Sangue Puro escrita por Shanda Cavich


Capítulo 11
Capítulo 10 - O mestiço




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Iniciara-se o primeiro semestre. Seis da tarde, e os alunos de Hogwarts circulavam pelo pátio naquele início de noite de outono. O céu embranquecido e a névoa arrebatada davam a sensação de que o inverno tomara o lugar da real estação. Uma menina de cabelos acaju, olhos verdes e vivos, aproximou-se do jovem solitário sentado no primeiro degrau da escada principal.

Severo mantinha a cabeça baixa, como se tudo que estivesse ao seu redor pudesse de alguma forma o incomodar. Seus cabelos negros e escorridos escondiam em parte a melancolia expressa em seus olhos. Assim que notou a garota à frente, sorriu de modo manso, quase imperceptível, como se todo o sofrimento de sua vida sumisse de repente.

– Então, Sev? – Lily sentou-se ao lado dele e segurou em sua mão. – Conseguiu falar com sua mãe?

– Não. – Snape novamente abaixou os olhos. – Só sei que está muito doente.

– Eu sinto muito. – Lily o abraçou de modo desleixado, já que o garoto não retribuía o abraço. – Você tem estudado bastante, pelo que eu percebi. Quase não sai do salão comunal nas horas livres.

– Estou meio que dentro um... grupo... – por um momento, Snape ficou mudo. – ...um grupo de estudos avançados que seguirá em frente até mesmo depois de Hogwarts.

– Estudos avançados? Com os seus amigos da Sonserina? – Lily deixou escapar um riso. – Estudar não é muito a cara deles.

– Mas é o que estamos fazendo. Estudando. Minha mãe deixou de pagar a escola já faz uns dois meses, por causa da doença. Quem está pagando por enquanto é o pai do Malfoy. – o garoto demonstrou firmeza no tom de voz, mesmo sua face estando invariável. – Lúcio, inclusive, me ajudou na compra dos livros novos. Nem sei como eu poderei agradecer.

– Puxa, quem diria. Malfoy solidário! – Lily bufou ironicamente. – Ele não é uma boa pessoa, Sev. O fato de ele estar te ajudando nesse ponto não quer dizer nada. Fiquei sabendo que Lúcio também usa o dinheiro dele pra muita coisa que não presta, tal como capangas, venenos, artefatos ilegais, suborno, trabalho sujo...

– Quem te falou essas coisas, Lily? – Snape arregalou os olhos, realmente surpreso. – Foi Potter? Foi ele quem andou dizendo isso?

– Olha, Sev, não importa quem disse. Eu só acho...

– Importa sim! Maldito seja aquele traidorzinho do sangue!

– Severo! – Lily o interrompeu, segurando em seus ombros. – Nós já tínhamos falado sobre isso! Vai mesmo me chamar de sangue-ruim outra vez?

– Você não entende, Evans! Nunca entenderá! – Severo Snape tirou as mãos da menina de perto. – Eu não sou como Potter, ou como Malfoy! Mas também não sou como você! Minha mãe é uma bruxa! Uma bruxa de sangue puro!

– Como é que é? – Lily começou a falar mais alto. – Está querendo me dizer que não sou digna de sua amizade só porque nasci trouxa?

– Não, Lily. Amizade... – Snape soltou um riso irônico, que mais parecia um lamento. Por mais que falasse monotonamente, era possível perceber a angústia em sua voz. – Eu gosto de você. Muito. Você nem imagina... o que eu sinto... Você não faz idéia...

Severo levantou-se de imediato, provocando o espanto da adolescente. Lily pensou ter visto uma lágrima escorrer pelo rosto do amigo que insistia em se virar contra a parede. O zelador começara a anunciar o jantar. Os dois já estavam de pé, sem ter o que dizer. O silêncio durou cerca de um minuto, até que fosse interrompido por uma voz esganiçada:

– E aí, Ranhoso? Não se cansa de perturbar minha garota? – disse Tiago Potter, trazendo consigo seus três melhores amigos.

Lílian Evans foi até o rapaz e segurou em seu braço. Snape continuou parado, olhando com cara de nojo para os quatro alunos da grifinória. O menino mais baixo e um tanto gordinho, Pedro Pettigrew, ria de alguma coisa que Sirius sussurrava em seus ouvidos. Já Remo Lupin parecia sério, e até mesmo constrangido por estar ali.

– Não sabia que Lily era uma propriedade sua. – disse Severo, olhando para o garoto de óculos redondos, que logo lhe apontou a varinha.

– Pare, Tiago! – Lílian puxou o namorado para o outro lado. – Sev é meu melhor amigo! Já disse pra parar de atormentá-lo!

Discretamente Snape enxugou os olhos úmidos, com as mangas de sua capa. "Os marotos" sabiam muito bem como fazê-lo sentir raiva.

– Não preciso que me defenda, Evans. – Snape virou-se em direção ao corredor, em passos lerdos, ignorando completamente os outros alunos. – Não preciso de mais nada seu.

No mesmo instante Sirius ergueu a varinha, prestes a lançar uma azaração no sonserino. Antes que pudesse proferir qualquer coisa, Lupin segurou seu pulso:

– Covardia não, Almofadinhas. Não se ataca nem mesmo um inimigo pelas costas.

– Qual é, Aluado? – bufou Sirius, soltando-se. – Tá virando amigo do Ranhoso, tá?

– Não. Mas não é só porque não gosto do Ranhoso que preciso ser covarde!

Formou-se um terrível silêncio. Severo Snape já tinha saído do pátio. Lílian soltou um suspiro de indignação e começou a andar em direção ao salão principal, fazendo com que Tiago a seguisse implorando para que ela o perdoasse. Sirius abaixou a cabeça quando Lupin lhe transmitiu um olhar reprovador. Por mais que odiasse levar sermões, de quem quer que fosse, reconheceu a atitude digna do amigo lobo.

O final de semana passou depressa. Na madrugada de segunda-feira Narcisa desceu as escadas do dormitório a fim de falar com o marido através da lareira no salão comunal. Desde o casamento, Lúcio insistiu em fazê-la informante, juntamente com Snape. Assim que sentou no sofá, deparou-se com o amigo do quinto ano, mexendo em um frasco de vidro.

– Ainda bem que está aqui, Severo. – Narcisa sorriu, rapidamente fechando o robbie cor de vinho. – A madrinha de Lúcio, Dolores, nos convidou para um chá no feriado.

– Dolores Umbridge? Não, obrigado. Acho ela insuportável. – respondeu o garoto, colocando o frasco sobre o balcão.

Narcisa lhe deu um leve tapa no ombro.

– Severo, não seja tão rude!

– Já disse que não, sen-ho-ra Mal-foy. – Snape soltou uma risada informal. – É estranho te chamar de senhora... Até uns dias atrás você só sabia falar de jóias e roupas. Agora está até casada, quem diria? Milagres são reais!

– Ora, deixe de bobagem! – Narcisa deu mais três tapas no amigo, que não pôde deixar de rir da delicadeza da garota até mesmo quando se irritava. – Sou tão ruim assim?

– Você sabe que não é. – Snape tentou voltar à costumeira expressão séria. – Lúcio tem sorte. Sorte por ter a mulher que ama, que além de muito linda é... é... interessante! E tem os olhos tão azuis, tão belos, que me sinto olhando para o céu quando olho pra eles.

– Ah, Severo! Você é um príncipe! – Narcisa o abraçou graciosamente, e aproveitou para dar uma espiada no frasco em cima do balcão. – O que tem aí?

– Uma poção. – Snape sussurrou. – Uma poção que eu mesmo criei.

– E pra que ela serve?

– Faz os ossos se esfarelarem aos poucos, como uma doença. Dependendo da dosagem, atinge os órgãos, podendo levar a óbito.

– Merlin! – Narcisa surpreendeu-se. – Pra que criou uma poção dessas?

Gosto de poções. Sempre gostei.

A manhã estava ensolarada. Durante o intervalo, a maioria dos alunos estava do lado de fora do castelo, deleitando-se ao som do coral do professor Flitwick. Severo Snape estava na biblioteca, esperando o melhor momento para testar seu cruel experimento. Sabia que Tiago Potter apareceria a qualquer instante para buscar seus pertences, deixados ali meia hora atrás. Assim que ouviu o som de passos se aproximando, recolocou a garrafinha com suco de abóbora no mesmo lugar onde estava.

– Olá, Ranhoso... digo, Snape. – Remo Lupin adentrou o estreito corredor de livros e retirou a mochila da escrivaninha.

– Potter, sendo o apanhador do time, necessita de um empregado para buscar as coisas dele, não é? – falou Severo monotonamente.

– Não sou empregado. Sou amigo, o que é muito diferente. E amigos se ajudam.

Snape passou alguns segundos a encarar o rosto do jovem, sendo possível constatar um grande arranhão em seu pescoço.

– E de que forma Tiago pode ajudar você? – riu-se Severo, realmente interessado em saber.

– Tiago é um bom amigo, embora não pareça. Tem me ajudado muito. Posso até mesmo dizer que se não fosse por ele, eu não estaria vivo. – Remo olhou para suas mãos visivelmente machucadas. – Em algumas noites do mês eu... isso não vem ao caso. Nem sei por que estou falando essas coisas pra você.

Severo voltou a folhear o livro a sua frente, indiferente. Lupin pegou a garrafa e levou em direção à boca.

– Não! – Snape levantou-se e puxou a garrafa das mãos do jovem. – Não beba isso!

– Por que não, se estou com sede?

– Es... está podre. – Snape fechou o objeto novamente.

– Essa garrafa é do Tiago. Não está vendo o emblema da Grifinória nela?

– Sim...mas...pelo cheiro pode-se notar que está podre. Você não deve beber isso. – Snape pegou seus livros, juntamente com a garrafa e seguiu em direção a saída. – Você não.


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Notas finais do capítulo

Gente, vcs sumiram!! =/



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