Sangue Puro escrita por Shanda Cavich


Capítulo 3
Capítulo 2 - Irmãs de Sangue




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A madrugada seguinte ao Dia das Bruxas estava fria e silenciosa como um túmulo. A jovem maga acabara de voltar de um lugar relativamente longe. Aquelas alturas, ela deveria estar em Oxford, dormindo na Mansão Lestrange ao lado de seu marido. Mas resolveu passar o que restava da noite na antiga casa de seus pais, onde supunha que não ousariam interrogá-la sobre onde esteve, e com quem. Assim que empunhou a varinha contra a porta do casarão onde morava há dois anos, enxergou a silhueta de alguém sentado na cadeira do hall de entrada.

– Sabia que você viria para cá... – disse a voz da silhueta feminina. Quando o abajur ascendeu, a visão tornou-se clara.

– O que? – Bellatrix retirou o capuz, revelando cabelos soltos e bagunçados. Um dos brincos que estava usando na festa de ontem não estava mais em sua orelha e seus olhos estavam vermelhos, evidenciando ressaca.

– É a terceira vez que você vem pra cá esse mês, Bella. – disse Andrômeda, calmamente. – Você está casada, não mora mais aqui. Por que é tão difícil aceitar a idéia de morar na sua própria casa?

– Como ousa, desgraçada? Essa casa também é minha!

Já estava quase amanhecendo. Bellatrix tirou o par de sandálias que usava e jogou no sofá. Foi até a escadaria e começou a subir em direção ao corredor, deparando-se com Narcisa.

– Bella, você aqui? Pensei que tinha ido embora com Rodolfo... – Narcisa abraçou a irmã. – Que bom que resolveu vir... Mamãe me convenceu a começar a procura por vestidos e...

– Desculpe, Ciça. – interrompeu Bellatrix. – Mas não me interesso por vestidos de noiva e outras frescuras. Já tive o meu próprio vestido e o queimei logo depois de meu casamento... Agora eu só quero dormir.

Narcisa paralisou com as duras palavras da irmã. Andrômeda deu uma leve risada, enquanto Bellatrix foi até seu antigo quarto. A luz do sol, aos poucos, começara a invadir a sala de estar através das janelas. Já era manhã.

– Eu vou dormir mais um pouco. – concluiu Andie, em seguida olhou para Narcisa. – Você também deveria dormir mais, Ciça. Está ficando com olheiras.

– Me deixe em paz, sua horrorosa! – a irmã mais nova resmungou colocando as mãos sobre o rosto.

Horrorosa? É assim que você deseja me ofender? – Andrômeda riu. No fundo gostaria de ter acabado com a conversa naquele mesmo momento, mas não acabou. – Cresça! O que você acha pra mim não quer dizer nada. Não sei se você se lembra, mas ontem tia Wal disse que o meu cabelo é que é lindo, e não o seu.

Por um instante, Andrômeda arrependeu-se de ter dito o que disse. Os olhos extremamente azuis de Narcisa, espontaneamente suaves, agora não passavam fendas furiosas.

– Tem razão, Andiezinha. – Narcisa subitamente deu um largo sorriso. Tão lindo e tão natural, que era possível constatar que realmente estivesse feliz. – Você tem toda razão.

Andrômeda não entendeu o comportamento da irmã. Ninguém entenderia. Algo soou estranho naquele sorriso, ainda mais estranho quando foi até o quarto de Bella, ao invés do seu. Algumas horas depois ela entenderia o porquê. Andie acordou com os cabelos picotados, curtos. Destruídos. Quando se deu conta do que acontecera enquanto esteve dormindo, não pôde fazer outra coisa além de chorar. Bellatrix adentrou seu quarto, rindo histericamente.

– Não foi ela, Andie... Fui eu.

Foi realmente cruel. As duas irmãs, mais velha e mais nova, atacaram a do meio por mera satisfação pessoal. Bella era pura malícia, enquanto que Narcisa transbordava frieza. Juntas eram terríveis. Druella, quando soube, apenas comentou que agora seria mais difícil encontrar um marido para a filha, afinal só pensava nisso. Cygnus deu risada. Sendo Bella a filha preferida do pai, e Narcisa a preferida da mãe, Andrômeda definitivamente não tinha um ombro pra chorar dentro daquela casa.

Era uma manhã gelada. Havia um lago parcialmente congelado perto da rua onde morava parte da família Black. Os pensamentos de Andrômeda variavam de tristeza, e até mesmo raiva. O que ela fez de tão errado para receber tudo aquilo? Não só a crueldade de suas irmãs, mas também os despautérios provocados por seus próprios pais, que apoiavam a matança que estava ocorrendo em função de uma causa tão superficial.

– Olá. – disse uma voz masculina, jovial. Andrômeda virou-se e notou o rapaz de cabelos pretos, aluno da Grifinória. Ted Tonks.

– O que está fazendo aqui? – Andie deu um soluço.

– Por que chora?

– Não é da sua conta. – a garota escondeu o rosto com as mãos, deixando que escorressem ainda mais lágrimas, abafadas pela pele.

– Seu sangue é puro demais pra falar comigo?

– Como ousa? Não sou como meus pais! E muito menos como minhas irmãs! Só porque sou da Sonserina, não significa que eu seja uma seguidora do tal Lord Não-Sei-Das-Quantas!

Os olhos de Ted brilharam ao ouvir aquilo. Desde que estava no primeiro ano de Hogwarts, Andie sempre o ignorou, talvez pelo fato de Bellatrix a perseguir todos os dias na escola.

– Venha comigo. – Ted Tonks estendeu a mão. – Eu posso te salvar.

– Eu não posso, eu... Você é muito gentil. Queria ter lhe conhecido melhor, mas... Meus pais me matariam se soubessem que cheguei a falar com você.

– Venha, Andrômeda. Minha mãe sabe fazer um cachorro-quente que é uma beleza! Você precisa experimentar.

– Cachorro?

– Não é um cachorro de verdade. – Tonks riu. – É comida de trouxa.

Andrômeda segurou a mão do rapaz, que lhe enxugou as lágrimas com os dedos. Foi assim que apaixonou-se pelo homem que traria com todo o seu amor, a desonra para os Black. Mas o que isso importava, se ela estaria feliz? Finalmente feliz.


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