Trabalho Escolar: Diário de Lidia Brazzi escrita por Juliiet


Capítulo 25
Dia 12, sábado, 13 de agosto. (parte 2)


Notas iniciais do capítulo

Gente, eu ia postar a parte 2 ontem, mas ela não ficou do jeito que eu queria e eu tava tão cansada que caí desmaiada na cama. Hoje eu tentei reescrever, mas mesmo assim, ficou ruim =/
Prometo que o próximo capítulo é melhor, ok?



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   Nós dois ficamos estáticos.

   Por favor, Sr. Albert, diga que não é verdade, que eu não disse aquilo, aquela palavrinha tão pequena, mas tão cheia de significado, por favor, diga pra mim que eu não disse aquilo, diga...

   - Você me...ama? – ele perguntou, com o nariz no meu cabelo. Senti sua respiração na minha pele. Os arrepios que só ele despertava em mim começaram a percorrer meu corpo, mas eu o empurrei.

   - Saia daqui – disse, tentando parecer fria. Hm, acho que eu nunca vou ganhar um Oscar.

   - Lidia, me responda – Felipe tentou segurar meu braço, mas eu o afastei.

   - Tá querendo deixar uma mancha roxa no meu braço? – perguntei, dessa vez com a voz carregada de ironia. – Saia daqui e me deixe em paz.

   - Olhe aqui, Lidia, esta casa é minha e – ele começou, irritado.

   - Então fique nessa porcaria de casa! Quem vai sair sou eu! – interrompi.

   Dizendo isso, peguei minha mochila e saí correndo por ele, tão de repente que ele não teve tempo de fazer nada.

   É claro que não me iludi, Sr. Albert. Sabia que se ele viesse atrás de mim, eu seria presa fácil, então me escondi nuns arbustos no quintal.

   Patético.

   Só que...

   Ele não veio, Sr. Albert.

   Não veio.

   Eu sabia que iria ser assim quando eu confessasse meu amor. Só que esse conhecimento não abrandou a dor de ter meu coração rasgado.

   Ainda fiquei ali, escondida nos arbustos, por horas. Como uma tola, esperava que Felipe saísse à minha procura, me estreitasse em seus braços e declarasse amor de maneira sincera e apaixonada.

   Ainda me espanto com a minha idiotice, Sr. Albert, o senhor não é o único.

   Finalmente, levantei-me quando estava quase na hora do almoço e saí de lá. Fui andando pelo bairro sem rumo. Eu não tinha lugar nenhum para ir. Não podia ir para casa e não ousaria perturbar Renata de novo.

   O que diabo eu iria fazer?

   Preferia vender meu rim a voltar para a casa do Felipe. Preferia morrer a ver seu desprezo. Ou pior, sua compaixão.

   Era hora do almoço, mas eu não estava com fome. Continuei andando e andando sem objetivo nenhum até que reparei que alguém vinha em minha direção. Levantei os olhos e vi Christian olhando para mim com um sorriso enorme.

   - Ei garota! – ele chamou.

   Corri até ele.

   - Oi Christian – cumprimentei, fazendo de tudo para manter a tristeza fora da minha voz. Uma ideia maluca começava a se formar em minha cabeça.

   - Olá Lidia – ele disse, charmoso. – Estava indo para a sua casa agora.

   - Minha casa? – ecoei. – Não, não. A casa não é minha, é do Felipe.

   - Mas você é a garota dele, não é?

   - Era. Não mais.

   Na verdade, acho que nunca fui.

   - Oh, eu sinto muito.

   - Não sinta. Simplesmente não era para ser. Felipe e eu somos muito diferentes.

   Eu estava tão ferrada e mal paga, sem ninguém a quem recorrer, que nem ligava mais para o pedido cara de pau e abusado que ia fazer para um menino que eu mal conhecia.

   - Christian... – falei com voz macia, tentando ser persuasiva. – Você poderia me fazer um favor?

   - Claro! – ele disse, sorrindo.

   Hm, talvez funcionasse. Ele parecia ser tão legal...

   - Posso passar uma noite ou duas com você?

   - O QUÊ?!

   Hm, ok, talvez eu tenha sido direta demais. Acho que ele não estava entendendo.

   E também não é o que você está pensando, Sr. Albert. Eu sou só uma sem-teto que quer um lugar para passar a noite. Expliquei tudo para ele, dizendo que eu tinha sido expulsa de casa e depois fui para a casa do Felipe, mas que agora a gente tinha brigado e eu não tinha para onde ir.

   Apesar de saber que Felipe e eu não brigamos. Ele só descobriu que eu o amo.

   O que é mil vezes pior.

   - Ah sim – ele disse, depois que eu terminei. – Quer dizer que Felipe também a expulsou de casa?

   - Não exatamente. Mas não dava mais para eu ficar lá.

   - Entendo. – ele disse. – Bom, eu estou num hotel, mas não vejo nenhum problema em você ficar comigo lá. Vai ser um prazer, aliás.

   - Sério mesmo? – dei um abraço nele. – Você é o cara! Mas não vai ficar pensando besteira, ok?

   Ele abriu um sorriso que ia até as orelhas e me levantou do chão.

   - Vamos menina, vou cuidar de você agora – disse e fomos até onde estava sua moto. – E eu nunca pensaria besteira, até porque o Felipe me mataria se eu encostasse em você. Foi o que ele deixou bem claro naquele dia que eu te dei uma carona.

   - Espera aí – eu disse, parando subitamente. – Você não pode dizer uma palavra disso para o Felipe, ok?

   Ele me olhou por alguns segundos, provavelmente pensando se valia a pena se indispor com o primo dele por minha causa, até que disse:

   - Tudo bem, pode contar com a minha discrição.

   Bom, talvez eu não seja a garota mais sensata do mundo, mas pelo menos agora eu não ia dormir debaixo da ponte.

   Christian dirigia de modo meio irresponsável (é de família, Sr. Albert, só pode!), mas eu relevei. Não se morde a mão que te alimenta.

   Chegamos num hotel bem bonito no centro. Já havia passado por ali algumas vezes e tudo. Mas ao entrar no saguão, não reparei em mais nada, porque só conseguia lembrar da turva manhã de ontem, quando Felipe me levou para aquele outro hotel.

   Nós tivemos uns desentendimentos, mas depois, foi tão perfeito, tão lindo! Eu juro que, se eu tivesse deixado Felipe continuar, se nós tivéssemos ido até o fim...eu não teria me arrependido.

   Não estava entendo o que estava acontecendo comigo naquele momento, mas talvez eu estivesse arrependida de não ter simplesmente...você sabe.

   Droga, eu devia ter ido para a cama com ele!

   Calma, Sr. Albert, respire fundo. Sua aluna não tem mais jeito, eu sei. Mas a culpa de tudo isso é do Felipe e...

   Ok, chega de pensar nele.

   Christian e eu subimos até seu quarto. Era bem espaçoso e decorado com bom gosto.

   - Seja bem vinda à minha humilde e temporária residência – Christian falou com um floreio.

   - Muito obrigada por me acolher – disse, entrando no belo aposento.

   Eu queria muito tomar um banho, então Christian mostrou-me o banheiro e onde ele guardava seu shampoo. Entregou-me uma toalha e, quando eu reparei que não tinha mais nenhuma roupa limpa na mochila (só meus cadernos, alguns livros, meu celular e este diário) ele tirou um vestido florido e bonito do armário.

   - Onde você arrumou isso? – perguntei, segurando o vestido na frente dele.

   - Ah, é de uma namorada.

   - Eu não sabia que você tinha uma namorada. Ela não vai se irritar por você me emprestar?

   - Em primeiro lugar, eu não tenho uma namorada. Tenho algumas. E não, a que deixou esse vestido aqui estava de passagem e já foi embora. Duvido muito que ela vá se incomodar.

   - Ah, entendi – disse. O primo do Felipe era um daqueles safados mulherengos. Acredite-me, eu nem estava chocada. – Você é tipo um garanhão, não é? Um sedutor de mulheres inocentes.

   Rimos.

   - De mulheres, sim. Inocentes já é outra coisa.

   Rimos mais ainda.

   - Você é péssimo mesmo. Acho que vou trancar a porta do banheiro.

   - Sábia decisão.

   Ri e entrei no banheiro.

   Trancando a porta, claro.

   Por que eu não podia me divertir com o Felipe como fazia com o Christian? Por que não podia ser só amizade? Sem aquela tensão toda e sem meu coração dar uns solavancos malucos nos momentos mais inconvenientes.

   Romance sempre estraga tudo.

   Depois que eu terminei meu banho, coloquei o leve vestido florido (sem nada por baixo, já que eu tinha lavado minha roupa íntima e ela estava secando no banheiro). Christian disse que ia sair para resolver umas coisas e que talvez demorasse. Como eu estava morrendo de tão cansada, resolvi me deitar naquela cama macia dele e tirar um cochilo.

   A cama de Christian tinha um cheiro delicioso, mas não era o cheiro que eu queria, que eu ansiava por sentir.

   Chorei antes de dormir, é claro. Meu coração estava sangrando por causa daquele babaca do Felipe e eu não podia fazer nada a respeito. Então foi conformada que eu derramei todas aquelas lágrimas e dormi.

   Acordei horas depois com uma fome demoníaca.

   Eram oito horas da noite e eu não havia comido nada durante todo o dia. Christian ainda não havia voltado, mas ele havia dito que eu podia pedir qualquer coisa e colocar na conta do quarto dele. Eu pensei em pedir o serviço de quarto, mas queria esticar um pouco as pernas. Então fui até o banheiro e peguei minha calcinha e meu sutiã (agora secos) e vesti-os por baixo do vestido.

   Penteei os cabelos com um pente que achei perto da pia e escovei os dentes com os dedos (medidas desesperadas, ok?), calcei os sapatos da escola, que não combinavam em nada com o lindo vestido florido, mas eram as únicas coisas que eu tinha para pôr nos pés. Peguei meu celular e meu diário e saí.

   Fui até o restaurante do hotel e pedi um prato de macarrão. Comi tudinho sem fazer porcaria (pode se sentir orgulhoso de mim, Sr. Albert). Depois do jantar, saí andando pelo hotel, passei pela piscina, pela quadra e pelo jardim. Estava uma noite linda e eu queria muito que Felipe estivesse ali.

   Idiota, idiota, idiota!

   Passei mais de uma hora zanzando sem reparar em nada. Até que resolvi voltar para o quarto. Talvez Christian já tivesse voltado.

   Subi e percebi que havia esquecido a chave. Droga! Devo ser mais babaca do que pensei.

   Ouvi uns barulhos dentro do quarto e ia bater na porta quando...quando percebi o que eram aqueles barulhos.

   É exatamente o que o senhor está pensando.

   Havia duas pessoas ali dentro. E não estavam tomando chá.

   Ah merda, merda, merda.

   Não dava para acreditar naquilo.

   Afastei-me da porta quando ouvi as coisas esquentarem cada vez mais dentro do aposento.

   Eca.

   Christian era um safado.

   Um safado bonito e legal, mas ainda assim um safado. E eu gostava dele apesar disso, afinal todo mundo tem lá seus defeitos, quer dizer, olhe para mim! Tenho mais defeitos do que consigo contar nos dedos. Das duas mãos.

   Então eu tinha bastante certeza de que Christian e eu poderíamos ser bons amigos, afinal, ele até me deu abrigo! Mas certamente não naquela hora. Não enquanto ele estava ensinando (ou aprendendo, nunca se sabe) algumas posições do kama sutra.

   Ah não, eu não ouvi isso.

   Tinha mais de uma garota lá dentro. Ou então uma com incrível capacidade de modificar a voz.

   Eca de novo.

   Bom, era melhor eu sair de lá. Quer dizer, eu não sabia que horas aquela orgia ia acabar e definitivamente não estava a fim de ficar escutando.

   Até porque, de um jeito EXTREMAMENTE doentio, aqueles...hm...ruídos estavam fazendo eu me lembrar do que tinha acontecido naquele outro quarto de hotel com o Felipe.

   Ok, Lidia, você está pirando, alguém deve ter colocado vodka no seu macarrão. Hora de dar no pé.

   Entrei no elevador e desci até o saguão. Sentei num daqueles sofás enormes que fazem a gente se sentir gorda, já que afundam pra caramba. Como se eu já não estivesse pra baixo o suficiente. Fechei os olhos e apertei as têmporas, sentindo uma dor de cabeça se aproximar. Droga, agora eu era sem-teto novamente, pelo menos até Christian terminasse aquele....Ah quer, saber? Talvez fosse melhor eu ir direto para um Centro Juvenil ou coisa assim.

   Que decadência.

   Mas que saco! Todas as minhas coisas estavam naquele maldito quarto e, pra variar, percebi que meu celular estava sem bateria. Não tinha nada que eu pudesse fazer. Eu só estava com a roupa do corpo (que nem era minha) e aqueles sapatos horríveis da escola. Além desse diário estúpido e de um celular inútil.

   Ah, Sr. Albert, e se Christian passasse a noite inteira naquilo? Onde eu ia passar a noite?

   Ei, tinha sim uma coisa que eu podia fazer! Eu podia ligar para o Leo! Tipo, eu não tinha certeza se ele tinha voltado ou não, mas ele nunca havia me ligado enquanto estava longe. Só me mandava uns e-mails de vez em quando. Que eu quase nunca respondia por pura preguiça.

   Ah, se arrependimento matasse...

   O único problema é que não deu tempo de eu pegar o número dele com a Paula. Eu teria de ligar para lá então e pedir o número para ela. Droga!

   Desculpe, Sr. Albert, eu sei que nesses tempos parece que minha boca é o esgoto mais sujo da cidade, mas o senhor entende, não é? Em decorrência dos acontecimentos que pautam minha vida... 

   Fui até a recepção e pedi para usar o telefone. Telefonei para a casa de Felipe rezando para todos os santos para que ele não atendesse ao telefone.

   - Alô? – uma forte voz masculina atendeu. Não era Felipe, graças a Deus, mas também não era ninguém que eu conhecesse.

   - Eu gostaria de falar com a Paula, por favor – pedi.

   - Quem está ligando para minha filha uma hora dessas?! – putz! Era o pai do Felipe e da Paula quem estava na linha. Que merda! Por que eu tenho de ser tão azarada? Por quê?

   - Desculpe senhor, - disse, hesitante. – Eu sou...érr...uma amiga...da faculdade!

   - Vou chamá-la – declarou, ainda num tom que fez meu sangue gelar. Agora sei de onde Felipe desencavou tanta arrogância.

   Depois de alguns momentos, Paula atendeu:

   - Oi, quem é?

   - É a Lidia.

   - Lidia! Onde você está? Por onde você esteve o dia todo? Você está louca em sumir assim desse jeito?!...

   - Calma, Paula – disse, com medo de que Felipe ouvisse a conversa. – Escuta aqui, eu preciso da sua ajuda.

   - Não, sua pequena maluca, você precisa é da ajuda de um psiquiatra.

   - É sério. Eu só preciso que você me dê o número do Leo. É urgente.

   - O quê?! Só se eu quiser morrer e, acredite, não quero. Olha, me diz logo onde você está e eu vou aí te pegar...

   - Por favor, Paula! Eu preciso do número do Leo, é coisa de vida ou morte!

   Ela respirou fundo.

   - Você está vindo com chantagem emocional para cima de mim, não é? Pois bem, que seja, vou pegar o número para você, mas aí você vai me dizer onde está, certo?

   Era o melhor que eu ia conseguir.

   - Certo.

   Paula logo me disse o número e eu anotei no braço com a caneta da recepcionista.

   - Então, onde você está? – ela perguntou.

   - Estou num hotel com Christian – respondi, já ansiosa para desligar.

   - Christian? Que Chri...AI MEUDEUS, VOCÊ ESTÁ COM O CHRIS? NUM HOTEL? Lidia!...que hotel?! Quando foi que você –

   - Sinto muito, preciso desligar agora. Obrigada, tchau!

   Bati o telefone antes que ela terminasse a frase. E então disquei o número que estava escrito no meu braço. A recepcionista estava me lançando olhares de ódio, do tipo “saia daí pirralha, quero usar meu telefone”. Ah, paciência.

   Leo atendeu no terceiro toque. Eu sabia que era ele, com aquela voz inconfundível. Paula estava certa, era sexy. Eu quase havia me esquecido.

   - Leo?

   - Quem...Lidia?!

   - É...então, você voltou?

   - Sim, voltei. Lidia, como você está? Eu andei tentando falar com você desde ontem, mas... –

   Interrompi.

   - Escuta, Leo. Eu sei que não posso pedir isso para você, mas é que eu estou num aperto. Daqueles. E pensei se talvez você não pudesse me ajudar.

   Ele riu. Que saudade daquela risada.

   - Você está sempre metida em problemas, não é minha pequena?

   - Mais ou menos. As coisas ultimamente pioraram. Haha. O negócio é o seguinte: eu sou uma sem-teto.

   - Como é que é?!

   - É isso mesmo. Eu não tenho nem onde ficar esta noite e –

   - Do que você está falando? Vou te pegar agora, onde você está?

   Obrigada Deus, obrigada.

   - Na verdade você não precisa vir me pegar, sério. Só me diz onde você está.

   Ele me deu um endereço.

   - Estou morando sozinho – explicou. – Meus pais não...puderam voltar.

   - Beleza, então! – disse e desliguei.

   Fazia uns seis meses que eu não via Leo. Sentia saudade dele. Tipo, ele era meu ex-namorado, mas também era meu melhor amigo.

   Roubei uns trocados da mesa da recepção (isso mesmo, estou me tornando uma delinquente juvenil) e corri para fora para ver se ainda passava algum ônibus por ali para me levar até o apartamento de Leo.

  Eram quase onze horas quando finalmente passou um ônibus. O caminho foi bem rápido e eu logo me vi parada em frente a um antigo prédio de tijolos de três andares (sem elevador).

   Interfonei para Leo e ele abriu a porta. Seu apartamento era (adivinha?) no terceiro andar. Quando eu finalmente terminei de subir aquelas escadas assassinas, Leo, que estava no corredor a minha espera, me recebeu com um abraço de quebrar as costelas.

   Ele enterrou o rosto no meu cabelo, como se estivesse sentindo meu cheiro e me apertou ainda mais. Eu o abracei com força e tive vontade de chorar. Ele finalmente soltou meu corpo e me deu uma boa olhada.

   - Você está linda – ele disse, com os olhos brilhando. Adorava como os olhos dele brilhavam. Eram sempre tão sinceros! Mostravam tudo o que ele estava sentindo, não havia naquele olhar nenhum espaço para dissimulação.

   - Você também não está nada mau – disse. E esse foi o maior eufemismo. Leo sempre foi bonito, mas caramba, agora ele estava de arrasar. Qual é a desses caras que somem por um tempo e voltam cheio de...bem, músculos?

   Mas seus olhos castanhos, da cor dos seus cabelos curtinhos, seu nariz torto e seu sorriso fácil continuavam os mesmos das minhas lembranças.

   - Senti tanto a sua falta – foi dizendo – e então, quando chego aqui, descubro que você saiu de casa, que está morando em outro lugar e que...Lidia, você me deixou morto de preocupação!

   - É meu hobby, eu acho. Deixar as pessoas preocupadas.

   Leo me beijou.

   Foi de repente, nem tive tempo para vê-lo se aproximando.

   Foi um beijo bom, como em todas as outras vezes em que nos beijamos.

   Só não acendia faíscas em todo o meu corpo.

   Passei as mãos por seu pescoço e o beijei de volta. O que mais eu poderia ter feito? Ele era meu ex-namorado fofo que eu não via há muito tempo e que estava dando um teto para a delinquente aqui, afinal de contas.

   Além do mais, eu o amava. Como um grande amigo, sim, mas era amor do mesmo jeito. E, apesar de todo o tempo que se passou, eu estava acostumada aos beijos dele. Não eram cheios de volúpia e desejo como os de Felipe, não era um beijo com intenção de me seduzir. Era apenas um beijo. Um beijo seguro, não como os beijos perigosos e cheios de paixão que eu havia experimentado nos últimos dias.

   E eu gostava de beijar Leo. Ele tinha um cheiro bom. E eu não corria o risco de me perder, de não ser mais dona da minha vontade.

   Ele foi me empurrando, sem parar de me beijar, até seu apartamento. Entramos e ele bateu a porta com um chute.

   Fui pressionada contra a parede e Leo deslizou suas mãos por minha cintura, quadril, costas, barriga. Deu uns beijinhos no meu pescoço que fizeram...cócegas e eu ri.

   Então nos soltamos e ele perguntou se eu estava com fome. Eu disse que não. Perguntou se eu queria algo mais confortável para vestir e eu disse que sim. Então ele me deu uma velha camisa e eu me troquei. O apartamento dele era pequeno e não tinha muitos móveis. Na sala-quarto só tinha um sofá e uma TV.

   Deixei claro que não estava para conversas. Ele também não, então decidimos deixar para conversar no dia seguinte.

   Ficamos assistindo a uns programas engraçados na TV, deitados no sofá, até que Leo caiu no sono. Não sem antes dizer “eu vou cuidar de você agora, Lidia”.

   Eu sei que é algo horrível de se admitir, mas você já percebeu, Sr. Albert, que eu pulei na mão de três caras em apenas um dia? Tipo, não foi tecnicamente do jeito errado, mas enfim, o senhor entendeu.

   O engraçado era que, nem naquele hotel de luxo, nem naquela enorme e magnífica mansão do Felipe, eu me sentia tão em casa como naquele apartamentinho de dois aposentos. No entanto, sentia uma falta enorme de Felipe.

   Sei que pode parecer exagero, mas eu sentia falta dele como sentiria falta de uma perna, de um braço. Como algo que fosse vital para mim, que fosse parte de quem eu sou. Era quase como se eu precisasse dele, como preciso respirar, comer, viver.

   Fechei os olhos e balancei a cabeça, tentando tirá-lo da minha mente. Desliguei a TV e olhei para o garoto deitado no sofá. Ele era o tipo de cara para mim.

   Eu estava cansada e me juntei a Leo para dormir, abraçando-o com um carinho fraternal. Estava frio e o corpo dele era quentinho.

   Seria legal se nós voltássemos a namorar, sabe, Sr. Albert. Mesmo que meu coração precise se aposentar da carreira de acrobata, já que ele não daria mais cambalhotas.

   Eu precisava esquecer Felipe.

   E seus beijos que me permitiram, por algum tempo, conhecer o céu.


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Notas finais do capítulo

Ah, muito obrigada a JuliaTenorio que indicou minha fic, você é uma fofa!
Beijos pra vocês e eu talvez poste mais um cap mais tarde. :)