Sangue Puro escrita por Shanda Cavich


Capítulo 15
Capítulo 14 - Almofadinhas




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Sirius Black estava deitado em sua cama, segurando o único objeto que lhe fazia bem dentro daquela casa: um pedaço de espelho. Hoje, durante o primeiro feriado do ano letivo, era seu aniversário. Dezesseis anos. E por mais que esta data, tradicionalmente, devesse ser celebrada, hoje tratou-se de apenas mais um dia ruim. Afinal, o garoto passou o dia todo dentro de casa. Largo Grimmauld, o lugar que ele mais odiava. Toda a vez em que voltava para lá, já começava as contar as horas e os minutos até que pudesse retornar à escola.

O quarto de Sirius era razoavelmente grande. A lareira em frente à cama iluminava e aquecia quase todo o cômodo sombrio. Havia pôsteres de bandas de rock e de motos espalhados pelas quatro paredes. A janela estava lacrada, magicamente. Idéia de Walburga, de modo a impedir o filho de manter qualquer tipo de contato com o mundo trouxa.

 – Não agüento mais, Pontas. – disse Sirius, forçando um lamento. – Se não me matei ainda foi porque tenho muito coisa pra viver! Não nasci pra viver preso, poxa!

– Ficar reclamando de como a vida é injusta não adianta nada. – a voz de Tiago Potter vinda da imagem no espelho soava um tanto mais grave. – Se eu fosse você, já teria voado para bem longe.

– Não posso, não consigo. – Sirius bufou, então olhou para a janela completamente lacrada. – Por que você acha que minha mãe selou a janela do meu quarto? Ela já espera que eu tente fugir!

– Você não pode ficar aí pra sempre, Almofadinhas. – o olhar de Tiago expressava provocação. – O seu pai não faz nada quanto a isso?

– Já falei como as coisas funcionam aqui em casa. Meu nunca faz nada a não ser ganhar dinheiro à custa dos outros. É quase tão biruta quanto à velha!

– Que bosta, cara. – Tiago riu, embora realmente estivesse com pena do amigo. – Sua mãe é um caso sério. Ainda bem que eu não sou você.

– Nem me fale. O que minha mãe diz é lei! Todos os Blacks fazem o que ela manda e pensam como ela quer! – Sirius continuou sério. – E ai de mim se tentar fazer o contrário!

A imagem de Tiago parou de rir, embora o modo como o amigo falasse chegasse a ser engraçado. No fundo, sabia que ele sofria. O que Pontas não conseguia entender era como Sirius não fazia nada para se livrar daquela situação. E medo não era uma algo comum vindo de qualquer um dos dois.

– Vou descer até a cozinha. – disse Sirius, sem ânimo. – Meus pais saíram pra dançar no CEB (Clube da Elite Bruxa). Terei um pouco de paz pelo menos por algumas horas.

– Seus pais dançando? – dessa vez Tiago não pôde segurar o riso. – Que coisa mais sinistra, cara!

– Tudo é sinistro na minha casa. – Sirius não riu nem uma vez, embora falasse debochado. – Depois do feriado nos vemos!

– Certo! Até segunda! – a figura de Tiago sumiu do espelho, sendo possível enxergar apenas um plano branco.

Já devia ter passado pelo menos uma hora desde que Orion e Walburga saíram. Sirius saiu do quarto, aliviado. Ainda faltavam dois dias para voltar para Hogwarts. "Dois dias de pleno sofrimento", pensou. Foi até o corredor, e assim que abriu a porta do banheiro deparou-se com uma jovem mulher de longos cabelos negros e molhados. Começava a vestir algo semelhante a uma camisola vermelha, de seda. Assim que ela notou que a porta estava aberta, deu um grito tão alto que quase o ensurdeceu.

– Bella?! – Sirius não conseguiu deixar de sorrir. – O que diabos você está fazendo na minha casa? E quase sem roupas!

– Seu moleque! – Bellatrix Lestrange atirou a saboneteira contra o garoto. – Feche a porta!

– Antes me explique! – disse Sirius, se esquivando dos objetos que a bruxa lhe atirava.

Bellatrix tentava esconder o corpo de todas as formas possíveis. Foi para trás da grande planta que havia no banheiro, enquanto desesperadamente terminava de abotoar a camisola.

– Eu vou te matar se você não fechar a porta neste segundo! – a voz de Bellatrix era incrivelmente aguda e grave ao mesmo tempo.

– Me matar? Ora, então onde está sua varinha?

– Não preciso de varinha para te matar! Basta quebrar-lhe o pescoço!

Sirius sentiu um arrepio ao encarar os olhos da prima, desvairados. Bellatrix respirava ofegante. Sua raiva aumentava a cada instante em que o garoto a desobedecia.

– Sabe, você fica interessante sem ela! Parece tão inofensiva! – provocou Sirius. – Ainda mais sem o Cobra por perto.

– Saia daqui agora!

– Você está dentro da minha casa. Ou seja, dentro de minha propriedade! Não admito que fale comigo dessa forma!

Sirius estava cansado da soberania feminina que assolava os Black desde os primórdios. Foi Elladora Black, há mais de cem anos, quem começou a dar fama de loucura à mui antiga família. Uma mulher. Walburga Black dominava o marido e o irmão, assim como todo o casarão no Largo Grimmauld. Bellatrix Black Lestrange passou a comandar a mansão Lestrange desde que se mudara para lá, enquanto Narcisa Black Malfoy já dava ordens a Lúcio antes mesmo do casamento.

– Rodolfo! – gritou a bruxa, numa voz tão estridente, que Sirius chegou a tapar os ouvidos.

– Ah, não! Só faltava essa! – o garoto indignou-se. Detestava o marido da prima desde os dez anos de idade. – Vai dizer o que o diabo do Lestrange também está aqui, aquele cabrito?

– Rodolfo, tire esse... esse... esse moleque daqui! – Bella gritou, assim que o homem alto vestido de preto adentrou o banheiro.

Rodolfo Lestrange estava diferente. Seus cabelos estavam mais compridos, e sua barba estava por fazer. Vestia uma longa capa preta, que apesar de elegante, estava surrada e rasgada na ponta. Seus olhos cor de avelã estavam contornados por uma vermelhidão mórbida, seu rosto transparecia fúria e cansaço.

– Ferrou! – sussurrou Sirius a si mesmo, percebendo o rapaz bem atrás dele, que obviamente ouvira seu xingamento. Assim que se virou, levou um murro no queixo, forte o suficiente para derrubá-lo, e fazê-lo apagar por alguns minutos.

Assim que abriu os olhos, a primeira pessoa que viu foi Régulo Black, seu irmão um ano mais novo. Estava sentado sobre suas pernas, apontando-lhe a varinha. O garoto menor tinha cabelos castanhos, ligeiramente compridos, olhos vibrantemente azuis. Sirius não estava mais no banheiro, e sim deitado sobre o tapete no quarto de seus pais. Sua blusa estava amarrotada, sinal de que fora levado arrastado até ali.

– Aqui virou um hospício de vez! – Sirius empurrou o irmão para o lado e levantou, com uma tremenda dor perto da mandíbula. – Pode me explicar por que nossa prima e o Lestrange estão aqui?

– Estão aqui para se esconder, oras! O que você esperava?

– Não tinham um lugar melhor pra se esconder, não?

– Não, não tinham. – Régulo guardou a varinha no bolso. – A Mansão Lestrange está cercada por aurores, assim como a casa do tio Cygnus. Só sobrou aqui.

– O problema não é meu se eles são criminosos covardes! – debochou Sirius, dando uma risada rouca. – Eu devia é entregá-los agora mesmo!

A porta se abriu bruscamente, quase que arrombada. Através dela surgiu Bellatrix Lestrange, segurando um copo contendo hidromel. Desta vez estava vestida, e mantinha no rosto uma expressão furiosa.

– Não precisa se incomodar conosco. Amanhã mesmo teremos que partir.

Régulo fez cara de descontentamento.

– Mas já?

– Sim, é um assunto do qual você sabe, Rég. E não, você não pode ir junto.

Régulo Black ficou quieto, e apenas assentiu com a cabeça. Sirius ficou confuso, enquanto Bellatrix o encarava com cara de nojo. Ficou durante alguns instantes pensando o que seu irmão menor poderia saber mais do que ele, ainda mais saindo da boca de Bella.

– Ótimo presente de aniversário este que mamãe me deu: Comensais da Morte para me fazer companhia com direito a um soco na cara! Oh, como ela é atenciosa! – Sirius lamentou, forçando um sorriso para a prima. – Não sei por que você e seu marido fazem isso, sinceramente. Matam pessoas por um motivo tão ridículo!

Bellatrix lhe apontou a varinha de nogueira e fibra cardíaca de dragão. Suas pálpebras pesadas se fecharam lentamente. Deu um longo suspiro, como se estivesse refletindo sobre que decisão tomar.

– Não opine sobre o que não conhece, Six. O que fazemos é para o bem, você não entende?

– Desde quando matança serve para fazer bem? – Sirius mexeu no queixo, tentando aliviar a dor.

Bellatrix Lestrange se ajoelhou ao lado do primo, de repente formou-se um sorriso em seu rosto. Um sorriso histérico, demente, tal como ela sempre fazia quando iria dizer algo sobre seu tão precioso Lorde das Trevas.

– Milorde diz que tudo ficará muito bem quando ganharmos a guerra. O mundo bruxo estará finalmente limpo, e o Ministério será submetido a ele!

Sirius deu uma gargalhada, mesmo temendo que aquilo um dia pudesse ser verdade. Régulo continuava quieto, de vez em quando olhava para seu braço esquerdo e o tocava discretamente por cima da blusa de lã preta.

– Que essa desgraça nunca se realize! – Sirius fez o sinal da cruz, para o espanto de Bellatrix. – Se você e Rodolfo não saírem daqui de casa até amanhã, juro que os entrego!

– Se me odeia tanto assim, por que não me entrega agora mesmo? Vamos lá, chame os aurores! – Bellatrix berrou, suas ultimas palavras soaram agudas até demais. – Mato um por um!

Desta vez Sirius ficou mudo.

– Eu sei que ele não fará isso, Bella. – Régulo demonstrou-se contente. – Nossa mãe arrancaria o coro dele com um machado em brasa e o dava de comer aos testrálios.

E o dava de comer aos testrálios! Pipipi-pupupu! – repetiu Sirius, imitando dramaticamente a voz irritante do irmão mais novo.

– Cala a boca, idiota! – Régulo corou.

– Cala a boca, você! Nossa mãe não passa de uma velha chata, doida, tirana e varrida!

Alguns passos puderam ser ouvidos vindos do corredor. Sirius sentiu um frio passando pela espinha. Para seu alívio, quem acabara de adentrar o quarto era apenas o elfo doméstico, segurando uma bandeja com duas xícaras de chá.

– Ufa. – sussurrou Sirius, enxugando o suor da testa causado pelo temor de que fosse Walburga. – Minha mãe disse que chega que horas, Monstro?

– Á meia-noite, Sr. Black. – o elfo estendeu a bandeja para Régulo, em seguida para Sirius.

– Nesse caso ela já deve estar chegando. – Sirius engoliu parte do chá, com certo receio. – Droga!

Bellatrix levantou do chão. Monstro fez uma longa e demorada reverência a jovem de vinte e um anos.

– E quanto a Srta. Bella? – os olhos do elfo brilharam. – Deseja mais uma dose de hidromel?

Embora Bellatrix Lestrange e Narcisa Malfoy já estivessem casadas, Monstro se referia a elas como "senhoritas Bella e Ciça", devido à grande afeição que sentia por elas desde pequenas. Já com Andrômeda, ele se referia como "a decaída" ou "a traidora". Apesar de Monstro ser considerado uma criatura inferior pelos bruxos, o elfo doméstico era um servo leal e honrado dos sangues puros, e se orgulhava disso.

– Não, Monstro. Acho que vou dormir. – a bruxa morena foi até a porta, e olhou uma última vez para Sirius. – Milorde tem planos pra você, sabia, Six? Acho bom que não nos decepcione.

Sirius arregalou os olhos e engoliu em seco. Régulo olhou seriamente para o irmão, então foi para o quarto da frente. Durante cerca de cinco minutos Sirius Black ficou sozinho no grande quarto de seus pais. A palavra "planos'' poderia indicar muita coisa. O garoto jamais pensou como o restante de sua família. Jamais se tornaria um deles. O que Lord Voldemort poderia querer com ele?

Já farto de tanta omissão de crimes, familiaridades com criminosos, e sem nem um pouco de curiosidade para saber que tipo de assunto o lorde teria a tratar com ele, Sirius tomou uma decisão mais do que óbvia: Deixar o Largo Grimmauld para sempre. Não seria tão difícil, nem precisaria sair pela janela, como havia imaginado há meses. A cada vez em que era maltratado e xingado, o garoto ia percebendo como era indiferente e indesejado naquela casa. Além do mais, os Black não sentiriam falta de um traidor. Apenas ódio. E o ódio, para a família, estava se tornando cada dia mais comum.


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Notas finais do capítulo

desculpa eu ter demorado, gente. É que agora como eu to postando duas fics, ta demorando um pouquinho mais... mas a média é um cap por semana. =)



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