me deixou lisonjeada, só para você saber.

   Afinal, não tem nada de lisonjeiro em ser um prêmio a ser disputado por dois adolescentes cheios de hormônios.

   Leo não chegou a cair, mas foi quase. Ele se endireitou e partiu para cima de Felipe, mas eu me meti no meio. Já bastava!

   - Chega! – disse. – Parem os dois. Vocês estão sendo ridículos!

   Leo baixou os olhos, envergonhado. Ele sabia que eu detestava brigas daquele tipo. Mas Felipe continuava do mesmo jeito, olhando-nos com desprezo.

   Percebi que seria mais fácil convencer Leo a me deixar ir com Felipe do que o contrário. Felipe era sempre irredutível e eu não queria que os dois se machucassem. Além do mais, Leo era menor e mais novo, podia acabar saindo machucado e nem tinha nada a ver com a história. Mais uma vez, a culpa é toda minha por tê-lo metido nisso.

   - Leo, - disse, virando-me para ele e olhando-o com carinho. – Eu tenho que ir com Felipe – apontei o troglodita atrás de mim. – Nós temos umas coisas para resolver.

   - Mas – ele começou, mas eu não o permiti continuar.

   - Não se preocupe comigo, Leo. Eu sinto muito mesmo, não queria que nada disso tivesse acontecido. Você está muito machucado? – perguntei, tocando-lhe o rosto. Seu olho esquerdo estava vermelho e começando a inchar.

   Eu quase senti Felipe se retesar atrás de mim, mas ignorei-o.

   - Está tudo bem comigo, pequena – ele respondeu, esboçando um sorriso e colocando sua mão sobre a minha. – Não sou feito de porcelana como você. Realmente prefiro que fique aqui comigo, não confio nesse cara.

   - Eu sei – sussurrei, mas era claro que Felipe estava escutando. – Ele tem mesmo cara de maníaco. Mas não vai fazer nenhum mal para mim, prometo.

   - Não prometa por ele, Lidia.

   - É que eu sei que ele não vai me machucar – não mais do que já machucou, acrescentei mentalmente. Afinal ele apenas arrancou meu coração do peito, fez picadinho dele e colocou de volta.

   Felipe pigarreou, deixando claro que sua paciência estava no limite.

   - Tenho que ir – disse, beijando-o nos lábios rapidamente. É isso aí, queria mesmo que Felipe visse que eu não ia ficar chorando por ele. Mesmo que eu realmente fosse ficar chorando por ele, mas ninguém precisa ficar sabendo disso, certo? – Você pode pegar minhas coisas? Eu te ligo depois.

   Eu já sentia calor, tamanho era o fogo da ira do Felipe atrás de mim.

   Ele me puxou para longe de Leo quase imediatamente. Percebi que o beijo fora demais. Eu o tinha provocado além da conta e ele ia me fazer pagar.

   Tremi.

   Leo entrou para pegar minhas coisas, mas eu resolvi fugir do jeito que estava mesmo. Confesso que estava com muito medo mesmo de enfrentar Felipe e pensei que o melhor fosse sair correndo.

   É claro que essa ideia não seu certo. Não sei por que eu ainda me dou ao trabalho.

   O resultado era que eu estava descalça e usando apenas uma camisa e Felipe me alcançou no segundo andar.

   - No que você estava pensando? – perguntei antes que ele dissesse qualquer coisa.  – Que veio fazer aqui?

   - Buscá-la, lógico – ele respondeu, apertando meu braço para que eu não pudesse fugir de novo. Vi que ele segurava minhas coisas, que Leo colocara numa sacola. – Não vou deixar você me fazer de idiota, garota.

   - Eu não estou te fazendo de idiota, Felipe, você já nasceu assim!

   - Cale essa sua boca antes que eu a cale.

   - Cale-se você! Você não tinha o menor direito de vir aqui e de bater no Leo e... –

   - Não tinha?! Você é minha. Não vou deixar que fuja de mim pra ir se agarrar com o primeiro que aparecer na sua frente.

   Arregalei os olhos. Não dava para acreditar no que ele estava dizendo. Nem me importei de ser acusada de ir me agarrar com o primeiro que aparecesse. Por que não era totalmente mentira. O que me deixou possessa foi ele dizer na cara dura “você é minha”. Com quem ele pensava que estava falando?!

   - Como assim eu sou sua? Você tá louco? Caiu e bateu a cabeça? Desde quando você decidiu isso?

   - Desde ontem. – respondeu ele, simplesmente.

   - Você está louco. Resolveu isso ontem, é?

   - Eu não resolvi nada. Você é minha e sabe disso.

   - Como é que é?!

   - Você me ama. Então você é minha – disse, simplesmente.

   Sinceramente, Sr. Albert, não dá pra acreditar.

   Eu nunca senti uma vontade tão intensa de machucar alguém. Como ele ousava usar meus sentimentos contra mim? Como ele ousava tirar proveito deles? Meus sentimentos tão ingênuos e sinceros...

   - E você? – perguntei, num ato insano de coragem. – É meu?

   Ele olhou dentro dos meus olhos, mas não entendi seu olhar. Era quase...atormentado. Como se ele estivesse sofrendo.

   Com certeza era a minha imaginação fantasiando de novo. Afinal, a mártir ali era eu.

   Continuamos em um longo e incômodo silencio enquanto esperava que Felipe respondesse minha pergunta.

   Então ele finalmente disse, numa voz completamente desprovida de emoção:

   - Não, não sou seu.

   Continuei encarando-o. Não acreditando em suas palavras e ao mesmo tempo sabendo que nunca poderiam ter sido outras.

   Queria que um buraco se abrisse no chão e me tragasse. Queria não ter de olhar naqueles hipnotizantes olhos verdes nunca mais. Queria morrer ali mesmo para nunca ter de passar pela humilhação de vê-lo negar-me o amor que eu tanto precisava.

   - Mas você me ama. E isso a torna minha. E agora eu vou te levar comigo. Seu lugar é ao meu lado.

   Não suportei. Juro que tentei, Sr. Albert, mas simplesmente não deu. As lágrimas não pediram minha permissão para fluir daquele jeito. Os soluços incontidos não me permitiam respirar direito. Meu corpo tremia. Era patético.

   Felipe me segurou contra seu corpo, tentando me controlar. Mal ele sabia que nunca mais eu conseguiria ficar calma. Eu estava dilacerada por dentro. Mas no fundo eu sabia que não podia culpá-lo. A culpa era toda minha. Ele nunca pediu meu amor, nunca. Eu que fui tola o bastante para oferecê-lo.

   Felipe acariciava meus cabelos e murmurava alguma coisa no meu ouvido. Não conseguia entender, parecia outra língua. Francês, alemão?

   Não me importava.

   Deixei Felipe me abraçar cada vez mais, apesar de aquele contato acabar comigo. Eu sabia que seria ainda pior ficar longe dele.

   Ele me pegou no colo e começou a descer as escadas. Chegamos lá fora e, se alguém achou estranho um menino super sexy de 18 anos estar carregando uma garota esquisita, chorona e vestindo apenas uma camisa, eu não reparei.

   Ele me colocou no banco de trás do carro com cuidado e depois entrou atrás de mim, despindo o casaco e cobrindo-me delicadamente com ele. Disse algo para Alfie, mas eu não prestei atenção. Depois virou-se para mim e me fez deitar em seu colo. Durante todo o trajeto, ficou acariciando meu rosto e meu cabelo. E eu não opus resistência.

   Talvez ele estivesse certo. Talvez eu fosse mesmo dele.

   Talvez Leo também estivesse certo. Talvez eu fosse mesmo de porcelana, para quebrar tão facilmente.

   Quando chegamos na casa do Felipe, eu já havia tomado uma decisão. Ia terminar tudo com ele de uma vez, ainda que isso me doesse, afinal, doeria mais continuar com ele sabendo que nunca ia ser amada de volta, e ia ligar para o meu pai e pedir para morar com ele. Não receberia um não como resposta, já que eu sou menor de idade e ele, querendo ou não, é responsável por mim.

   E eu definitivamente não tentaria esquecer Felipe mergulhando de cabeça em outra relação. Seria idiota e acabaria tanto com Leo quanto comigo.

   Além disso, seria egoísmo.

   E, eu acabei de decidir isso também, a partir de hoje, não serei mais egoísta.

   - Vamos, Lidia – Felipe disse, empurrando-me delicadamente para dentro da casa.

   Deixei que ele me levasse, mais tarde teria aquela conversa com ele. Por que não aproveitar sua companhia sem brigas só mais um pouquinho?

   Quando chegamos na sala, comecei a ouvir algumas vozes exaltadas que vinham da cozinha.

   - Você não tinha esse direito! – uma mulher gritou. Apesar da voz alterada, eu a reconheci como a voz da mãe do Felipe.

   Olhei para ele. Felipe parecia desconfortável. Segurou meus ombros com um pouco de força.

   - Ah, é? – uma voz claramente masculina disse, debochada – Quer dizer que eu não tenho mais o direito de cuidar dos meus filhos?

   - Você não está cuidando! Você está querendo controlar a vida deles e a minha!

   - Você é minha esposa e eles são meus filhos, eu posso fazer isso!

   - Não, não pode! Você perdeu esse direito quando resolveu não fazer mais parte desta família.

   - Ah, então eu não posso mais ser parte da vida dos meus filhos só porque cansei de você?

   - Você os largou antes mesmo de me largar, você nunca se importou com eles. Eu quero que saia daqui e não apareça nunca mais. E quero que conserte o que fez com seu filho!

   Senti que Felipe se retesava, seus olhos estavam nebulosos, como se neles se formassem uma tempestade. O verde brilhante agora era escuro, quase cinza, opaco.

   - Você realmente acha que eu vou deixar que meu filho perca tempo com uma qualquer? Ele é um Madson, pelo amor de Deus. Eu cumpri apenas com a minha obrigação de proteger meu filho de interesseiras!

   Congelei. De quem ele estava falando? De mim?

   - Não interessa o que essa menina é ou não é. Ela faz meu menino feliz, coisa que ele havia deixado de ser a muito tempo. E você nem a conhece, nem sabe que tipo de pessoa ela é!

   - Você não deveria defendê-la desse jeito, Eliza – o homem disse, com um tom de voz mais baixo, irônico. – Sabe muito bem de quem ela é filha.

   - A menina não pode ser julgada pelas atitudes da mãe.

   - Pensei que você, de todas as pessoas, concordaria comigo. Pense, Eliza, a mãe dessa menina foi a mulher que mais te fez sofrer. Por culpa dela você é essa mulher amargurada e azeda.

   - Você está enganado, Heitor. Não foi essa mulher que me fez sofrer, foi você. Poderia ser com qualquer outra que a dor seria a mesma.  – Eliza soltou um suspiro. – Homens! Sempre gostam de colocar a culpa de suas fraquezas nas mulheres. Você escolheu me trair! Você escolheu acabar com esse casamento! Clara Brazzi foi sua amante, sim, mas também foi mais uma vítima.

   Ai. Meu. Deus.

   Clara Brazzi...quantas Claras Brazzis eu conheço?

   Só uma.

   Droga.

   O que a mamãe foi fazer?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Enfim, é isso. Não me matem, ok? Beijos!