Someone To Call Mine II escrita por Gabi G


Capítulo 1
Capítulo I


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoal.

Pode ser inacreditável, mas sim eu decidi repostar a história, agora revisada. Meu plano era revisar, editando algumas partes também de Um Alguém para Chamar de Meu, e dependendo da disponibilidade de tempo, talvez também consiga. Escrever fanfictions é um hobby que remete à minha adolescência, o que não tem muito tempo, mas parece que sim; é um sentimento gostoso de nostalgia.

Estive pensando há um tempo em tentar terminar esta história e sempre adiava porque acreditava que não faria mais sentido sendo que mudei tanto e não me identifico com tudo o que já escrevi, mas o incentivo de uma antiga leitora no twitter recentemente me ajudou a decidir.

Victoria, @Vic_Borchart, obrigada novamente pelo carinho e pelo empurrãozinho :)

A estrutura base da história permanece a mesma, houve algumas pequenas alterações ortográficas, gramaticais e em diálogos entre os personagens. Espero que ainda tenha algumas pessoas que acompanharam a história por aí. Para relembrar dos frutos dos casais de Um Alguém para Chamar de Meu, segue um pequeno lembrete:

Melanie e Adam: filhos do casal principal da primeira fanfiction baseada em Crepúsculo, Edward e Isabella.
Ethan e Daniel: filhos do casal Alice e Jasper, personagens baseados em Crepúsculo.
Thomas: filho do casal Rosalie e Emmett, personagens baseados em Crepúsculo.
Angelinne: filha do casal Yuri e Fernanda, criação original.
Millie e Tess: sobrinhas-netas de Esme e Carlisle, personagens baseados em Crepúsculo.

Vou repostar os capítulos já prontos e com sorte finalizar a história. Crepúsculo não é uma história com a qual pessoalmente hoje me identifico, mas foi a história que me fez começar a ler e a escrever e, portanto, tem um espaço especial em minhas memórias.

Um Alguém para Chamar de Meu II é uma criação original que traz os casais frutos dos casais da primeira história, tratando sobre seus relacionamentos um com o outro e com os familiares.

Bem-vindos de volta.

Um beijo,
Gabi G.



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Era uma linda noite, tipicamente natalina com o céu limpo e repleto de estrelas. Era como se até os astros celebrassem a data comemorativa.   

E em um bairro tranquilo, a casa dos Cullen reluzia como um próprio astro. Os enfeites de natal eram elegantes, mas chamativos. A única árvore no jardim era admirada por transeuntes devido às luzes impecáveis que corriam por toda a extensão de seu tronco. E o brilho ainda era visível do lado de dentro, no sorriso dos integrantes da família e no olhar tipicamente íntimo de quem se conhece há anos. A magia era ainda mais bonita no interior da casa.

A grande árvore de natal estava disposta em um canto da sala, e aos seus pés, os mais bonitos e coloridos presentes haviam sido cuidadosamente ajustados. Tinham presentes com embrulhos grandes, pequenos, com laços dourados e com fitas delicadas. Há tempos uma criança não sorria animada a olhar os presentes, mas a tradição fora mantida no decorrer dos anos em que bebês se tornaram crianças, em seguida adolescentes, que agora quase davam olá à fase adulta.

Mesmo com as desavenças e brigas que eram comuns em qualquer família, todos os integrantes se reuniam em ocasiões especiais e em momentos diversos para aproveitar a companhia um do outro. Fora essa a criação dava aos mais novos jovens, e essa criação ainda permanecia em cada um deles, em sua própria forma e de acordo com a personalidade de cada um.

Ainda faltava um pouco para a meia noite, e enquanto os arranjos para o delicioso jantar eram realizados na cozinha, a família estava dispersa por diversos lugares da casa. Na sala, Esme sorria para Adam, agradecendo a Deus por sua família.

— Por acaso eu já disse hoje como a senhora está linda, vovó? - Adam deu estalado beijo na bochecha da senhora.

Ela riu, deliciada com o elogio. - Já, mas por acaso eu tenho me esquecido das coisas muito rapidamente. Então é melhor que você continue repetindo.

Ele sorriu e deu uma piscadela. - Pode deixar.

Tess entrou na sala logo após, e também se dirigiu a ela. - Esme, Summer está implorando por você na cozinha. Ela está desesperada querendo saber se o molho que ela fez está bom, embora Bella, Edward, Mel e eu tenhamos provado e aprovado.

— Bella, Edward e Mel? Ora, então não tem mais nada para eu provar. - Esme gargalhou e deu um beijinho na bochecha do neto, e acariciou rapidamente a bochecha de Tess. - Eu vou lá salvar o dia. O que seria dessa casa sem mim?

Adam mais uma vez percebeu como desde que Tess voltara da Austrália, ele não conseguia tirar os olhos dela quando no mesmo cômodo. Por certo tempo, eles haviam convivido, mas ela havia passado os últimos anos fora. Ele ainda se lembrava de como ela tinha sido a primeira mulher a povoar os pensamentos dele durante a puberdade; cinco anos depois e pouca coisa tinha mudado. 

Contudo, o fato era que ele não podia ignorá-la mesmo que a conhecesse por toda a vida. Ele duvidava que algum homem pudesse ignorá-la, no geral. Os olhos cor de mel eram alegres de um modo realizado e ao mesmo tempo misteriosos como se não quisesse que a pessoa que olhasse para eles desvendasse todos os seus segredos. A pele dourada pelo quente sol da Austrália parecia reluzir sob qualquer luz.

Tess tinha um queixo elevado, como de pessoa atrevida, os lábios cheios e geralmente parecendo suculentos demais para não serem beijados, e a atitude de mulher independente e autossuficiente. Adam sabia que talvez, aos seus olhos, ela parecesse mais perfeita do que realmente fosse, mas achava improvável. Era bem verdade que a calça lisa preta e a blusa de manga comprida de lã vermelha lhe moldavam o corpo com perfeição e incitavam muito às fantasias dele.

Ela tinha um corpo fenomenal sem muito esforço, e o rosto dela... Enquanto a irmã tinha o rosto delicado e elegante como se moldada uma sósia de uma boneca de porcelana, Tess tinha um rosto bem real. E com certeza tão bonito quanto. Ela exalava segurança desde a forma como andava até a forma como sorria. Um raro sorriso ela tinha, Adam pensava, sincero, discreto e muito, muito sexy.

Tess sorriu por que sabia muito bem o que ele devia estar pensando. E sabia que não devia ser nada decente. Adam era tão transparente como o pai. - Quando você terminar de apreciar a vista, me avise por que eu vou ajudar Alice terminar de enfeitar o jardim.

Adam não se sentiu nem um pouco constrangido por ter sido pego no flagra; seria ingenuidade dela não saber o efeito que tinha nos homens. - Eu acho que já acabei. Por enquanto.

O sorriso da bióloga se transformou em uma rápida risada. - Estou dispensada, então?

Adam quis responder que se ele realmente parasse para apreciá-la, não a dispensaria por alguns dias. Ou meses. Optou por apenas dar de ombros sem tirar os olhos dela.

— Bom. Então eu já vou. E só para você saber, Tom está te procurando.

— Obrigado.

E por que ele queria tocar nela, Adam se aproximou e beijou o canto da boca de Tess demoradamente.

A morena riu e deu um tabefe no ombro dele, afastando-se. - Adam, Adam, Adam... Trate de se comportar.

Tess se afastou pensando que era uma pena que ele fosse novo demais para ela. Ela se virou para trás por um momento, e pensou: realmente é uma pena. E Adam a observou ir prometendo a si mesmo que faria com que ela deixasse de pensar nele como um garoto.

 

### - X— ###

 

Sentado em uma das mesas ao redor da piscina, Thomas apreciava uma taça de licor quando Adam o encontrou. Absorto com a visão, ele só percebeu a presença de Adam quando o mesmo lhe deu um tabefe na nuca.

— Não cansa de secar a minha irmã? - Ele se sentou ao lado dele, e balançou a cabeça.

Melanie estava agachada na grama acariciando Warm, o cachorrinho era a mais nova adição da família há menos de dois meses; a menina estava totalmente inconsciente de que era observada.

— Esta é uma pergunta retórica? - Tom respondeu facilmente, e não tirou os olhos dela.

Adam espiou a irmã novamente. Olhou para Tom. Espiou a irmã. Tornou a olhar para o amigo. - O que tem demais nela?

Thomas gargalhou, e balançou as mãos. - Olha, eu vou desconsiderar a pergunta por que se eu responder, há uma grande possibilidade de você querer me afogar na piscina. E claro que você não vai achar nada demais, ela é sua irmã.

Adam continuava sem enxergar o ponto, mas resolveu deixar de lado. - Enfim. Eu não vim aqui para falar da Mel. Tess disse que você queria falar comigo.

Tom franziu o cenho. - Eu? - Voltou a olhar para Mel. - Acho que esqueci o que era.

— É, aposto que sim.

Revirando os olhos, Adam deixou Tom sozinho com seus pensamentos. O rapaz encarou rapidamente por cima do ombro até ter certeza de que o amigo já não estava mais à vista e se levantou.

O fato de que Mel continuou brincando com Warm o alertou de que ela não sabia que ele estava se aproximando. O que era perfeito. Assim como ela. Era bem verdade que a fissura dele por Melanie começara há alguns anos atrás. E era bem verdade que ele não fizera nada quanto a isso até alguns meses atrás. Ela era nova demais, inocente demais para o que ele tinha em mente. Na época.

Thomas queria esperar até que ela estivesse mais velha, mas ele tinha chegado a um ponto em que não comandava mais a si mesmo. E o maravilhoso na Mel era que ela o conhecia desde sempre, sabia exatamente o que ele podia e o que não podia oferecer a uma mulher. Um compromisso simplesmente não conversava com a pessoa que era.

Mel não se apaixonaria por ele e depois ficaria ligando desesperada querendo saber de seus passos. Ela vivia no presente, e não pretendia controlar o futuro. Quando uma situação dava errado, ela não ficava chorando por não ter saído como queria. Mel erguia a cabeça e agradecia pelo que tinha dado certo até ali. Ela era assim. Tom a achava fascinante.

E totalmente linda, ele pensou. Os seus cachos longos acobreados caíam sobre os ombros e pelo seu rosto pela forma como sua cabeça estava inclinada enquanto brincava com o cachorrinho. Ela tinha olhos da cor de uísque; eles eram calorosos e receptivos. O rosto de Mel era suave, embora sua personalidade fosse completamente o oposto. E embora tivesse apenas dezessete anos, já tinha corpo de mulher.

Na verdade, Mel sempre surpreendia. Fosse com sua aparência, fosse com sua mente responsável e criativa, ou com seu coração bondoso. Melanie sempre fora o tipo de pessoa que se importava com o “ao redor”: com as pessoas, com os animais, com o meio ambiente, com os problemas locais e globais. Ela simplesmente sentia prazer em ajudar, em o que quer que fosse. Tom tinha certeza que se ele pudesse ver a aura dela, ele enxergaria o sol com tons de dourado e branco.

Dourado pela personalidade cativante, o olhar divertido, a sensualidade natural, o sorriso quente e a atitude decidida. O branco pelos pensamentos generosos, pelas iniciativas inesperadas, pela intensidade de seus sentimentos e pelos gestos encantadores.

Thomas se aproximou o bastante para estar bem atrás dela, e quando ia surpreendê-la, Warm começou a latir, denunciando-o. Enquanto Mel olhava por cima do ombro, Tom lançou um olhar ao cachorrinho que apenas lhe respondeu com outro que dizia “eu sou fiel a ela, não a você”.

Ela se ergueu e ficou de frente para ele, sorrindo facilmente. - Você nunca vai conseguir me assustar quando Warm estiver comigo, Tom.

O cachorrinho, claramente insatisfeito por ter outro disputando a atenção com Mel, correu para dentro da casa em busca de carinhos de outra pessoa.

— Eu não queria te assustar. - Ele colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha dela como uma desculpa para tocá-la. - Eu já te disse hoje que você está cada vez mais linda a cada vez que eu te vejo? Como você consegue, Mel, se eu te vejo sempre?

Ela gargalhou; o som rico e completo parecia envolvê-lo como um cobertor. - Ora, suas frases estão ficando mais bonitas a cada dia, também. Há alguns meses atrás você somente perguntava se eu não queria me perder em um canto com você.

— Eu ainda quero me perder em um canto com você. E em você. Que tal você realizar meu desejo natalino? Eu peço você ao Papai Noel há anos, mas ele está demasiadamente atrasado.

Ela sorriu divertidamente. Ela nunca se ofendia pelos comentários diretos e algumas vezes impróprios que ele fazia. Ela apenas achava engraçado. - Tom, você já considerou a ideia de que o Papai Noel não existe? Você está grandinho demais para acreditar nisso.

— Eu tenho fé, assim como você sempre me diz para ter. - Ele sorriu. Mel não pôde discutir com o argumento dele. - E além do mais, eu não posso perder minhas esperanças. Otimismo sempre, certo?

— Realismo também. - Ela o lembrou. Admitia que estivesse ficando complicado arranjar meios de escapar dele, quando o que ele mais fazia era incitar nela o desejo de ficar. - E além do mais, o seu desejo não lhe impediu de aproveitar outros presentes.

Ele sabia que ela se referia às mulheres com quem saía, mas em seu favor, o número havia diminuído desde que Mel começara a o rejeitar. Ele ainda não sabia o motivo da rejeição, na verdade. Ele sabia que ela estava atraída por ele. Mel corava algumas vezes com o que ele dizia, e se arrepiava com seu toque. Ele podia ver seu coração batendo forte outras vezes perto de sua garganta. E se não houvesse nada disso, era simplesmente ele olhar nos olhos dela.

Primeiro ele imaginou que fosse por causa do que a família ia pensar, embora ele desse em cima de Mel na cara de todo mundo, inclusive na de Edward, que tinha começado a encará-lo secamente, Tom sabia que ninguém levava a sério as provocações.

Atualmente, ele acreditava que era por que Mel era virgem. E ela, assim como ele, sabia que ele queria mais do que beijos. Não era como se ele fosse atacá-la contra a sua vontade. Tom dizia a si mesmo que ele podia se contentar com beijos. E era a Mel. Ele amava Mel. Ela era família. Ele só achava que eles podiam se divertir, mesmo que inocentemente. Mas ele preferia cortar o próprio braço a sangue frio do que magoá-la.

— Está com ciúmes?

Melanie revirou os olhos. - Você não precisa de mais ninguém para inflar o seu ego. E além do mais, você sabe que eu só perco tempo com sentimentos que valem à pena. O que ter ciúmes de você me faria de bem?

Thomas geralmente se encontrava sem palavras para discordar dela. Melanie era racionalmente emotiva, se é que aquilo fazia sentido, e constantemente o que ela dizia tinha lógica ou alguma verdade. Ele não sabia como explicar logicamente por que sentia esse desejo por ela há tantos anos. Ele apenas sentia. Sem explicações.

Ele se aproximou de Mel e passou um braço pela sua cintura, ainda acariciando sua bochecha. Ele gostava como os corpos deles se encaixavam. Mesmo quando eles estavam apenas colados um no outro, eles se encaixavam.

— Tudo bem, Mel, esqueça isso. Eu não consigo ganhar uma discussão com você. Que tal você me dar um beijinho? Entra no espírito de natal, vai.

Ela riu novamente, balançando a cabeça. Thomas sabia que na maioria das vezes Mel achava tudo simplesmente uma grande brincadeira, ele se perguntava o que ela pensaria se soubesse que, deitá-la na grama, despi-la e tomar o que ele tanto ansiava que ela desse era o que estava passando em sua cabeça no momento. Ele se perguntou se aquilo tornaria as coisas um pouco mais reais.

Quando ele sentiu os dedos dela correrem suavemente pelo cabelo de sua nuca, ele acreditou que talvez aquele fosse ser um ótimo Natal.

— Tom... - Ela murmurou suavemente. Quando Thomas, cheio de esperança, inclinou a cabeça para beijá-la, ela depositou um dedo em seus lábios. - Ainda não vai ser dessa vez.

E com um sorriso travesso, ela se afastou. Ele iria começar a argumentar, quando a percebeu olhando para algo atrás de si. Sem nem precisar se virar, Tom já sabia o que era. Ou melhor, quem era.

— Melanie, vem aqui. - Edward murmurou, e Tom podia sentir os olhos dele perfurando suas costas.

Ele sempre admirara Edward, mais do que todos os homens e quase tanto quanto seu pai. Pela forma como ele tratava Bella, pela forma como tratava os filhos, e pela forma como tratava a vida. Ele simplesmente admirava o fato de que ele ainda conseguia olhar para a mulher como se fosse a primeira vez que a visse todas as vezes. Ele o admirava por que ele fora um pai para ele junto com o seu próprio. Mas às vezes, só às vezes, ele queria lhe dar um murro.

Claro que era compreensível Edward ter criado certa aversão por ele nos últimos tempos. Sua filha estava crescendo e atraindo a atenção de homens. Não que isso fosse algo ruim, mas Thomas entendia que podia parecer que ele não tivesse respeito ou consideração com ela, porém para ele era tão claro que desejar a Mel não anulava o amor que sentia por ela, enquanto família. E sexo era algo tão simples, complicar a situação lhe parecia um crime e não sabia porque outros não pensavam assim.

Mel revirou os olhos pela expressão do pai e foi até lá, beijando-o carinhosamente na bochecha. Quando ele continuou a encarar Tom, que agora o encarava de volta, ela sentiu a necessidade de intervir. - Pai, hoje não, ok? Hoje é Natal. Não é dia de brigas. É dia de harmonia.

E por que Edward sabia que a filha acreditava mesmo nisso, ele desviou o olhar para ela. E não pôde evitar sorrir e retribuir, ainda que tarde, o beijo. Ele passou o braço protetoramente e possessivamente por cima dos ombros de Mel, e lançando um último olhar à Tom, começou a andar com ela para dentro da casa.

— Sim, você está certa. Nada de brigas. Hoje.

— Eu ouvi, Edward. - Tom assegurou, claramente não tendo amor à vida.

Melanie evitou que o pai respondesse, colocando um braço ao redor da cintura dele. Ela pensou que um dia esses homens ainda a colocariam louca.

 

### - X— ###

 

Ethan sabia que datas comemorativas pediam por relaxamento. E o Natal principalmente carregava por si só uma simbologia forte e real. Era um feriado familiar. E ele pretendia passá-lo com a família depois de terminar de ler apenas mais três capítulos de seu mais novo livro sobre política americana da década de 70.

Ele tinha consciência que quando fosse fazer a entrevista para a faculdade, não haveria perguntas teóricas. E ele tinha a experiência disso, ele já sabia o que esperar. Por isso estava se esforçando mais daquela vez. Ele estivera nervoso da primeira vez e inseguro. Ele conhecia sobre a política do seu país bem melhor do que muitos políticos da época, deixando a modéstia de lado. Por isso ele não iria se permitir falhar mais uma vez.

Ethan tinha consciência que muitas pessoas achavam que ele estava perdendo tempo. Ele havia sido aceito para todas as faculdades para as quais se aplicara. Mas não para Yale. Ele sonhava com Yale desde sempre. Ele crescera sabendo que entraria para a universidade. E ele não deixaria que seu nervosismo estúpido e insegurança desmedida atrapalhasse tudo.

Talvez ele estivesse exagerando. Era bem verdade que ele passava mais tempo estudando do que fazendo qualquer outra coisa. Já ouvira demais como ele estava desperdiçando uma época que não voltava mais. Ethan queria responder que nenhuma época voltava mais, era assim a vida, mas sua educação sempre o impedia de dar essas respostas.

Ele acreditava que para atingir certos objetivos na vida, era necessário fazer sacrifícios. Ele estava disposto a fazê-los agora, para que mais tarde, apenas aproveitasse de tudo de bom que ele receberia em troca. Por isso, era véspera de Natal e ele estava enfurnado dentro da biblioteca na casa de seus avós maternos.

Ele sabia que sua paz não duraria tanto e que logo alguém iria procurá-lo, por isso ele buscou por aproveitar o tempo que tinha. Ethan se desconectava do mundo quando lia, pensava e conversava sobre política. Embora fosse vista como a profissão mais corrupta desde o começo dos tempos, ele achava fascinante.

A ideia de que era possível mudar a vida de tantos apenas por uma ação era revigorante. Era como salvar o mundo, aos poucos. E o fato de que muitas vezes pessoas se corrompiam para continuar na vida pública não o assustava. Se todos os grandes nomes da história como Joana D’Arc, Nelson Mandela, Martin Luther King, tivessem desistido de seus objetivos por que a situação estava totalmente contra eles, e parecia impossível aos olhos da maioria... Bem, eles não seriam grandes nomes nos dias atuais.

Então, que o chamassem de louco e de ingênuo, de tolo e infantil, mas Ethan acreditava que poderia fazer a diferença. Mas como ele tinha de começar por algum lugar, e no caso era a universidade, ele faria sacrifícios sim e abriria mão de coisas sim. Tudo por um sonho. Tudo e mais um pouco.

Ethan estava de costas para a porta e praguejou em pensamento quando a ouviu se abrir. Ele sabia que alguém iria atrás dele, mas não pôde conter a irritação. O pensamento não durou, no entanto. Aquele perfume preencheu o cômodo mais rápido do que chamas preencheriam um carro encharcado a gasolina.

Então, a voz doce se pronunciou. - Ah, desculpe, Ethan. Você deve achar idiota, mas depois de todos esses anos, eu ainda consigo confundir os cômodos. Essa casa é tão grande.

Ethan se sentiu nervoso subitamente, algo que era comum perto dela. Comum demais para seu gosto. Ele virou o rosto para porta e encarou os olhos cor de âmbar de Millie.  Ela sorriu gentilmente a ele e passou uma mão pelos cabelos loiros. Ela tinha um rosto de anjo, ele pensou, mas por algum motivo também sabia que ela podia se comportar como um anjinho do mal se o momento pedisse.

Ele ralhou consigo mesmo e se forçou a parar de pensar nela daquela forma. Concentrou-se em dizer alguma coisa e não se surpreendeu quando gaguejou. - Tudo bem, n-não tem problema. Você n-não m-me atrapalhou.

Só me impediu de continuar seguindo uma linha direta de pensamento, completou mentalmente. 

Ela sorriu novamente. Ele gostaria que ela parasse de fazer aquilo. Ele sabia que seu comportamento diante dela não era incomum. Ela era modelo, e ela era linda. Ela devia ver caras do tipo dela e à altura dela todo dia. Devia sair com eles o tempo todo. E provavelmente devia ir para cama com eles.

Mas isto não é da minha conta, Ethan pensou irritado. E mesmo se ela não fosse para cama com eles, e pensar nisso agradou mais Ethan do que devia, ela nunca sequer pensaria em sair com ele. Ele era um Nerd, sempre fora e sempre seria. Assim como ele sempre fora e sempre seria um fracasso com as mulheres.

Ele era virgem, virgem!, Ethan não gostava de lembrar. Ele tinha um pênis e não sabia o que devia fazer com ele. Ele já havia lido livros que falavam sobre sexo, e seu irmão já havia o obrigado a assistir filmes pornôs. Ethan tinha assistido por que não aguentava mais Dan zombando dele pela sua virgindade.

Não era como se ele nunca tivesse tentado. Ele já tentara e fora um desastre. Depois de três vezes, desistira, se conformando que aquilo não era para ele. Cada pessoa tinha uma habilidade especial e um calcanhar de Aquiles. Sua habilidade era a inteligência, e seu calcanhar o sexo. Ele não podia fazer nada quanto àquilo.  

Ethan virou de costas para ela acreditando que tirá-la de sua linha de visão afastaria os pensamentos, ele não tinha tempo para ficar se preocupando com aquele tipo de coisa. Ele tinha que se concentrar em Yale. O resto não era importante. Ele iria estudar. E teria obtido sucesso se o perfume dela não estivesse ainda impregnado no maldito cômodo.

Ao invés de sair novamente como ele esperava, Millie se aproximou e ele sentiu sua presença bem atrás dele até o dedo do pé. - Então... O que está lendo?  

— Hum... Som-m-ente algo.. Sobre p-p-política.”

Millie assentiu, preocupada que ele pudesse estar sentindo algo de errado pela sua expressão. Ela buscou uma cadeira e colocou ao lado dele. Ethan permaneceu perfeitamente estático enquanto ela se sentava... Ethan fechou os olhos.

Ela tinha um perfume delicioso. Ou podia ser simplesmente o cheiro dela natural. Ele se permitiu inalar lentamente, só um pouquinho... Ele pressionou os lábios firmemente, e sem perceber, se inclinou na direção dela. Quando Millie ergueu a cabeça, se deparou com o rosto de Ethan próximo do seu. Não faça nada estúpido!, seu cérebro a alertou, ele é tímido, e você vai assustá-lo!

— Ethan?

Ele sorriu um sorriso mínimo ainda de olhos fechados, e se inclinou mais. Ele podia sentir o cheiro do cabelo dela, baunilha... Ele parecia estar em uma espécie de transe, mas isso não impediu que Millie prendesse a respiração em expectativa. Será que ele vai me beijar?, ela se perguntou. Ethan não era conhecido por tomar atitudes assim, mas ela não faria objeção se ele decidisse começar.

O coração da mulher começou a bater mais forte, e para facilitar tudo, ela fechou os olhos também. Sem sentir, os lábios da mulher se partiram em um suspiro suave... Que bateu contra a boca de Ethan à centímetros da dela, e isso fez com que ele abrisse os olhos. Millie esperou em vão pelo beijo que não veio, e quando abriu os próprios olhos, viu o olhar assustado a encarando de volta. Oh, merda, ela pensou.

Ele se levantou tão depressa que derrubou a cadeira onde estava sentado, o livro que estava lendo, e a mesa em frente a eles. Xingando em silêncio, observou o estrago que tinha feito.

— Me d-desculpa... Me d-ddesculpa...

Millie não sabia o por quê de ele estar se desculpando, mas assentiu mesmo assim, não querendo deixá-lo mais nervoso. - Está tudo bem... Ethan, essas coisas acontecem...

Ele balançou a cabeça vigorosamente. - Eu ia beijar v-você... Beijar... Eu ia mesmo pegar você e beijar você e... - Ele fechou os olhos como se estivesse envergonhado demais para falar o que pensava fazer em seguida.

Millie se perguntava o que aquele ‘e’ significava, e sentiu um arrepio na espinha. - Oh, bem, isso... Bom, eu...

— Eu não tinha que ter feito isso. Eu sinto muito. - Ele não gaguejou, por que ele não olhou para ela.

“Você não fez nada.”

“Sim, eu fiz. Na minha mente, eu fiz. Eu sinto m-muito, Millie.”

Ele não se permitiu respirar até que ele estivesse do lado de fora da biblioteca. Ethan sabia que se ele inalasse mais uma vez o perfume dela, o cheiro dela, ele concretizaria os seus pensamentos.

 

### - X— ###

 

Dan ajustou pelo que parecia ser a milésima vez a estrela dourada no topo da árvore de Natal, e sentindo que estava no modo repetitivo, questionou novamente à sua mãe se estava bom daquele jeito.

Alice colocou uma mão no queixo, e franziu o cenho enquanto inspecionava. Ela ponderou, ponderou e por fim... - Acho que estava melhor do jeito que você colocou antes.

Daniel grunhiu. - Pode não parecer, mas eu tenho mais o que fazer do que ficar brincando com a maldita estrela, mãe. Que importa a posição contanto que ela esteja lá? Ninguém vai reparar.

Alice estava indignada e quando avistou Angelinne sentada há pouca distância deles, com alguns enfeites na mão, chamou a atenção da menina. - Angel, olhe para aquela estrela no topo da árvore. O que você acha?

Angelinne observou por um tempo. - Está um tanto torta.

Alice lançou um olhar de viu-eu-te-disse para Dan. Ele apenas revirou os olhos; claro que a senhorita oh-como-eu-sou-politicamente-correta discordaria de qualquer coisa que ele fizesse. 

— Óbvio que ela ia dizer isso, ela simplesmente discorda de tudo o que eu faço.

Angelinne, ouvindo aquilo, lançou-lhe um olhar seco e se levantou. Por um momento, Dan considerou que ela tentar derruba-lo da escada, mas ao invés disso, ela se dirigiu à sua mãe.

— Olhe, Alice. - Angel mostrou algumas bolinhas vermelhas com enfeites dourados e uns lacinhos delicados que tinha feito.

— Oooh que gracinha, Angel. Está muito mais bonito do que eu pensava. - Alice estava à beira das lágrimas. Ela adorava quando tudo ficava tão lindo. - Não está perfeito, Dan, filho?

— Claro. Estou quase roubando os enfeites pra mim de tão encantadores. - Ele voltou a ajustar a maldita estrela, pronunciando impróprios para si mesmo.

— Você não precisa ser sempre tão desagradável. - Alice se zangou, mas o filho nem ao menos deu atenção. Ela se voltou para a menina. - Está ótimo, Angel. Não dê atenção ao que Daniel diz.

Angelinne balançou a cabeça. - Eu geralmente não dou.

Alice, no entanto, já estava indo atrás de Emmett reclamando que ele não estava colocando as coisas onde ela tinha pedido.

Daniel terminou de arrumar a estrela e percebendo que a mãe estava ocupada com outra coisa, aproveitou para escapar. Antes, no entanto, ele percebeu Angelinne encarando novamente a estrela com os braços cruzados.

Ele bufou. - O que é agora? Eu coloquei do jeito que estava antes.

Só apenas depois de alguns segundos que ela olhou para ele, como se não pudesse se importar menos com o que ele dizia. - Está bom desse jeito.

Ele arregalou os olhos, em falsa surpresa. - O quê? Nada de críticas para o que eu faço? Nossa, talvez o espírito natalino tenha mesmo te afetado.

Com outro olhar seco, ela virou as costas e foi andando para fora da sala. Sem pensar muito no por que, desceu rapidamente da escada e foi atrás dela. Angel estava indo em direção à sala de jogos chamar a todos; já era quase meia noite.

Ela parou no meio do corredor quando escutou passos atrás dela. Virou-se para trás e deu de cara com Dan. Cruzou os braços. - O que foi?

— Qual o seu problema comigo, garota? Você me detesta desde que eu consigo me lembrar. Eu não me lembro de ter te feito nada.

— Um: De garota você chama as vagabundas com quem você costuma andar, quando estiver falando comigo, diga o meu nome. Dois: Eu não preciso te dar motivos para nada do que eu faço ou deixo te fazer. Entendido? Ótimo, Feliz Natal. - Ela ia se virar novamente, mas sentiu quando uma mão segurou seu braço. - Eu vou te dar três segundos para me soltar.

Sem saber como nem quando, Angel sentiu suas costas pressionadas na parede. E Dan estava perto demais. Ele sorriu, como se tudo que ela tivesse dito lhe agradasse.

— A menos que você tenha uma quedinha por mim, isso eu posso entender. E você não sabe lidar com isso... - Ele se aproximou mais dela e a cercou com os braços. - Isso eu posso entender também. E você, até que não é sem graça não, Angelinne. Quem sabe eu posso até considerar se você começar a me tratar melhor.

Era verdade, ele pensou. Ela não era sem graça quando não agia como uma certinha irritante. E ela só agia daquele jeito quando estava perto dele. Dan sempre teve a curiosidade de saber por que todo esse ódio por ele existia e nunca conseguiu chegar a uma resposta. E ele não se incomodaria se fosse por que ela realmente se sentia atraída por ele.

Ela era bonita, por mais irritante que fosse. Talvez mais do que bonita. Ele sabia que aqueles olhos verdes não transpassavam apenas ódio, ele sabia que eles brilhavam quando ela achava algo engraçado e que escureciam quando ela estava concentrada demais. Sempre que ela estava muito focada também, seus lábios formavam um biquinho natural.

Os cabelos dela, de um tom castanho/chocolate, pareciam ser macios. Seria ok, Dan pensou, correr os dedos por ele por um momento ou dois. E puxá-lo também, se a situação fosse propícia.

Não doeria dormir com ela. Não mesmo. Embora ele soubesse que era muito, muito provável que ela fosse virgem, afinal era só dezesseis anos, mas se por acaso ela se propusesse a experimentar outras coisas, ele que não seria o empaca da história. 

Os olhos de Angelinne eram lagos de puro ódio. - Sai.de.cima.agora.

Dan sorriu de novo e acariciou um braço dela. - Eu não estou em cima de você, Angel. Ainda.

— Eu não vou repetir para você me soltar, Daniel.

— E se eu não obedecer, o que você vai fazer?

Ele se aproximou, ainda mais. Ele iria beijá-la, ela pensou. Iria beijá-la simplesmente para provar que ele poderia seduzir qualquer uma e que ela não estava imune àquilo. O filho da mãe era presunçoso, egoísta e narcisista. Ridiculamente grosseiro, mulherengo e desinteressado.

Sentindo algo perto de desespero e raiva crescendo em seu estômago, Angelinne deu uma joelhada exatamente aonde ia lhe doer mais. Dan soltou um gemido de dor e se afastou imediatamente, xingando-a e pressionando a região dolorida entre as pernas.

— Isso. - Ela respondeu e sem olhar para ele, deu as costas e saiu andando.

Daniel detestava admitir que talvez ele tivesse merecido. Porém, havia uma razão para Angelinne detesta-lo tanto e ele descobriria porque, sem muito se preocupar porque era tão importante. Havia coisas que simplesmente não deveriam ser ponderadas.


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