Someone To Call Mine II escrita por Gabi G


Capítulo 3
Capítulo III


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoal.

Dando seguimento à história, vou tentar manter o ritmo de postar frequentemente os capítulos que tenho revisado e que já estavam escritos. Tenho pronto até o capítulo 12 e estou trabalhando nos capítulos 13 e 14, vamos torcer que eu consiga manter o gás haha =)

Até mais,

Gabi G.



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Para Tess, o Ano Novo daquele ano representava mais do que nunca. Seria um o começo de uma nova etapa em sua vida, em NYC e perto da família. Na manhã daquele dia, ela já acordara bem disposta e de bom-humor.

— Tess? - Millie questionou, parando na porta do quarto da irmã. Quando viu a morena ainda apenas com coberta por um roupão, e em frente ao armário, revirou os olhos. - O que você ainda está fazendo desse jeito? Adam vai passar aqui a qualquer minuto.

Retirando um cabide com uma calça jeans do armário, Tess levantou os olhos. - Como? Por quê?

Nunca dispensando uma chance de esticar o corpo, a modelo seguiu até a cama e se estirou nos lençóis preguiçosamente. - Ele vai vir te buscar com o carro do Edward. Eu disse que você podia ir sozinha, mas ele falou que ia estar por aqui perto mais ou menos nesse horário.

Com um meio-sorriso, Tess vestiu a calça. - Eu duvido que ele estivesse por aqui perto.

— Por que acha isso? - Quando a irmã continuou mexendo no armário sem respondê-la, a loira sentou na cama e arqueou as sobrancelhas. - Ele teria outro motivo?

Tess lhe lançou um olhar divertido por cima do ombro e balançou a cabeça. - Eu preciso terminar de me arrumar, maninha, pare de me distrair.

Sorrindo, Millie balançou as mãos. - Não me diga que ele está apaixonado por você! Ou melhor, me diga sim!

Tess riu do romantismo natural da irmã. - Millie, eu acabei de voltar de outro continente, como isso seria possível? Ele está apenas... encantado, só isso. Ele é um amor de menino.

A modelo fez uma careta para a frase. - Tess, maninha, você não deve ter notado, mas... Ele já deixou de ser um ‘menino’ há um bocado de tempo.

— É claro que você acha isso. - Tess vestiu uma blusa de mangas curtas e se voltou para a irmã. - Afinal, o Ethan também é um doce.

Subitamente vermelha, Millie cruzou os braços. - Este é um assunto totalmente diferente. Eu não penso nele nesta forma. Eu só... acho que ele é mais do que as pessoas pensam.

Tess riu enquanto ajeitava os cabelos de frente para o espelho. - Claro, quem está dizendo o contrário? Não há nada de errado com papa-anjos, Millie, mas geralmente elas ficam mal vistas.

— Você não entende.

Percebendo que ela não tinha apreciado a brincadeira, Tess começou a falar, mas a campainha tocou e logo Millie saiu do quarto. Suspirando, Tess lamentou o fato de que o tempo tinha passado e seu tato para palavras não tinha melhorado nem um pouco.

••

Adam não estaria por ali perto de verdade, mas ele sabia reconhecer uma oportunidade quando esta aparecia. Por isso, no momento em que sua mãe informara que Tess iria mais cedo para ajudar nos preparativos para o Luau, no mesmo instante ele disse que iria buscá-la. A rapidez da decisão gerou alguns olhares, mas felizmente nenhum dos outros três moradores da casa lhe fez perguntas. Ainda.

Antes de subir até o apartamento das irmãs, Adam fez uma parada no de Violet para cumprimentá-la. Sempre simpático e sorridente, ele lhe beijou na bochecha de um modo que fez a senhora corar de satisfação e simular uma rápida falta de ar.

— Ah, por que você é tão mais novo, meu querido?

Ele segurou sua mão e levou aos lábios em puro cavalheirismo. - O destino nem sempre é justo, é verdade. Já que não pode ser de outra forma, eu me contento em apenas observá-la e sonhar.

Violet sorriu. - Sim, sim, você ainda me tira todo o oxigênio. Diga-me, querido, o que o traz aqui?

— Sua neta. - Ele respondeu, guiando a senhora para que se sentasse. - Tess vai ajudar no Luau. Teremos a honra de sua presença?

— Oh, quem dera se eu tivesse o mesmo pique da juventude. Andar na areia realmente não é mais meu esporte.

— Ora, pois. Que admirador seria eu se não levasse minha dama nos braços?

Por que ela sabia que ele bem faria, acariciou-lhe a bochecha. - Obrigada, belo cavalheiro. Vou considerar a oferta. Agora, vá. Se bem conheço minha neta, se não for lhe apressar, ela só sairá no verdadeiro ano novo.

Sorrindo, Adam lhe deu um carinhoso beijo na testa. - Eu vou, doce dama. Mas eu volto.

Subiu rapidamente os dois lances de escada e quando Millie abriu a porta para ele, Adam logo percebeu que havia algo errado na expressão dela, ainda que a modelo tenha o cumprimentado como de costume. Íntimo demais para cerimônias, ele a abraçou por um momento e beijou o topo de sua cabeça.

— Já pode desfazer a carinha triste, eu estou aqui.

A loira sorriu e beijou a ponta de seu nariz. - Estou muito mais contente agora.

— O que há com você? Hoje está terminantemente proibida qualquer emoção abaixo de felicidade.

Ela enlaçou o braço ao dele, e seguiu para a cozinha. - Não há problema nenhum, sério. - Antes que ele pudesse insistir, Millie foi até a geladeira para lhes servir de suco de beterraba. - Você vai ter que esperar um pouco. Como sempre, Tess ainda não está pronta.

Adam fez uma careta para o suco, mas Millie nem deu bola. - Eu já vim preparado para esperar, é claro.

Naquele momento, Tess entrou na cozinha. - É claro que vocês já estão falando mal de mim. Eu sempre sou injustiçada.

Adam se esqueceu do que estiveram falando quando avistou a bióloga. - Eu nunca falaria mal de você, minha flor. Eu lhe esperaria cem anos mais do que contente.

Ele segurou a mão de Tess e a levou aos lábios, apenas roçando levemente a boca na palma. Ela gargalhou e se inclinou para lhe beijar na bochecha, quase não conseguindo desviar a tempo quando ele virou e seus lábios quase se tocaram.

— Eu tenho certeza que sim. De que é o suco?

Adam respondeu primeiro. - Tortura degustativa.

Millie revirou os olhos e Tess comprimiu os lábios para não sorrir. - Huum, acho que essa eu vou passar. Podemos ir?

— Claro. - Como se fosse a coisa mais natural do mundo, ele passou um braço pela cintura de Tess e ela logo se desvencilhou, andando na frente. Adam riu. – Até mais tarde, Millie. 

***

Eu definitivamente vou precisar ter cuidado, Tess pensou tentando não se deixar levar pelos olhares de Adam. De qualquer modo, havia bastante coisa para se ocupar por ali e é claro que estar com sua família sempre lhe rendia distrações divertidíssimas, sobretudo da espevitada Alice.

— Jass, amor, você já comprou os marshmallows? Jass, e as xícaras para o chocolate? Jass, Jass, você está prestando atenção? - Alice agitou as mãos, chamando a atenção do marido que parecia muito entretido com a cerveja em suas mãos.

Clamando por paciência, ele colocou um sorriso no rosto. - Alice, meu amor, eu já não lhe disse que vou daqui a pouco comprar? Eu já não disse para você que estou esperando Emmet me telefonar, por que vamos juntos? Já não falei?

Escondendo um sorriso, Tess dobrou as barras de sua calça até a altura dos joelhos. Já estava arrependida de ter vestido uma calça comprida, já que limitava seus movimentos. A pressa era realmente a inimiga da perfeição. Ela logo sentiu Warm latindo a seus pés, em busca de atenção.

— Oh, meu Deus, como eu sou carente... - Ela pegou o cachorrinho nos braços e coçou atrás de suas orelhas.

Mais do que satisfeito, ele latiu em animação se inclinando para que ela pudesse acariciá-lo com mais facilidade. Os latidos logo se tornaram irritados quando, brincando com Melanie, Adam jogou água do mar bem em cima de Tess e Warm.

— Shi, shi, calma... - Ela tentou secar os pelos do bichinho com a mão.

— Desculpa... Eu te molhei? - Adam, que parecia ter acabado de sair de um banho em que esquecera de se despir, veio correndo em direção a eles. Quando se aproximara o bastante, mais um jato de água caiu sobre eles e o rapaz olhou para trás, gargalhando. - Essa não valeu, Melanie! Tempo.

— Você não tinha que estar ajudando os outros? - Tess o repreendeu, com um falso ar de irritação. Em seus braços, Warm latia irradiço. - Você o assustou.

Por que para ela aquilo parecia um verdadeiro crime, Adam sorriu charmosamente. - Perdão. Foi totalmente sem querer.

Ele alcançou para acariciar o bichinho, que primeiramente o rejeitou, mas finalmente se rendeu quando Adam lhe fez cócegas na barriguinha. Logo Melanie apareceu e para se desculpar com o bichinho, que era tratado como integrante da família, o levou para rolar na areia.

O vento ressoava em forma de brisa, acompanhado do barulho das ondas. Em função daquela calmaria, todos pularam assustados com a repentina batida de alto som de Jazz.

Sorrindo, Dan se desculpou à distância. - Foi mal, eu estou testando o som.

Ele abaixou o volume, mas por que sabia que a música era boa, deixou a melodia rolar. Reconhecendo outra oportunidade, Adam puxou Tess contra si.

— Dança comigo.

— Adam... - Ela tentou se afastar e não foi bem-sucedida em nenhum milímetro. Um tanto nervosa, sorriu. - Você está todo molhado e eu tenho coisas para fazer...

— Sim, eu estou todo molhado. E você vai voltar para seus afazeres daqui a dois minutos ou três, depois de dançar comigo.

Ela ainda relutou mais um pouco, e quando mesmo assim ele não a soltou, cedeu. Era apenas uma dança. Eles estavam no meio de várias outras pessoas. Não havia perigo. Ao menos, não tanto.

Com rosto mergulhado nos cabelos de Tess, Adam sabia que não havia melhor lugar para estar. Ele a girou repentinamente, e escutou com gosto o som de sua risada. Com uma mão na de Tess e a outra em suas costas, ele a aproximou dele novamente e afastou o rosto para olhar nos olhos dela.

— O que mesmo nós tínhamos combinado de fazer, Tess? - Ele fez como se não se lembrasse.

Um pouco mais cautelosa, ela sorriu minimamente. - Nós não combinamos nada. E nós não...

— Mesmo? - Ele franziu o cenho. - Eu podia jurar tínhamos combinado. Provavelmente eu devo ter sonhado, então.

Ela não ia se deixar levar pelo fato de que ele era romântico, não ia, não ia. Nem pelo fato de que ela admirava o modo como os olhos dele nunca se desviavam dos dela, embora aquilo evitasse pensamentos coerentes.

Antes que ele pudesse continuar, ela disse. - Adam, é muito lindo o modo como você fala, e...

— Obrigado.

Ele sorriu e lhe beijou demoradamente na bochecha, visivelmente tentando distraí-la do que ele sabia que ela diria.

— Você não se importa de ficar fazendo essas coisas na frente dos seus pais? - Bobamente, ela murmurou.

— Que coisas? - Ele beijou seu maxilar.

Foco, foco, foco. - Adam, eu estou tentando falar com você... Adam! ... Se você continuar me agarrando desse jeito, eu não vou conseguir falar.

— Mas eu não estou te agarrando. - Ele sorriu novamente. - Se eu estivesse te agarrando, Tess... - E ele passou a beijar seu queixo. - Você não conseguiria nem pensar, que dirá falar.

— Adam, espera, para. - Não tão gentilmente, ela colocou as mãos em seu peito para empurrá-lo.

Ela se proibiu de pensar que definitivamente aquele peito não pertencia a um menino de vinte anos, e já que no assunto, nem aqueles braços, e nem o abdômen que ela sentira... O ponto não era aquele.

— Escuta... - Ela inalou o ar devagar, acreditando que ajudaria. - Eu realmente acho que você é um ótimo garoto...

Havia um leve toque de impaciência na voz dele. - Eu não sou um garoto, Tess.

Ela se acalmou por que sentia que estava recuperando o controle. Nem todos tinham percebido a tensão entre os dois, mas Tess bem notou um olhar ou dois que Bella estava lhes lançando. Uma mãe sempre sabe, ela pensou.

— Talvez não de um modo geral, mas é para mim. Eu sou seis anos mais velha do que você, Adam. E é claro que me agrada a atenção, mas você devia estar pensando em meninas da sua idade...

— Você já esteve com caras mais velhos do que você?

— É diferente.

— Não, não é. - Ele parecia muito seguro daquilo. - Eu me surpreendo que uma mulher feminista e independente pense desta forma.

Um tantinho exaltada, Tess cruzou os braços. - Isso não tem a ver com...

— Tem tudo a ver.

Tess respirou fundo, e disse a si mesma que garotos sempre sentiam uma quedinha por uma mulher mais velha. Era perfeitamente natural que eles relutassem um pouco em entender.

Ela pensou cautelosamente no que diria a seguir. - Olha, Adam...

Adam detestava o tom que ela estava usando, como a professora de um menino de cinco anos teimoso que tentava o convencer de algo tão simples.

— Vamos esquecer isso, ok? É natural jovens sentirem atração por mulheres mais velhas em algum momento, mas isso passa tão rápido como veio. Eu vejo que você está ficando um pouco irritado...

— Eu não estou ficando, Tess. - Ele pausou como se para enfatizar. - Eu estou irritado. Há uma grande distância entre os dois. Eu vou te dizer uma coisa. - Ele deu um passo em direção a ela, e Tess não gostou daquele brilho no olhar dele. - Eu já deixei a puberdade há muito tempo, eu sei muito bem como lidar com meus hormônios e estou absolutamente certo de que ‘rápido’ não é a definição do que eu quero. Na verdade, não vai ter nada de ‘rápido’ quando acontecer. E eu estou insistindo porque eu vejo claramente que está atraída por mim da mesma forma, e eu não desisto do que quero sem antes tentar. 

— Adam...

— Eu ainda não terminei. - Por que ele estava quase cedendo ao impulso de segurá-la e sacudi-la até que ela entendesse, Adam cerrou as mãos ao lado do corpo. - Você pode ter a certeza de que vai ser necessário mais do que um sermão de ‘mulher crescida’ para me fazer desistir. E como eu sei, Tess, que você vai passar um bom tempo pensando nisso, eu vou te alertar sobre outra coisa: quando você se der conta, eu já vou estar na sua vida, e vai ser tão depressa que você não vai nem saber como aconteceu.

Ele se afastou depois daquilo. E Tess ainda ficou parada por um tempo, distraída dos olhares que tinham atraído, se perguntando como ela iria evitar aquilo. E muito consciente de que ela não estava certa se era aquilo que realmente queria.

### - X— ###

Melanie estava tentando espalhar velas pela areia, enquanto Warm se enroscava em suas pernas querendo brincar, quando sua mãe veio lhe lembrar de que ela tinha de ir ao mercado e à loja de bebidas, e é claro que para aquilo ela devia estar acompanhada de alguém maior de vinte e um anos. Melanie discou um número decorado.

Logo uma voz conhecida demais atendeu. - Meu amor, você acabou de fazer meu dia com essa ligação.

Rindo, Melanie afastou uma mecha de cabelo do rosto. O vento a jogou para frente mais uma vez. - Ótimo. Eu preciso de você.

Tom fez uma pausa, que lhe era típica quando recebia notícias inesperadas e interpretava uma temporária paralisação. - Eu espero há muito tempo que você me diga isso. Onde você está, coração? Eu estou indo encontrá-la nesse instante.

— Como, ‘onde estou’? Na praia. Onde você também devia estar, ajudando.

— Coração, eu fui dormir às oito da manhã. Eu mereço um desconto. E além do mais, já tem gente demais contribuindo por aí. Para que precisariam de mim? A menos, é claro, que você esteja sentindo a minha falta a ponto de ter apenas ligado por saudade.

Tom fazia o melhor para vestir o jeans em silêncio para que a loira que estava adormecida na cama continuasse da mesma forma.

Percebendo que ele sussurrava, Mel revirou os olhos e se perguntou em que parte da cidade ele estaria naquele momento. E qual era a nacionalidade da garota da vez. - Enfim, Thomas. Não foi para isso que eu liguei. Eu preciso que você venha me buscar para comprar as bebidas para a festa e também preciso ir ao mercado. Você está livre?

Sentindo sua animação ir pelo ralo, Tom ajeitou o celular entre o ouvido e o ombro e se empenhou em calçar as meias e os tênis em silêncio. - Anjo, você sabe como eu adoro lhe ser útil, mas não há qualquer outra pessoa que possa te levar?

— Acho que posso arranjar alguém se estiver ocupado demais, é claro. - Melanie respondeu de forma impaciente e logo após suspirou. - Na verdade, eu acho que é melhor mesmo eu pegar um táxi... Será mais rápido...

Reconhecendo o tom de voz, Thomas logo tratou de interromper, enquanto buscava por sua carteira no pequeno e não mais tão desconhecido quarto. - Ninguém é mais rápido do que eu, baby. Espere que eu estou indo. Em quinze no máximo, estou aí. Guarde um beijo para mim.

Tom já ia abrir a porta para sair de fininho, quando a loira cujo nome ele já não mais lembrava abriu os olhos. Ele sorriu seu melhor sorriso sedutor e apontou para o celular, saindo para o corredor. Irritado por não conseguir escapar antes, prestou atenção no que Mel dizia.

— ... necessário que você venha se está com alguém, Tom. Você sabe que não. E além do mais, eu...

— Ok, ok. Eu estou saindo, espere. Até mais. - Ele desligou antes que ela pudesse continuar insistindo que ia se virar.

Tom guardou o celular no bolso da calça e se virou para entrar no quarto novamente e pegar a camisa. Deparou-se com a loira encostada na parede, apenas vestida com a sua camisa. Thomas sorriu novamente, ponderando o nome dela: Louise, Luna, Leah, talvez? ... Ora, talvez fosse Carla, pelo que ele tinha consciência...

— Você vai mesmo me deixar sozinha naquela cama enorme? - A mulher murmurou com um tom de voz insinuante, deixando evidente seu sotaque francês.

— Infelizmente, sim. A família me chama. - Ele beijou rapidamente os lábios de ... Ana? Felícia? ... enquanto retirava a camisa de seu corpo. - Nós nos falamos depois, ok, coração?

Ela arqueou a sobrancelha, nem um pouco constrangida por estar completamente nua enquanto o observava recolocar a camisa. - Thomas, qual o meu nome?

Ele gargalhou. - Que tipo de pergunta é essa?

Ela cruzou os braços, e encarou-o com a sobrancelha arqueada e um sorriso de canto de boca.  

Thomas tinha mais experiência do que a loira acreditava, aparentemente. Nos cinco segundos que levou para ela responder, ele já tinha feito uma boa observação do ambiente atrás de pistas. Como a pulseira de prata que ainda usava com as iniciais SJ, um dos seus cartões de visitas – em cima de seu criado-mudo no quarto - onde constavam seu nome completo e telefone – Thomas conseguira enxergar o sobrenome ‘Jones’. E por tal razão, lembrou-se do mesmo cartão que ela – que era advogada – lhe entregara quando se conheceram na boate na noite anterior.

Toda essa conclusão durou menos do que o tempo que ela levou para piscar. Thomas, com mais um sorriso de pura satisfação consigo mesmo, lhe beijou o pescoço. - É deprimente a forma como você me vê, Sarah.

Sarah gargalhou, sentindo-se vencida e correspondeu o beijo. - Se você me ligar, eu te compenso por isso da próxima vez.

••

— Olá, raio de sol. - Tom roubou um selinho de Melanie antes que ela pudesse se instalar direito no banco carona do carro.

Franzindo o nariz, Mel o encarou. - Por que você nunca sai com uma pessoa que use um perfume normal? Esses perfumes franceses fedem, sabe. Não te incomoda?

Tom sorriu. - Isso tudo acabaria se você simplesmente saísse comigo, Mel. Mas você me rejeita. Eu lhe ofereço meu coração e você o recusa. Por isso tenho de procurar carinho em outras. Você me magoa, Mel, enquanto tudo que peço é atenção.

Gargalhando, Mel prendeu o cinto de segurança enquanto ele iniciava o carro. - Eu realmente sou uma péssima pessoa.

Ele lançou um olhar de lado, que dizia mil coisas. - Eu lhe perdoo, por que você sairá comigo para me compensar.

Ela encostou a cabeça no banco e virou o rosto, sorrindo. - Eu sempre saio com você.

— Não, nós saímos junto com todos. Eu quero sair com você.

Melanie apenas continuou sorrindo e olhou para a janela, tentando fugir do assunto. Ela realmente preferia quando Tom brincava e a assediava. Aquele olhar nos olhos dele quando falava sério lhe dava arrepios estranhos.

Thomas retirou uma mão do volante e segurou a de Melanie, beijando a palma. - Você não vai fugir de mim, Mel.

Seu sorriso foi mais vacilante dessa vez. - Claro que não, por que não estou tentando fazer isso.

O sorriso de Thomas parecia ter todas as respostas certas do mundo. O dedo dele estava fazendo carícias circulares em seu pulso, quando ela tentou puxar a mão de volta delicadamente, delicadamente ele a manteve no mesmo lugar.

— Olha, eu tenho uma ótima ideia. - Thomas anunciou. Melanie já sabia que tinha alguma coisa a ver com sexo, e que seria sutil. - Já que você está tão incomodada com o perfume que... usaram perto de mim, talvez eu pudesse passar em casa. Aí eu tomaria um banho e ficaria com o meu próprio cheiro que você tanto ama.

Ela sorriu. – Claro.

Com isso, Tom a encarou. - Sério?

Quando ela deu de ombros como se não fosse nada demais, ele sorriu. Instantaneamente acelerou o carro, como se não pudesse esperar para esse banho.

Suas esperanças foram bruscamente destroçadas quando chegaram a frente à casa de seus pais.

Melanie disse. - Deixe o rádio aqui dentro, assim eu posso me distrair.

— Hum?

Ela sorriu lentamente. - Enquanto eu espero você tomar banho, coração.

— Para quê, meu amor? Você vai entrar comigo.

Com isso, Mel gargalhou. - Tom, qual é.

Thomas a encarou sem achar nenhuma graça. Na verdade, ele estava até um tantinho irritado por ela estar brincando com ele.

Ele deu um sorriso controlado. - Mel, você acha que eu faria algo com você, anjo?

O ‘algo que você não gostaria’ seria mais adequado, uma vez que ele planejava fazer algo sim. E que Melanie tinha de admitir não seria de nenhuma forma desagradável para ambas as partes.

— Tom, você está perdendo tempo.

Ele continuou parado no mesmo lugar. Revirando os olhos e ignorando o sorriso vitorioso no rosto dele, ela desceu do carro. Na primeira gracinha ela iria se mandar. Eles entraram e para o alívio de Mel, Rosalie estava em casa. O alívio durou pouco, no entanto. Thomas sorriu para a mãe e lhe segurou pela cintura, tascando-lhe um estalado beijo na bochecha.

— Você já não tinha que ter saído? - Ele questionou, tentando não demonstrar alguma ansiedade.

Rose, que o conhecia bem melhor do que aquilo, arqueou a sobrancelha e percebeu Melanie. Sorriu, lançando um olhar ao filho. - Olá, meu amor. Aposto como você está encarregada da parte alcoólica da festa.

Mel sorriu. - Culpada.

Era um fato que Melanie tinha certa preferência por bebidas alcoólicas. Aquilo de nada tinha a ver com rebeldia adolescente ou tendência a ficar bêbada. Mel apreciava o gosto. Enquanto Edward surpreendentemente não implicava – tanto – com o fato de sua filha menor de idade beber, Isabella vivia a questionando. Diziam as más línguas – Edward, Emm e Yuri – que ela temia que sua filha fosse fraca para bebida e desse vexame assim como já fizera. Àquilo, Isabella respondia com um grunhido.

— E eu estou encarregado de transportá-la. Já não está na sua hora, mamãe?  

Rosalie o encarou. - Sim, está. Eu vou ao salão ver se eles podem fazer com que eu rejuvenesça alguns anos com maquiagem.

Ela sorriu e se aproximou para lhe dar um beijo. - Madrinha, você sabe que não precisa disso. Os anos só lhe fazem bem.

Rose gargalhou. - Eu adoro conversar com você, por que é a única que me faz acreditar nisso. - Ela abraçou a afilhada rapidamente e lançou outro olhar ao filho. - Você vai ficar bem aqui sozinha com meu filho te assediando?

Melanie fez uma careta divertida. - Eu consigo me virar. De qualquer modo, não vamos demorar. Tom apenas vai tomar um banho e tirar esse perfume horrível de sua última acompanhante.

Rosalie sorriu, e Tom revirou os olhos. - Ótimo. Qualquer coisa é só ligar para o Emmet. Ele está aqui perto em algum mercado com Jass.

— Falando assim, me sinto um molestador. - Thomas murmurou com acidez.

Rose apalpou sua bochecha. - Não, querido. Você apenas é tentador. E convincente.

Ele franziu o cenho. - Isso não soou como um elogio.

A loira riu. - Não é. - Deu mais um beijo em Melanie, e outro em seu filho com mais um olhar de aviso. - Comportem-se, crianças.

Thomas fingiu não perceber nenhum daqueles olhares e mal sua mãe saíra pela porta, ele já puxava Melanie pela mão. - Então, coração, o que você quer beber?

— Thomas, sem ofensas, vai logo tomar um banho por que eu não aguento mais o cheiro desse perfume. E eu não quero nada, nós estamos com pressa, lembra?

Ele não se afetou nenhum pouco e logo estava de frente a ela, segurando seu queixo e acariciando sua bochecha. - Admita que você tem ciúmes.

Melanie amava Tom, de verdade, mas achava impossível como ele poderia dar em cima de uma mulher enquanto estava cheirando à outra. - Sim, Tom, eu morro de ciúmes de você. Há tantos anos eu guardo esse sentimento em meu peito e já não aguento mais manter este segredo. Feliz?

Ele sorriu, divertido. - Você é uma pessoa muito irônica, meu amor. Precisamos trabalhar nisso.

Mel lhe deu um beijo no nariz e um tapa na testa. - Touché. Não consigo esconder nada você. Já está debaixo do chuveiro, coração?

— Você quer lavar as minhas costas?

— Não espere por um sim ou irá se cansar.

••

Tom poderia ser galinha e conquistador, mas Melanie era a primeira a afirmar que ele também era muito prestativo. Ele insistiu em carregar todas as caixas de bebida sem ajuda alguma dela, e depositou as mesmas nos refrigeradores na casa de seus avós. Tendo sido criados juntos, Esme e Carlisle eram considerados avós de toda a nova geração.

— Mel, que horas eles vêm buscar isso tudo. - Esme perguntou, insistindo para que a neta comesse mais um bolinho de cenoura feito por ela própria.

Satisfeita, Melanie deitou a cabeça no colo da avó que começou a lhe fazer cafuné, algo que as duas adoravam. - Umas sete. Eles colocarão em tonéis, mas era melhor garantir que iria gelar primeiro em recipientes normais. E ninguém tem tantos refrigeradores como a senhora e o vovô.

— Ninguém tem tantos cômodos como nós, querida. - Esme riu. - E esta casa anda tão vazia.

Sabendo que iria começar o assunto, Mel sorriu. - A senhora sabe que eu viria mais se pudesse, não sabe?

— Eu sei, meu amor. E eu apenas não reclamo com você por que sei como é ocupada com todas essas ONGs e campanhas, e tudo isso que você participa. Como eu poderia reclamar de ter uma neta que ama ajudar os outros?

Mel balançou as mãos como se não fosse grande coisa. - Não é nada demais, vovó, sério. Eu gostaria de fazer mais... Quer dizer, parece que nunca é o suficiente...

— Você não é duas, querida. - Ela comentou gentilmente. - Melanie, você tem um dom. Tem um bom coração e uma boa mente. Você não faz ideia de como isso é raro, ao menos na proporção certa. Quem tem melhor coração do que mente geralmente é passado para trás por sempre agir com emoções e geralmente acabará magoado. Quem tem melhor mente do que coração, tem uma visão de mundo perfeita e nenhuma compaixão. Você estende a mão para quem precisa e se impõe diante de quem quer se fazer em cima dos outros, e de você. Isso é dom, meu anjo, não subestime o seu.

Mais do que agradecida, Melanie tocou em uma das mãos da avó e a levou até os lábios. - A senhora é um máximo. Eu já disse isso hoje?

Encantada, Esme riu e beijou a testa de Mel. - Ora, eu faço o que eu posso. - E depois acrescentou. - E você também faz.

Melanie sorriu, e se ergueu dando um beijo em sua bochecha rosada. - Eu gostaria de ficar para que a senhora me elogiasse um pouco mais, mas ainda tenho coisas para fazer. E vovó... Não se atrase, por favor.

Esme deu um sorriso sapeca. - Eu gosto de entradas dramáticas.

Revirando os olhos, Mel agora a abraçou. Por que aquela família era composta por dois contatos físicos por segundo. - Amo você, vovó. E obrigada.

— Também amo você, querida. Vá com Deus. E pelo o amor de Jesus e pelas minhas artérias, não deixa Thomas correr tanto com aquele carro. Eu quero ir embora desse mundo antes dos meus netos.

— A senhora vai viver para sempre, vovó. - Isso foi dito por Thomas que deu um estalinho em seus lábios, em um gesto tipicamente familiar. - E além do mais, a senhora prometeu que se casaria comigo. Eu não esqueci.

Rindo, Esme levantou os olhos para ele. - E eu também não. Você acha que eu quero continuar com o velho e rabugento do avô de vocês enquanto posso ‘traçar’ um garotão atraente?

Os dois riram, e Tom murmurou. - Nunca mais use o termo ‘traçar’. Eu não gosto desta palavra ofensiva em seus doces lábios.

— Como se você não dissesse coisa pior. Esse palavreado que vocês jovens usam me espantam cada dia mais.

Com um sorriso de lado, Tom puxou Mel pela cintura para sair. - Vovó, eu já estou corrompido pelos males deste mundo. - E com uma piscadela, completou. - E para sua informação, bela senhora, eu sou muito mais do que atraente.

••

Checando o relógio, Daniel sorriu em diversão quando viu Thomas chegar com Melanie. - Até que ainda está cedo. O que aconteceu, Thomas? A loira te enxotou por mau desempenho? Sabia que tinha de ter pego para mim ao invés te indicar.

Antes de responder, Tom sorriu quando Alice se aproximou e lhe deu um demorado beijo na bochecha. - Você quase me cega assim, Ali.

Visivelmente lisonjeada, ela sorriu com as bochechas coradas. - Você ainda vai me convencer de largar o Jass e fugir com você se continuar com isso.

— Ótimo, minhas esperanças são o que ainda mantém meu coração batendo.

Daniel revirou os olhos. - Suas frases são ridículas. E as direcione no sentido oposto ao da minha mãe, por favor.

Alice gargalhou da situação e logo cerrou os olhos para a garrafa de cerveja nas mãos de Dan. - Você pediu minha permissão, querido?

Ele encarou a garrafa e depois à sua mãe. Sorriu. - Mãe, pelo amor de Deus. Nem tente.

Ela cruzou os braços. - Continue me respondendo assim e esta garrafa vai sumir de suas mãos tão rápido como foi parar nelas.

Thomas riu para si, recolhendo uma cerveja para si próprio e ganhou um olhar enviesado de Daniel.

— Tudo bem, mãe. Desculpa, está bem? - Daniel odiava pedir desculpas.

E ele sabia que sua mãe não era boba e tinha consciência de que ele bebia coisa muito mais forte do que cervejas quando saía.

— Ok. Mas essa ainda é sua última cerveja. - Satisfeita, virou as costas e saiu andando.

Daniel grunhiu. Thomas riu para valer. - Você não deve desrespeitar a sua mãe, sabe.

— Mantenha suas opiniões para si, Thomas. - Irritado, Dan deu um grande gole na cerveja. - Maldição de lei de maioridade para beber. Enfim, você ainda não me contou como foi com a loira.

Tom sorriu. - Desde quando eu tenho obrigação de te contar alguma coisa?

— Desde a hora que você se recusou a dividi-la comigo, uma mulher daquelas.

— Eu queria ver se você continuaria pensando assim se quisessem apreciar uma namorada sua.

Daniel deu de ombros. - Isso nunca vai acontecer, eu não pretendo namorar, como você sabe. Eu não entendo o propósito, afinal. Se você pode comer muitas, por que escolher comer uma só?

Thomas o encarou, divertido. - Já parou para pensar que as pessoas namoram por algo a mais do que sexo?

Daniel riu. - Não há nada a mais do que sexo. Sexo é o mais.

Tom ponderou. - Deve ter mais alguma coisa. Senão as pessoas não se casavam. Nossos pais, por exemplo, e toda a família na verdade. Esme e Carlisle. Você acha que é só sexo?

Daniel fez uma careta hilária, e cerrou os olhos. - Nunca mais repita ‘sexo’ e meus pais na mesma frase. Vovó Esme e Vovô Carlisle? Ew! Nunca mais repita nada disso. Vamos mudar de assunto.

— É melhor. Por que estamos falando nisso, afinal? - Thomas balançou os ombros como se para espantar uma energia negativa invisível.

Eles não tinham o costume de ficar imaginando esse tipo de coisa. Eles estavam muito bem como estavam. Tom acreditava sim que existia algo a mais que sexo, algo como seus pais tinham e seus tios, e sua família. Apenas tinha certeza de que não queria aquilo para ele. Não no momento. Talvez nunca. Não sabia se era capaz daquilo.

Ela estava conversando com Edward, e rindo de alguma coisa. O sol estava se pondo e luz alaranjada refletia perfeitamente em seus olhos, enquanto o vento acariciava seus cabelos. Havia algo curioso sobre como ela bagunçava seus pensamentos, a forma como ela sempre havia feito, uma sensação estranha como se algo de suma importância estivesse passando despercebido por ele.

Thomas sabia que aquilo não fazia o menor sentido, mas não havia como evitar a sensação, no entanto. Sensações eram involuntárias, assim como sentimentos. Eles apareciam quando quer e iam sem aviso prévio. Geralmente os dele eram passageiros e breves, a não ser os pela família. Por várias vezes Thomas se perguntara se não havia algum problema com seu coração, não algo físico, mas puramente emocional. Descartara a ideia rapidamente todas as vezes. Afinal, ele amava sua família. Desviando o olhar dela e da confusão que fazia com seu bom senso, Tom sacudiu a cabeça.

— Mas afinal, por que você voltou cedo, então?

— Mel precisava de mim.

Dan franziu o cenho. - Você largou uma loira gostosa daquelas na cama por que Mel precisava de você? Para que?

O tom dele era defensivo. - Por que... Ela precisava ir ao mercado. E à loja de bebidas. E além do mais, ela não sabia que eu estava ocupado.

Dan o encarou. - Thomas, você largou uma loira gostosas daquela na cama para ir ao mercado com a Melanie? Eu nunca mais te passo mulher nenhuma, sério.

— Eu não preciso de você para me passar mulher. E eu já estava mesmo indo embora. Não ia ficar lá o dia inteiro.

— Talvez ficasse, dependendo do que ela ia fazer por você. - Dan argumentou. Respirando fundo, ele colocou uma mão no ombro do amigo. - Tom, escuta... Eu acho que você está exagerando nessa sua obsessão com a Melanie. Eu entendo que ela realmente está gostosa agora...

— Não use esses termos para descrever a Melanie. Você não pensa nela dessa forma.

— Claro que não, ela é minha prima, mas não há nada de errado com a minha visão. - Daniel continuou enquanto Thomas observava Melanie se perguntando que diabos ela tinha, que diabos ela tinha para deixá-lo daquele jeito. - Tom, você precisa deixar isso para lá, cara. Melanie é da família. Não ia ser legal você sair transando com ela. Já tem alguns anos que você está com essa obsessão, sabe? Está ficando meio estranho.

— Não tem anos. E eu não estou obcecado por ela.

— Você está obcecado por ela desde que Melanie criou seios, Tom.

Tom não respondeu àquilo, apenas deu um gole na cerveja e percebeu que tinha acabado. Evitando encarar Dan, pegou outra e a abriu. Recusou-se a responder àquilo, pois sabia que era verdade e não poderia explicar ao amigo algo que nem ele mesmo compreendia.

### - X— ###

O Luau era realizado na praia no dia trinta e um de dezembro religiosamente todos os anos. Além da presença da família, a festa era aberta também a amigos. Geralmente, estes convidados apenas passavam por ali, permaneciam um tempo e continuavam seu percurso. No final da noite, apenas restava a família.

Daniel estava responsável pelo som, como em todos os anos. Se havia alguma coisa que poderiam dizer dele, era que Dan tinha bom gosto musical. Ele animava a festa com ritmos gostosos e diferentes.

O traje era casual, e a maioria optava por trajes de praia. Com a água quentinha e mansa, muitos arriscavam um mergulho após darem seus anuais pulinhos nas ondas. Millie era uma delas. Com um biquíni estampado em cores vivas, exibia o belíssimo corpo apenas coberto por uma saída de praia na cor branca. A única bijuteria que usava era pequenos brincos dourados e uma tornozeleira também dourada com um pingente delicado em forma de coração de cristal.

Para Ethan, parecia impossível ela estar encantadora de maneira tão simples. Mas era um fato que dentre algumas amigas que havia convidado, Millie se destacava perfeitamente. O rapaz naquela noite estava um tanto mais sociável. Ele não arriscara alguns passos no espaço de dança improvisado, mas comentava com Bella em tom divertido sobre os corajosos que se aventuravam.

Isabella encarava a pista de dança. - Você não arrisca, Ethan?

Desconfortável com o assunto que visivelmente não era sua praia, Ethan balançou a cabeça. - Não, obrigado.

Isabella sorriu. - Você precisa aproveitar mais a juventude, sabe? Ela passa muito rápido, querido.

Ethan sorriu, de seu jeito tímido e reservado. - Isso não é verdade. Você é um exemplo disso, Bella. Os anos não passam para você.

Ela gargalhou. - Claro. Eu tenho minha poção da juventude particular.

— E ela a mantém escondida até de mim... - Edward puxou a esposa pela cintura e tascou-lhe um beijo. Quando a mesma corou, mesmo depois de tanto tempo, ele sorriu, apresentando alguns pés de galinha que muitas julgavam serem sexy. - Dança comigo, Sra. Cullen?

— Sim, Sr. Cullen. - Ela riu novamente quando ele lhe beijou a mão, e se deixou ser guiada pelo marido até o espaço de dança.

Mais do que acostumado com a solidão, Ethan se sentou na areia e continuou observando a festa e as pessoas. Ele sempre acreditou que se não fosse tão fascinado com a política, seguiria a carreira de psicologia. Era um fato que o cérebro era um território encantador para se explorar.

Ethan observou seus pais dançando, agora uma música lenta, enquanto pareciam distraídos do mundo ao redor. Notou Dan agora quase engolindo uma das amigas de Millie em uma das espreguiçadeiras e desinteressado por isso, Ethan virou a cara.

A visão de Millie o agradou muito mais. Ela estava rindo com outra amiga. Millie pareceu sentir que ele a observava, por que o encarou de volta. Como um bom idiota que era, Ethan desviou o olhar depressa, o que claramente afirmava que ele estivera a encarando. Ele esperou que ela simplesmente ignorasse, assim ele poderia continuar a observando em paz. Não foi isso o que aconteceu. Ele ainda ia tentar se levantar, mas quando percebeu, ela já estava perto demais.

— Para você. - Ela sorriu ao se sentar junto demais dele, para o total desespero do rapaz, e lhe estendeu um trevo de quatro folhas e uma florzinha na cor branca. - Para dar sorte.

Ele aceitou os dois, e a encarou, logo desviando o olhar. – T-t-tem o costume d-d-e dar flores a hom-m-ens?

Ela riu. Ethan não achava sua frase engraçada, mas apreciava bastante o som da sua risada. Assim como seu cheiro.

— Bem... Flores são incríveis, e não acho que isso tenha a ver com gênero. Qualquer um pode gostar, não acha? - Ela mexeu no cabelo enquanto falava, expondo a parte de trás de seu ombro esquerdo.

O olhar de Ethan foi atraído para o local, e ele pensou que a pele dela parecia porcelana: branca, possivelmente suave e com um toque de elegância. Julgando o pensamento bobo, ele se repreendeu.

— O que?

Ele percebera que falara em voz alta tarde demais. – N-n-ada.

Ela o encarou por um tempo, e sem motivo algum voltou a sorrir. - Diga-me, E, você não dança nem no Ano Novo?

Ninguém nunca havia o chamado de “E”. Ethan detestava apelidos. Instantaneamente se perguntou por que não se incomodara com esse.

Constrangido, ele se perguntou qual seria o melhor meio de escapar dali sem parecer rude. – Eu... N-n-ão sei dançar.

Os olhos de Millie se iluminaram com animação. - Quer que eu te ajude?

— Não. - Ele pigarreou quando a voz saiu grosseira demais. - Desculpe, Millie... Isso não... não é p-p-para mim. Eu me dou melhor com livros do que com p-p-pessoas. E até comigo mesmo.

Hum-rum. Eu percebi isso pelo fato de que você não me olha nos olhos quando fala comigo. Mas você não gagueja com mais ninguém.

Ele ficou vermelho com aquilo e definitivamente ia levantar antes que fizesse ou dissesse outra coisa estúpida, quando repentinamente Millie deitou na areia, com um suspiro nos lábios. Ela pouco se importava com a areia que se embrenharia em seus cabelos ainda secos, o que Ethan notou.

— Nós podemos ficar em silêncio se você quiser. Quando se é modelo, você aprende a se adaptar a várias situações. - Ela riu da frase como se fosse uma piada interna.

Ethan percebeu que tinha duas alternativas: ele poderia levantar e sair correndo para o mais longe possível, bancando o esquisitão Nerd mais uma vez, ou ele poderia deitar na areia ao lado dela, como era evidente que ela estava o convidando, e fingir que seu cheiro não a afetava e que era quase impossível para ele manter uma conversa civilizada e normal com Millie.

Que Deus me ajude, ele pensou enquanto ainda sem acreditar no que fazia, deitou. E assim como Millie, se deparou com o céu escuro e proporcionalmente estrelado. Perguntou-se por que não tinha notado antes, e percebeu que se não fosse por Millie, ele não teria reparado em algo tão lindo.

Eles ficaram em silêncio, assim como ela havia sugerido. E quanto mais os minutos passavam, com a música e a festa rolando ao redor deles, mais Ethan ficava inquieto. Ele arriscara uns olhares na direção dela que estava tão quieta como se estivesse dormindo, apenas para a perceber de olhos bem abertos e com um meio sorriso no rosto enquanto observava o céu.

Depois de mais alguns minutos, ela olhou em direção a ele. - Sabe o que as pessoas dizem de você?

Ele fez uma careta. - Nem imagino.

Ela percebeu que era a primeira vez que o via sendo sarcástico. - Que você provavelmente está desperdiçando sua juventude estudando tanto. - Antes que ele pudesse dizer algo, ela continuou. - Sabe por que eu gosto de você? Você ignora a todos e continua fazendo a mesma coisa, como se não houvessem dito nada.

Sentindo que estava sendo elogiado, suas orelhas ficaram ainda mais vermelhas. - Eu te-e-e-nho que f-fazer isso. Não é q-q-uestão de esc-c-olha.

— Não, não é. É questão de coragem. - Ela sorriu quando ele ajeitou os óculos no nariz, em sinal de nervosismo. - Você é mesmo uma gracinha. - Ela não deixou de notar o leve grunhido que ele deu. - Você é. Eu gostaria de ser mais como você.

Ele a encarou pelo canto do olho, e sorriu de lado. - O que? Uma gracinha?

Era a primeira vez que ele sorria para ela. Era a primeira vez que ele era irônico com ela, daquele jeito. Ora, era a primeira vez que ele era espontâneo com ela daquele jeito. Millie não pôde evitar; ela ficou encarando sem dizer nada até que, de novo constrangido, ele virou o rosto. Ethan era bonito. Não de um jeito gritante como Adam, nem de um jeito perigoso como Tom, mas de um jeito discreto assim como tudo nele. Eram lindas as covinhas que apareciam quando ele sorria.

E bobamente, foi isso que ela murmurou. - Você tem covinhas quando sorri.

— É, eu sei. - Ele pigarreou, novamente ajeitando os óculos.

Ela voltou a sorrir, achando impossível o fato de ele detestar o quão fofo ele era. - Respondendo a sua pergunta, não, não ser uma gracinha. E sim ser corajosa.

— Eu acho que você é corajosa. - Ele contradisse em um impulso, percebendo depois que teria de explicar.

Ela o observou. - Por quê?

— Hum... É necessário coragem para se expor em um meio tão crítico como o da moda, para fazer disso uma carreira, e para manter a personalidade apesar de tudo. É muita pressão, uma cobrança eterna por uma perfeição que não existe. Para escolher uma vida assim, com estes desafios, é necessário não só ter confiança em sua capacidade como coragem para erguer a cabeça e lidar com os possíveis “nãos” e “não é o suficiente”. Eu não consigo imaginar como faria de outra forma. - Quando ela continuou o encarando, ele ficou vermelho. - Eu falei besteira, não foi?

— Não. Você... - Ela piscou, repentinamente atordoada. – Você... entende. É isso mesmo. Ciente de que agora ela quem estava gaguejando, ela pausou, olhando-o nos olhos. - É isso mesmo. E acho que é a primeira vez que não gagueja.

Ele deu um meio sorriso. – Explicar coisas, m-m-inha zona de c-conforto. Mas esta é sua área d-de expertise. - Após mais algum tempo de silêncio, ele completou. – P-pelo caso d-de ter que reafirmar, d-definitivamente acho que você é corajosa.

Ele encarava as estrelas, logo não notou seus olhos se enchendo de lágrimas enquanto outro sorriso deslumbrante nascia em seus lábios. - Obrigada, E.

Quando sentiu que ele se inclinava em sua direção, o coração da mulher disparou e ela se repreendeu por ter esperanças tão absurdas. Ethan apenas prendeu a flor branca que ela tinha lhe lado atrás da orelha dela.

— Eu acho que fica melhor em você.

Ela estava um pouco decepcionada pela falsa expectativa, mas logo se esqueceu disso quando olhou para ele tão perto de si. Ela tinha tantas coisas que queria dizer, a maioria delas frases persuasivas para que ele a beijasse. O que saíra dos seus lábios, no entanto, foi:

— Eu estava conversando com sua mãe hoje mais cedo sobre você.

Não é como se ele estivesse esperando que fosse acontecer algo entre eles, ainda mais ali em público, mas ainda assim ele sentiu como se recebesse um balde de gelo na cabeça.

Ele voltou a deitar como antes, dizendo: - Por q-q-uê? O q-que vocês falaram?

— Ela me contou que você está enlouquecendo por causa da entrevista de Yale.

Ethan não conseguia acreditar no tamanho gigantesco da língua de sua mãe. Se ele fosse alguém propício a tais bordões, diria que iria mata-la na primeira oportunidade. Já bastava o que ele próprio fazia para se humilhar, agora teria que se preocupar com o que sua família fofocava sobre ele.

— E-ela disse?

— Sim, ela disse. – Tentando não rir pela expressão em seu rosto, ela continuou. - E na verdade, enquanto nós conversávamos, ela teve uma ideia.

Aquilo não era totalmente verdade, a ideia tinha sido de Millie, mas não havia a menor necessidade de ele ficar sabendo daquilo. Ele poderia pensar que ela o estava perseguindo e se assustar. Claramente, Millie não estava o perseguindo. Não tanto.

Receoso, Ethan quase desistiu de perguntar. - Que ideia?

Millie respirou fundo uma vez. - Bem... Eu não sei se você sabe, mas no início da faculdade eu estava focada em estudar política, então frequentei muitas aulas relacionadas no início. Foi uma época em que achei que modelar não estava dando muito certo para mim e quis dar um tempo, tentar algo que eu gostava, mas logo percebi que estava cursando a faculdade errada. Não era minha paixão. Enfim... Eu... Ela achou que eu poderia ser útil para te ajudar a se preparar, sabe. Eu não sei o quanto poderia te ajudar, mas penso que talvez conseguisse lhe passar um pouco mais de segurança para a entrevista. Com certeza seu conhecimento sobre o assunto é muito maior do que o meu, mas eu não esqueci o que aprendi. Talvez minha experiência possa ajudar de alguma forma.

Ethan estava considerando seriamente em correr até o mar e se afogar. - Eu não acho que adiantaria muita coisa... E além do mais, eu não quero te atrapalhar.

— Ah. Bem, você não atrapalharia. Mesmo. Mas quer dizer, eu entendo que acredite que eu não possa ajudar muito. – ela pigarreou, mexeu nervosamente no cabelo. – Não tem problema, eu só achei que...

— Não é nada disso, nada disso, não foi isso que eu quis dizer. – Ethan a interrompeu, gesticulando. Então suspirou, irritado consigo mesmo. - A menos que tenha uma pílula da extroversão, eu não acho que tenho jeito. E claramente como pode ver, eu não... lido bem com pessoas.

Ela sorriu lentamente. - Isso você já disse. Mas tentar não vai tornar pior, ou vai?

— Não, eu acho... – ele  a encarou e então baixou os olhos. – Tudo bem. V-v-ocê é tão generosa. Desculpe, eu devia estar te agradecendo e... Eu sou um idiota. Você só quer ajudar  e eu te agradeço.  

— Pense por esse lado: estamos conversando há um tempo e quase nem gagueja mais. Este só pode ser um bom sinal, não é mesmo? - Millie sorriu tão contente, como se tivesse acabado de receber um presente.

Ele sorriu de volta, timidamente, porque era tão fácil faze-la sorrir e que mágico era aquele fato. Não conhecia ninguém como ela.

Ela deu uma piscadela para ele, fazendo-o corar, e se colocou sentada. - Ei, Adam! E o mergulho que você me prometeu?

Ao longe, Adam arrancou a camisa pela cabeça em desafio. - Estou te esperando, tratante! Você deitou aí para ficar contando estrelas!

Rindo, Millie se voltou a Ethan. - Topa?

Millie. Biquíni. Molhada. — Aahm não, obrigado. Divirta-se.

Ela delicadamente retirou a flor do cabelo e a depositou na areia com cuidado como se ela valesse milhões, sorriu e deu de ombros, enquanto se levantava. - Você está perdendo.

Como se não estivesse fazendo os neurônios de Ethan se chocarem uns contra os outros em êxtase, Millie se despiu da saída de praia bem de frente aonde o pobre rapaz estava deitado e jogou o tecido bem ao lado dele. Ethan engoliu em seco, três vezes, tentando não olhar para o corpo dela.

Ao longe, Adam observou a reação dele escondendo uma gargalhada. No entanto, riu para valer quando Millie, com seu sensual e provocante biquíni, se aproximou dele, andando despreocupadamente totalmente inconsciente dos olhares que Ethan, agora o pobre tinha se sentado para observar melhor, ainda a lançava.

— Do que está rindo, Adam?

Adam jurava que podia ver a saliva escorrendo pelos cantos da boca de Ethan. - Nada, nada mesmo.

### - X— ###

Dan não estava se considerando com sorte naquele dia.

Em uma última vã tentativa, cutucou o ombro da ruiva adormecida em uma das cadeiras de praia e suspirou em frustração quando ela nem se mexeu. Ele tinha sugerido que os dois fossem andar pela praia, sozinhos, para que assim ele tivesse um pouco mais de privacidade com ela.

Isso teria sucedido perfeitamente se enquanto ele estava a persuadindo, ela não tivesse caído no sono e assim ele perdeu sua transa certa. Frustrado, Dan foi até o tonel de bebidas e preparou uma para si.

Por que não poderia perder a chance de debochar do amigo, Thomas apareceu como quem não quer nada e lhe deu um murro no ombro. - E então, Dan? Parece que você conseguiu mesmo entediar a ruiva.

Por ainda estar irritado, Dan deu um gole na bebida e grunhiu. - Tira esse sorrisinho idiota do rosto ou eu vou tirar. Eu não transo há dois dias, então não provoca.

— Nossa, está quase um celibatário. O que está acontecendo com você?

Daniel o ignorou por que sabia que ele não pararia de perturbá-lo. Dando mais um gole na bebida, notou quando Angelinne se aproximou dos dois, e nem lançou um olhar em sua direção, apenas pediu ‘com licença’ a Thomas como se ele não estivesse ali. Que ela se fosse se ferrar.

Contrariando totalmente sua natureza, ele tentara pedir desculpas a ela. Não que ele ligasse para o que ela pensava. Mas por que ele admitia que tivesse passado dos limites, e temia que ela contasse para Yuri e o mesmo contasse para Alice. Sua mãe nunca pararia de reclamar, e ele queria evitar exatamente aquilo. Fora que, ele estava alertando Thomas exatamente do perigo de se envolver com mulheres da família. Ele pretendia seguir seu próprio conselho.

Mas Angelinne não havia colaborado nenhum pouco. E ela devia ter o feito, porque ela também o beijou e ela estava gostando bastante até subitamente mudar de ideia. Mas aparentemente para ela não era o suficiente. Ele passara um tempo se desculpando e ela simplesmente tinha o deixado falando sozinho.

 - Nada de bebidas alcoólicas, Angel. Você ainda é menor de idade. - Thomas alertou.

Ela sorriu ironicamente, embora os dois soubessem que ela conseguiria beber na encolha se quisesse. Ela retirou uma lata de Coca do isopor e o mostrou. - Aqui. Feliz?

— Muito. - Ele deu um sorrisinho e um beijo na bochecha, enquanto ela ria.

Observou quando ela se afastou, tendo muito cuidado de não olhar para Dan. Porque ele era muito perceptivo e conhecia Daniel tão bem quanto a si mesmo, ele se virou para o amigo.

— Eu devo me preocupar?

Dan balançou os ombros. - Não.

Thomas não largou o assunto por que achou muito curioso o fato de que Dan soube instantaneamente do que ele estava falando sem ele precisar especificar. - Eu achei que você apoiasse a regra ‘ficar longe das mulheres da família.

Irritado por não ter transado e irritado com Angelinne, e sem saber por que, Daniel foi mais agressivo do que gostaria. - Eu apoio.

— O que está acontecendo, Daniel? - Thomas foi direto e desta vez seu tom era sério.

Dan o encarou. - Eu a beijei.

Dan era seu melhor amigo, mas o inferno que aquela frase não fez Thomas querer esganá-lo! Várias vezes. - Ela só tem dezesseis anos, Daniel.

— Eu sei disso.

— Não, você não sabe. - Thomas afirmou. - Dan, ela é uma menina. São dezesseis anos.

— Melanie tem dezessete! - Dan contradisse.

Thomas baixou a bola. - Isso é diferente.

— Não, não é. Você é mais velho do que eu, Thomas. Isso é pior. E você sabe muito bem que Angelinne é mais responsável do que você e eu juntos

Respirando fundo, Thomas desviou o olhar. - Por que ela está ignorando você?

— Por que ela gostou, sabe que eu sei e está irritada por isso. - Percebendo o olhar do amigo, Dan xingou. - Você está pensando que eu sou o quê? Eu não fiz nada com ela!

Tom balançou a cabeça. - Tudo bem, tudo bem. O melhor a fazer é deixar isso de lado. Ela vai acabar esquecendo. Afinal, não vai acontecer de novo. - Ele encarou o amigo nos olhos. - Não é?

— Eu não estou planejando nada com ela, se você quer saber.

— Você não estar planejando, Daniel, não significa que não vai acontecer. Você precisa me dar sua palavra.

— Isso é ridículo. Eu não quero nada com a Angelinne, está claro?

— Sua palavra, Dan. - Thomas repetiu. - Eu amo você, você é meu irmão, mas Angel também é. Se você fizer alguma coisa com ela, eu...

— Tom, eu não vou fazer nada com ela. Agora me deixa em paz.

E sem esperar por resposta, Dan saiu de perto dele.   

Thomas o observou ir pensando que ele não tinha dado sua palavra.

••

Talvez Dan estivesse ficando um pouco embriagado.

Ele percebeu aquilo quando viu sua mãe se aproximando dele, que estava largado na areia, e viu duas ‘Alices’ ao invés de uma. O primeiro olhar que ela lhe lançou foi de advertência, e Dan então notou que ainda estava consciente o bastante.

— Você já não acha que está bom, não? - Ela disse, com os braços cruzados e uma expressão que ele conhecia bem.

Cansado demais para discutir, ele lhe estendeu a garrafa de Ice. - Leva a garrafa, mãe. E seja feliz.

Ela segurou o objeto como se fosse a causa de todos os problemas do mundo. E não apenas o objeto de discussão constante entre ela e seu filho. Ela o jogou em uma das latas de lixo próxima e voltou para perto dele.

Dan xingou. - O que é agora?

Ela fechou a cara. - Não use esse tom comigo. E muito menos esses palavreados.

Dan passou as duas mãos no rosto, pedindo por paciência. - Está bem. O que a senhora quer, mamãe?

Ela sorriu como se não notasse a ironia em seu tom. - Todos estão querendo que você cante, Dan.

Ele balançou a cabeça. - Negado.

“Mas...”

— Não, mãe. Eu estou cansado e nenhum pouco no clima. Para isso eu precisaria estar relaxado.

Alice o encarou com aquele típico olhar de cachorrinho sem dono, e indicou com a cabeça a roda que as pessoas tinham formado em volta da fogueira como se dissesse ‘você vai ter coragem de se negar a tocar vendo esse cenário tão propício?’. Dan ignorou e continuou persistente em sua decisão até que Jasper apareceu. 

— E aí? Estão todos esperando. - Jass segurou a esposa pela cintura enquanto parava atrás dela e lhe deu um beijo na bochecha. Percebendo a expressão da mesma, se voltou para o filho. - Você está bancando o difícil de novo.

— Eu não estou bancando o difícil. Só não quero tocar hoje, será que ainda tenho o direito de escolha? Será que ainda tenho meu livre arbítrio?

Alice revirou os olhos, mas Jasper apenas sorriu para o drama do filho. - Dan, você faz isso todo ano e no final sempre toca.

Ele sempre cedia por que Jasper sempre aparecia para convencê-lo. Daniel tinha a porra de um grande problema em negar quando o pai dele pedia. Com Alice era mais fácil por que ela apelava para o lado emocional, e Dan olhava para o outro lado e fingia que estava tudo bem. Jasper pedia com um sorriso casual no rosto, e o encarava em expectativa até que ele aceitasse. Dan não poderia desapontá-lo.

Sabendo daquilo e se conhecendo bem demais, Daniel colocou as mãos no rosto e grunhiu em frustração. Ele estava bêbado, tentar tocar seria uma desgraça e ele desapontaria seu pai de qualquer forma.

Jasper se aproximou dele e lhe deu um tapinha no ombro. - Anda Dan, não estamos te levando para a guilhotina. Você é bom o bastante para tocar mesmo quando está um pouco tonto.

Se Dan odiava uma coisa no mundo, era quando alguém tomava conhecimento de suas fraquezas e as expunha. Por causa disso ele levantou.

E por causa disso ele disse bem alto. - Não tem nada a ver com isso!

Jasper assentiu com um sorriso, pensando que um dia Daniel aceitaria que ele era mais transparente do que gostaria de ser. - Tudo bem, tudo bem. Meu erro. Se não há maiores problemas, então vamos.

Daniel repetiu mais uma vez que não era por causa de sua embriaguez, e recebeu dois ‘uhums’: um de seu pai e outro de sua mãe. Alice logo foi até o carro buscar o violão do filho. E de repente Dan estava sentado junto aos outros na roda, com o violão no colo e irritado consigo mesmo por se incomodar com tantos olhares em cima dele. Era a mesma coisa todo o ano e ele sempre ficava daquele jeito.

Daniel acreditava que ele era a única pessoa que conhecia seus medos, e sua família o deixava acreditar naquilo por que para ele era um conforto. Mas eles estavam cientes de que embora Dan se comportasse vinte e quatro horas por dia como um galinha sem escrúpulos, ele tentava não decepcionar a família. Ele se protegia fingindo não se importar com nada por que considerava uma fraqueza se importar demais.

A música o expunha da forma como ele era, e era por isso que todos ficavam sempre tão ansiosos para ouvi-lo. Dan não era simplesmente ótimo quando cantava e tocava, mais do que aquilo e o mais importante para a família: Dan era ele quando fazia isso. Ele não sabia que o fazia, mas os outros instantaneamente percebiam a mudança.

Angelinne também percebia, e ficava tão ou mais admirada do que os outros. Ela estava fazendo de tudo para não encará-lo, fingindo estar mais interessada nos rabiscos desconexos que fazia na areia do que nele, e nem ao menos sentiu quando ela levantou os olhos. Ela só sabia que de repente estava prestando atenção a ele: na expressão de serenidade que surgiu em seu rosto, na forma carinhosa como ele começara a dedilhar as cordas do violão como se estivesse vivo e precisasse de cuidados.

Os olhos dele estavam um pouco vermelhos e mais opacos que o normal por causa da bebida. Angel sabia que aquilo não influenciava o seu ato de tocar por que aquilo fazia parte do Dan casual, do velho Dan de segundos atrás. Quando ele começara a tocar, ele expôs a alma e a forma como verdadeiramente. O ‘novo’ Dan ainda era divertido, desinteressado para muitas coisas, a diferença era que o verdadeiro Dan não colocava essa diversão acima de tudo e o desinteresse como característica principal.

Angelinne o odiava, isso ela garantia para si, mas seus olhos se cravaram nele como se nunca houvesse visto nada mais extraordinário. Ela o julgava arrogante e egoísta, mas percebeu e até invejou a intimidade que ele tinha com seu violão, como se fosse uma amante. Ela não se importava nenhum pouco com ele, mas seu corpo instantaneamente se inclinou para frente em sua direção como se ela não pudesse reprimir o desejo de fazer parte daquela magia.

Daniel fechou os olhos, ouvindo o dedilhar das notas musicais e sentindo a calma sobre-humana que o invadia nessas horas. A letra da música lhe preencheu a mente com tanta precisão que era como se tivesse estado lá por toda sua vida, seu corpo ficou tão leve que era como se não tivesse mais massa e estivesse preso à terra só pela gravidade. Quase como se pudesse voar. Quando Dan começou a cantar, era como se até o próprio vento tivesse parado de soprar para dar lugar somente ao som. E para ouvir.

Know it sounds funny
But, I just can't stand the pain
Girl, I'm leaving you tomorrow
Seems to me girl
You know I've done all I can
You see I begged, stole and I borrowed! (yeah)

Ooh, that's why I'm easy
I'm easy like Sunday morning
That's why I'm easy
I'm easy like Sunday morning

Dan tinha uma voz incrível. Não era a primeira vez que Angel ouvia, claro que não, mas todas as vezes era como se fosse a primeira vez. A sua voz não te impactava desse modo quando ele estava simplesmente conversando, embora ainda assim fosse bonita e diferente – levemente rouca e serena. Quando ele cantava, era... Magnífico. Era tão carregada de emoção e sentimento. Ele se entregava à música por inteiro.


Why in the world would anybody put chains on me?
I've paid my dues to make it
Everybody wants me to be
What they want me to be
I'm not happy when I try to fake it! no!

Ooh, that's why I'm easy
I'm easy like Sunday morning, yeah
That's why I'm easy
I'm easy like Sunday morning

Angelinne sorriu em diversão quando notou que Anne, ao seu lado, se balançava de um lado para o outro com as notas musicais, e logo voltou sua atenção à Daniel novamente. Ela ouvia os murmurinhos das pessoas cantando a música junto e se surpreendeu quando ouviu a própria voz o fazendo sem que ela tivesse ordenado. Ela tropeçou nas palavras e engoliu em seco quando ergueu os olhos e se deparou com os olhos de Dan em sua direção.


I wanna be high, so high
I wanna be free to know the things I do are right
I wanna be free
Just me! Whoa, oh! Babe!

That's why I'm easy
I'm easy like Sunday morning, yeah
That's why I'm easy
I'm easy like Sunday morning, whoa
'Cause I'm easy
Easy like Sunday morning, yeah
'Cause I'm easy
Easy like Sunday morning

 

Todos aplaudiram quando a música chegou ao fim, e Dan sentiu o alívio característico ao mesmo tempo em que sua cabeça latejava um pouco pelo barulho. Ele notou que Angel tinha desviado o olhar instantaneamente, mas que estava completamente vidrada enquanto ele tocava. Ele sorriu presunçosamente com o pensamento e se levantou, ligeiramente se curvando em agradecimento. 

— Obrigado, obrigado, mas todos sabem como eu sou bom. 

Com a delicadeza de um elefante, Emmet levantou e estalou as costas de Dan em um tapa com um sorriso. - Moleque, você precisa trabalhar na sua humildade. Presunção não leva ninguém a lugar nenhum. 

Yuri resolveu comentar, com uma gargalhada. - Claro que Emmet sabe disso por experiência própria.

 A partir daí, os ‘elogios’ familiares ganharam vez e logo estavam todos de pé, gritando uns com os outros em êxtase. Apenas parte daquilo era decorrente do álcool. Incomodado demais com a gritaria, Dan grunhiu e logo tratou de se afastar a tempo de ver que Angelinne fazia o mesmo, junto com a mãe, em direção ao asfalto. Ele justificou sua decisão em ir atrás dela no fato de que queria resolver logo a situação.

As duas seguiram para o carro de Yuri, e apenas Angelinne entrou e retirou de lá de dentro dois casacos e estendeu um à sua mãe. Apenas depois de ter trancado o carro novamente, que ela virou e percebeu Dan há poucos metros de distância delas. Como reação automática, ela vestiu o casaco com calma e começou a andar de volta à praia esperando que sua mãe a seguisse.

— Angelinne, eu quero falar com você. - Ele disse quando ela claramente ia passando por ele sem lhe dar a menor atenção.

Fernanda encarou Dan e depois a filha, em dúvida sobre se devia deixar os dois sozinhos e arriscar que saíssem no tapa ou apoiar Angel em sua decisão de ignorá-lo quando era óbvio que eles precisavam conversar. Fernanda sabia o que tinha acontecido, uma vez que sua filha não tinha segredos com ela.

No entanto, ela sabia que embora evidentemente o rapaz tivesse uma reputação não muito limpa com mulheres, Dan conhecia os limites. Claro que se por acaso ele tentasse outra coisa, teria de intervir. E já fora difícil impedir que Yuri tomasse partido, uma vez que Angel também não tinha segredos com ele.

Esperando estar fazendo a coisa certa, Fernanda disse. - Angel, meu amor. Não está ouvindo que estão falando com você?

— Não. - Angel respondeu sem se virar e sem parar de andar.

— Angelinne. - Fernanda repetiu com mais firmeza e contra a vontade, a menina cravou os pés no asfalto. - Volte aqui e resolva seus problemas. Você não está sendo muito madura, como tanto clama ser, fugindo.

Sem entender a posição de sua mãe, ela a encarou e resmungou. - Eu não estou sendo imatura!

Fernanda apenas arqueou uma sobrancelha e Angelinne suspirou quando percebeu que para completar o papel infantil apenas faltava para ela bater os pés. Fernanda ficou satisfeita quando a filha não respondeu e hesitou, pois sabia que ela faria o que era racional.

Quando ela virou para encarar Dan, ele falou primeiro. - Obrigado, Fernanda.

Sabendo que a filha tinha andado uma boa distância para ouvir e que ainda estava longe ainda que tivesse começado a andar em direção a eles, Fernanda o encarou seriamente. - Não desrespeite minha filha outra vez ou você vai ter que lidar comigo, está claro

Mais do que surpreso por ela saber, Dan começou a contradizer. - Eu não... - Ele pausou quando ela arqueou novamente a sobrancelha e suspirou. - Está claro.

— Bom. - Ela assentiu. - Todos devem ter uma chance de pedir desculpas. E eu sei muito bem que mesmo que você tenha passado dos limites, para um beijo são necessárias duas bocas. - Ela sorriu quando ele assumiu uma expressão incrédula. - E para sua sorte, eu gosto de você.

Dan ainda estava assustado com tanta informação mesmo depois de Fernanda se afastar e Angelinne se plantar em sua frente. Ela não estava feliz com aquilo, era evidente, mas parecia ao menos que iria ouvi-lo desta vez.

— Se você quer falar comigo, então comece. Não fique só olhando para a minha cara.

Ele enfiou as mãos nos bolsos da bermuda que usava em um gesto que era apenas aparentemente casual e se perguntou por que estava fazendo aquilo. - Olha, Angelinne, eu não estou acostumado a pedir desculpas a ningué-

— Isso é notório. - Ela interrompeu, azedamente.

— E ainda mais ficar insistindo nisso. - Ele continuou, sem lhe dar bola. - Entretanto, estou abrindo uma exceção antes que os outros percebam o seu comportamento teimoso e acabem estranhando. Isso não faria bem a nenhum de nós, log-

— Meu comportamento teimoso? - Ela tornou a interromper e o encarou com olhos congelantes. - Você está esperando que eu te agradeça pelo que fez?

Dan revirou os olhos. - Eu apenas beijei você uma vez durante menos de um minuto.

— Você me agarrou!

— Não. - Ele disse com muita certeza. - Eu iniciei o beijo e você correspondeu.

— Eu não correspondi!

Com aquilo, ele sorriu o sorriso cafajeste que Angel conhecia tão bem e ficou irritada com o fato de que fazia suas pernas amolecerem como pudim de leite.

— Você quer que eu refresque sua memória? - Ele sugeriu docemente.

Ainda que ele não tenha se movido, Angelinne deu um passo para trás. - Não encoste em mim de novo! - Ela exigiu, apontando um dedo em sua direção. - E eu não correspondi. Você me seduziu. - Ela murmurou a última palavra com um tom enojado.

Daniel gargalhou. - Isso era para ser uma ofensa?

Angelinne sentiu sua raiva aumentar significativamente com aquela risada, e também pelo fato de que ele ficava mais bonito quando ria.

— Definitivamente não dá para conversar com crianças. - Ela balbuciou balançando a cabeça como em decepção. Aquilo fez a risada de Dan sumir gradualmente e ele a encarou. - Olha bem, é o que vamos fazer: Eu não vou mais ignorar você, por que em uma coisa você está certo, vão começar a reparar. Então nós vamos nos falar apenas estritamente o que for necessário e ficaremos bem. Ouviu?

Ainda irritado com o que ela disse anteriormente, Dan teve de reprimir a vontade de esganá-la por horas. - Eu não sei o que te faz pensar que isso é uma condição para mim. Você acha que eu vou ficar atrás de você por que motivo? Pode ser novidade para a sua pessoa, e não querendo ofender, mas - Dan queria sim ofender e em sua enxurrada de palavras não percebeu que a menina já estava perdendo a cor do rosto, pois já sabia o que ele diria. - você não é lá tudo isso, Angelinne.

Só então ele percebeu a reação dela, que não era a que ele estava esperando ser para início de conversa. Sim, ela ainda estava pálida, mas ela o encarava como se não estivesse mesmo o enxergando. Ele abriu a boca para dizer algo e a fechou novamente por que não sabia o que dizer.

Ela saiu de seu transe de repente. - Que bom então, assim você entende o acordo sem maiores dificuldades. - Por que sua voz estava mais baixa do que ela gostaria, Angel pigarreou e ergueu o queixo. - Estamos conversados.

Dan a observou virar as costas e ir embora e se perguntou o que acabara de acontecer. Ele estava esperando que ela o olhasse com raiva e dissesse que ela não precisava de seu julgamento, que ela tinha muitas qualidades e que sua aparência a agradava. Angelinne diria algo exatamente daquele estilo, exaltando que a opinião que importava era somente a dela e de mais ninguém. Ele não esperava que ela simplesmente o encarasse daquele jeito, daquele maldito jeito que ele esperava que ela nunca mais fizesse na vida e... Concordasse.

Daniel fechou as mãos em punhos. Quem ela pensava que era para fazer aquilo? A Angelinne que ele conhecia nunca, nunca o olharia daquela forma vulnerável. Ela nunca o daria o gostinho de saber que ele tinha a afetado. Que direito ela tinha de fazer aquilo e o fazer se sentir culpado? Maldita Angelinne, maldita Angelinne!  

Ela conseguiu o atingir. Quando ele voltou para casa com a família já no amanhecer no dia, Dan ainda estava se perguntando por que tudo o que ele dizia para ela parecia tão errado e por que diabos ele se importava.


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