Trabalho Escolar: Diário de Lidia Brazzi escrita por Juliiet


Capítulo 15
Dia 7, segunda-feira, 8 de agosto. (parte 2)




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   As lágrimas de dor se confundiam com as gotas de chuva no meu rosto. Meu tornozelo esquerdo estava o dobro do seu tamanho normal e eu tinha pequenos cortes nos braços, nas mãos e no rosto. O uniforme que Renata havia me emprestado de manhã estava arruinado e eu estava tão zonza que tinha medo de desmaiar.

   O buraco em que eu caí era pequeno e raso, mas eu não conseguia me levantar por causa do meu tornozelo. Talvez até estivesse quebrado, com a dor que eu estava sentindo, não duvidei nada.

   O melhor a fazer era gritar por ajuda. E eu gritei, gritei tanto, tanto. Não parava de chorar e a chuva não parava de cair e eu gritava.

   Estava muito longe do colégio, ninguém me ouviria. Mas nem assim eu parei de gritar.

   As horas passaram. O desespero ia tomando conta de mim. Quando o sol começou a baixar e a escuridão foi tomando conta de tudo, eu já estava sem voz, minha garganta ardia e doía e eu comecei a pensar que morreria ali. Sou naturalmente uma pessoa dramática, mas a situação estava mesmo ruim para o meu lado.

   A terra pinicava minha pele, parecia ter entrado em todo lugar. Eu tinha me encostado numa raiz e fechado os olhos, vermelhos e inchados. Passei minhas mãos pelos braços repetidas vezes, tentando aplacar o frio, em vão. Meus dentes batiam e eu estava com dor de cabeça. Para falar a verdade, meu corpo inteiro doía, principalmente meu tornozelo.

   Já podia imaginar as manchetes. “Estudante do ensino médio encontrada morta no terreno da escola”. O que será que mamãe diria? E Fred? E papai, que eu não via há mais de seis meses? Será que eles iriam sofrer? E Felipe? Ele sentiria minha falta?

   Claro que não. Nenhum deles. Nem minha família, nem Felipe nem ninguém. Talvez Renata...É, Renata sentiria minha falta.

   Comecei a chorar mais alto. Que droga! Eu não queria morrer, eu tinha apenas quinze anos! Tinha tanta vida pela frente, tantas coisas que queria fazer...

   E o pior de tudo era pensar no quanto minha morte seria estúpida!

   Enquanto soluçava, pensei ter ouvido um barulho. Seria alguém ou só a chuva? Tentei gritar, mas minha voz não passava de um sussurro. Me desesperei mais ainda, se tinha alguém ali, eu precisava fazer com que me ouvisse.

   Nesse momento escutei uma voz gritar meu nome. Meu coração martelava no peito, tentei gritar de volta, mas era impossível. As lágrimas corriam por meu rosto e, quando tentei me levantar, minhas pernas não me sustentaram e eu caí. Meu tornozelo latejava.

   A voz ia ficando mais distante e eu precisava fazer alguma coisa. Qualquer coisa.

   De repente vi um galho quebrado próximo a mim, agarrei-o e comecei a bater com ele no tronco da árvore mais próxima. O barulho era baixo e um pouco abafado pela chuva, mas era mais alto que minha voz.

   Comecei a rezar. Por favor, quem quer que seja, me ouça, me ouça...

   Fiquei alguns minutos sem ouvir a voz chamar meu nome, mas não desisti, continuei batendo na árvore até meu braço cair ao meu lado e eu não conseguir levantá-lo de novo.

   Era isso mesmo, eu ia morrer ali. Tudo porque sou tão estúpida que tropeço na própria estupidez.

   - Lidia!

   Opa. A voz! Estava bem mais perto dessa vez. Peguei o galho com o outro braço e me pus a bater novamente no tronco. Em minutos ouvi ruídos e Felipe Madson apareceu na minha frente.

   Ele estava lindo, como sempre. Pensei que tinha morrido e Deus, num ato muito misericordioso, havia me mandado para o céu. Mas esse pensamento só durou o tempo entre uma pontada e outra no meu tornozelo.

   E, eu sei, eu digo que ele está lindo toda vez que eu o vejo, mas é a verdade. Ele estava encharcado. Seu cabelo grudava na testa e caía nos olhos e seu uniforme estava ensopado. Sua expressão ao olhar para mim era de horror. Ele parecia estar sofrendo muito.

   - Lidia! – gritou ele quando me viu.

   Correu até mim e se ajoelhou ao meu lado.

   “Você está sujando suas calças” foi o que pensei em dizer para ele, mas não saiu nada de minha boca.

   - Graças a Deus! – Ele exclamou me abraçando tão apertado que eu senti dor. Mas ao mesmo tempo, nunca houve um momento na minha vida em que eu tivesse me sentido melhor.

   - Sua idiota! Estúpida! – ele gritou com o rosto no meu cabelo imundo, ainda com os braços ao redor de mim. – Minha vontade é te dar uma surra! Você tem noção do quanto eu fiquei preocupado?

   Eu senti vontade de rir, juro. Ele estava preocupado comigo! Meu coração se encheu com uma ternura que antes não pensei existir. Eu ainda chorava, mas agora não era apenas por causa da dor e do desespero – também era alívio.

   - Eu tive tanto medo – sussurrei, minha voz era apenas um fiapo, com o rosto colado no seu peito. – Tanto medo, mas agora eu...

   Ele me apertou com mais força, me impedindo de falar, depois segurou meu rosto com as duas mãos e olhou nos meus olhos.

   - Lidia, minha Lidia – ele disse baixinho. Era impressão minha ou ele estava com os olhos vermelhos? – O que você tem na cabeça? Você nunca, NUNCA mais me faça uma besteira dessas, está ouvindo?

   Suas mãos seguravam meu rosto com todo o cuidado e foi então que ele começou a me beijar. Beijou todo o meu rosto. Meus olhos, bochechas, nariz, testa, queixo, orelhas, boca. Toda a pele do meu rosto foi tocada por seus lábios.

   Me senti em chamas, não havia nada melhor do que ser beijada por ele, ainda que fossem beijinhos rápidos e inocentes.

   - Juro – ele disse depois de terminar com os beijos, com a testa encostada na minha e de olhos fechados. – Juro que minha vontade agora é te matar, Lidia. Eu quero matar você.

   Ele dizia isso com uma voz tão terna, que as palavras não faziam sentido para mim. Mas pouco importava. Contanto que ele continuasse me segurando desse jeito...

   - Prometa pra mim – ele disse, abrindo os olhos e me encarando. – Prometa que nunca mais vai me fazer passar por isso. Ande, prometa. PROMETA!

   - Eu prometo... – disse, num fio de voz.

   E então ele começou a me beijar. De verdade dessa vez. Ele me virou para ele e beijou meus lábios furiosamente. Suas mãos corriam por minhas costas, até o pescoço, e eu só não o beijei de volta de maneira tão intensa porque todo o meu corpo estava exausto.

   Quando eu soltei um gemido de dor por causa do meu tornozelo, ele parou de me beijar e pareceu se dar conta do que estava acontecendo. Ele estava agarrando uma garota no terreno baldio atrás do colégio, na chuva. E o pior, a garota em questão, eu, havia passado o dia inteiro ali, com o tornozelo torcido, gritando por ajuda.

   - Vem, vou tirar você daqui. – ele disse e me pegou no colo, como se eu fosse uma criança.

   Encostei o rosto no seu peito e adorei a sensação de estar sendo protegida por ele. Então, agora eu devia minha vida a Felipe Madson, minha vida pertencia a ele. Mal ele sabia que meu coração já era seu...

   Melosa, eu? Nem um pouco.

   Juro, Sr. Albert, eu posso ser patética, idiota e todas essas coisas. Posso saber que Felipe nunca vai gostar de mim do jeito que eu gosto dele e que provavelmente estava só se aproveitando de uma garota indefesa. Mas eu nunca me senti tão bem na vida como eu me senti enquanto ele me pegava nos braços e me tirava dali.

  A última coisa de que me lembro foi Felipe dizendo que era hora de eu fazer uma dieta. Mas tenho certeza que ele só disse isso para implicar comigo.

  E então, eu desmaiei.

   Isso tá virando rotina na minha vida, não é?


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Notas finais do capítulo

Eu adoro esse capítulo, então mandem reviews. Quero saber o que vocês estão achando. Beijooos.