Sangue Puro escrita por Shanda Cavich


Capítulo 4
Capítulo 3 - Funeral




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O salão era lindo, isso era indiscutível. Seria ainda mais lindo se aquele não fosse um momento tão triste. Os sofás eram negros como as paredes, e no centro concentrava-se um caixão de madeira detalhado em ouro. Dentro dele estava o corpo magro e pálido de Druella Rosier Black, cercado por violetas. A mulher morreu jovem, bonita apesar de seu jeito rude de ser, e estava tão bem arrumada que alguns poderiam pensar que estivesse apenas adormecida.

Cygnus recusava-se a largar a mão da esposa, mesmo depois de horas. Bellatrix estava séria, acomodada, acabando com vinho da reserva, ao lado de Rodolfo Lestrange. Andrômeda, abraçada ao tio Afardo, estava com o rosto inchado, após ter chorado tanto.  O comportamento de Narcisa foi um tanto quanto peculiar. Acariciou o rosto da mãe, e sussurrou um poema quase incompreensível.  Apenas o último verso ficou claro "Até na morte, hei de te amar e te seguir."

No dia seguinte ninguém ousaria tocar no assunto. Era tradição na Família Black ser frio. Quando um Black morria, todos deveriam apenas aceitar. E quando um Black traía, todos deveriam desejar sua morte, ou até mesmo causá-la. Passaram-se meses e tudo voltara ao normal. Andrômeda terminou seus estudos em Hogwarts e o casamento de Narcisa já estava marcado. Lúcio e ela eram o único casal de noivos cursando o sétimo e sexto ano na escola. Fato este que fez com que a fama dos dois aumentasse ainda mais.

– O maior sonho de mamãe era ver suas três filhas casadas com homens de sangue-puro. – disse Narcisa, penteando seus longos cabelos loiros em frente ao espelho. – Casamento nobre era tão importante para ela, que nenhuma de nós se atreveria a dizer não.

– E eu a odeio por isso. – disse Bellatrix, olhando para a aliança literalmente presa (através de magia) em seu dedo. Tinha o formato de um escaravelho cravado pela letra L, revestida por diamantes. – Pena que odiar não mudará meu passado. "Por que fez isso, mãe?", pensou.

No final de fevereiro, Cygnus recebera a notícia de que inúmeros cartazes com o rosto de sua filha mais velha estavam espalhados por todo o país, julgando-a como criminosa de alto risco. Bellatrix aproveitou-se da oportunidade para voltar a morar na casa de seus pais, de onde nunca queria ter saído.

– Minha filhinha, foragida? – disse Cygnus, abraçando a jovem filha com afeto, quando esta chegou de malas prontas até o casarão. – Esse mundo está de cabeça pra baixo! Como podem querer prender minha Bella? Malditos aurores!

– Vou ficar aqui por um tempo, pai. – disse Bellatrix, com um sorriso de satisfação. – Todos pensam que estou em Oxford, com Rodolfo. Ganharei um certo tempo, até que Milorde resolva uma coisa, e depois... Tudo irá ficar bem...

Andrômeda ficou pasma. Embora já soubesse que a irmã fosse uma Comensal da Morte desde os dezessete anos de idade, detestou a idéia de ela vir morar naquela casa novamente. Com Bella por perto, seria difícil concretizar a proposta que Ted lhe fez alguns dias atrás. Narcisa, pelo contrário, adorou. Seu casamento seria dali a algumas semanas, e queria que Bella ficasse para a glamorosa festa que ocorreria na Mansão Malfoy, a seguir.

– Por que você veio pra cá, sua louca? É uma questão de tempo até que o ministério venha pra te buscar. – disse Andrômeda, com uma frieza que nem ela reconhecia.

– É uma questão de tempo até que eu te mate, assim como fiz com os Prewett. – Bellatrix soltou uma risada gutural. Seus olhos estavam arregalados, sua voz transparecia seu estado de demência.

– Então é verdade. – Andrômeda deus alguns passos para trás, receando o movimento de Bella, que parecia retirar sua varinha das vestes. – Você é mesmo uma assassina. Assassina!

Assassina é uma palavra muito forte, Andie. Apenas faço o que é certo. – disse Bella, então chutou a cômoda com força, fazendo com que o retrato da família Black caísse no chão, estilhaçando-se.

Na semana seguinte, Cygnus voltou de Londres escoltado por três aurores do Ministério. Como aquela situação já estava prevista, Bellatrix deveria aparatar para Wiltshire toda a vez em que Cygnus desse o sinal de alerta, que deveria ser interpretado por Andrômeda ou Narcisa, já que Bella ficaria o tempo todo dentro de casa. Mas como Narcisa passava a maior parte do dia no Largo Grimmauld com Walburga, a tarefa era quase uma exclusividade de Andie.

Durante a tarde, Bellatrix escrevia uma carta a seu mestre, pedindo por orientação e até mesmo permissão para ajudá-lo, embora já soubesse que dificilmente ele a responderia. No andar de baixo, estava seu pai, acompanhado pelos aurores. Nesse caso, ela já deveria estar em Wiltshire, mas como Andie não havia lhe avisado do sinal que Cygnus mandou instantes atrás, ela ainda estava em casa. Sendo tarde demais para tentar fugir sem ser notada, apenas ficou em silêncio. Já era possível ouvir a voz dos aurores, muito próximas ao corredor.

– Sabemos que ela está aqui, Sr. Black. Precisamos levá-la até o ministério para que seja julgada, como exige a lei.

– Saiam da minha casa, seus imundos! Já disse que minha filha não mora mais aqui desde que se casou! Vocês não podem invadir a minha casa dessa maneira! Vão embora!

– Devo insistir para que não nos atrapalhe, Sr. Black, ou teremos que imobilizá-lo. – disse o auror mais alto. – O senhor poderia nos dizer qual foi a ultima vez que viu Bellatrix Black Lestrange?

– Eu não m-me lembr-bro. – Cygnus passou a mão na testa, tentando esconder o fato de que a filha estava no quarto de Narcisa. – Acho que foi no velório de minha esposa há alguns meses atrás... Pelo que eu soube, saiu de viajem com meu genro...

– O senhor mente. – o auror empunhou a varinha.

Em questão de segundos, Cygnus se colocou diante da porta do quarto onde Bella estava:

– Não, esperem! Se me deixarem falar com minha filha mais nova, Narcisa... Ela talvez possa ajudá-los a localizar Bellatrix.

– E onde ela está?

– Está no quarto, dormindo... Mas ficará furiosa se acordar toda desarrumada e ver vocês aqui.  Ela é muito, mas muito vaidosa... Acho melhor os senhores esperarem lá fora, sim?

Os aurores o encararam desconfiados. Mas não discordaram, pois o objetivo deles ali não era provocar a crise de uma adolescente narcisista, mas sim capturar uma criminosa. Assim que desceram as escadas, Cygnus adentrou a porta do quarto e fechou-a, usando magia.  Bellatrix estava de varinha erguida, pronta para lutar:

– Fuja, filha, fuja! Você não tem muito tempo!

– Já tentei aparatar, mas não deu certo! Só me resta matá-los. – o tom na voz de Bellatrix expressava algo que nem o pai conseguiu entender. Estava quase sorrindo, como se a situação a divertisse.

– Devem ter bloqueado a região... – Cygnus bufou. – Por que não fugiu enquanto era tempo? Por que não partiu quando Andrômeda lhe avisou de meu sinal?

– Ela não me avisou de nada. Pra falar a verdade, não a vejo desde manhã.

Raios! Onde foi essa menina? – Cygnus estava tão furioso e preocupado ao mesmo tempo, que não conseguia deixar de imaginar coisas terríveis em relação à filha do meio, e o que poderia acontecer a mais velha caso os aurores a levassem. – Voe para longe, Bella. Saia pela janela!

– Saberão que me acobertou, pai. Poderá ser preso por isso!

– Eles não têm como provar. – Cygnus soluçou, então abraçou a filha como se fosse a última vez. – Vista a capa, depressa! Ponha a máscara! Depois eu me entendo com eles... E com Andrômeda!

Bellatrix rapidamente fez um gesto com sua varinha, até que se formasse uma capa nigérrima sobre seu corpo. Seu rosto se compôs em uma máscara metálica, deixando a mostra apenas os seus olhos. Soltou a mão do pai, e logo saltou da janela, fazendo com que uma fumaça negra e espessa a seguisse pelos ares. Os aurores atiraram feitiços em sua direção, furiosos. Mas Bellatrix os desviou facilmente, então sumiu.

Alguns segundos depois, os aurores novamente entraram na casa, ameaçando o dono dela com suas varinhas.

– Será punido, senhor Black! O senhor tentou nos enganar!

– Eu não tentei enganar ninguém! Eu realmente pensei minha filha estivesse dormindo, mas quando entrei vi que tinha um Comensal da Morte no quarto dela! Não tenho nada a ver com isso! Merlin, estou tão assustado! Nem ao menos pude ver o rosto dele...

– Ou dela! Já que o senhor sabe muito bem que o tal Comensal da Morte era sua filha!

– Oras, como ousa me acusar sem provas, senhor Mckinnon? – Cygnus sacou a varinha. – Creio que não preciso lhe dizer que não há fatos que comprovem o que o senhor diz! Sem mais delongas, devo insistir para que vão embora. Tenho um assunto mais urgente a tratar.

– Que tipo de assuntos?

– Não parece óbvio? Minhas filhas sumiram! Narcisinha, que deveria estar dormindo neste horário, como o de costume, não está! Ou Andrômeda, que nem sei por que diabos sumiu logo hoje! E até mesmo Bella, que vocês tanto procuram! As três estão sumidas!

– Vamos organizar uma busca. – disse um dos aurores, tediosamente, convencido de que de nada adiantaria permanecer em uma discussão.

– Fico-lhes grato! – Cygnus sorriu cordialmente, fazendo sinal para que todos se retirassem. Sabia que Narcisa não havia sumido, e que possivelmente estava no Largo Grimmauld ou então usufruindo das riquezas de Lúcio, fazendo compras no Beco Diagonal. Sabia também que Bella estava a salvo, já que fugiu para junto de seu mestre em Little Hangleton. Mas e quanto a Andrômeda? Onde poderia estar?


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