Sangue Puro escrita por Shanda Cavich


Capítulo 23
Capítulo 22 - A Ilha




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Já se passara um mês desde a queda do lorde. A grande ilha se ocupava inteiramente por uma fortaleza de pedras. O mar a sua volta estava sempre revolto, como se até mesmo as águas pudessem perceber as atrocidades vindas de dali. Azkaban era pior do que uma prisão. Era o puro sofrimento, pois dementadores viviam lá. Até então não havia um bruxo sequer que tenha conseguido fugir. Uma vez que se é condenado a passar o resto da vida em Azkaban, ela acaba no instante em que se pisa na ilha. Lá não existe vida. Apenas corpos que resistem à morte, louca e sofregamente.

– Me soltem! Me soltem! – berrava um jovem homem algemado, debatendo-se em meio a dois homens.

Os aurores simplesmente não o respondiam, sequer olhavam em seus olhos.

– Sou inocente! Foi um engano! – ele continuava, sendo arrastado pelo imenso corredor.

– É o que todos dizem. – disse finalmente um deles.

Subiram mais quatro andares, e quando pararam em frente à última cela do corredor, um dos aurores retirou as algemas do prisioneiro e lhe entregou um conjunto de vestes listradas, branca e cinza.

– Mude sua roupa, Black. Mais tarde alguém passará para buscar a antiga. Vou repetir as quatro principais normas, para que tudo fique claro. – o auror tirou do bolso um pergaminho. – As refeições são feitas individualmente. O senhor terá direito a visita somente se o visitante conseguir uma autorização do ministério. O senhor poderá sair de sua cela e passar o dia no pátio com os demais, uma vez por mês. E se tentar alguma gracinha, um dementador será mandado a passar a noite toda com você. Estamos entendidos?

Os olhos de Sirius quase saltaram. Com tantas informações ruins juntas, não conseguiu responder.

– Estamos entendidos, Sr. Black? – repetiu o auror.

– S-sim. – Sirius respondeu de modo automático, embora o pavor o impedisse de raciocinar.

Antes que pudesse dizer alguma coisa a mais, o auror trancou a porta de aço com uma chave pesada. Havia dois pequenos buracos nela. Um em cima com grades, e outro encostado ao chão, por onde a comida seria passada. Sirius ainda não tinha reparado, mas a cela era minúscula e escura, semelhante a um armário. Havia uma cama quase sem colchão, um banheiro e uma torneira. Quando Sirius notou a torneira, rapidamente foi até ela, pois sentia sede desde que chegou. Para a sua infelicidade, saía uma água um tanto suja, em uma corrente tão fina que demoraria certo tempo para encher um copo.

Será que eu ouvi bem? Sirius Black está aqui do meu lado? – disse uma voz particularmente familiar. Era grave e rouca, apesar de jovial. Sirius levou um susto.

– Quem está aí? – disse Sirius, olhando para a parede de pedras do lado direito. Como o lugar era escuro, sua visão estava limitada.

– Sou Rodolfo Lestrange. – disse a voz, com ar de superioridade e uma pitada de fúria. – É você que está aí, Sirius?

– S-sou. – Sirius respondeu, surpreso.

Rodolfo Lestrange e Sirius Black sempre se odiaram. Mas Sirius realmente sentiu-se aliviado por ouvir uma voz conhecida, mesmo vindo de quem veio.

– Pois bem, moleque. – a voz de Rodolfo prosseguiu. – Já vou avisando que aqui você não tem moral alguma, o velhote não está aqui
pra te ajudar. E você é tão criminoso quanto eu, do contrário não estaria aqui.

– Eu sou inocente! – Sirius se enfureceu.

– Você traiu seu próprio sangue! Traidores nunca são inocentes, é o que sua mãe diz. – Rodolfo deu uma risada alta, causando eco. – Fique sabendo que Comensais da Morte são a maioria neste lugar agora. Ou seja, qualquer passo em falso e você estará morto!

– Não vou me juntar a vocês. – Sirius dizia, como se ele e Rodolfo estivessem conversando cara a cara, mas ambos encaravam as paredes. – Se não me juntei a vocês enquanto estava livre, porque me juntaria aqui?

– Quem disse que queremos que você se junte a nós, seu garotinho imbecil? – a voz de Rodolfo soou ainda mais grave. – Só estou avisando para não nos incomodar! Odiamos você e qualquer um da Ordem do velhote!

A primeira noite em Azkaban foi a mais assustadora. Depois da morte dos Potter, Sirius se descontrolou. Pouco tempo antes de o lorde cair, seu irmão foi assassinado por Comensais da Morte. Para piorar, Pedro Pettigrew o acusou de coisas horríveis, e matou cerca de doze trouxas em um incêndio, de modo que todos pensassem que Sirius foi o
culpado. "Por que fez isso, Rabicho? Por quê? Éramos irmãos!", pensava todo segundo.

Na mansão Malfoy, Narcisa ouvia o choro do filho vindo de cima. Já fazia quatro horas desde que Lúcio fora até o Ministério para um interrogatório. Foi convocado em função de uma denúncia feita por Arthur Weasley, que o acusava de assassinato e envolvimento com Artes Negras, sendo um fiel partidário D'Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado.

– Dobby! – a senhora Malfoy gritou, coisa que raramente fazia.– Traga-me Draco!

O elfo doméstico correu até ela. Arregalou os olhos, surpreso.

– A senhora está permitindo que Dobby encoste na criança?

– Faça o que eu mandei, elfo estúpido! Não vê que não estou em condições para ir buscá-lo? – a voz de Narcisa era aguda como um assovio, e fria como o gelo. Ela vestia um lindo robbie verde oliva. Seus cabelos estavam inteiramente soltos, chegando até a cintura. Segurava um cálice de uísque de fogo nas mãos. Bebeu o último gole e o jogou na lareira.

Dobby subiu as escadas o mais rápido que pôde, sem olhar para trás. Narcisa estava nervosa, sentou-se no chão de mármore e colocou as mãos sobre o rosto na tentativa de impedir alguma lágrima que resolvesse escorrer. Não podia chorar agora. Lúcio foi até o julgamento com uma grande quantia em ouro dentro das vestes, esperando que o
ministro as aceitasse em troca de sua palavra. Mas e se por algum motivo ele resolvesse negar? Narcisa ficaria desprotegida, pois apesar de ter dinheiro, era de Lúcio que eles tinham medo. Medo de sua influência, medo de seu nome milenar, das coisas que ele possuía. Lúcio Malfoy possuía até mesmo pessoas, prontas para matar e corromper quem ele mandasse.

Cinco minutos depois Dobby se aproximou, carregando o pequeno Draco com dificuldade. Entregou-o à mãe, e voltou para o pé da escada.

– Silêncio, filho. – disse Narcisa, acariciando os cabelos louro-brancos e finos do bebê. – Eu te amo muito, muito, muito!

O menino de um ano parou de chorar, como se a voz da mãe fosse o suficiente para acalmá-lo. Estava enrolado em uma manta negra, feita de veludo.

– Seu pai vai voltar, querido... Não chore, não. Não chore, não. O papai já vem... – cantarolou Narcisa, com uma voz lacrimosa. Ainda estava de joelhos no chão, aninhando o pequeno com meiguice.

Subitamente, a enorme porta do salão se abriu. Lúcio Malfoy aparecera, com um majestoso sorriso estampado no rosto. Sua longa e cara capa de viagem esvoaçou com o vento vindo de fora. Assim que viu a esposa e o filho, correu para abraçá-los.

– Eu disse que ia dar certo. – Lúcio abraçava os dois com força, de tamanha era a sua felicidade. – Eu disse, Ciça!

O casal se levantou, então Draco esticou os braços para o pai. Lúcio o segurou e rodopiou, fazendo com que ele risse. Com a mão livre, fez um gesto para que Dobby se aproximasse. O elfo veio e fez uma reverência. Lúcio sacou a varinha.

Crucio! – e o elfo se contorceu, mas manteve a posição, agachado diante de seu senhor.

Narcisa foi para junto do marido, que ainda com a criança no colo, torturava a criatura sem piedade.

– Estou tão feliz que tenho vontade de matá-lo, Dobby! – Lúcio deu uma risada, com sua voz arrastada e tediosa. – Mas infelizmente seria lamentável perder um escravo.

Dobby sentia uma dor extremamente grande, e sequer entendia o motivo. A família o torturava quase todos os dias, mas sempre tinha um motivo, por mais banal que fosse. Desta vez parecia apenas uma forma de Lúcio aliviar a tensão que foi obrigado a passar antes de ir ao tribunal.

Crucio! – Lúcio repetiu.

Dobby começou a fechar os olhos. Sua última imagem antes de desmaiar foi a da família Malfoy reunida. O pai com o filho no colo, e a esposa abraçada a ele. Todos loiríssimos, com um olhar frio e maldoso. O bebê ria, talvez inocentemente. Não se sabia se o motivo era a dor do elfo ou a exaltação do pai. A única certeza era de que os três estavam felizes. Felicidade que era terrível para Dobby.

O ministro aceitou tão bem o dinheiro de Lúcio, que até mesmo a imprensa ajudou a inocentar os Malfoy. Houve inúmeras reclamações vindas de aurores, mas de nada adiantaram. Passaram-se algumas semanas, e Bartô Crouch Júnior foi preso, pois foi denunciado pelo
Comensal da Morte Igor Karkaroff. O pai do jovem Comensal, Bartolomeu, foi quem deu a ordem final. "Mandou o próprio filho para Azkaban", diziam as colunas de fofoca de Rita Skeeter.

Narcisa convidou um grande amigo para passar a tarde em sua casa, com o objetivo de questioná-lo. A queda do Lord das Trevas deixou transparecer milhares de covardes e traidores, sobrando poucos realmente leais. A ideia de sair livre de Azkaban poderia parecer traição para alguns. Mas para os Malfoy, era questão de esperteza e competência. Não era a toa que eram conhecidos como os intocáveis.

– O que acha do meu filho, Severo? – disse Narcisa, ajeitando os cabelos de Draco, que estava sentado em seu colo mordendo um dementador de borracha.

– É igual a Lúcio. – Severo Snape respondeu, de forma monótona.

– Só isso? – Narcisa sorriu, constrangida. – Nenhum elogio especial?

– Achei que o fato de ele ser igual ao seu marido seria o melhor elogio que eu poderia falar. Lúcio é quase um príncipe, não é?

– Não, Severo. Você é que é um príncipe. – Narcisa colocou Draco para brincar no tapete. – Mas me conte uma coisa...

– O que quiser. – Snape tentou utilizar legilimência contra a amiga de infância, mas ela bloqueou com facilidade, pois era ótima oclumente.

– Continua leal ao Lorde das Trevas, mesmo depois de sua queda?

– É óbvio. – Snape disse friamente, surpreendido pela dúvida de Narcisa.

– E Dumbledore? Acha que ele desconfia de você?

– Dumbledore nada sabe. Andarei ao lado dele o quanto for preciso, para que não pensem em me prender. Não sei se você lembra, mas foi Dumbledore quem impediu que eu fosse levado à Azkaban.

– Lúcio e eu fazemos o mesmo. Somos obrigados a nos disfarçar de vítimas.

– Compreendo. – Snape tomou um gole de vinho e olhou ao redor da mansão.

"Ahhhhhhhhhh! Aaaaarrrgh, por favor pare!" – ouviu-se uma voz masculina vindo de baixo, parecia desesperada.

– O que foi isso? – Snape se espantou, mas seu tom de voz permaneceu o mesmo.

– Nada de mais. – Narcisa pegou Draco novamente, e deu um sorriso igual a de uma criança que acabara de aprontar. – Lúcio só está passando o tempo no porão. Sabe... Trouxas merecem sofrer um pouco. Greyback trouxe esse aí pela manhã.


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Notas finais do capítulo

O que tão achando? hahaha
Coloquei essa parte final pois nos livros do HP diz que Lúcio torturava trouxas no porão, além de esconder diversos artefatos de magia negra.



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