Sangue Puro escrita por Shanda Cavich


Capítulo 25
Capítulo 24 - Famílias Divergentes




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Em Ottery St. Catchpole, o garoto de nove anos, ruivo, com sardas nas maçãs do rosto, corria pelo quintal da rústica casa. Era ligeiramente alto para sua idade, e seus olhos variavam de um verde escuro a cor de mel. Gostava muito de brincar de quadribol, motivo pelo qual estava montado num grande graveto como se ele fosse uma vassoura de corrida. Tinha seis irmãos, todos ruivos como ele. As roupas que agora estava usando pertenceram à pelo menos três deles, por isso estavam gastas e desbotadas, e havia remendos nos joelhos e cotovelos.

– Rony, venha jantar. – disse a voz de Arthur Weasley, que acabara de sair da casa para chamar o filho.

– Mais cinco minutos! – insistiu o garoto.

O pai tinha coração mole. E por mais que sua renda financeira fosse apertada, não deixava nada faltar aos seus sete filhos e esposa. Apesar de ter sangue puro, o bruxo era contra a mania de pureza que as famílias tradicionais costumavam ter. Na verdade, ele achava o mundo trouxa fascinante. Olhou para as primeiras estrelas que começaram a surgir no céu, então resolveu sentar no degrau da varanda.

– Venha cá, Ron. Vou te dizer uma coisa.

Ronald Weasley, o penúltimo filho de Arthur e Molly, largou o graveto no chão e sentou ao lado do pai.

– O que é, papai?

– Não falta muito tempo para você ir para a escola. – o pai bagunçou os cabelos do garoto. – Mas quando estiver lá, quero que seja um bom aluno, que trate todos igualmente, e jamais se gabe por ter sangue puro, está bem?

– Por que raios eu me gabaria em ter uma família inteira bruxa? O senhor mesmo disse que os trouxas são mais legais que nós, não disse, pai? – o olhar de Rony era inocente e ao mesmo tempo confuso.

– Depois da queda de... Você-Sabe-Quem... muitos bruxos devotos a ele se camuflam na sociedade mágica. Até hoje existem famílias adeptas a eliminação de nascidos trouxas. Seria um enorme desprazer se você fosse influenciado por gente assim.

– Pai, – Rony fez um bico convencido. – ninguém me influencia. Conhecemos vários bruxos nascidos trouxas, e sabemos que são tão bons quanto nós. Esse Lord-Não-Sei-Das-Quantas fez uma guerra sem sentido, é o que eu acho.

– Fico feliz que pense assim, filhão. – Arthur levantou do degrau. – Se falar com algum trouxa por aí, pode pedir alguma tomada ou bateria que não esteja mais sendo usada? Sou fascinado por aquelas coisinhas!

– Tem a ver com aquele papo de eletrizamento?

Eletricidade, filho. – Arthur corrigiu, orgulhoso por achar que entendia do mundo trouxa. – É algo que os trouxas usam para fazer suas coisas funcionarem sozinhas, muito mais legal que magia, você precisa ver. É só ligar na tomada e puff! Tem choque, luzes, figuras e muito mais!

Arthur e Rony adentraram a Toca, ainda falando sobre tomadas e "magníficos cabos elétricos". Foram até a grande mesa, todos já estavam reunidos. Seis filhos homens, apenas uma menina, que era a mais nova. Molly havia feito peru assado para comemorar o novo emprego do filho mais velho, Gui. Ele finalmente havia saído do emprego de recolhedor de lixo no ministério para trabalhar em Gringotes, o maior banco dos bruxos da Grã-Bretanha.

Em Wiltshire, o garoto de nove anos, loiro, com a pele e o cabelo tão claros quanto flocos de neve, estava montado em uma vassoura, modelo Firebolt Júnior. Voou com ela durante alguns minutos em torno do imenso jardim. Os pavões albinos o espreitavam abaixo, então uma mulher elegante, loira e alta surgiu entre eles.

– O jantar foi servido, Draco. – disse ela, com um sorriso perfeito.

O garoto inclinou a vassoura e desceu. Jogou-a no chão, e com uma voz extremamente arrastada, começou a falar.

– Acho que preciso de uma vassoura de verdade, mamãe. Quero uma Comet 260!

– Claro, filhinho. Seu professor de voo disse que está se saindo muito bem. Você merece. – a mãe colocou a mão sobre o ombro do garoto, então os dois entraram na mansão.

A sala de jantar assemelhava-se a de um castelo monarca. A mesa continha quarenta lugares, e as cadeiras pareciam pequenos tronos. Lúcio Malfoy estava sentado na ponta, bebendo um delicioso vinho. A família toda saboreava uma refeição que certamente iria sobrar, pois eles eram só três e havia comida suficiente para a multidão de uma festa inteira.

– Logo você irá para a escola, Draco. – disse Lúcio, depois de tomar outro gole do vinho. – Penso em colocá-lo em Durmstrang.

Draco deu de ombros, indiferente. Mas Narcisa arregalou os olhos azuis celeste.

– De jeito nenhum. Meu filho não vai para a Rússia. – a mãe passou a mão sobre uma das bochechas do filho. – É muito longe!

Lúcio deu de ombros, indiferente, exatamente como Draco fizera segundos atrás. Era incrível como pai e filho eram iguais não apenas na aparência, como também na personalidade.

– Tudo bem. Então irá para Hogwarts. – concluiu o Sr. Malfoy. Quando ia continuar a falar, o elfo doméstico deixou escorregar uma bandeja, chamando sua atenção. Lúcio sacou a varinha extremamente rápido. – Crucio!

Dobby se contorceu de dor. Depois de se levantar, recolheu a bandeja prateada do chão. Fez uma sofrida reverência, então voltou à cozinha.

– Elfo imprestável! Não é a primeira vez que derruba as coisas!

Lúcio tomou mais um gole do vinho. Narcisa deu uma risadinha discreta, fingindo que limpava o queixo com o guardanapo. Draco riu com vontade, achava graça em tudo que seu pai fazia contra os empregados, e sempre que podia, o imitava. O Sr. Malfoy pigarreou, então prosseguiu com a conversa.

– Mas, Draco... Você sabe que em Hogwarts há bruxos da ralé, como os Weasleys. Pior ainda, em Hogwarts há mestiços e sangues ruins.

Draco fez uma cara de nojo, Narcisa fez o mesmo.

– Pois bem... – Lúcio colocou um pedaço de carne na boca. Mastigou elegantemente, então continuou. – Quero que mantenha distância de gente dessa laia.

– Você nem precisava me dizer isso, pai. Sei muito bem que sangues ruins são o lixo da sociedade.

– Mas, acima de tudo... – Lúcio ignorou o comentário do filho. – Harry Potter tem a mesma idade que você. E é bem provável que aquele velhote caduco do Dumbledore o leve para Hogwarts!

– Harry Potter é aquele famoso? O da cicatriz? – Draco perguntou, admirado.

– Este mesmo. O menino que sobreviveu, e que supostamente deu um fim no Lord das Trevas. – Lúcio pareceu irritado. Sua voz soou ainda mais tediosa e mais fria. – Também peço que não demonstre seu desprezo por Dumbledore na frente do garoto, filho. Você sabe, podem achar que nossa família continua sendo leal aos ideais de Milorde.

– E não continua? – o garoto ficou confuso.

– Sim, Draco. Mas não é necessário demonstrar isso agora que a guerra acabou. – Lúcio tomou três goles de vinho seguidos. Sua varinha estava ao seu lado, em cima da mesa. O bruxo a colocou de volta presa ao cajado, formando um longo cabo serpentino. Seus olhos cinzas emanavam algum tipo de preocupação, até mesmo maldade. Os três Malfoys continuaram a jantar.

Em Little Whinging Surrey, o garoto de nove anos, moreno, com os olhos extremamente verdes e cabelos bagunçados como se houvesse passado uma horrível ventania acima de sua cabeça, estava olhando através da fresta na porta do quarto de seu primo. Fazia isso para poder assistir o que passava na televisão. A família não o deixava assistir, portanto o único modo era fazer escondido. Não que ele gostasse dos programas de TV, mas não havia outras coisas que poderia fazer para passar o tempo, sem que seu primo Duda tentasse lhe dar socos e pontapés. Estava passando um desenho animado envolvendo cães que falavam, o que certamente não agradava Válter e Petúnia, os tios de Harry.

Os Dursleys odiavam supor que existiam coisas que faziam o que não deviam, ou animais com dons fantásticos, impossíveis. A Rua dos Alfeneiros, número 4, era o último lugar em que se poderia imaginar viver um bruxinho, que ainda nada sabia sobre seu verdadeiro mundo. Duda Dursley assistia á televisão, empolgado, dando risadas altas e maçantes enquanto saboreava um pacote de jujubas.

– O que está fazendo, menino? – disse a voz de sua tia, Petúnia, que mais parecia um guinchar de cavalo.

Harry desconcentrou seu olhar da TV, e virou-se, assustado.

– E-eu só...

– Chame Duda para jantar. – disse ela, impaciente.

A hora das refeições era a que Harry Potter menos gostava. Não pela comida em si, mas por ser um momentos em que seus tios mais falavam absurdos, e o tratavam pior do que o normal. E estando todos reunidos, Harry não podia escapar. E ai dele se respondesse.

– Rápido! Traga-me o refrigerante, menino! – disse tio Válter, com sua cara avermelhada e sempre nervosa.

O menino, usando roupas largas e óculos com fita adesiva, pegou a garrafa na geladeira e entregou ao tio. Sentou na cadeira ao lado de Duda, que já lhe transmitiu um olhar aborrecido. Depois de vários minutos de conversa sobre o "horrível cabelo de Harry", Duda começou a jogar os pedaços de brócolis no prato do primo, detestava verduras.

– Hei! Eu não quero! – disse Harry, que também não era fã do alimento verde. Se pudesse voltar no tempo, teria ficado calado.

– Não vai comer o brócolis, garoto? – Válter o encarou ameaçadoramente.

– Eu comi o meu. Mas o Duda jogou o dele no meu prato só para não ter que comer o dele! – Harry reparou que um dos pedaços parecia mastigado.

– Oras, quanta bobagem, moleque ingrato! – Válter comprimiu seus olhinhos de porco. – Coma logo isso e vá para o armário!

Harry, sentindo-se derrotado, resolveu não responder. Duda deu uma gargalhada, e Petúnia passou a mão em seus cabelos louros e espessos. Quando Harry achou que teria que comer a comida babada do primo, reparou que ela havia voltado ao prato de Duda misteriosamente. Tio Válter olhou para a esposa, completamente assustado.

– Não quero saber de mais nenhuma gracinha por hoje, menino!

– Mas eu não fiz nada! – disse Harry. Essa era a frase que ele mais falava.

Tio Válter levantou e puxou Harry pela gola da camiseta, que começou a ficar ainda mais larga. Como se arrastasse um saco de lixo, levou Harry até o armário sob a escada, e fechou a porta bruscamente.

– Não saia daí até eu mandar!

Harry ficou trancado no armário até o dia seguinte pela manhã, sem ao mesmo entender como o brócolis teria "voado" até o prato de Duda. Não era a primeira vez que algo estranho acontecia naquela casa. E se tinha uma coisa que os Dursleys não gostavam era de anormalidades, e principalmente, se parecessem ter alguma coisa a ver com Harry Potter.


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Notas finais do capítulo

Gente. Esse foi o último capítulo =(
Farei um epílogo, que de margem ao rumo da história real. Gostaria muito de saber se gostaram das minhas histórias sobre os Sangues Puros, e também gostaria de saber se gostariam que eu criasse uma fic sobre os Fundadores de Hogwarts.
Essa fic merece ser recomendada? Obrigada por lerem!
Ps.: Leitores fantasmas, espero comentários. hahaha
beijos a todos!



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