Someone To Call Mine II escrita por Gabi G


Capítulo 11
Capítulo XI


Notas iniciais do capítulo

Oi, pessoal :)

Neste capítulo as coisas ficam um pouquinho mais sérias para nossos casais. Complicações existem até quando o sentimento é recíproco, não? Principalmente considerando tudo isso rolando na mesma família. E família por si só já é complicada ahahahaha.

Espero que tenham uma boa semana!

Gabi G.



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Parte I - Tessalia & Adam

— Tess, se você estiver fazendo mais uma xícara de chá para mim, juro que chuto seu traseiro magrelo de volta para sua casa! - Violet berrou bruscamente da sala.

A bióloga suspirou e apagou a água que tinha colocado para ferver. Ouvindo que sua avó continuava a resmungar xingamentos, abaixou o fogo da panela em que cozinhava uma canja e foi até ela. A senhora estava sentada em sua poltrona favorita, com os braços cruzados e os lábios se movendo fervorosamente.

— Vovó, por favor, fique calma. Isso não faz bem para sua saúde.

— Eu estaria muito calma se você não tivesse tirado esses últimos dias para me enlouquecer!

— Vovó… - Tess começou, mas foi interrompida pela campainha.

Violet, em um gesto extremamente exagerado, juntou as mãos como se fosse orar. - Graças ao bom Senhor.

Balançando a cabeça, ela seguiu até a porta para atender. A primeira coisa que viu ao abrir foi um grande e ornamentado ramo de dálias azuis.

Então Adam moveu a cabeça de trás das flores e sorriu. - Olá, Sereia. Sua avó está acordada?

— Está. - Ela pigarreou quando sua voz saiu falha; ninguém precisava saber que seu coração tinha acelerado desconfortavelmente com o pensamento de que as flores eram para ela. - Entra.

Ele a deu um rápido beijo e um apertão na bunda. Tess tirou alguns minutos para se acalmar antes de se juntar a eles. Ela não tinha visto Adam desde o fatídico dia das três palavrinhas mágicas.

Sim, ela estivera fugindo dele. Ela tinha certeza que ele tinha reparado, principalmente quando no dia seguinte ele apareceu na sua porta e ela inventara que estava gripada e não queria contaminá-lo, mas ele não tinha comentado nada. Ela era tão covarde.

Pena que a compreensão daquilo não mudava suas ações.

Quando ela voltou à sala, Violet sorria orelha a orelha para Adam que estava agachado à sua frente. - Você não devia ter se incomodado! Mas as flores são lindas. Só você para pensar em uma flor tão incomum assim.

— Eu tenho o dom. - Ele respondeu com mais um de seus sorrisos bombásticos.  

Sim, ele tinha o dom com certeza, Tess pensou. Ela cruzou os braços, descruzou-os e tornou a cruzá-los.

— E você é a resposta às minhas preces. Talvez assim agora ela pare de me amolar o juízo. - A senhora reclamou indicando Tess com o queixo.

— Mas é para o seu bem, bela dama. Você nos deu um grande susto.

— Bobagem. Foi só um leve mal estar. - Ela sacudiu a mão que não segurava as flores dispensando o ocorrido. - E de qualquer modo, nada, eu repito: nada justifica o fato de que aquela ali tem me feito comer canja todo santo dia. Todo dia. Isso é algo que se faça com uma avó, Adam, diga-me você.

— Bem...

— Exatamente. - Ela continuou antes que ele pudesse responder. - Agora, já que você está aqui, ficará para almoçar conosco. Assim vocês saem para comprar algo e trazer para casa, e eu como algo de diferente para variar.

— Vovó, isso não é uma boa ideia. - Tess imediatamente protestou e não era simplesmente porque não concordava com a mudança da refeição. - O médico foi extremamente claro quando disse que...

— Tenho certeza que ele não disse que ela precisava comer a mesma coisa sempre. É só comprarmos algo leve. - Adam sugeriu e piscou para Violet. - Eu tenho certeza que ela também será muito mais cuidadosa daqui para frente.

— Ouviu, menina? Palavra de um futuro médico. Eu confio mais nele. - A senhora prontamente declarou.

Tess cerrou os olhos. - Claro que confia.

Naquele momento, Millie veio pelo corredor carregando um casaco para Violet. - Ah, oi Adam. Como está?

— Melhor do que nunca cercado de lindas mulheres.

Ela riu, lançou um olhar para Tess que dizia muita coisa, e então se aproximou da avó. - Tome, vovó. Vista isso. Está ficando frio. Acho melhor ligar o aquecedor.

— Está bem, eu visto. E vocês, andando. Estou ficando com fome.

— Eu ainda acho que...

— É voto vencido, Sereia. - Adam a interrompeu, colocando um braço em volta de sua cintura. - É melhor sair agora com dignidade do que depois que Violet te der um fora.

— Não seria o primeiro.

Violet soltou um muxoxo como se estivesse sendo injustiçada e Adam riu. Sem mais alternativas, Tess colocou um casaco e pegou chaves e carteira.

— Vovó, nada de se aproveitar enquanto eu estiver fora. Sei muito bem que a Millie finge que não vê quando você surrupia biscoitos da caixa.

— Que calúnia. - A modelo contradisse.

— Você é muito mole com ela. - A morena fez um sinal de que estava de olho nas duas enquanto Violet fazia cara de inocente. - Eu já vou voltar.

***

Depois do almoço, eles conseguiram convencer Violet a se deitar um pouco e Millie saiu para se encontrar com Ethan depois que Tess insistiu que estava tudo bem que ela ficasse com a avó naquele dia.

Adam percebeu que ela nem ao menos parou para considerar o fato de que fazia alguns dias desde que eles passavam algum tempo juntos antes de responder. Ele não estava sendo egoísta ou menosprezando o fato de que Violet ainda precisava de companhia, o problema era que Tess parecia estar muito bem com a forma como as coisas estavam.

Ela estava inquieta antes e ficou ainda mais depois que eles ficaram sozinhos na sala. Adam não queria tirar conclusões precipitadas ou parecer paranóico, mas ele tinha a impressão de que Tess apenas não tinha pedido para ele ir embora porque teria que dar uma desculpa. Ou porque pareceria grosseria. Mas era isso que ele achava.

Ele passou um braço em volta dela e a puxou para mais perto dele, beijando seu pescoço. Quase imediatamente ela ficou tensa. Suspirando, ele se afastou outra vez.

— Tess. Qual é o problema?

— Nada.

Ele permaneceu a encarando, mas ela não retribuiu o olhar. - Olha, eu realmente não vejo nenhum propósito no jogo do silêncio. Se eu fiz alguma coisa, apenas diga e nós vamos resolver.

— Você não fez nada. Eu só estou... Cansada.

— Assim como você estava cansada ontem, e como estava doente na quarta... E na quinta.

Ela finalmente olhou para ele e sua voz foi seca. - Desculpe se eu não estou de bom humor e disposta para você, Adam, mas isso acontece por acaso quando seus familiares quase morrem. Eu não espero que entenda.

Ele balançou a cabeça, desacreditado na situação. - Até quando você vai usar Violet como desculpa?

Ela hesitou. - Eu não...

— Não minta, Tess. Ao menos vamos manter a honestidade aqui, tudo bem? Eu nunca pedi pra você dizer nada, eu nunca te forcei a fazer nada que te deixasse desconfortável. Eu disse que te amo porque é o que eu sinto. Eu não direi mais se não quiser, mas você tem que parar me punir por algo que você falou e está arrependida de ter dito.

— Não é nada disso...

Ele apenas balançou a cabeça de novo. - Tudo bem, Tess. Não é. Está tudo às mil maravilhas. Eu que estou alucinando. Vou deixar você descansar.

Ela se levantou quando ele pegou o celular da mesa de centro e enfiou no bolso. - Adam...

— Eu vou embora. Era o que você queria mesmo desde que cheguei.

Ela tentou o impedir, tentou chamá-lo de volta, mas teve como resposta a porta abrindo e fechando suavemente. Claro que não havia a menor razão de perturbar Violet só porque eles tinham tido uma briga.

Tess passou uma mão pelo cabelo e então reparou sua avó parada de pé no corredor. Ela suspirou e rolou os olhos. Era o que ela precisava.

— Agora não, vovó.

Como já era esperado, Violet ignorou os alertas da neta e foi se fazer muito a vontade na sua poltrona. Tess abaixou a cabeça, colocando as mãos nas orelhas como se quisesse bloquear a voz da avó que logo surgiria.

— Acho que não preciso dizer que você está fazendo besteira.

— Vovó, agora não.

— Tudo bem, não vou dizer nada. É sua vida, é sua escolha. Eu só não quero que se arrependa depois, querida.

Tess levantou o rosto e por um momento a senhora achou que ela ia pedir algum conselho. Mas o momento logo passou.

— Eu quero ficar um pouco sozinha. Qualquer coisa, me ligue, por favor.

Violet achou que ela iria para o quarto de hóspedes, mas como se não fosse o suficiente, Tess subiu para seu apartamento.

***

Tess sabia que estava errada. Sabia também que aquele parecia ser um fator recorrente quando se tratava de Adam. O que ela não sabia ainda era exatamente porque estava agindo daquela forma e porque não conseguia parar.

Ela passou um tempo sozinha em seu apartamento somente pensando, quando percebeu que estava reclusa por tempo demais, desceu de novo para o apartamento da avó para checar se estava tudo bem.

Então ela ligou para a irmã e perguntou se havia problema que elas mudassem os planos naquele dia. Tess esperou que Millie chegasse com Ethan, despediu-se da avó e saiu para tentar consertar a última burrada que tinha feito.

Ao se dirigir para a casa de Adam, ela tentou ligar para o celular dele, mas não recebeu retorno. No meio do caminho sua bateria acabou e ela praguejou, assustando uma senhora sentada ao lado dela no metrô. Em uma contida inquietação, ela contou em silêncio as estações até chegar ao seu destino em Upper West Side e descer do vagão.

Ela caminhou depressa por entre as calçadas conhecidas e ao chegar à entrada da casa, deparou-se com Bella saindo com uma sacola de lixo na mão. Tess hesitou e aguardou que Bella a percebesse ali. Para seu alívio, a médica ofereceu um sorriso.

— Oi, Tess. Adam não comentou que vinha.

— Ele não sabe. - ela respondeu e pigarreou. - Meu celular morreu. Ele está em casa?

— Está. - Bella confirmou após um momento e sua expressão era cautelosa. - Deixe eu só jogar isso aqui que te levo lá.

— Não precisa. Vou até lá.

Tess entrou depressa antes que a médica pudesse responder e seguiu para o quarto de Adam. Do lado de fora, ouviu risadas. Trincou o maxilar ao reconhecer a voz. Lola. Agora entendia porque a Bella queria impedi-la de ir sozinha.

Ela respirou fundo por três vezes. Então bateu.

Houve um minuto onde soaram mais risadas e som de passos. Então Adam abriu a porta e seu sorriso morreu. O olhar de Tess recaiu imediatamente sobre Lola que parecia muito à vontade deitada na cama.

— Tess. - ele murmurou como se houvesse alguma necessidade, então pigarreou e olhou sobre o ombro para Lola. Então voltou a encarar a bióloga. - Você não avisou que vinha.

Como se fosse uma inconveniência que ela aparecesse naquele momento, como se ela precisasse de um convite para ir à casa de seu namorado. Ela cerrou os olhos quando Lola, sem nenhum amor à vida, balançou a mão em direção à ela em cumprimento.

— Eu tentei. - Tess respondeu entre dentes, tentando permanecer calma. - Você não atendeu. Vejo agora que está ocupado. Falo com você depois.

— Não! Espera. - ele contradisse depressa. - Me dá um segundo.

E ele fechou a porta na cara dela.

Tess permaneceu parada no mesmo lugar porque não estava acreditando que ele realmente tinha escolhido fazer com que ela esperasse. O choque a manteve imóvel. Ela sentiu lágrimas ameaçando lhe queimar os olhos e disse a si mesma que era pura raiva.

Pouco tempo depois, a porta foi aberta de novo. Lola saiu ajeitando a bolsa no ombro e lançou a ela um sorriso cheio de dentes. - Oi, Tess. Tudo bem?

Tess a encarou mortalmente e deu um passo em direção a ela sem sentir, sentindo a mão formigando para dar na cara dela. Lola então balançou a cabeça e continuou a andar cantarolando, como se passeasse no bosque.

Aquela garota era abusada em um nível que não podia ser medido.

Ela estava indo atrás dela de novo quando Adam saiu do quarto e a segurou pelo braço. - Ei! Tess. Vem cá.

Lola olhou para trás uma última vez e gargalhou como se a situação fosse cômica demais para que fizesse qualquer outra coisa.

Adam rebocou Tess para dentro do quarto o mais delicadamente que pode e tornou a fechar a porta. Viu quando o olhar da bióloga recaiu sobre a cama que ele notou, com pesar, que estava toda bagunçada.

Não havia acontecido absolutamente nada, é claro, mas ele sabia o que estava aparecendo. - Olha…

Ela levantou um dedo para que ele calasse a boca. - Eu vim aqui para me desculpar porque sei que estava agindo estupidamente. Porque não queria que continuasse esse clima estranho. Mas parece que está tudo às mil maravilhas, afinal, já que eu era a última coisa na sua cabeça.

— Não é nada disso. Lola…

Está o tempo todo fungando seu cangote. A impressão que eu tenho é que quando não está comigo está com ela. Não me surpreende que você não tenha tempo para estudar, levar dois relacionamentos deve ser mesmo muito…

— Tess, você está sendo ridícula! - ele interrompeu e revirou os olhos. - Sabe muito bem que eu não tenho nada com a Lola. Por Deus, é como se ela fosse da família.

Tess cruzou os braços. - Eu sou da família.

Está bem, Adam tinha cavado seu próprio buraco com aquela. Ele se aproximou dela, mas o olhar que ela lançou a ele o fez parar no mesmo lugar.

— Tess. Lola é minha melhor amiga. Eu entendo que você não goste dela, mas se você quer inventar que tenho algo com ela para colocar em mim a culpa sobre o que está acontecendo, não vamos chegar a lugar nenhum. É você que está criando o abismo entre a gente, não eu.

Tess trincou o maxilar, abriu a boca, então a fechou. Ela suspirou e tentou mais uma vez. - Eu sei que estava errada. Mas eu não me arrependi do que eu disse. Eu amo você. Só que não era o que eu queria e não estou sabendo lidar muito bem.

Adam concordou com a cabeça como se aquilo não fosse nenhuma novidade. - Ok. E até quando você vai me punir por isso?

Ela fez uma expressão desolada e não disse nada, porque também não tinha a resposta. Ela queria muito dizer o que ele queria ouvir e ela queria ser a melhor pessoa para ele, mas Tess não compreendia o que a bloqueava. Ela não sabia como consertar.

Adam respirou fundo e esfregou as mãos no rosto. Então mais uma vez ele se aproximou dela e desta vez Tess não só permitiu, como o abraçou. Ele mergulhou o rosto no cabelo dela, inalando o cheiro que amava, e sentiu como de costume que apesar de tudo ela tinha o poder de fazê-lo sentir que nada era tão ruim assim.

— Me desculpe, Adam.

Ele beijou sua testa e a apertou mais forte contra si. - Está tudo bem.

Mas não estava. Os dois sabiam disso.

### - X— ###

Parte II - Melanie & Thomas

Rosalie não estava tentando ser discreta ao encarar o marido pelo espelho. Enquanto ele fazia a barba, fingia não notar que ela estava ali.

— Quando isso vai acabar, Emmet?

Ele não se fez de bobo. Sabia muito bem do que ela estava falando. Como ignorá-la não estava surtindo efeito, nunca surtia, ele largou a lâmina e se virou em direção à esposa.

— Por que você não me apoia ao invés de me julgar? Você acha que isto está certo?

— Não, eu não acho que está certo. Mas o seu comportamento também não é.

Emmet disse um palavrão, arrancou a toalha enrolada em sua cintura e foi se vestir. Rosalie não se distraiu por ele estar nu, afinal estavam tratando de um assunto sério. Ao menos, não tanto. Ela foi atrás dele.

— Será que não percebe que Tom está magoado?

— Se ele estivesse tão magoado - Ele respondeu enquanto vestia uma boxer. - teria dado um ponto final nessa história. Pelo contrário, ele persiste. E vai continuar até que tudo esteja perdido.

Rose cruzou os braços. - Incrível o seu desprezo pela opinião da Mel na questão.

— Incrível seu desprezo pela determinação do seu filho quando se trata de sexo.

Eles permaneceram se encarando com os maxilares trincados e só quando ouviram o barulho na porta, perceberam que Thomas estava ali.

Ele falou diretamente com sua mãe. - Eu vou indo na frente.

— Thomas… - Emmet começou, mas ele já não estava mais lá. - Mas que merda.

— Espero que esteja satisfeito. - Rosalie lançou um olhar a ele e então saiu depressa atrás do filho.

Ele foi até a janela do quarto a tempo de ver o carro de Thomas saindo da garagem e tinha certeza de que Rose havia ido com ele.

***

O almoço era na casa de Alice e Jass. E não havia uma pessoa na casa que não tivesse notado o clima pesado.

Havia grupos de pessoas conversando, como era normal de qualquer evento e reunião familiar, mas desta vez a segregação parecia maior do que de costume. Um pouco depois do almoço, notando bem essa distribuição e sentindo falta de uma pessoa, Mel discretamente saiu da sala.

Thomas estava sentado no topo da escada, que sendo em curva, impedia quem estava no primeiro andar de conseguir enxergá-lo. Ele tinha uma garrafa de cerveja esquecida na mão e um semblante sério, mas forçou um sorriso quando ela se sentou ao seu lado.

— Dia difícil?

— Está tudo bem. - Ele garantiu e então piscou. - Eu só sumi porque sabia que você vinha me procurar e assim eu poderia te agarrar em paz.

— Tom.

O sorriso dele cedeu e ele desviou o olhar. Mel não o pressionou nem perguntou outra vez. Sabia que se Thomas sentisse a necessidade falaria, no tempo dele.

— Você sabe, Mel. Metade do meu tempo eu tento não fazer besteira e a outra metade eu passo me questionando se realmente estou conseguindo. É ruim o suficiente viver com isso na cabeça, mas é ainda pior saber que tem outra pessoa que pensa da mesma forma.

— E por ‘outra pessoa’ eu suponho que esteja falando do seu pai.

Ele esperou um tempo até falar novamente. - Ele não confia em mim. E... Ao mesmo tempo em que eu não posso culpá-lo, eu quero. Ele sabe que é diferente com você. Todos sabem.

— É diferente porque você sente algo por mim, mas aos olhos de todos, não é diferente, Tom. É algo passageiro da mesma forma e é difícil para eles entenderem isso.

Pairou entre eles um silêncio estranho. Ela esperou que ele dissesse algo, mas não aconteceu. Ele nem ao menos a encarou. Buscando aliviar o clima, ela colocou uma mão sobre a dele.

— Não vai ser assim para sempre, Tom. Relaxa.

— Você sempre fala disso como se fosse algo… - Ele não terminou de falar, apenas balançou a cabeça. - Não te incomoda pensar sobre isso? Sobre quando não estivermos mais juntos?

Reconhecendo que eles estavam entrando em território perigoso, Mel suavizou a voz. - E qual seria o propósito? Nós dois já entramos nisso sabendo o que ia acontecer. E concordando. Isso aqui pode mudar, mas nós continuaremos sendo amigos...

Ele virou a cabeça tão rápido na direção dela que Mel se sobressaltou. - Será que você nunca sente nada? Nunca, Mel? Não te incomoda nenhum pouco pensar na nossa separação?

— Não vai ser uma separação...

— Você sabe do que eu estou falando! - Ele já falava exageradamente alto. - Nada te afeta. Nem isso, nem se eu estivesse transando com outras pessoas, nem encontrando pessoas na rua com quem eu já transei, nem a opinião da nossa família, absolutamente nada! Para você sempre dará no mesmo!

— Você está sendo injusto e você sabe.

— Não estou sendo injusto, eu estou sendo sincero! Você gosta de mim, Melanie? Não o Tom que conhece a vida toda, mas eu aqui como seu parceiro, como estamos agora! Porque parece que não faz diferença se estivesse com seus admiradores do colégio, ou com seu vizinho estúpido que tropeça cada vez que sorri ou com qualquer pessoa do bairro! Não faria diferença para você!

Ela se levantou lentamente. - Se acha mesmo que sou tão fria, então não sei por que perdeu tanto tempo insistindo nisso. E está claro que você está procurando por uma briga...

— É exatamente disso que eu estou falando! - Ele bateu com a garrafa de cerveja contra o degrau. - Eu estou aqui me esgoelando e você permanece calma como se estivéssemos falando sobre o maldito tempo!

— Se você quer uma pessoa que faça escândalos com ciúmes de você ou que chore histericamente a cada briga, eu não sei por que...

— Eu quero você, Melanie! - Ele se levantou e olhou nos olhos dela. - Eu só queria ter certeza que você me queria também! E não simplesmente que eu ganhei você pela insistência. Esse é o propósito disso aqui.

Melanie odiava não ter a última palavra nas discussões, mas ela apenas conseguiu observar enquanto ele descia as escadas. Ela se sentou de novo, sem sentir, e permaneceu olhando para frente sem enxergar nada de verdade.

Thomas passou pela sala como um foguete, mas Rose percebeu porque estivera o esperando aparecer e saiu rapidamente atrás. Ele já estava abrindo a porta do carro quando ela o alcançou.

— Filho. Aonde você vai?

— Dar uma volta.

— Thomas, por favor, não vá beber. Você está dirigindo e irritado e...

— Eu não vou beber, mamãe. - Ele respondeu e se inclinou para dar um beijo na bochecha dela quando viu que ainda estava preocupada. - Prometo. Só preciso esfriar a cabeça. Ok? Eu te vejo em casa.

Ela queria dizer que não estava ok, queria se oferecer para ir com ele, mesmo que ficasse quieta, não queria que ele saísse sozinho daquele jeito, mas não disse nada daquilo. Uma das tarefas mais difíceis de uma mãe era saber deixar os filhos voarem independentes e ela estava começando a sentir isso na pele.

Então ela assentiu, observou enquanto ele entrava no carro e dava partida. Com o coração apertado, mas somente observou. Emmet estava parado na porta quando ela se virou para voltar. Um milhão de perguntas distribuídas em uma expressão culpada. Ela passou por ele sem dizer nada.

***

Bella guardou na geladeira a torta que tinham comido há pouco e começou a apagar as luzes da casa. Hoje poderia adormecer tranquilamente porque os dois filhos estavam em casa. Ela apagou a luz da cozinha e da sala e então bateu na porta do quarto do filho. Adam estava puxando o edredom e o cobertor que forrava o colchão para deitar.

— Boa noite, filho. Durma bem.

Ele hesitou e então assentiu. - Boa noite.

Depois do período de tempestades devido ao seu relacionamento com Tess, felizmente eles estavam se entendendo de novo. Bella fechou a porta e bateu na porta do quarto da filha.

Mel estava em pé de frente para janela e se virou quando a porta se abriu. - Boa noite, mamãe.

Isabella percebeu imediatamente que ela ainda estava com a carinha triste que tinha sustentado o dia inteiro.

— Quer um beijo de boa noite?

Ao invés de responder, Mel caminhou até ela e a abraçou.

Bella entrou e fechou a porta atrás de si. - O que deixou meu anjinho triste?

— Você acha que eu sou fria?

Ela não pôde evitar, a risada. - É piada?

Quando a filha não a acompanhou, percebeu que realmente aquela tolice era um assunto sério.

— Tudo bem, vem cá. - Ela puxou a filha até a cama, sentou-se e Mel deitou a cabeça em seu colo. - Melanie, você não poderia ser fria nem se nascesse de novo. De onde tirou essa ideia?

— Tom.

Bella arqueou uma sobrancelha que dizia ‘Ah, é? Pois deixe o rapaz comigo’ e começou a afagar o cabelo da filha. - Está explicado, então. Thomas está se transformando em um idiota. Pena, o garoto tinha potencial para ser uma ótima pessoa.

Mel deu um pequeno sorriso. - Ele não disse que eu sou fria no geral. Disse que eu sou fria com ele. Ele acha que eu não me importo com... Seja o que for que temos. Ele acha que seria mais adequado que eu desse crises de ciúmes por causa de casos passados dele. Como se eu não o conhecesse há minha vida toda. Ele diz que não parece que eu gosto dele! Como ele pode dizer isso?

— Fácil, ele é um idiota. - Bella repetiu calmamente e ficou satisfeita quando Mel sorriu de novo. - Você gosta dele?

— Eu amo o Tom, mamãe. Eu o amo.

Ela suspirou. - E é aqui que mora o problema.

Melanie se levantou a encarou. - Eu estou bem com isso, é sério. Eu não tenho esperanças de que vamos casar e ter filhos, até por que eu quero fazer muita coisa primeiro antes de pensar nesse tipo de compromisso. E eu sempre soube que isso é algo temporário, assim como ele sabe. E então ele reclama que eu não me importo quando nos separarmos, que eu não me importo com nada, que nada faz diferença para mim. Quando tudo faz toda a diferença. E como, como ele pode ser tão estúpido a ponto de não perceber isso? Como, mamãe? Mas por que chorar por algo que já é esperado? Por que fazer um espetáculo disso quando só acabaria com a relação que sempre tivemos? Eu não estou certa de pensar assim? Não estou?

— Você quer que eu concorde com você ou minha opinião?

A menina encolheu os ombros. - A verdade.

— A verdade. Está bem. Bom, eu entendo o que você está fazendo, eu entendo que queira se proteger e proteger Tom. Entendo que queira manter o que vocês tinham antes, mas querida, tratar o assunto como algo esperado não garante que não vai se machucar. Você está apaixonada por ele, vai doer se você arrancar os cabelos ou não. Não tem um jeito de ser fácil, não tem um jeito de ser normal. Nunca vai ser como antes. E sendo inteligente como é, sei que você sabe disso. Não há como ser como antes e não deve ser, a cada experiência de nossa vida mudamos um pouco. Faz parte do processo de amadurecimento e das marcas naturais que situações deixam em nossas vidas. Vai ser diferente, principalmente se você dormir com ele.

— Eu já decidi que vou dormir com ele.

— Esperava por isso. - Ela pausou para respirar fundo. - Certo, conversaremos sobre isso depois. Você não é fria e Tom não acha que é fria, ele estava nervoso – se o clima entre ele e Emmet era alguma indicação – e ele apenas usou a irritação para colocar para fora o que no mínimo já queria ter dito. Grosseria nunca é bom, e eu aconselho um puxão de orelha depois, mas meu amor, não tem como ele saber que você sente algo se não disser para ele.

— O que a sinceridade nos traria de bom nesse caso? É algo temporário, mamãe.

Bella sempre sentia um arrepio na espinha quando seus filhos a olhavam como Mel estava olhando naquele momento: perdidos e se agarrando às respostas dela como se fossem as verdades mais absolutas do planeta.

— Mel, você tem que decidir quanto quer contar a ele. Ninguém conhece melhor seu coração do que você mesma. Mas eu posso afirmar algo: a sinceridade pode machucar, magoar e causar desentendimentos sim, principalmente quando a pessoa ouve o que não quer ou o que não espera; no entanto, a mentira causa danos a longo prazo e muitas vezes os danos são irreparáveis.

***

Thomas a viu assim que estacionou o carro em frente a sua casa. Ele estava planejando entrar, tomar um rápido banho e ligar para Dan para ver se queria sair. Qualquer coisa para evitar permanecer no mesmo ambiente de seu pai.

No dia anterior, tinha voltado para casa bem tarde e havia saído mais cedo do que o costume naquela manhã. Ele não era idiota: sabia bem que teria que enfrentar seu pai mais cedo ou mais tarde. No entanto, ele também sabia que não resolveria nada se não fizesse o que seu pai queria: deixar Mel em paz. Então ninguém podia culpá-lo por adiar uma briga sem nenhum fundamento.

Ele recolheu sua mochila do banco do carona, saiu e trancou o carro. Melanie se levantou do degrau em frente à porta da casa quando ele começou a caminhar em sua direção. Tom não sabia que ela estava lá, muito provavelmente ela tinha matado a última aula para sair mais cedo, mas ele não estava surpreso por vê-la.

Sem dizer mais nada, eles caminharam um em direção ao outro e se abraçaram. Ele apertou os braços ao redor dela e colocou uma mão em seu cabelo, afundando o rosto em seu pescoço. Ela sempre, sempre cheirava a hortelã e conforto.

— Me desculpa. - Eles disseram ao mesmo tempo; sussurros enquanto eles não se preocupavam em se desgrudar.

— Eu não devia ter dito aquelas coisas para você...

— Não, eu entendo. Eu pensei muito...

— Você nunca fez nada para merecer o que eu disse. Caramba, você é a melhor pessoa que existe, Mel, e eu não...

— Para. - Ela se separou dele e colocou uma mão sobre sua boca. - Eu também cometo erros como todo mundo. Sinto muito se eu não deixei claro como você é importante para mim… - Ele começou a balançar a cabeça e ela cerrou os olhos. - Quieto. Eu não gosto de pensar em como vai ser quando não estivermos mais juntos. Quero pensar e lidar com isso quando acontecer. Não há propósito nenhum em pensar agora, mas não ache por um minuto que eu não me importo. Eu te amo e você é uma das pessoas mais importantes da minha vida. Sempre foi e sempre vai ser.

— Mel...

Shh. Eu ainda estou falando. Mas eu não posso mudar meu comportamento para que se sinta mais seguro. Eu não ligo para quantas mulheres você dormiu e não vou mentir sobre isso. Não ligo com quantas irá dormir. Esse é o modo como eu funciono. Eu ligo para o agora, ligo para o presente e para o que acontece com a gente hoje. Isso não significa que eu não me preocupo com o que acontecerá, e sim que eu quero aproveitar ao máximo o que tenho ao invés de ficar me questionando com ‘e se? ’.

Ele esperou e quando ela não disse mais nada, balançou a cabeça e ela tirou a mão da boca dele. - Posso falar agora? - Ela assentiu e ele a puxou para um intenso beijo. - Eu te amo. Você é maravilhosa. Nunca mais escute a nenhuma asneira que eu disser.

— Nosso número de conversas vai diminuir significativamente. - Ela sorriu. Ele deu de ombros, com um pequeno sorriso, e a beijou outra vez. - Quer sair daqui?

— Quero. - Ele suspirou como se ela lesse sua mente. - Deixa só eu tomar um banho primeiro.

***

— Você não está pensando em invadir, está? - Mel perguntou colocando as mãos na cintura.

Thomas deu uma piscadela e abaixou para procurar o esconderijo da chave. - Tenho certeza que ainda está por aqui.

— Tom, não podemos invadir!

Ela voltou a olhar para a grande casa branca em frente à praia. Era um lugar que cheirava a infância dela, de Tom, Dan, Adam, Millie, Tess, Angel, Max, todos na verdade, até Ethan conseguiram arrastar pra lá duas ou três vezes. Ali havia morado um casal de idosos que o acolheram um dia que tinham aprontado e estavam fugindo dos pais e os ofereceram biscoitos.

A partir daquele dia, a casa havia se tornado um refúgio para eles até que o casal morreu alguns anos atrás. A casa estava à venda há muito tempo, sendo cuidada pelos filhos que vinham algumas vezes ao ano, e tinha reputação de ser mal assombrada.

— Está com medo de fantasmas, Mel? - Ele sorriu e então riu. - Ahá, eu sabia que estava aqui! - Ele tirou o objeto de metal de debaixo da escadinha que levava à porta.

— Vão saber que alguém esteve aqui. Os filhos deles vão saber que fomos nós.

— Larga de ser medrosa. - Ele enfiou a chave na fechadura e girou a maçaneta. - Vem, anda. Antes que nos vejam.

— Por que eu deixei você me convencer? Vamos acabar presos.

Thomas fechou a porta atrás dela e a sala foi mergulhada em uma penumbra. Continuava exatamente do jeito que lembravam, com a exceção de aparelhos eletrônicos.

— Eu posso jurar que sinto o cheiro de biscoitos. - Mel sussurrou.

— Definitivamente a casa é assombrada. Duvido que seja por maus espíritos, no entanto.

Melanie também duvidava. Sr. e Sra. Goldenberg tinham sido pessoas doces e generosas, tão apaixonados como deviam ter sido quando jovens.

Ela encarou o sofá com um sorriso, lembrando-se da vez que Sally, a senhora, tinha contado que eles tinham posicionado o sofá debaixo da janela porque ela gostava de olhar para lua quando eles estavam faziam amor. Edgar, o senhor, tinha ficado da cor de um tomate e ralhado com ela de que crianças não poderiam ouvir aquele tipo de coisa.

Eles não eram mais tão crianças na época, sendo a mais nova Angelinne com doze anos. Sally havia dado de ombros e respondido que crianças estavam precoces e melhor seria aprender sobre sexo como um ato de amor do que como simplesmente um prazer vazio. Mel balançou a cabeça para si mesma, pensando que Thomas e Dan não deviam estar a escutando naquele momento.

— Vamos até a cozinha. - Thomas sugeriu excitado como uma criança e a puxou pela mão.

Lá parecia que a presença deles era mais forte. Tom podia imaginar perfeitamente Sally fazendo alguma de suas maravilhas no fogão enquanto Edgar, sentado à mesa com uma xícara de chá, corava imensamente com os olhares que ela o lançava.

Com certeza, aqueles dois tinham sido muito apaixonados até o fim. Tanto que se recusaram a partir daquele mundo separados e sim juntos, enquanto dormiam.

A medicina nunca tinha conseguido explicar aquilo.

— Eu consigo senti-los aqui… - Ele olhou para Melanie. - E você sabe que não acredito nessas coisas.

— Não é questão de acreditar, algumas coisas são inevitáveis.

Mais tarde, eles se sentaram no sofá debaixo da janela e permaneceram abraçados. Quietos, apenas ouvindo os barulhos da noite que chegava. Era estranho que não sentissem medo do lugar com tantas histórias sobre ele que comentavam, mas nenhuma das pessoas que falava tinha realmente passado um tempo com Sally e Edgar.

— Você acha que o que estamos fazendo é errado?

— Invadindo a casa alheia?

— Você entendeu, Mel. - Ele suspirou e apoio o queixo na cabeça dela. - Está causando tanta discórdia que não posso deixar de pensar que é mesmo errado. O papai e Edward não estão mais tão camaradas assim, sabe. E até o vovô chegou para ‘conversar sobre nossa situação’. Logo o vovô, que não se mete em nada disso.

— Eu não vou concordar, se é isso que está esperando. - Ela ergueu a cabeça. - E também não sei o que dizer para que se sinta melhor, Tom. Não há errado ou certo quando se trata de sentimentos. Sabíamos que ia ser assim desde o começo.

— Eu só não sabia que ia ser tão ruim.

Melanie virou em direção a ele. - Podemos dar um fim nisso agora então e voltar a sermos apenas amigos.

— Não ia resolver. - Thomas contradisse depressa.

— Nenhum ‘mal’ permanente foi feito... Ainda. - Ela deu um sorriso.

Tom engoliu em seco. - Sabe... É melhor nós irmos.

Ela continuou parada do mesmo jeito, apenas arqueou uma sobrancelha. - Sabe, Tom, eu já entendi o porquê de sua hesitação, mas... Não vai adiantar de nada. Eu estou decidida. E você sabe o que acontece quando eu estou decidida.

— Mel...

— Eu consigo o que eu quero. - Com movimentos de uma gata, ela se ergueu e colocou uma perna de cada lado do quadril dele, sentando-se em seu colo. - A questão é apenas se você vai colaborar ou não.

— Olha só, Mel… - Ele engoliu em seco outra vez quando ela segurou as mãos dele e as colocou sobre seu quadril. - Eu não acho que devíamos...

— Eu acho. - Melanie deu uma risada rouca e começou a beijar seu pescoço. - Esse sofá está aqui para isso, lembra?

Thomas fechou os olhos e suas mãos subiram para os seios dela antes que pudesse controlar. Ele não era de ferro e Melanie estava sentada diretamente sobre sua ereção. Deus do Céu. Ele devia estar demonstrando uma maior força de vontade para parar aquilo, mas não conseguia se lembrar da causa naquele instante.

Melanie agarrou as costas do sofá quando ele pressionou o quadril contra o dela. Podia senti-lo mesmo com o empecilho das roupas. Thomas tomou a boca dela com a sua e a jogou contra o sofá, deitando sobre ela.

Sem nenhum cuidado, ele puxou a camisa dela para cima e pressionou a boca contra seu seio ainda coberto pelo sutiã. Seu gemido foi apenas mais um incentivo para que continuasse o que fazia e como se para demonstrar sua gratidão, Melanie desceu a mão pela sua barriga e tocou sua ereção por cima da calça.

Um celular começou a tocar.

Melanie segurou a cabeça dele para impedi-lo de se afastar. - Ignora...

Ele queria. Como queria. Mas ignorar causaria ainda mais complicações. Tanto tardias como imediatas. Ele tateou o bolso de trás da calça e então percebeu que aquele não era seu toque.

— É o seu, Mel.

— Hum?

Ele teria rido de sua expressão aérea se a situação permitisse. - É o seu celular.

— Oh. Oh! - Ela se levantou e tateou o sofá pelo celular que caiu no chão com sua sedutora performance. - Alô?

Melanie, onde você se meteu? Papai já perguntou por você três vezes. Lembra que disse que não ia sair hoje? Eu não sei mais que desculpas eu dou… - A voz irritada de Adam soou alta demais.

— Eu sei... Eu...- - Ela precisava de um minutinho, só um minutinho para que seu cérebro voltasse a funcionar. - Eu já estou indo... Hum... Aconteceu uma coisa.

E pela sua falta de ar, consigo imaginar o quê. - Ele murmurou secamente. - Não vou mais cobrir para você e Tom. Se não estiver aqui em meia hora, eu conto a verdade.

— Mas não dá, eu não estou perto...

Meia hora, Melanie. - Ele desligou.

Ela encostou o aparelho contra a testa e suspirou.

Deliberadamente, Thomas abaixou de novo a blusa dela. - Temos que correr?

— Temos que voar.

***

Ela chegou a casa trinta e dois minutos mais tarde com uma expressão inocente e um sorriso de anjo no rosto. Adam estava de braços cruzados esperando o pai terminar uma ligação e dava para perceber pela expressão dele que estava se preparando para entregá-la. Ele estreitou os olhos quando ela entrou sorrateiramente na sala.

Mel deu um beijo em Edward, que murmurou que a comida ainda estava quente, mas não encerrou a ligação. Pela sua expressão séria devia ser alguma coisa no hospital e pedindo perdão a Deus se por acaso fosse alguém em estado grave, ela agradeceu porque aquilo desviaria a atenção dele de seu atraso.

Ela seguiu para seu quarto para tomar banho e Adam foi atrás. - Trinta e três minutos.

— Levei um minuto do carro até aqui.

Ele revirou os olhos. - Não arranje ideias quando a mamãe está de plantão. Ela sabe inventar desculpas para você melhor do que eu. E eu não gosto de mentir.

— Você acha que eu gosto?

Observando-a pentear o cabelo calmamente e então prendê-lo em um coque, ele arqueou uma sobrancelha. - Seu sofrimento parte o meu coração.

Ela sorriu. - Nada disso seria necessário se o papai fosse um pouco menos turrão.

— Ele tem todas as razões para ser turrão nesse caso. - Adam defendeu e embora tenha dito a si mesmo que não iria se intrometer, adicionou. - Todo mundo está preocupado, Mel. Você sabe que esse seu lance com Thomas não vai dar em nada. Ninguém entende porque está se prestando a esse papel. Que eu bem me lembre, não há uma garota em NYC com mais pretendentes do que você.

— Eu sei o que estou fazendo.

Ele balançou a cabeça. - Você pensa que entende tudo. Mas há coisas que nem a fabulosa Melanie Cullen pode prever.

Mel ficou encarando a porta com o cenho franzido depois que o irmão saiu e o som do seu celular a despertou. Era uma mensagem.

Viva ainda?

: x

Ela sorriu e respondeu em seguida:

Salva por um fio.

O padrinho disse algo?

Melanie se despiu, recolheu sua roupa de dormir e levou para o banheiro. O telefone alertou uma nova mensagem.

Não falo com ele há dois dias.

Definitivamente acho que é errado, Mel.

Mas você vale à pena.

Tenha uma boa noite,

Seu.

Ela suspirou quando leu, pensou um pouco e mandou de volta:

Vá por mim, crises passam.

E de qualquer forma, enquanto não passar,

Eu estou aqui, ainda que só para ficar em silêncio.

Tenha uma boa noite,

Ela hesitou antes de terminar e digitou antes que pudesse se arrepender:

Sua.

Ele não respondeu dessa vez e então ela entrou para tomar banho. Apenas depois que saiu do chuveiro e se vestiu, o aparelho tocou outra vez.

Quase dezenove anos,

E ainda não consegui compreender

Como algo tão perfeito foi criado.

Seu pai pode me matar antes que isso acabe,

Mas sempre serei grato a ele e à Madrinha.

Eu te amo, minha menina,

Seu.

### - X— ###

Parte III - Millie & Ethan

O coração de Ethan estava batendo desconfortavelmente contra o peito.

Passado o desespero inicial por tocar em Millie, seu eu natural tomou conta de novo de si e ele foi invadido pela noção de que não sabia o que fazer em seguida.

Nua.

Ela parecia tão à vontade. Enquanto o fato de que ele ainda estava vestido o perturbava bastante. A respiração de Ethan se acelerou e se normalizou e acelerou, idiotamente ele pensou que pudesse ter um ataque de pânico.

Ele sabia que estava sendo ridículo, sabia que nenhum homem na terra devia ter ficado daquele jeito em sua primeira vez, mas não podia evitar. Todos diziam que era uma coisa natural, mas ele não podia suportar a ideia de fazer algo errado. De estragar aquilo.

— Relaxa, E. - Millie sorriu e esfregou os braços dele como se buscasse aquecê-lo.

Ele não precisava de ajuda com aquela específica questão, mas não comentou. Novamente o fato de que ela estava tratando tudo como algo normal lhe pareceu a coisa mais surpreendente do universo. Mas ao contrário do que pensava, o pensamento de que ela queria acalmá-lo não fez com que ele se sentisse pequeno ou desconfortável. E sim, estranhamente, protegido.

Ele segurou as mãos dela e levou até os lábios. - Você me dirá se eu fizer algo errado?

Seus olhos brilharam como se a ideia a divertisse. - Você não vai.

— Mas se eu fizer...

— Você me ama? - Ela interrompeu e ele assentiu, com uma expressão que a julgava como louca por ainda questionar. Millie segurou o rosto dele e completou antes de beijá-lo. - Então não fará nada errado.

Ethan não estava satisfeito, mas no momento tinham coisas que requeriam mais a sua atenção. Meticulosamente, olhando nos olhos dele, a modelo colocou as mãos na barra de sua camisa e, após dois segundos de hesitação, ele levantou os braços.

Como se sabendo que ia constrangê-lo, ela não ficou encarando, apenas o beijou outra vez. Ele colocou as mãos na cintura dela, querendo movê-las, mas incerto se havia alguma regra para aquilo. Como se houvesse uma pré-preliminar, antes da preliminar.

— Pode tocar onde quiser. - Ela murmurou contra os lábios dele e sorriu maliciosamente, colocando as mãos no cós de seu jeans. - Eu vou.

Ele engoliu em seco quando ela desceu o zíper, mas gostava da expressão dela. E de seu sorriso sexy. E do jeito que seus olhos brilhavam em expectativa. Gostava da Millie amante, ou no caso, da Millie futura amante.

Ele subiu as mãos para os seios dela e não conseguiu se decidir o que era melhor: a visão dos seios dela em suas mãos, a sensação dos seios dela em suas mãos, ou o som que saiu da garganta dela quando ele os tocou. Ele a olhou nos olhos. Talvez melhor do que tudo junto fosse a expressão dela naquele exato momento.

Considerando toda a sua preocupação com o específico fato, Ethan estava ludibriado demais com toda a situação quando finalmente estava nu diante dela. Novamente, Millie não gastou segundos a fio o encarando.

Como se estarem nus um em frente ao outro fosse perfeitamente natural, ela tocou a bochecha dele, então sua boca. Beijou o local onde aparecia uma de suas covinhas, fazendo-o sorrir. Ela depositou as mãos sobre seus ombros e beijou seu pescoço.

As mãos dele, um pouco esquecidas até então, pressionaram de novo os seios dela. Mais como um reflexo à carícia do que um ato premeditado.

Em uma parte ainda coerente de seu cérebro Ethan pensou que devia ser estranho estar ali parado como veio ao mundo, mas por alguma razão não era. Ele não se sentia mais inadequado. Tímido sim, mas aquilo estava ok. Ele era exatamente o que devia ser. E Millie era exatamente o que devia ser. Aquilo fazia toda a diferença.

Ele abaixou o rosto e beijou o pescoço dela também. Não mais pensando em acertar, mas buscando simplesmente fazer.

Ele baixou as mãos dos seus seios para seu bumbum, trazendo-a para mais perto de si e beijou seu pescoço outra vez, um beijo molhado dessa vez, que o fez apreciar por um momento o gosto que ela tinha. Millie apertou seus ombros em um gesto que claramente correspondia a sua ação.

Ele gostava do jeito que ela o correspondia.

E também da forma como ela inclinou o pescoço para o lado como um pedido mudo para que continuasse. Ele sorriu contra sua pele, ganhando autoconfiança e atendeu seu pedido.

Não havia a menor necessidade para a pressa e eles permaneceram daquele modo por alguns longos minutos. Maravilhosos minutos. Até que Millie escorregou as mãos pelo seu peito, sobre seu estômago... Fazendo acender dele de novo certa urgência que tinha adormecido.

Ethan segurou sua nuca e ela encostou os lábios nos dele, abrindo a boca dessa vez. Ele enfiou as mãos no cabelo dela quando aprofundou o beijo e Millie o abraçou pela cintura, fazendo com que sua ereção tocasse o baixo ventre dela. Alguém grunhiu, mas pela forma como estavam grudados não se podia identificar quem. Talvez tivessem sido os dois.

E… - Ela afastou a cabeça e murmurou com a voz rouca.

Por aquela hora, apenas uma pequena parcela de seu cérebro estava coerente. - Hum?

— Se eu não puder falar mais tarde... Eu te amo.

Ele sorriu. Seu rosto simplesmente se deformou com a expressão tamanha sua intensidade. Ela falaria exatamente aquilo. Millie diria exatamente aquilo antes que nada mais pudesse ser dito. Ela faria.

— Eu te amo. - Ele repetiu.

Eles não falaram sobre a ação, apenas se deitaram na cama. Ethan teve cuidado para não ficar sobre ela por causa do peso, mas Millie fez questão de puxá-lo do mesmo jeito. Ela queria a proximidade.

As camisinhas jaziam ao lado deles em perfeita inocência e paciência. Ethan se perguntou quanto tempo era comum esperar até que pudessem... Consumar o ato. Ele descobriu ficar cada vez mais ansioso conforme o tempo passava.

Ele voltou a atenção a ela, aos seus lábios entreabertos, aos olhos brilhantes e a forma como seu cabelo se espalhava sobre a colcha. Ele sorriu e sabia que estava com cara de idiota com uma expressão de reverência.

— Você é tão linda.

Ela deu um sorriso de lado, muito mais afetada com o elogio pela forma como ele dizia do que pelas palavras. Ela o empurrou contra a cama delicadamente, vendo-o engolir em seco. Ela estava com uma expressão extremamente autoconfiante e não fazia questão de disfarçar.

Ela desceu as mãos pelo peito dele para o estômago como tinha feito mais cedo e tomou um de seus mamilos em sua boca. Ethan puxou o ar pela boca depressa como se não esperasse por aquilo ou pela sensação que causou. Ela circulou a região com a língua, mordiscou, então se afastou para assoprar.

Ele puxou o ar de novo, encarando-a de olhos arregalados, mas ela não levantou a cabeça. Enquanto ela movia para fazer a mesma coisa com o outro mamilo, suas mãos desceram para o quadril dele. Ethan jogou a cabeça para trás e fechou os olhos. Era bem provável que ela fosse mata-lo apenas com aquilo.

No mesmo momento que ela lambeu o mamilo, seus dedos se fecharam sobre o pênis dele. Ele trincou os dentes para que o som não saísse da sua garganta e instintivamente ele investiu contra sua mão. Quando percebeu o que tinha feito, ele corou, mas novamente Millie não levantou os olhos.

Ele inclinou a cabeça quando ela desceu a boca pela sua barriga, suas mãos torceram a colcha quando ela continuou descendo. Ele abriu a boca, mas não disse nada porque temia que acabasse implorando para ela ir mais rápido.

Millie. - Ele pediu em um suspiro desesperado quando ela o tomou em sua boca e só então ela levantou os olhos.

Olhos escuros, olhos de mulher, olhos que expressavam que ela gostava de estar no controle. Ele tentou de novo pedir para parar porque ele não suportaria e estragaria tudo antes da hora, para fazer mais rápido, e mais forte e mais, mais, mais, mais... Mas ela moveu a língua e seu pequeno fio de insanidade se esvaiu.

Ele não estava consciente que enfiou a mão no cabelo dela, enrolando os dedos nos fios com uma força que chegava a machucar, em uma visível indecisão se a segurava ali ou a afastava. Millie não conhecia o corpo dele, ainda, mas confiou em seus instintos para saber a hora certa de parar.

Ethan grunhiu quando ela parou e levou alguns segundos até perceber que estava segurando a cabeça dela.

Ele mexeu muito os lábios em constrangimento antes de conseguir falar algo realmente. - Desculpa. Millie, eu...

Ela colocou um dedo sobre os lábios dele e com a outra mão pegou uma das camisinhas. A cabeça dele girou enquanto o pensamento de que ia acontecer se repetia incessantemente. Como uma pessoa podia sentir tanto ao mesmo tempo? Desejo, ansiedade, impaciência, desejo, insegurança, constrangimento, desejo...

— Você perder o controle significa que eu estava fazendo certo. - Ela comentou com os olhos brilhando em diversão e lambeu os lábios, sorrindo quando ele corou ao pensar onde a boca dela estava há um minuto.

Ele permaneceu o mais quieto que conseguiu enquanto ela deslizava o preservativo, mas quando estava concluído ele se ergueu e a deitou na cama de novo. Ele beijou as bochechas dela e acariciou seu rosto no dela como se estivesse a memorizando com a própria pele.

Ele percebeu que os olhos dela estavam cheios de água. - Qual o problema?

— Nada. -  Ela sorriu e rolou os olhos para si mesma. - Só feliz.

Ele deu um sorriso tímido e beijou seus lábios. Mostrando extrema flexibilidade, ela moveu as pernas de debaixo do corpo dele e as enrolou no seu quadril. Uma lágrima solitária escorreu do olho de Millie quando ele procurou pela mão dela na cama e entrelaçou seus dedos.

Quando eles se uniram, os dois pensaram que não poderia haver no mundo algo melhor do que aquilo.

Eles permaneceram olhando uns nos olhos do outro nos primeiros momentos, mas tudo se tornou demais de repente. E tudo pedia por mais. Eles continuaram com os dedos entrelaçados, no entanto, até que o prazer encontrou e arrebatou os dois.

Whoa. - Ethan tinha uma expressão abestalhada no rosto.

Ele virou o rosto para olhar para ela, mas Millie continuava com os olhos fechados e estava tão estática que parecia já ter pegado no sono.

Ele colocou uma mão no quadril dela e beijou seu ombro. - Dormiu?

— Nope.  

Millie rolou para cima dele, fazendo Ethan pensar que ela já estava querendo um round 2, quando ela puxou a colcha para cobrir os dois. Enquanto eles ainda estavam deitados atravessados na cama.

Ele riu. - Não seria melhor que deitássemos direito?

— Hum, não. Não quero me mexer. - Ela deu um sorriso maroto, beijou-o e caiu no sono daquele jeito: ainda meio deitada em cima dele.

Ethan se levantou sem que ela acordasse, foi ao banheiro e ao voltar, colocou-a deitada no lado certo da cama. Ele deitou ao seu lado, passou um braço pela cintura dela. E com todo o movimento ela nem pestanejou em seu sono. Quando Ethan dormiu, ele sorria.

***

Millie estava acordada quando Ethan entrou no quarto, coberta até a cabeça com apenas os olhos aparecendo. Ele podia discernir perfeitamente quando ela sorriu pela forma como o lençol se moveu e aqueles lindos olhos brilharam.

— Oi. - Ele sorriu de volta.

Oi. - O som saiu abafado pelo lençol e rindo, ela descobriu o rosto. - Eu até diria que não queria que se incomodasse fazendo café, mas estaria mentindo.

Ele sorriu de novo e se inclinou para beijá-la. Quando ela ergueu os braços para colocar em volta do pescoço dele, o lençol que cobria que seu corpo caiu. Ethan sentiu quando o tecido repousou entre eles e sua cabeça rodou um pouco ao pensar no que agora estava a mostra.

Ele queria tocar e não só imaginar, queria deitar sobre ela e repetir a noite passada, mas o que Dan havia dito não podia ser ignorado. Seus pais retornariam logo. E a possibilidade de Millie ter que sair pela janela era realmente patética.

— Acho melhor comermos logo. - Ele disse mais do que um pouco contrariado. - Hum... Meus pais devem estar vindo. Quer dizer... Não é que eu queira que você vá, entende, mas...

— Não seria bonito que Alice nos pegasse na cama pela segunda vez. - Ela completou com uma piscadela que o fez corar.

Eles comeram rapidamente e quando terminaram, Millie se levantou rapidamente da cama anunciando que iria tomar um banho rápido antes de ir.

Ela caminhou metade do caminho até o banheiro, então olhou para ele por cima do ombro e sorriu. - Ethan, quer economizar água?

O cérebro do rapaz demorou meio segundo para processar a informação e no instante seguinte seus pés a seguiam.

***

Wouldn't it be nice if we were older…? Then we wouldn't have to wait so long… - Millie abriu a porta da casa da avó cantarolando. - And wouldn't it be nice to live together… In the kind of world where we belong

— Vovó! Onde a senhora está? - A modelo berrou e escutou a resposta da avó vindo do quarto.

Ela correu depressa até lá e pulou na cama junto a Violet, que parecia ter acordado com os gritos da neta. Millie segurou seu rosto entre as mãos e a deu um grande beijo.

— Bom dia!

— Maria José, menina! Que tanto alvoroço é esse? - Violet perguntou tentando ajeitar o cabelo. Já que havia acordado, que ao menos ficasse apresentável. - Que bicho te mordeu?

— Ethan! - Millie respondeu com uma risadinha maliciosa.

— Ah. - A senhora balançou a cabeça como se aquilo explicasse tudo.

— Você não está na idade de deixar de pular por aí como uma adolescente, Millie? - Tess, que estivera no banheiro do quarto da avó checando se todos os remédios estavam ali, saiu ao ouvir os gritos da gêmea. - Quase trinta anos.

— Não. E apenas vou parar de pular quando não tiver mais forças nas pernas. - A modelo respondeu tão sorridente como antes.

— Não seja tão amarga, Tess. - Violet murmurou. - Deixe a menina. Ela é feliz do jeito que é e eu também pelo jeito que ela é.

— Eu estou apenas dizendo...

— Não importa o que estava dizendo. O que importa é o que eu tenho a dizer. - Millie interrompeu a irmã e segurou a mão da avó. - Vovó, foi tão lindo!

— Oh, por Deus, você não vai nos dar detalhes, não é? - Resmungou Tess novamente.

— Saia se quiser. A porta é ali. - Violet apontou e então se voltou a Millie. - Desembucha, menina. Há aventuras que uma pobre senhora como eu agora só pode ouvir mesmo.

— Vovó! - Tess exclamou horrorizada.

— Ora, o que? Vinte e seis anos e a menina ainda não se acostumou com minha língua solta! - Ela sacudiu a cabeça. - E eu acho que você devia ouvir também. Pelo seu estresse, aposto que você e Adam não embarcam numa aventura há um tempinho.

Tess apenas grunhiu e colocou uma mão no rosto em constrangimento, enquanto Millie gargalhava. Com toda a dignidade que ainda tinha, sentou-se na cama mantendo uma expressão neutra. Não fazia o menor cabimento que se isolasse também.

— Viu como ela está precisando? Rendeu-se facilmente! - Violet provocou uma última vez, riu e então levantou um dedo para que a neta não retrucasse. - Chega de conversas paralelas, conte tudo, Millie.

— Bem, eu estava no quarto dele procurando por meias...

***

Ethan passou o resto da manhã ignorando os pais porque toda vez em que tinha o feito, parecia que eles estavam o encarando como se soubesse o que tinha acontecido. E para completar, estava enlouquecendo de dúvida se Daniel iria entregá-lo ou não. Após muito debater, debater e debater, decidiu fazer alguma coisa.

Foi até o quarto do seu irmão, algo que não se lembrava de ter feito... Nunca, e bateu. Daniel demorou tanto a atender que ele bateu uma segunda vez.

Quando finalmente a porta se abriu, Daniel nem esperou para ver quem era e já deu as costas murmurando um ‘Entra’. Ele correu de volta para cama onde havia alguns papéis e começou a escrever freneticamente em um deles.

Ethan ficou ali parado, meio dentro e meio fora do quarto, totalmente desconfortável. Daniel não parecia muito são naquele momento, deveria ter tido uma inspiração para alguma coisa ou algo do tipo.

— Ah... Eu volto depois.

Daniel levantou a cabeça tão rápido que parecia ter levado um choque, mantendo Ethan no mesmo lugar apenas com o olhar. - Você aqui? É o apocalipse?

Ethan pigarreou. - Eu queria falar com você sobre aquele assunto.

A forma como ele disse aquilo pareceu divertir Daniel, que balançou a cabeça como se o irmão não tivesse mesmo jeito e se levantou para fechar a porta. Se o pensamento de que nada, absolutamente nada o fazia parar de escrever uma música quando a ideia o atingia cruzou sua cabeça, foi ignorado.

— Sou todo ouvidos. - Daniel declarou seriamente.

— Então… - Ethan começou. - Queria te pedir para agir com discrição na frente do papai e da mamãe. Isso envolve não fazer piadinhas.

Daniel arqueou a sobrancelha. - Por que você acha que precisa se esconder exatamente? Você já está mais do que grandinho.

— Eu não me sinto exatamente crescido morando na casa dos nossos pais. Não sei se já parou para pensar, mas na nossa idade muita gente já está na faculdade morando longe. Ou ao menos morando sozinho.

Houve um momento de silêncio esquisito em que Daniel desviou o olhar  e Ethan se questionou se ele estaria considerando sua própria situação.

Sentindo-se responsável, Ethan completou. - Não estava te alfinetando, só explicando porque não me sinto à vontade com algumas coisas.

— Eu entendi.

Ethan olhou para o violão na mão do irmão e disse o que sempre se questionou. - Não entendo porque nunca fez nada a respeito.

Quando Daniel olhou para o irmão, viu que apontava para o violão. Ele não respondeu e nem o encarou de novo.

Vendo que não receberia resposta, Ethan balançou a cabeça. - Bem, era isso. Obrigado pela ajuda.

Após isso, ele deixou o quarto rapidamente. Sentia alguma coisa diferente no relacionamento com o irmão e não sabia bem o que pensar a respeito. Não sabia o que esperar. Portanto, era melhor evitar ficar ponderando muito.

Retornando a seu quarto, Ethan ligou seu laptop e se deparou com o brasão de Yale fixo em seu papel de parede. Recordou-se da entrevista iminente e do fato de que já foi a sua prioridade máxima.

Olhando para sua vida agora, Ethan já não tinha mais certeza se era aquilo que queria. Mudar-se de estado e de vida, deixar tudo aqui de lado. Afastar-se de Millie.

Parece que suas prioridades haviam mudado.

### - X— ###

— Angelinne, querida! Podemos nos sentar com vocês? - Perguntou Miranda ao lado de suas duas fieis escudeiras enquanto já se sentava, depositando sua bandeja sobre a mesa.

Angel olhou para sua amiga Kris, que deu um sorrisinho debochado, e arqueou uma sobrancelha. Talvez a garota tivesse esquecido que elas nunca haviam se dado muito bem antes. Retornando ao comer seu sanduíche, ela não lhe deu muita atenção.

— Então, menina! - Começou em ansiedade Kate, uma das escudeiras, e recebeu um olhar de Miranda. - O que foi aquela apresentação na sexta!

Sabendo onde aquilo daria e quase revirando os olhos por ser abordada pela milésima vez no dia, Angelinne suspirou. Nem na hora do almoço ela teria paz.

— Obrigada.

— De fato, foi uma apresentação muito boa. - Miranda continuou, tamborilando os dedos sobre a mesa. - Você e Dan pareciam estar em bastante... Sintonia.

— E aquele beijo no final! Todo mundo ficou whoa! - Kate prosseguiu, quase hiperventilando. - Você precisa nos contar! Vocês estão... Ou não estão?

— É claro que não somos as primeiras a perguntar isso. - Esclareceu Miranda como se não quisesse demonstrar ser fofoqueira. - Mas você entende, quem neste colégio não tentou fisgar Daniel Cullen? A Kris sabe do que estamos falando!

Kris deu de ombros. - Tire-me dessa. Meu lance com Dan foi um acidente por níveis perigosos de álcool em minha corrente sanguínea.

— Ah, claro, porque você não teria feito se estivesse sóbria. - Disse a outra escudeira, Felicia, pela primeira vez. - Quem resiste a ele?

— Angel, conte-nos como você fez! - Insistiu Miranda.

Tendo perdido a fome, Angelinne as encarou em tédio. - Eu não estou com Dan.

— É claro que está! - Contradisse Kate. - Todo o colégio viu o dia que ele veio te buscar, e o que ele fez... Ele beijou sua mão! No livro Daniel, isso é como um pedido de casamento.

— E mesmo se eu estivesse - Angel continuou entre dentes. - isso não seria da conta de ninguém.

— Não precisa ser tão grosseira. Não estamos perguntando nada de mais. - Miranda respondeu empinando o nariz. - Isso apenas me faz crer que de repente você está dando algo a ele que ninguém deu antes. Mas não consigo imaginar o que possa ser se tratando de quem é.

Foi um esforço grande que ela fez para não enfiar a mão na cara da loira de farmácia, insinuando algo do gênero. Era só o que faltava.

— Pense o que quiser. - Ela se levantou antes que realmente fizesse o que tinha vontade, mas não pôde resistir a ser um tanto mesquinha. - Mas considere também que eu simplesmente possa ser melhor do que você.

Cinco minutos depois enquanto andava pelo corredor e descobria que outras pessoas tinham ouvido seu diálogo com Miranda e já tinham repassado a informação, ela se arrependia do que tinha dito.

— Angel, aquilo foi demais! - Dizia Kris. - Eu tinha que ter tirado uma foto da cara dela para colocar no anuário!

— Esse assunto me tira do sério.

— Você devia sair do sério mais vezes.

— De que lado você está?

***

— Hum... Angel, não olhe agora, mas...

— Ele está aqui, não está?

Segurando um caderno contra o peito, Kris deu um sorriso maroto. Angelinne já sabia pela quantidade de buchichos e olhares que Dan estava ali. Provavelmente com a intenção de ter ido buscá-la.

Ela estava de costas para o portão e cogitou correr, apenas para evitar ainda mais fofocas. Mas sabia que ele a alcançaria, como sempre, ainda mais depois de que ela tinha fugido dele o final de semana inteiro buscando um tempo para si mesma para pensar.

Ela se virou bem lentamente, quase com medo de olhar, definitivamente com medo do que ia sentir. Aquele sopro esquisito no estômago... Quando aquilo ia parar? Ele estava lindo, e ela praguejou para si mesma porque foi a primeira coisa que pensou.

Nunca tinha pensado nele daquele jeito, tinha feito muita questão desde sempre de ser a que pensava diferente, mas parecia que ele era mesmo irresistível.

Aquilo era uma droga.

Ele não a viu a princípio porque estava conversando com Mel. Angel se despediu da amiga e foi caminhando para lá porque dã, ela tinha que sair pelo portão. Parecia que todos ali tinham parado o que faziam para ver o desenrolar da cena. Mel a viu, sorriu um sorriso de quem estava prestes a assistir um stand-up comedy e acenou. Então ele também virou o rosto.

Angel não esboçou nenhuma reação porque dã, eles estavam sendo observados e ela não queria lhe dar muito crédito. Para sua surpresa ele não a agarrou como ela esperava, apenas sorriu facilmente em cumprimento. Parte dela se aliviou com a ação, a outra parte ficou desapontada.

Ela também não sabia o que queria, assim ficava difícil.

— Olá, Angel. Eu estava aqui contando pro Dan como caíram matando em cima de você hoje. - Mel comentou com humor.

— Não me lembre. - Ela grunhiu. - Sinto que não posso respirar errado que alguém vai apontar para mim.

— Relaxe, Angel. Isso passa. - Daniel murmurou sem se abalar.

— Para você deve ser tudo muito lindo.

— Então, acabei de lembrar que Tom vem me encontrar. Vejo vocês depois. - Mel cantarolou e então se afastou dos dois.

Angel quase a gritou de volta, mas pressionou os lábios para evitar que o fizesse.

Dan estava a encarando, com aquele brilho divertido no olhar como sempre. - Eu posso te levar em casa ou você irá inventar desculpas primeiro como está em nosso roteiro?

Ela revirou os olhos, e quando ia começar a andar, ele segurou seu braço para pegar sua mochila para que ele mesmo carregasse. Angelinne jurava, jurava que tinha ouvido um suspiro coletivo ao redor deles.

Pelo modo como seu sorriso se expandiu, ela jurava que ele tinha ouvido também.

— Você podia fingir que não está achando graça da situação. - Ela comentou depois de alguns minutos de caminhada.

— E por que eu faria isso?

— Você devia ter visto como essas… - Angel engoliu o que ia dizer e se lembrou de que não usava aquele tipo de termo. - Suas garotas ficaram fungando o meu cangote o dia inteiro. Patético.

— Você é minha única garota.

Angel tinha que admitir que ela tivesse dado brecha para aquela. - Sério, Dan, até a Miranda? A Miranda? Admito ter pensado que até para você ela seria pedir... Demais. Mas pelo visto não.

— Eu não sei se eu fico ofendido com a alfinetada ou lisonjeado porque você está com ciúmes.

Ela deu uma risada seca. - Ciúmes. Sério, Dan?

Ele deu uma piscadela. - Eu que te pergunto se é sério. Você é mais inteligente do que isso.

— Você transou com o colégio inteiro!

— Isso é mentira.

— Ah, perdão, você não teve tempo de convencer as professoras. - Ela corrigiu sarcasticamente.

Sentindo que aquilo ia render, Daniel parou de andar e suspirou pesadamente. Ele sempre soube que o passado iria persegui-lo algum dia, mas não esperava que fosse tão cedo. Na verdade, ele não havia esperado Angelinne no geral.

Irritada porque estava deixando que ele a visse irritada, Angel cruzou os braços e ergueu o queixo. - O que?

— O que você quer que eu faça, Angel? Você sabe como eu era. Você sabe o que eu fiz. Você nunca não soube. Que diferença vai fazer eu me desculpar?

— Não quero que se desculpe. Você não me deve nem nunca me deveu nada.

Eles estavam no meio da rua. Angel abominava discussões no meio da rua. Era humilhante e desnecessário. E ainda sim ela queria pegar a sua mochila das mãos dele e dar uma cadernada na sua cabeça.

— Então o que quer?

— Nada, Dan. Só estou estressada. Desculpe, está bem? O dia foi péssimo.

Ele balançou a cabeça como se a vida fosse um lugar estranho e recomeçou a andar. Ele não insistiria no assunto, pois havia batalhas que não se podia ganhar. Ele nem ao menos entendia o motivo da guerra.

No caminho todo para a casa dela, Angelinne agradeceu mentalmente quando ele não tocou mais no assunto. De fato, Dan estava muito discreto e comportado naquele dia, algo que não era característico dele. Nenhum pouco. Discrição era o antônimo de Daniel Cullen.

— O que há com você hoje? - Ela perguntou quando eles entravam na rua de sua casa.

— Como assim?

— Você está diferente. O que está aprontando?

Ele riu. - Ah Angel, se a minha autoestima dependesse de seus comentários.

— Você não tentou me agarrar nem nada.

— Eu aguardava o dia que você finalmente iria admitir sentir falta disso.

— Não foi o que eu disse.

— Eu sei que não resiste a meu corpo, Angelinne, não precisa ficar acanhada.

A menina revirou os olhos e não respondeu. Era verdade, mas ele não precisava saber. Assim como ele não precisava saber que ela não gostava quando ele ficava calado, que sinceramente gostava do Dan das contra respostas atrevidas.

— Você não pode entrar. Meus pais não estão em casa. - Angelinne anunciou imaginando que ele fosse insistir.

Torcendo para que ele insistisse.

— Tudo bem. - Ele sorriu.

— Hum... Ok. - Ela ficou parada o encarando e ele também. O que era ridículo. - Então... Obrigada por me trazer.

— Até depois, Angel.

Ele se aproximou e o coração de Angelinne começou a bater tão forte que ela meio que esperava que ele fosse rasgar sua blusa. Dan se inclinou e a beijou... Na bochecha. Na bochecha. Ela ficou tão sem ação que se esqueceu de disfarçar sua cara de ‘What The Fuck?’ Aquilo tinha sido o momento mais broxante da sua vida.

Ela não estava mesmo acreditando que ele iria embora daquele jeito sem tentar nada. Mas foi exatamente o que ele fez.

E quando viu que ele estava mesmo indo embora, as palavras pularam de sua boca por vontade própria. - Espera, Dan! Eu acho que se quisesse entrar... um pouco, não teria problema.

Ele sorriu, aquele sorriso debochado e divertido e sexy e profundamente irritante, e ela quis quebrar os dentes dele.

Ai dele se viesse com alguma gracinha e pensasse em negar.

— Ok.

Ela assentiu e começou a procurar as chaves em sua mochila como se não houvesse nada demais. Ela abriu a porta calmamente, porque não havia razão nenhuma para achar que havia algo errado, e eles entraram. Ela fechou e trancou a porta e respirou fundo.

— Então...

— Então… - Ele repetiu.

Ah, dane-se.

Angelinne largou sua mochila, chaves e orgulho e praticamente pulou em cima dele.

Daniel começou a rir, mas ela calou a boca dele com a sua. Oh sim, ela tinha sentido falta daquilo. Havia algo no beijo de Dan, e na forma como ele segurava sua nuca, e encostava o corpo no dela...

Ela sempre tentava manter ao menos uma parte ativa em seu cérebro, mas não era possível. Não entendia como um beijo tinha a capacidade de deixá-la vulnerável daquele jeito.

— Seria tão mais fácil se você admitisse, Angel, que me acha irresistível. Eu poderia ter te beijado há muito tempo atrás. - Ele murmurou contra os seus lábios enquanto acariciava sua bochecha.

Tonta, ela permaneceu com olhos fechados e deixando que o corpo pendesse sobre o dele. - Qual seria a graça em admitir?

— Não existiria. - Ele concordou e quando Angel olhou para ele, Dan estava com uma expressão séria no rosto. - Você é linda assim.

— Assim como?

— Assim que eu acabo de te beijar. - Ele a encarava de um jeito diferente, novo. - Assim como você vai ficar de novo daqui a dois minutos. - Dan beijou um lado do pescoço dela, o outro, mordeu seu queixo de um modo que fez com que Angel agarrasse seus ombros e quando ele finalmente ia beija-la mais uma vez, o celular dela começou tocar.

Angelinne bufou – literalmente – e apontou um dedo para Dan quando ele ameaçou rir. Ignorando seu olhar, ele gargalhou ainda assim, é claro. Ela catou o celular na mochila largada no chão e, convenientemente, descobriu ser seu pai.

Ela fez um sinal que Dan tinha que ficar calado enquanto colocava o celular no ouvido. - Oi, papai.

Porque gostava de desafiar o perigo, Dan estalou um beijo na boca dela antes que Angel pudesse desviar e recebeu um tabefe em resposta.

— Não, nada. Estou bem. É... É que eu acabei de chegar. - Ela corou e explicou quando seu pai perguntou por que parecia que ela estava sem ar.

Dan deu uma piscadela como se soubesse exatamente o que Yuri tinha perguntado e então fez seu caminho até a porta.

***

Yuri tinha tentado estabelecer a regra do “sem telefonemas durante o jantar” há muito tempo, mas havia desistido de insistir porque o celular que sempre tocava era o dele. No momento que o celular de Angel tocou e ela se levantou correndo no segundo seguinte para atender, no entanto, ele pensou que não deveria ter desistido tão fácil.

Fernanda continuou comendo como se nada houvesse de errado com o mundo. - Pare de me encarar assim, querido, é constrangedor com nossa filha há poucos metros.

— Você sabe que não estou gostando dessa história.

A loira mastigou calmamente e arqueou a sobrancelha. Yuri trincou os dentes. - Fernanda, Angelinne já passou por muita coisa, mas ela ainda é muito nova para entender os perigos. Você acha que só porque eles se conhecem há tanto tempo não há risco de que...

O discurso foi interrompido quando Angel voltou à mesa, sentou-se silenciosamente e recomeçou a comer. Sua expressão estava perfeitamente contida, mas suas bochechas tinham uma cor que não estava ali antes.

Os pais mantiveram um olhar silencioso que gritava diversas coisas até que Fernanda falou. - Angel, nós queríamos falar com você, filha.

Sabendo exatamente do que se tratava, a menina tentou ganhar tempo pegando seu suco e bebendo lentamente. - O que?

Fernanda segurou a mão de Yuri por cima da mesa para tentar evitar que ele fosse muito direto, mas ele abriu a boca e deixou as palavras jorrarem como de costume. - Querida, você sabe que eu e sua mãe tentamos sempre deixar que você tome suas decisões, que você seja independente. Sabemos como isso é importante para você. Mas não achamos que essa sua... Relação com Daniel vá ser benéfica.

Angelinne dirigiu seu olhar a Fernanda, que não disse nada para contrariar. - Pensei que você gostasse da ideia. Pensei que gostasse dele.

— Eu gosto dele. - Fernanda garantiu. - No começo, eu achava engraçada a forma como sempre saía faíscas quando vocês se encontravam. Achava inofensivo, no sentido de hormônios adolescentes. Angel... Mas Dan não é exatamente a pessoa que eu escolheria para você.

— Não estamos pensando em casar, pelo amor de Deus. - Angel disse nervosamente. Não gostava do rumo que a conversa estava tomando. Então adicionou: - Não estamos nem namorando.

Seus pais não pareceram acreditar mais naquilo do que o resto do colégio naquele dia. Yuri balançou a cabeça. - Angel, sabemos que Daniel não é uma má pessoa...

— Vocês só acham que ele é uma má pessoa para mim.

Fernanda lançou um olhar em alerta a Yuri, mas ele respondeu mesmo assim. - Bem, sim.

Fernanda rolou os olhos para a falta de tato do marido. - Querida, escute...

— Isso é ridículo. Vocês estão se preocupando a toa. Isso não vai nem durar. É de Dan que estamos falando, afinal. Quando que ele fica com uma garota só? - Angel abaixou a cabeça e começou a brincar com a comida em uma tentativa de encerrar o assunto.

— Querida, nós tememos que… Esteja repetindo o ciclo. - Fernanda disse com cautela.

Angelinne cerrou os olhos. - Eu não acredito no que está dizendo. Eu não acredito que está insinuando que estou me colocando na situação em que… - ela pausou, sentiu a voz tremer e então largou os talheres sobre a mesa. - Eu não acredito.

— Filha, por favor. Só estou dizendo que talvez, sem perceber, esteja reproduzindo o cenário que…

Não me trate como um de seus pacientes.

Fernanda se calou. Encarou Yuri sem saber o que fazer, sentindo-se fracassar por não encontrar as palavras para falar com a própria filha.

— Angelinne, não é isso que sua mãe está fazendo. Estamos somente preocupados devido a semelhanças. Você tem que entender nossa preocupação. Daniel é alguém imprevisível e não podemos necessariamente confiar…

— Que tal confiar em mim, hein? Será que não tem valor?

— Claro que tem. - Fernanda tentou segurar a mão da filha, mas ela puxou o braço. - Angel, confiamos em você. Mas existem coisas que fogem de nosso controle. Eu não quero que se machuque de novo.

— Então é isso. Vocês sempre vão enxergar as coisas através do filtro do que aconteceu. - Angelinne acusou, sentindo-se derrotada.

Yuri largou o pretexto de comer. - Angel, por favor. Você precisa se proteger. Eu sei que Dan pode parecer alguém seguro porque gosta dele, mas…

— Mas no fim das contas vocês acham que ele é igual a Josh. - ela completou, sem deixar que ele terminasse. - Vocês deviam se envergonhar.

— Angel, não estamos dizendo que ele é...

Angel se levantou e saiu da mesa sem dizer mais nada.

Fernanda cruzou as mãos sobre a mesa  e se voltou a Yuri. - Era isso que estávamos dizendo? Daniel não é um menino ruim, é só que...

— Ela estava com raiva apenas, interpretou mal. - Yuri respondeu e acariciou a bochecha da mulher quando ela continuou o encarando. - Ela ficou chateada, mas vai entender que estamos certos. Foi só um mal entendido, querida.

Ela assentiu e logo o puxou para um abraço, mas ambos se questionavam se o que Angelinne havia entendido era exatamente o que eles estiveram querendo dizer.

***

— Yuri! Yuri! Angel não está no quarto! - Fernanda gritou.

Ele, que estivera se preparando para deitar, saiu depressa para o quarto da filha onde a esposa estava. Diante da cama intocada.

— Eu vou tentar o celular dela. - Fernanda imediatamente disse procurando pelo seu celular, embora soubesse que a filha não ia atender.

Tentou três vezes, da quarta vez o celular caiu direto na caixa postal. Fernanda estava com receio de dar a notícia a ver que uma veia já saltava da testa de Yuri, mas não precisou. Pela expressão dela, ele já sabia que Angel tinha desligado o celular.

Sem nenhum pudor, ele proferiu um palavrão cabeludo. - Era exatamente disso que eu estava falando! Está vendo? Onde estão as chaves do carro?

***

Era quase onze da noite quando o celular de Daniel tocou. Ele estava assistindo a uma aula de flauta na internet, mas ficou satisfeito em pausar quando viu que era Angelinne.

Ele sorriu enquanto atendia. - Quer ouvir uma história antes de dormir, doce Angel?

Estou na frente da sua casa. Pode vir aqui fora?

Imediatamente a situação perdeu a graça, ele fechou o notebook e se levantou da cama. - É claro que eu posso. O que aconteceu?

Só... Só vem aqui, ok?

Daniel desligou, jogou uma jaqueta qualquer por cima da roupa que estava e saiu do seu quarto. Seus pais estavam embrenhados no sofá assistindo a um filme e não estranharam o fato de ele estar saindo àquela hora, mas franziram o cenho para a pressa.

Ela estava parada bem ao lado da porta, mas não parecia que iria tocar a campainha. Antes de perguntar qualquer coisa, Daniel passou os braços em volta dela e Angelinne não relutou, mas correspondeu de imediato.

— O que houve? - Ele beijou uma têmpora dela, afagando seu cabelo, mas Angel apenas balançou a cabeça.

Estava correndo um vento gelado e Angelinne utilizou aquilo como um pretexto para se agarrar mais a ele; adorava o cheiro que ele tinha. Com uma paciência pouco característica, Dan permaneceu daquele modo por longos minutos até que ela levantou a cabeça e encostou os lábios nos dele.

Havia pouquíssimas coisas na vida que Angel gostava de fazer tanto quanto beijá-lo e naquele momento nenhuma lhe vinha à cabeça. Um beijo que tinha a capacidade curiosa de fazer com que o mundo saísse do lugar e se firmasse de vez ao mesmo tempo.

Um pouco constrangido por estar sem ar, Dan sorriu. - Eu devo ter uma língua fantástica se você percorreu todo esse caminho só para me beijar.

Ela riu antes que pudesse se conter e então rolou os olhos, porque não podia se dar por vencida. - Cala a boca, Cullen.

— Vem calar. - Ele lambeu os lábios e piscou. - Você está ficando expert nisso, mas a prática leva à perfeição.

Angel balançou a cabeça. - Eu honestamente não sei por que gosto de você.

— Fácil, pelo meu corpo. - Daniel murmurou facilmente e guardando na memória um lembrete para comentar mais tarde sobre o ‘gostar dele’, ele lembrou de que ela não tinha realmente ido até lá para que eles trocassem uns beijos no meio da noite. - Por que não entramos e você me conta que bicho te mordeu e não te deixou dormir?

— Mas e seus pais? Eles não estão em casa?

— Estão e não há problema nenhum nisso. - Ele passou um braço pela cintura dela.

— Eles podem ligar para os meus.

— Angel, detesto desfazer a ilusão, mas se saiu sem avisar, eles provavelmente já estão te procurando.

***

Quando a campainha tocou, Angel fechou os olhos, mas não fez nenhum movimento para levantar da cama de Dan. Ela ainda estava tentando assimilar o fato de que estava mesmo deitada na cama, com ele. Não que eles estivessem fazendo algo, mas ainda assim.

— Aposto que são eles. - Ela grunhiu.

— Uhum. Eu acho melhor levantarmos. Meu filme já está queimado o suficiente sem seu pai ainda nos encontrar na cama juntos.

Angelinne se questionou mais uma vez se havia sido sensato contar o que seus pais tinham dito a Dan. Ele tinha dito não ter se chateado, mas ela sabia que aquela seria sua resposta independente da verdade.

— Não quero ir. - Angel murmurou e enfiou o rosto no travesseiro dele. - Tem noção do quanto eles vão falar no meu ouvido?

— Você sabia que eles iam falar no seu ouvido quando fugiu. - Ele lembrou sensatamente e se inclinou para morder o pescoço dela. - Mas você veio.

— Não acredito que é você que está sendo lógico agora. - Sutilmente Angel deixou a cabeça pender para um lado para que ele tivesse mais espaço.

O travesseiro tinha o cheiro dele e ela não imaginava que só aquilo fosse lhe causar arrepios, mas causava. Sorrindo, Daniel colocou uma mão em seu quadril e começou a dar atenção de verdade a seu pescoço. Eles só se lembraram de novo que ela tinha fugido, que os pais dela tinham ido atrás dela e que a situação era difícil quando Yuri socou a porta do quarto.

— Angelinne! Saia daí agora!

A menina suspirou, Dan beijou o biquinho que ela fez e se levantou da cama. Com a expressão irritantemente tranquila que apenas ele conseguia fazer, abriu a porta.

Yuri o empurrou para o lado sem cerimônias e marchou para dentro. - Angelinne! O que você estava pensando? Você perdeu todo o juízo? Sabe o que podia ter acontecido? Como você teve coragem de...

— Yuri. - Fernanda, como sempre, tentou apaziguar a situação. - Aqui não é local para discutirmos. Filha, vamos para casa.

Ela cruzou os braços e cerrou os olhos para seu pai que, agora, fuzilava Daniel com o olhar como se ele tivesse ido buscá-la em casa.

— Olha, talvez nós pudéssemos sentar e conversar com calma sobre… - Alice começou.

— Desculpe, Alice, mas não há o que conversar. - Yuri interrompeu imediatamente. - Isso não tem nada a ver com vocês. O problema é esse namoro sem nenhum cabimento.

— Não tem que ter cabimento para vocês mesmo. Um relacionamento é a dois, tudo complica quando o terceiro não aceita isso. - Dan, é claro, tinha que alimentar o fogo.

— Daniel. - Alice advertiu.

— Angelinne, vamos embora agora. - Yuri segurou o braço dela sem nenhuma paciência e apontou para Daniel. - E para não termos mais problemas, eu acho melhor que você ande bem na linha.

Dan bem queria dar uma resposta, mas se calou porque não queria piorar as coisas para Angelinne. Sem poder fazer nada, ele observou enquanto Yuri a rebocava para fora esbravejando como ela tinha sido irresponsável.

— Desculpe toda essa situação. Nós ficamos apavorados quando vimos que ela tinha saído. - Fernanda murmurou em desolação.

— Não tem problema. Ainda bem que não aconteceu nada de mal. - Jasper falou pela primeira vez, assegurando a mulher.

Eles se despediram rapidamente e ela também se foi. Alice colocou a mão no ombro de Daniel quando percebeu que ele estava quase saindo atrás deles.

— Ela estava errada em vir aqui e você sabe, Dan.

— Isso não é razão para ele tratá-la daquele jeito!

— Ele ficou preocupado. - Jass explicou. - Ela é a única filha deles, mulher ainda por cima, saindo no meio da noite em Nova Iorque. Ainda mais depois do que aconteceu com ela, eu também...

— Claro, claro. Somos sempre os errados.

— Você vai entender quando for pai. - Foi o que Jasper se limitou a dizer.

— O problema não é tanto ela sair tarde, é ela ter vindo me encontrar.

— Mas Dan, você tem que entender que você e ela… - Alice pausou um tanto incerta. - Bem, é só... Bem… - Ela olhou para o marido em busca de ajuda.

Daniel cruzou os braços e os encarou arrogantemente. - O que?

— Dan, o seu comportamento não fala muito a seu favor. Eles não sabem quais são suas intenções. Se eu fosse pai dela, eu...

— Não precisa continuar, eu já entendi tudo, pai. Muito obrigado pelo esclarecimento.

Alice tentou reformular a frase. - Dan, não foi isso que ele quis dizer. Você sabe...

— Daniel, não seja tão literal. Você sabe...

— Sim, eu sei. - Ele deu um sorriso amargo, fez com a mão para que saíssem e fechou a porta nas caras dos dois.

Quando imediatamente eles começaram a bater contra a porta para que ele abrisse, ele trancou e foi até seu violão. Tocou por longos minutos até ter certeza que eles tinham desistido, então deitou na cama e colocou o travesseiro sobre a cabeça.

Ele sabia exatamente.


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