Formant Lamour escrita por Manu Pontes


Capítulo 1
Capítulo Único




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Formant l'Amour

Hoje é um dos dias mais felizes da minha vida, pois finalmente estou me livrando deste hospício, designado colégio. Sério, somente não abandonei toda essa loucura por saber que eu dependia diretamente do que aprendia aqui para o meu futuro. Ou talvez aprender Yoga seja mais proveitoso. Afinal, a escola pública foi criada para acima de tudo ensinar e proporcionar cidadania, o “ABC” é consequência. Isso foi o que a professora de geografia um dia disse a minha turma, após um de seus sermões.

Ou seja, nunca fui preparada para uma universidade, nem mesmo uma particular. E ainda aprendia sobre cidadania através de péssimos exemplos, isso é o que é aprender o certo pelo errado, mas acima de tudo aprender.

Mas voltando a beleza desse dia, deste último dia de colégio, festejado pela minha turma em um clube na praia. Não sou fã de praias, mas achei interessante nos despedirmos nas belas águas azuis. E eu estaria bem mais feliz, se o irritante do Uzumaki, meu colega de classe e infelizmente companheiro de assento no ônibus de excursão, não estivesse estragando toda a minha comemoração.

Pra começo de conversa por que em meu grupo há cinco amigas, e não seis? Ao menos eu teria uma parceira para sentar-se comigo, não que isso fosse de muita garantia já que minhas amigas estão todas com seus namorados. Também meus colegas de turma.

Tenten está com o meu primo Neji logo nos primeiros bancos do ônibus. Temari e Ino estão respectivamente, com Shikamaru e Gaara, nos últimos bancos do ônibus. Já a Sakura está a dois bancos atrás de mim, só que do outro lado, junto com o Sasuke. Ou seja, o idiota assim como eu sobrara.

Felizmente, eu fiquei com o lugar ao lado da janela, gosto da vista do trajeto para a praia. Observei todo o caminho com minhas íris peroladas, enquanto ouvia músicas com meu MP4 preto. Tudo estava calmo, mas como eu não podia me esquecer ao meu lado estava o ser irritante, que insistia em encontrar uma posição “confortável” em seu assento, ou seja, ele não parava de se remexer ao meu lado!

Eu tirei meus fones com força, olhando o loiro idiota ao meu lado.

- Será que dá para parar, Naruto? – indaguei irritada. Sério, para ele permanecer intacto era bom ele responder que sim. Ou nem queiram saber.

Mas eu acho que vocês irão descobrir de qualquer forma, porque algo parecia engraçado a ele, já que o loiro começara rir baixinho, porém audível a minha pessoa, obviamente ao lado dele.

- O que foi idiota? Eu disse algo engraçado? – ele só estava me irritando mais, o dia maravilhoso parecia descer ralo abaixo.

- Desculpa, mas é que você fica uma gracinha assim irritada. – meu rosto definitivamente deveria ser um ponto de interrogação agora. Primeiramente, ele me pedira desculpa. Naruto Uzumaki Namikaze me pedindo desculpas depois de tudo?! Corta essa. Com certeza havia um alienígena ao meu lado, e não o loiro idiota. E minha teoria não acabava por aqui, ele me chamou de gracinha? Claro, havia sem dúvidas um atrevimento em suas palavras, porém ninguém me chamava de gracinha e ele sabia disso, e eu irritantemente não consegui evitar corar de leve.

- Garoto, vê se pára de mexer tanto. E não me chame de gracinha. Pois o seu “júnior” pode sentir as consequências. – eu ameacei. Com certeza até chegarmos ao clube ele iria estar quieto, Naruto sabia bem que eu não ameaçava seu amiguinho à toa. Não, com as pomadas que ele ainda carrega na mochila dele. Garotas, esse ser pode estar com defeito, então cuidado com a propaganda enganosa!

- Ok. Ok. O novo macho da família Hyuuga consegue o que quer mais uma vez. – ah, com certeza ele é o Naruto, a delicadeza se fez ausente mais uma vez nessa carcaça loira. Eu cerrei meus olhos controlando a necessidade de espremer esse idiota pela janela até que ele não estivesse mais ao meu lado.

Depois do meu aviso Naruto não me amolou mais durante o resto da viajem, na verdade ele estava quieto até demais. Eu sou meio psicótica com algumas atitudes dos seres humanos, e desconfio quanto a pessoas quietas demais, parece que em silêncio elas somente observam tudo ao seu redor, se preparando até que possam dar o bote, se for essa a intenção.

Eu chacoalhei minha cabeça, me segurando para não rir das minhas desnecessárias preocupações. Puts! Preocupar-me com Naruto e seu silencio agradável, era loucura. Apesar dos dois mil neurônios a mais que os meus, presenteados pela natureza, ele não é muito ardiloso para pensar em alguma coisa. Já foi difícil para ele passar em literatura.

Depois de cerca de meia hora, nós chegamos ao clube Konoha. E o grupo de trinta pessoas começou a descer em fila, com a maioria sendo adolescentes loucos para se jogarem na água e professores torcendo para que aquele dia não os desse mais dor de cabeça do que a cartela de analgésico conseguiria combater.

O clube era sinceramente lindo. Localizado em frente à praia, o clube era imenso e todo projetado em estilo natural. O chão era de grama verdinha e aparada, tinha vários espaços para lazer como um campo de futebol, uma academia, várias mesas de cimento para organizar churrascos, um lago ao fundo, e várias árvores ao redor do lago. Tinha também um parque para crianças com brinquedos em madeira envernizada.

Depois de descermos, me juntei as minhas amigas, ansiosa por conhecer cada parte daquele lugar tão bem cuidado.

- Esse lugar é incrível! – a Sakura exclamou, e não havia quem discordasse, pois todos estavam maravilhados.

- Com certeza. Eu estou louca para pegar um bronzeado. – claro, a Ino tinha que dar seus festejos estéticos. Essa é a minha amiga loira.

- Ai, galera vamos logo para o mar. – apesar de estar louca para um mergulho, dessa vez eu tinha que discordar da Tenten, que pedia eufórica agarrada ao braço do meu primo cabeludo para que fossemos ao mar. E pelas caras do pessoal eu era a única que resistia a ideia. Até o Shikamaru, o dorminhoco da Branca de Neve estava disposto, acho que os beliscões da Temari estão fazendo efeito nele.

- Já que todos estão com a roupa de banho. Melhor aproveitarmos. – comentou o Gaara, ele é um cara legal, deu um pouco de trabalho para ele e a Ino ficarem juntos, mas como dizem “o amor sempre vence no final das contas”.

E como eu disse antes, todos estavam animados com o mergulho, e o bronze. E o grupo não era o único, mais alguns colegas da turma também decidiram por ir logo ao banho de mar, o professor de Educação Física, Gai, e a professora de História, Kurenai, iriam para vigiar as “crianças”.

Eu aproveitei um momento enquanto todos esperavam alguns colegas se arrumarem. Nem todos pensaram em vir com roupa de banho por debaixo da roupa normal. A Temari se desgrudou do Shikamaru e foi falar algo com a Sakura que também estava livre, digamos que o Sasuke não curte muito ser chiclete, e a Sakura também não; ainda mais quando a Temari, com certeza vem com algum “comentário” quentinho da viagem. Essas meninas não se aquietam, eu ri me aproximando das duas.

- Eu não acredito. – ouvi a Sakura exclamar baixinho.

- Sasa, por favor, todas nós sabíamos que ela sempre quis isso. – hã?! De quem essas meninas estão falando?

- Do que vocês duas estão cochichando, hein? – eu perguntei baixinho, mas o suficiente para assustar as duas, que não perceberam a minha aproximação.

- Hina. Pára de dar esses sustos menina. Parece o Naruto. – eu estava sorrindo até ela me comparar com aquele ser irritante. E acreditem, elas riram baixinho da minha careta de insatisfação.

- Temari! – eu a repreendi, como se valesse de alguma coisa. Nossa amizade continuaria baseada no respeito, confiança, cumplicidade, e implicância. Nada como comparar sua amiga ao seu irritante inimigo.

- Hina, você não sabe da maior. – a euforia da Sakura não poderia ser maior confirmação para as minhas suspeitas, lá vinha “comentário” quentinho.

- O que houve? – eu tentei ser contagiada pela sua agitação, mas sei lá, dessa vez algo em mim estava estranho.

- A Shion, ela “decidiu” que vai ficar com o Naruto hoje. Aqui no clube. – eu arregalei meus orbes pérolas surpresa com a notícia. Claro, como a Temari já havia dito, todos sempre souberam que a Shion sempre dava em cima do loiro, é que o mesmo não é tão feio, ok, ele é bonitinho, mas sei lá, era problemático, como diria o Shika. Bem, o Naruto sempre lhe disse não, claro nunca diretamente a ela. E a também loira era obstinada quando queria algo, acho que deve estar realmente decidida a fisgar aquele idiota.

- Sinceramente, eles se merecem. – eu comentei depois de alguns segundos, rindo.

- Ah, Hina. Eu sei que vocês têm essas implicâncias um com o outro, mas, por favor, estamos falando da Shion. Shion, ok?! – a Sakura enfatizou. Certo, a rosada estava um pouco certa. Apesar de o Uzumaki ser um idiota, ficar com a Shion, a garota mais falsa do colégio é de dar pena. Eca! E que nojo vai ser essa cena dos dois! – Eu pensei que com vocês juntos no ônibus, essa risca entre vocês iria melhorar. Vocês ao menos voltariam... – não a deixei terminar aquela frase absurda.

- Sakura, anda sonhando acordada, agora, é?!  - eu vi a rosada revirar os olhos com a minha pergunta, a Temari só sorriu de canto.

- Eu preferiria mil vezes que o Naruto ficasse com você do que com essa coisa. – a Sakura de vez enquanto custa a entender as coisas, e acaba falando tudo que não deveria pensar.

- Ora, por favor, vocês duas. – sim, as duas. E seriam quatro se a Tenten e a Ino estivessem aqui conosco. - Esse papo de novo, não. E para que vocês entendam de uma vez por todas, eu não me importo com quem ele fica ou deixa de ficar. – isso estava mais claro que água poluída, digo, água limpa. - E se for com a Shion, dá na mesma. – meu lado bonzinho lamentaria um pouco, mas... - E antes que eu me esqueça, eu vim aqui dizer que eu encontro vocês depois. Eu vou ficar aqui no clube, quero conhecer primeiro o lugar.

- Mas Hina... – sabia que as meninas não iriam gostar de inicio, mas já era de se esperar a minha ausência. Eu sou a amiga quieta, às vezes.

- Sasa, eu vejo vocês depois. – eu sorria mais calma para as minhas amigas, jogando todo aquele papo desnecessário para longe. Realmente não me importava com quem o loiro idiota iria ficar. Não mesmo. – E parem de beber essas “coisas”, pois estão começando a mexer com seus neurônios. – eu disse baixinho, antes de andar para o lado contrário a praia, ouvindo elas também rirem, enquanto começava a minha exploração nesse lugar encantado. Não havia porque me preocupar, eu sabia que as meninas não ficariam chateadas nem com o que eu disse e nem com a minha falta de presença, por isso nossa amizade era tão forte.

Eu logo comecei pelo lugar ao qual mais depositara expectativa e encantamento, o lago. Eu caminhei pela grama fresca, com cuidado. Observei admirada, as belas árvores de coqueiro entorno do lago, bem altos, os coqueiros já denunciavam pequenas protuberâncias, cocos médios, crescendo para se tornarem deliciosas bebidas hidratantes. Além de criarem uma sombra tentadora para um dia de calor. Eu sorri quando ouvi de longe o som de passarinhos cantarem uma música bonita entre os pios de comunicação.

Mais próxima ao lago, andei sobre a areia fina e branca. Tão clara quanto a minha pele lívida. Meus pés formigavam por descobrirem a sensação da água em contato íntimo com meus dedos, e eu não tardei a caminhar pela água fresca, tão gostosa que me segurei para não me jogar dentro d’água e banhar-me até dizer chega. Sorri com o pensamento, talvez fosse bom, aproveitar esse lugar lindo enquanto outros não o descobriam.

E fora isso que fiz, tirei minha roupa casual, minha blusa de alça fina lilás, e meu short jeans manchado claro um pouco curto, nada vulgar. Dobrei as peças de roupa, para que não sujassem muito com o vento de grãos de areia, mesmo com duas mudas de roupas extras na minha “pequena”bolsa. Sério, eu poderia levar um bebê que tenho dúvida se não sobraria um lugarzinho a mais na bolsa.

Eu usava um biquíni simples de cor preta, com o busto marcado por pétalas de rosas em tons mesclados com roxo a caírem como outono, mas a parte de baixo do biquíni era de estampa lisa.

Corri como a palavra liberdade agiria em forma humana, me joguei contente na água clarinha, vendo quase ao fundo sobre a areia do lago a sombra dos meus pés desfocados pelo movimento da água. Aproveitei a sensação boa que aquele lugar despertava dentro de mim, mergulhava com meus olhos de íris exóticas abertos, vendo ao fundo a beleza harmônica da natureza.

O deslumbramento me fizera perder a noção do quanto de tempo eu estava ali, fazendo lembrar-me das minhas amigas tardiamente, havia uma parcial chance de que elas estivessem bravas comigo pelo sumiço já comunicado ou que estivem se esquecido de mim nos braços de seus namorados. A última opção salvar-me-ia, então era bom que fosse verdade.

Porém decidi por sair dali, iria me encontrar com as meninas antes que eu desviasse meu caminho, querendo conhecer mais esse lugar. Eu imaginava que a academia, não era de muita importância, igualmente o campo de futebol, não por eu não gostar de esporte, afinal é claro que eu apreciava minha saúde física, mas sei lá, uma preguicinha me abateu.

Saí da gostosa sensação da água e fui à busca de minha roupa, que eu pus na raiz de um dos coqueiros. Cheguei frente ao coqueiro, próximo ao lago, com minha sobrancelha arqueada. Ora, onde estava a minha roupa?! Eu tinha certeza de que pusera ela na base do coqueiro, atrás do tronco para que o vento não trouxesse tanta areia às peças. Então, porque eu olhava para os lados, especificamente nas raízes dos coqueiros, e não encontrava a minha roupa?! Ai, com certeza, alguém pegara minhas vestes. Raiva! Raiva de quem fosse louco o suficiente para fazer algo assim. E quem mais poderia ser tão louco, que não certo loiro estúpido?

- Naruto. – eu exclamei em fúria, quando meus pensamentos foram encontrando as pistas. Tão logo veio a resposta, tão logo veio o culpado. Naruto estava sentado em um banco de madeira envernizada entre os coqueiros mais afastados. Rindo, uma risada debochada que eu conseguia irritada, ouvir, e com a minha roupa em suas mãos.  Como eu não havia o visto ali antes?! Talvez pelo deslumbramento com o lago, ou talvez pela insignificância de sua presença. Que com toda a minha energia se tornaria roxa em breve.

Caminhei até ele, meus olhos semicerrados, a raiva borbulhando dentro de mim como água fervente. Aproximei-me, fitando-o em fúria. Por que ele simplesmente não me esquecia por um dia?! Seria bom para sua imagem física. De frente a sua figura idiota, ele me fitou cínico, sorrindo sádico.  Não tardou dois segundos, e ele jogou minha roupa em minhas mãos, o que me surpreendeu. Pensei que ele iria me irritar por mais tempo, até que ambos nos cansássemos. Eu não entendi para que essa implicância desta vez, não que para as outras haja motivo inteligente. Porém perder seu tempo comigo, enquanto poderia estar nos braços da cobra Shion, para alguém tão estúpido quanto ele seria uma opção “interessante”. Eu ainda estava irritada, mas preferi não socá-lo hoje, decisão repentina. Sou bipolar, com certeza!

- O que está fazendo aqui? – indaguei começando a vestir minha blusa, não me agradava ver esse baka a me olhar tão exposta. Ele continuou a sorrir, mexendo nos fios loiros sempre arrepiados.

- Me enganaram dizendo que era um mergulho, aquilo era um encontro de casais, isso sim. – ele rolou os olhos em suspiro. Bingo! Minhas amigas não deveriam estar nem notando a minha demora, ocupadas demais com os meninos. Elas não estavam chateadas, elas não, eu sim.

- Então devido ao seu tédio você veio aqui, irritar-me. – aquilo não era uma pergunta, era uma afirmação. Ele não comentou nada. Mas vi seu sorriso cínico a desaparecer. Ora, o que houve agora?! Ofendi a bela dama loira?

- Então você acha que eu e a Shion nos merecemos? – ele indagou com rapidez, sem nenhum aviso prévio a não ser a sua mudança de feição, bem séria por sinal.

- Como? – eu gaguejei tão surpresa, como ele soube...? –  Oh, você estava ouvindo a minha conversa com as meninas? – eu perguntei, só podia ser isso. Idiota e fofoqueiro.

- E vocês estavam falando sobre mim. Empate técnico. – o idiota retrucou com sagacidade. Que perfeita hora para ele mostrar algum tênue traço de inteligência, talvez a ignorância da humanidade tenha cura.

- Então já que pergunta. Sim. Você e Shion foram feitos um para o outro. – eu sorri ao terminar de falar, não que houvesse achado graça com o que eu disse e com certeza ele também não achara, e por esse motivo eu sorria, a visão do que a ideia de estar com a vaca loira fazia nele era hilária, puro nojo.

- Você parece realmente me odiar. – ele concluiu. Esse ser irritante está começando a me dar medo, está usando o cérebro.

- Você faz por merecer. – decidi participar desse ato raro dele, o pensar. Ele riu sem vontade. O pior de tudo é que vê-lo assim não me alegrou. Esse sol já está me deixando com o pensamento sem nexo. Ficamos em silêncio por um longo tempo, eu já estava vestida, porém minha roupa estava empapada em água, secando aos poucos com o vento. A mesma brisa que secava meus cabelos negro-azulados, movendo-os em uma dança natural.

O rosto de Naruto demonstrava o quanto longe estava os seus pensamentos, eu particularmente nunca pensei em vê-lo assim. Desde que o conheci, ele sempre foi agitado, um loiro que chamava muito atenção não só pela hiperatividade, quanto pela beleza. Cabelos loiros como o mesmo sol sobre nossas cabeças, olhos azuis possivelmente comparados ao belo mar azul a metros de nós, dono de um sorriso límpido e marcante, o corpo bem definido pelos esportes que ele sempre curtira praticar. No colégio ele sempre fizera sucesso, as garotas sempre estavam aos seus pés, e ele se aproveitava disso, principalmente por ele ser o único solteiro do grupo dos mais belos garotos do colégio, todos namorados das minhas amigas, obviamente, com exceção dele.

E era por isso que havia uma implicância conosco por sermos os únicos integrantes de nossos grupos, ou grupo único, sei lá, nós éramos os que sobravam, os solteiros, mas isso não queria dizer que eu ficaria com ele. Na verdade éramos amigos antes desse papo começar a surgir. Na verdade, eu e o Neji o conhecemos primeiro por ele morar uma rua atrás da minha. Ele era legal, não agia como um idiota como agora.

- Você mudou muito nesses últimos anos. – eu murmurei sentando-me ao seu lado. Eu deveria ter ido embora, mas não me sentiria bem por deixar um colega para trás, assim desanimado como ele estava. Ele me fitou, e pude ver em seus orbes a confusão que ele sentia. Acho que a passagem do colégio para a vida adulta estava mexendo com ele. Eu sabia que era isso, porque eu também tinha medo. Medo do que seria de agora para frente. Faculdade, emprego, vida independente, responsabilidade, família e amigas. Tantas coisas me chamando, que eu não sabia o que buscar primeiro, e se eu buscasse tinha medo do que perderia em troca. – Eu também tenho medo, não me sinto preparada para esse novo mundo. – eu disse baixinho, sabendo que mesmo assim ele ouviria. Irônico, eu estava desabafando e acalentando aquele baka.

- Eu queria cursar Engenharia da Computação. Meu pai quer que eu faça Direito. – ele também tinha um tom baixo. Eu sabia dessa risca entre ele e o tio Minato, mas tinha certeza que o tio desejava o melhor para ele. Agora, era questão de ele mostrar que a Engenharia era o melhor para ele.

- Quero cursar administração. Mas não quero me afastar das minhas amigas. – eu era muito apegada as minhas irmãs, juntas nós enfrentamos tantos problemas. É difícil entender que não irei vê-las diariamente como agora nunca mais. Estávamos confidenciando em segredo nossos medos.

- Aposto que elas nunca irão lhe deixar, vocês são tão grudadas umas as outras. – ele comentou com um pequeno sorriso. Ele estava tentando me animar, como antigamente. Eu desejei que ele me abraçasse, um abraço de urso como ele sempre fazia antes de nos afastarmos. Porém meu único gesto foi um sorriso corado.

- Tenho certeza que o senhor Minato reconsideraria sua opinião, se você contasse a ele. – comentei convicta, eu tinha certeza que Naruto nunca dissera ao pai o que queria realmente fazer. Ele era muito na dele, para contrariar o pai, advogado. Também tinha certeza que Kushina o apoiaria, se esse fosse seu desejo. Ele também sabia disso, ele só precisava como eu ouvir de alguém a solução tão óbvia para o fim dos medos.

- Obrigado. – ele agradeceu sorrindo, voltando a sorrir como antes. Senti-me nostálgica por isso, buscando agora entender porque nos isolamos um do outro, negando uma amizade tão sincera quanto a que tínhamos por comentários tão bobos, brincadeiras sem fundamento que em algum momento viriam a acabar. Não havia explicação para isso. Se bem que eu sabia, conhecia o motivo minuciosamente como ninguém poderia conhecer. Eu me afastei por sentir-me mal pela rejeição, por não ser vista como uma garota especial, como alguém capaz de preencher um lugar vazio, o coração desse loiro. Naruto nunca se esforçara muito para deixar bem claro que ele e eu nunca teríamos nada, não era preciso, eu não era o bastante para ele, na verdade nenhuma das diferentes garotas que ele ficava todos os dias era.

A minha única diferença para elas era que ele me via como amiga, e como amiga ele  não me sujeitaria a ser como as idiotas que se derretiam por um sorriso fácil que só me castigava.  Por que aos olhos profundamente azuis eu era a amiga, e aos meus olhos perolados eu era, infelizmente, apaixonada por ele.

- Certo. Agora vou indo. Já fiz minha caridade do dia. – comentei, desviando meu olhar do dele, levantando, eu iria encontrar minhas amigas, ou pelo menos ir para longe de Naruto, minha formatura não parecia estar tão legal quanto eu gostaria. Porém como no final de um filme romântico de contos de fadas, o príncipe insiste em descobrir quem é a garota borralheira que o ajudou, puxando-a para si. Naruto segurava o meu pulso, sem força, o suficiente para que eu decidisse encará-lo, me perdendo no céu azul de seus olhos. Droga, eu odeio quando isso acontece. Isso é tão angustiante, eu fico encabulada.

- Espera. – ele disse tirando minha atenção de seu olhar. – Desculpa. – ele pediu sincero, Naruto podia ser um safado quanto a garotas, mas tratava as amigas de maneira menos orgulhosa, carinhoso. Só tinha um engano nisso. Eu não sou mais a amiga dele, e ele bem sabia disso.

- Pelo quê? – eu tentei parecer sem paciência, ríspida com minhas palavras, agindo como se o quisesse longe, quando é o contrário, quando gostaria de estar em seus braços mesmo que ele seja um estúpido.

- Você tem razão, eu mudei muito. Já não demonstro ser o Naruto que você conheceu. – ele estava envergonhado, eu tinha certeza disso. Pedir-me desculpas pela segunda vez em um único dia, depois de tantas brigas e desentendimentos no último ano era raro. – Tenho agido como um idiota.

- Tem mesmo. – eu não consegui evitar o comentário, eu gosto dele, do Naruto que eu conheci, e não do loiro idiota que ele vem sendo. Usando as pessoas para o prazer próprio, cada dia uma garota diferente, e, ás vezes, andando com pessoas iguais a como ele tem estado.

- É. Mas quando você me conheceu eu já era quase um galinha. – isso era verdade, Naruto não mudou do dia para a noite. Na verdade acho que me decepcionei mesmo foi por ele não me ver, como eu queria que ele me visse. Além disso, se ao menos ele fosse feliz, eu não me magoaria tanto, mas nem isso ele era. – E mesmo assim as garotas continuaram caindo em cima de mim.

- Ora, por favor, vai me dizer que você é uma vítima? – perguntei pasma pelo que ele dizia, irritada por ele culpar os outros por ser um Dom Juan. Eu tentei puxar meu braço, mas ele segurava-o com firmeza.

- Eu não sou vítima. Só estou dizendo que todas sabiam como eu era. Você sempre soube como eu sou.

- Você não era esse idiota, manipulador. – rebati. – Você era o Naruto, o meu amigo. Quem eu amava. – eu murmurei sem forças, desviando o meu olhar, segurando a vontade de chorar, desejando unicamente correr para longe dele. Naruto não disse nada por algum tempo, e eu me senti novamente nostálgica. Bem, acho que faltou eu dizer algo, Naruto, somente ele, sabia que eu era apaixonada por ele mesmo. E como ou quando isso aconteceu?! Quando eu acreditei que pudesse conquistá-lo, capaz de tirá-lo daquela vida cafajeste que ele começava a trilhar, capaz de mostrá-lo o meu amor. E desde que ele soube o que eu sentia por ele, desde que fingiu não saber, nosso laço se rompeu. Eu sabia que ele não tinha a obrigação de corresponder ao que eu sentia. Mas poxa, passar um mês inteiro sem dirigir o olhar para mim, e depois agir como se eu tivesse feito algo ofensivo, como se eu tivesse traído sua amizade.

Minhas amigas nunca souberam disso, somente estranharam nosso afastamento e surpreendente antagonismo, mesmo assim acharam que seria somente a primeira briga de dois melhores amigos, e Naruto nunca contou a ninguém, e muito menos voltou a tocar nesse assunto, até agora é claro. Você deve estar se perguntando, como alguém esconde isso das melhores amigas? Isso é fácil. Não contando nada a elas, engolindo todas as minhas emoções, agindo fielmente como Naruto. Porém diferente dele, eu não conseguia esconder isso de mim mesma.

- Eu não posso voltar atrás. Desfazer o que já está feito. – ele disse, era verdade o quanto ele me magoou não dava para apagar da mente, e nem do coração. – Mas eu posso tentar parar de lhe magoar a partir de agora. De afastar alguém que é tão importante para mim.

- Não venha com esse papo de que minha amizade lhe faz falta. – eu cuspi as palavras, com raiva. Eu esperei tanto tempo para que ele fosse o suficientemente homem para pelo menos olhar na minha cara, e dizer que sente muito, mas que não me amava. Que fizesse diferente do que ele fizera nas férias, negando o que eu sentia, indo embora sem nenhuma palavra. – Você não deu a mínima a ela quando saiu daquela praça calado, muito menos quando ficou um mês sem nem ao menos me olhar. Tratando-me como se eu houvesse feito algo sem perdão a você. – eu explodi tudo que estava entalado na minha garganta, recusando-me a continuar com aquelas lembranças de uma confissão estúpida.

- Eu fui um covarde, sei disso. – ótimo ele admitia. - Eu não sabia como agir, Hinata. Você era minha melhor amiga. – seriam bons argumentos baka, se eu não estivesse tão irritada;

- Eu nem gostaria de imaginar se eu fosse sua inimiga. – eu cuspi as palavras de maneira irônica, rindo fracamente sem nenhuma vontade de fazer tal gesto.

- Garanto que eu não iria gostar tanto de você como eu gosto. – ele declarou sorrindo envergonhado, mas abertamente. Eu arfei com suas palavras. Como...? Como ele diz algo assim?

- O que você...? – eu não conseguia completar a frase, a mente totalmente confusa. Imaginado se ele estaria brincando comigo, passando de vez todos os limites do respeito, acabando de vez com o meu insistente amor por ele. Não me culpem por ser tão negativa com meus pensamentos, mas eu sou assim, eu me tornei assim.

- Hinata, eu estou tentando lhe dizer o que você acabou de ouvir. Eu sou um baka, mas eu te amo. – ele disse se aproximando de mim, inclinando seu corpo alto sobre o meu, mal me dando a chance de absorver suas palavras.

- Não. – eu murmurei com a respiração pesada, parando o loiro. – Não faz isso. – pedi, enquanto encarava-o. Eu pressionei meus lábios em uma fina linha, negando-me a vontade de sentir seus lábios cobrindo os meus. Ele parecia tão sincero, mas eu tinha medo de acreditar e depois... Não queria ter sensações piores do que as que já me proporcionara nas férias.

- Por favor, me dê uma chance. Por favor! – implorou enquanto voltava a se aproximar, roçando seus lábios aos  meus. Eu não o retribui, mesmo que uma pequena corrente tivesse passado por mim. O meu estômago estava revirando, as borboletas sobrevoando ali impacientes. – Eu te amo de verdade. Só mais uma chance. – ele murmurou contra meus lábios, derrubando cada barreira de insegurança. E eu não resisti. Dane-se o medo naquele momento, Naruto estava se declarando para mim, como eu sempre sonhei. Ele estava ao meu lado, me entregando seus sentimentos, compartilhando dos meus por ele. Por nós. E seu olhar era tão verdadeiro, além da enorme atração que o meu corpo sentia ao dele.

Agarrei-me em seu pescoço, aproximando-me mais dele, deixando que me guiasse em seus lábios. Sentindo a maciez dos mesmos. Nós aprofundamos em um pedido sôfrego e intenso de nossos corpos, e eu senti o seu gosto de menta. Bom! Ele não perdera a mania pelas pastilhas.

Ele largou o meu pulso, segurando agora a minha nuca, tendo inteiro controle sobre o beijo. A outra mão estava posta envolta a minha cintura, colando nossos corpos. Éramos adolescentes em um beijo apaixonante. Nós insistimos naquele prazer, conhecendo detalhadamente os lábios atrativos  um do outro, até que nossos pulmões gritassem em desespero, agoniados pela falta de ar.

Eu ofegava contra o seu tórax, que mostrava uma respiração semelhante a minha descompassada, acelerada. Ouvia seus batimentos em uma sincronia ritmada. Que loucura, eu ansiava por mais. Ergui minha cabeça, ainda com minha respiração se normalizando. Arfei. Encarando seu rosto tão belo, bagunçado por mim. Em não consegui me lembrar apesar do pouco tempo distante em qual minuto eu me agarrei em seus fios loiros, agora mais arrepiados, e ainda charmosos. Os seus lábios estavam inchados, serrei meu olhar naquela parte tão prazerosa, que se espichava em um sorriso. Mas seu olhar me chamou ainda mais atenção, naquele mar azul havia tantos sentimentos, tanto carinho e amor. Que arfei mais uma vez.

- Obrigada. – ele me disse tão carinhoso, parecendo o jovem barulhento e amável que era, e que volta a ser agora. Eu sorri imensamente feliz por ele estar comigo. Eu desejei com tanto medo, em silêncio eu persistia em acreditar que ele se daria conta de que eu o amava de verdade, e por inteiro. Uma boba apaixonada, e recompensada pelo mais belo sorriso que alguém poderia receber. Dei a ele um abraço, um contato que eu sentia tanta falta. Foi aí que um insite me veio.

- E a Shion? – eu indaguei me afastando de seus braços, aposto que fiz uma careta ao dizer o nome da bruxa.

- Eu fiz como das outras vezes a dispensei. – ele disse simplesmente, sorrindo, voltando a se aproximar de mim. Mas eu inda estava curiosa, tipo, a bruxa apesar de tudo era bonitinha, e sendo a formatura só nossa turma numa praia. Bem, eu infelizmente, imaginei que ele fosse aceitar.

- Por que nunca ficou com ela? – perguntei vendo o sorriso dele se alargando. Parecia que ele achava graça pensando que a resposta era óbvia, mas ainda assim eu queria ouvi-la, afinal eu não sabia qual era.

- Porque sei que você a odeia. – eu já disse que amo esse loiro?! E que apesar das burradas, meu coração sempre estaria conectado ao dele?! É no fim, a formatura foi um dos meus melhores dias. O que será que me espera a formatura da Universidade?


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Notas finais do capítulo

Reviews?! ^^