Trabalho Escolar: Diário de Lidia Brazzi escrita por Juliiet


Capítulo 14
Dia 7, segunda-feira, 8 de agosto. (parte 1)


Notas iniciais do capítulo

Ahhh, fiquei tão feliz que a Gleiciane recomendou minha fanfic *-*
Esse capítulo eu vou dedicar pra você, ok? É outro dos meus preferidos :)



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   Ele não foi à escola.

   O covarde, arrogante, prepotente e idiota do Felipe não apareceu na escola.

   Por que ele faltou?

   Por que eu me importo tanto?

   Bom, acho que posso responder a segunda pergunta.

   Há essa altura, até o senhor já deve estar sabendo, Sr. Albert, a grande verdade sobre Lidia Brazzi.

   Ela está apaixonada por Felipe Madson.

   Pois é, ria o quanto quiser.

   Ok, já chega.

   Eu não sei exatamente como aconteceu. Mas sei quando. Foi exatamente no momento em que olhei para ele naquela lanchonete enquanto tomava meu milk shake-pós trauma.

   É, eu sei que não faz sentido nenhum, Sr. Albert, mas quem lhe disse que eu faço sentido? Eu sou Lidia Brazzi, lembra? A garota que sempre faz coisas estúpidas.

   Tudo bem que eu nunca pensei que seria capaz de uma coisa tão estúpida quanto me apaixonar por Felipe, mas mesmo assim. De todas as pessoas no mundo que poderiam se apaixonar por ele, não é de se espantar que a idiota tenha sido eu.

   Bom, é claro que ninguém – além do senhor, Sr. Albert – vai saber dos meus sentimentos por aquele ser desalmado.

   Eu não tenho a menor disposição para ser a piada da escola, Sr. Albert, e pior que isso é se as pessoas tiverem pena de mim. Odeio que sintam pena de mim. Apesar de eu mesma estar sentindo muita pena de mim mesma neste exato momento.

   Como eu pude deixar isto acontecer? Como eu pude deixar Felipe me controlar assim?

   Não. Ele nunca vai saber o que eu sinto por ele, Sr. Albert, nunca!

   Eu não vou permitir que ele zombe dos meus sentimentos nem que os despreze.

   Mas, e se eu der muita mancada? Ele pode descobrir! O que eu preciso é arrumar uma maneira de ficar o mais longe possível dele.

   O que não vai ser tão simples assim, já que estudamos na mesma escola, ele é amigo do meu irmão imbecil e eu vou na mesma viagem que ele e...

   Ai meu Deus! A viagem!

   Não, não pode ser. Eu tinha esquecido completamente da viagem.

   Levantei da cadeira em que estava sentada e pedi ao professor de história – não consegui me obrigar a lembrar o nome dele – para ir ao banheiro.

   - Vá Srta. Brazzi – ele respondeu.

   Passei voando pelo olhar questionador de Renata e corri para o banheiro. Comecei a passar mal.

   Bem, se o senhor acha que eu estou pulando uma grande parte do meu dia, Sr. Albert, eu vou obrigada a discordar.

   Meu início de manhã foi quase que absolutamente normal. Eu acordei e vim para a escola. A única coisa diferente era que eu estava na casa de Renata e que – graças a Deus! – pude enfim tomar um café da manhã reforçado.

   Depois pegamos o ônibus e viemos para a escola, onde eu fiquei sabendo (ouvi meu irmão falar para uma daquelas vagabundas ridículas que costumam cercar os populares do colégio) que Felipe não ia aparecer para a aula.

   Escondi meu desapontamento e segui com Renata para a aula, em que – adivinhe – eu não prestei a menor atenção.

   É, Sr. Albert, eu sou definitivamente um caso perdido.

   Voltando à parte em que eu fui ao banheiro. Eu estava com dificuldade para respirar devido à chocante informação que estava pulsando em minha cabeça.

   Eu vou passar uma semana com Felipe Madson numa estação de esqui!

   Tudo bem que todo o 3° ano vai estar lá, assim como boa parte do corpo docente do nosso colégio, não é como se fôssemos só nós dois. Mas tente fazer um pensamento racional entrar na cabeça de uma pessoa ilógica e com desequilíbrio hormonal. Simplesmente não dá.

   Eu só pensava que iria ficar no mesmo lugar, dia e noite, com Felipe. Nós iríamos nos ver o tempo todo. E coisas poderiam acontecer...

   Como ele descobrir que eu sou a pessoa mais estúpida do mundo a ponto de ter me apaixonado por ele!

   Porque, é claro, nenhuma outra coisa interessante poderia acontecer entre nós, já que ele me odeia.

   Engraçado não é? Gostar de um cara que me detesta.

   Oh, o que eu vou fazer da vida, Sr. Albert?

   Eu sentei na pia e contei até 50. Finalmente pude respirar normalmente e pensar com mais clareza. Com certeza eu conseguiria achar uma saída. Sempre há uma saída. Sempre.

   Bom, sempre havia até eu conhecer Felipe Madson.

   Eu tentei, Sr. Albert, ninguém pode dizer que eu não tentei.

   Assim que saí do banheiro, ao invés de voltar para a classe, fui até o gabinete do Sr. Orsi.

   - Entre – ouvi-o dizer em sua voz desagradável.

   Entrei e me pus em sua frente. Ele estava sentado em sua cadeira e sua escrivaninha estava cheia de papéis.

   - Ahn, Srta.... – ele começou.

   - Brazzi. – falei.

   - Brazzi – ele repetiu, como sempre. – Bem, o que faz aqui? Não deveria estar na aula?

   - Eu pedi a permissão do professor para vir aqui – respondi. Não era bem verdade, a não ser que eu pretendesse usar o banheiro do gabinete do diretor do colégio. – Eu vim porque há uns dias o senhor me de um castigo.

   - Merecido, imagino.

   - Bem, sim e não.

   - Como assim!? – Sr. Orsi parecia perturbado por eu ter insinuado que sua reprimenda não fora justa. Ah faça-me o favor, desde quando torturar os sentimentos de uma garota apaixonada por um cara que não vale um centavo quebrado é justo?

   - Bem, - comecei, procurando ter cuidado com as palavras. – É claro que eu mereço um castigo, não discordo disso, mas é que, acho que seu castigo foi um tanto...impensado.

   Cuidado com as palavras? Esquece.

   - Impensado!? – ele bufou, fazendo sua bigodeira balançar. – Com quem você pensa que está falando, mocinha?

   Respirei fundo e disse:

   - O senhor me deixou de detenção por uma semana por ter chegado atrasada. Até aí tudo bem. Mas o senhor determinou que eu ainda terei que acompanhar o 3° ano na viagem à estação de esqui como uma espécie de empregada! Isso é inadmissível!

   É, tudo bem, eu não tenho muito tato. Não fui muito delicada e certamente não melhorei minha situação perante o Sr. Orsi.

   - Escute aqui, mocinha – ele disse, irritado, enquanto se levantava da cadeira. – Eu decido as coisas por aqui, e eu digo o que é admissível ou não. Você é só uma criancinha rebelde que precisa ter suas asas cortadas. Chamarei seus pais aqui e lhes ordenarei que dêem um jeito em você, criaturinha insolente! Você vai para esta viagem, porque é assim que eu quero que seja. Como empregada, escrava, o que for! Está entendido?

   Olhei para ele, estupefata. Sempre achei o Sr. Orsi um tanto quanto patético, e nunca imaginei que ele pudesse se tornar perigoso quando provocado.

   - Está bem Sr. Orsi – disse, abaixando a cabeça. Será que pioraria muito as coisas se eu o mandasse catar coquinho?

   Calma Sr. Albert, foi só uma brincadeira. Está certo que eu estava com vontade de ver se ele explodiria com a minha sugestão ou só me expulsaria do colégio, mas eu ainda não perdi completamente a cabeça.

   - Volte para a sua sala e não venha me falar de novo sobre este assunto! – disse, voltando a se sentar em sua cadeira.

   Eu assenti e saí depressinha de lá. Esqueci até de pegar um passe.

   Não voltei para a sala e nada do que o senhor disser, Sr. Albert, me fará sentir culpa. Não estava em condições emocionais de lidar com a terceira revolução industrial no momento, não mesmo.

   Então não voltei para a aula de história, e daí? Ao invés disso fui passear no terreno atrás da escola. Aquele mesmo que está abandonado e tomado por aquelas plantas estranhas e aquelas árvores secas.

   E tudo bem, não é o lugar mais seguro para se matar aula, já que você pode tropeçar numa raiz, cair, bater a cabeça numa árvore, ter traumatismo craniano e morrer por edema cerebral e hemorragia interna. E descobririam seu corpo só seis meses depois quando por acaso o zelador da escola estivesse fumando um baseado ali perto.

   Mas eu tinha outras coisas com que me preocupar.

   Como o fato de que, talvez, eu não tivesse que viajar com Felipe, porque talvez, ele não fosse.

   Pensa só. Ele não apareceu na escola hoje. E ele não parecia nada doente ontem. Isso só pode ter uma explicação! Felipe cansou de brincar de escolinha aqui e resolveu ir para uma escola particular renomada, onde deveria estar desde o começo.

   Faz sentido, mas não é muito provável porque eu vi seus amigos na escola hoje, e eu não consigo imaginá-lo mudando de colégio sem sua gangue. Talvez ele tenha viajado ou talvez tenha ficado com tanta raiva de mim que nem quis ver minha cara no colégio hoje.

   Ah, até parece que ele iria deixar de vir ao colégio por minha causa! Eu me espanto com a minha estupidez, às vezes.

   Continuei andando ali, me afastando cada vez mais, quando percebi que tinha começado a chuviscar. Iria chover forte dentro de minutos e era melhor eu dar o fora dali.

   Não corri, fui andando um pouco rápido, divagando sobre meus problemas. Então tropecei numa raiz.

   Não, Sr. Albert, eu não bati minha cabeça numa árvore.

   Eu caí num buraco.

   E torci o tornozelo.

   Haha.

   Já pode parar de rir.


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