Trabalho Escolar: Diário de Lidia Brazzi escrita por Juliiet


Capítulo 12
Dia 6, domingo, 7 de agosto. (parte 1)


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo :)
Infelizmente só vou postar esse hoje, mas espero que vocês gostem.



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   Fui acordada pelo barulho do telefone tocando.

   Acho que vou precisar dizer: odeio ser acordada pelo telefone.

   Resolvi ignorá-lo. Ele insistia.

   Ninguém parecia disposto a atendê-lo.

   Suspirei resignada e me pus para fora da cama. Meus pés se arrepiaram ao tocar o chão frio, mas fiquei com preguiça de procurar um chinelo. Sentia-me tonta e fraca, resultado de ter passado o sábado todo sem me alimentar, e também precisava ir urgentemente ao banheiro.

   Não se pode ignorar a natureza.

   E um banho não seria nada mal. Ainda estava com a mesma roupa de ontem.

   Sou uma porquinha. E só agora havia me passado pela cabeça que talvez Felipe tivesse problemas sérios, quem mais dormiria ao lado de uma garota cheirando a esgoto? Se bem que a pior parte do cheiro já parecia ter se dissipado.

   Minha visão estava meio embaçada e tropecei umas duas vezes enquanto me arrastava escada abaixo para atender ao telefone, que ficava na cozinha.

   - Alô? – disse, e minha voz saiu rouca, arranhada.

   - Eu gostaria de falar com Lidia, por favor – Renata disse do outro lado da linha.

   Pigarreei e disse:

   - Sou eu.

   Ficamos um minuto em silêncio. Me perguntei por que tanta seriedade entre nós.

   - SUA PILANTRA! VOCÊ QUER ME MATAR DO CORAÇÃO? O QUE VOCÊ TEM NA CABEÇA, QUER DIZER, ALÉM DE MERDA?! – Renata soltou num jorro. Precisei afastar o telefone do ouvido.

   Quanta seriedade.

   Suas palavras ressoaram na minha cabeça. O que eu tinha feito? Não fazia o menor sentido.

   Não consegui segurar o riso.

   - Ah e você ainda ri! – exclamou,mas sua voz estava menos enfurecida.

   - Desculpa Rê, mas eu não processo dados antes do café da manhã.

   - Vem tomar café da manhã comigo então. Mamãe está fazendo cookies.

   A proposta era tentadora. Tentadora demais para ser recusada, além disso, eu precisava muito conversar com minha melhor amiga.

   - Certo – disse. – Estou indo. Não acabe com os cookies antes de eu chegar.

   - O.k. – ela disse. – Vem logo!

   Desliguei o telefone e fui beber um pouco de água. Achei um bilhete de mamãe na porta da geladeira. Dizia:

   “Lidia,

 Saí cedo para trabalhar e Fred foi para a casa de um amigo. Você terá de ficar sozinha o dia todo. Não chegarei a tempo para o jantar.

                     Mamãe.

P.s. : Têm almôndegas na geladeira.”

   Eca. Odeio almôndegas.

   Peguei uma folha de papel na mesa da sala e uma caneta e escrevi o seguinte bilhete:

   “Mamãe,

Resolvi voltar para a casa de Renata para não ficar sozinha. A mãe dela me convidou para almoçar. Acho que vou levar meu uniforme de segunda-feira e ficar lá direto.

Lidia.

P.s.: Se precisar falar comigo, ligue para o número da Renata – meu celular está sem bateria!”

  

   Tudo bem, Sr. Albert. Contei duas ou três mentirinhas. E daí? Eu sei que, considerando o tamanho do bilhete, três mentiras são muita coisa. Mas o que eu deveria dizer? Mamãe, vou para a casa de Renata porque preciso falar com ela sobre ter passado a noite com um garoto. Vou pedir emprestado um uniforme dela para ir a escola, pois rasguei duas meias e perdi uma saia (minhas outras saias estão sujas). P.s.: Se precisar falar comigo, ligue para o celular de Renata, pois eu esqueci o meu na casa de Felipe, junto com uma boa parte do meu vestuário. Amor, Lidia.?

   Pode não parecer, mas eu tenho amor à vida.

   Se mamãe não tivesse um infarto na hora, eu levaria uma bela de uma surra quando voltasse para casa. Então, as mentiras não foram totalmente ruins. Eu estava me preocupando com a saúde de mamãe – e com a minha também.

   Fui para o banheiro e tomei um banho rápido, mas revigorante. Ainda estava me sentindo fraca, mas assim que comesse os cookies deliciosos da mãe de Renata, eu tinha certeza que me sentiria melhor.

   Vesti uma calça jeans e uma blusa de manga comprida preta que deixava os ombros à mostra. Calcei minhas sapatilhas pretas que tinham enfeite de borboleta, e amarrei meu cabelo num rabo de cavalo.

   Não peguei bolsa nem casaco. A primeira porque, bem, eu não teria nada para colocar dentro e o segundo porque não estava muito frio lá fora.

   Desci e grudei meu bilhete na geladeira, ao lado do de mamãe. Estava quase na porta quando o telefone começou a tocar. Fui atender porque poderia ser Renata ou mamãe.

   - Alô? – disse ao atender.

   - Lidia. – disse a voz inconfundivelmente clara de Felipe.

   Senti a tontura voltar com força total. Um arrepio percorreu minha espinha. Pensei que fosse desmaiar. Agarrei-me com força à mesa da cozinha.

   - Lidia?

   Pigarreei para minha voz sair clara, antes de dizer:

   - O que você quer?

Ele ficou alguns segundos em silêncio antes de dizer:

   - Você esqueceu algumas coisas aqui em casa.

   - Ah.

   - Eu posso entregá-las para você amanhã, no colégio. Ou você pode vir buscá-las agora.

   Tentei imaginar a cena. Felipe me entregando as roupas e a bolsa que eu havia esquecido em sua casa. E se alguém visse? Um aluno ou professor? Tremi só de pensar na possibilidade.

   - Eu posso ir buscá-las agora. – disse, e minha voz saiu surpreendentemente calma.

   Ele me explicou como chegar até lá (já que eu não tinha reparado quando saíra de lá às pressas) e desligou. Parecia frio e distante, e eu preferia que ele estivesse com raiva.

   Eu sei o que o senhor vai dizer, Sr. Albert, que pegar minhas coisas foi só uma desculpa para ir até lá e ficar sozinha com ele de novo, porque eu sou um caso perdido e tenho escassez de neurônios.

   Preciso dizer que concordo totalmente.

   Claro que a idéia de alguém da escola vê-lo devolvendo minhas coisas me fazia querer enterrar-me num buraco, mas a verdade é que isso foi só uma desculpa que eu dei a mim mesma para ir lá. Não sei por que, mas eu queria ficar sozinha com ele de novo. Queria agradecer por ele ter cuidado de mim e me desculpar por ter sido tão rude fugindo daquele jeito. Queria também que ele me abraçasse, me pegasse no colo, me levasse para o seu quarto e me beijasse até eu ficar sem ar.

   A falta de comida deve ter afetado o meu cérebro.

   Sr. Albert, por favor, reze pela minha alma.

   Saí de casa e senti um pavor me dominar.

   Ai Meu Deus.

   Felipe Madson e um bom número de empregados tinham me visto praticamente só de calcinha e sutiã!

   Tipo, eu já sabia disso, é claro, mas na hora eu estava tão desesperada que não dei ao assunto a devida importância.

   Eu não devia ter saído da cama hoje.


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Notas finais do capítulo

Vou postar a parte 2 daqui a pouco. Vocês estão gostando? Beeeijos.