“Como vai isso de aprender a cozinhar, Ino?” Perguntara a nova colega de trabalho aos berros, que era a única maneira de se fazer ouvir através das batidas e do som demasiado alto que não parecia incomodar ninguém.

“Vai… indo, Tenten.” Ino respondeu, servindo um copo de vodka a um cliente e pensando no último desastre que fora quando tentara cozinhar arroz. Perguntava-se se os cães conseguiriam comer aquilo.

“Cinco shots!” Pedia outro homem com os amigos ao lado, estendendo o dinheiro.

“De quê?” Ino perguntou.

“Jeropiga.” Respondeu.

Depois de pegar os mini-copos, Ino pegou na garrafa.

“Tenten, preciso de ir buscar mais garrafas de Jeropiga. Dás conta do balcão sozinha durante uns minutos?”

“Dou!” Tenten respondeu com um copo na mão e olhou para os homens que pediram os shots. “Se fossem fortes pediriam Absinto.” Desabafou consigo mesma.

Ele entrou no bar demasiado barulhento. Odiava aquele ambiente.

Mas ouvira boatos que os demónios estavam por aquelas bandas. Nenhum sítio melhor para procurar do que ali.

Tentou encontrar caminho entre o mar de gente para chegar ao balcão, ignorando todas as garotas que lhe tentavam chamar a atenção. Felizmente aquela espelunca tinha bancos ao balcão.

Sentou-se e olhou para a multidão.

Por onde poderia começar?

“Menina, duas vodkas pretas!” Pediam.

“Um Malibu!” Pediam.

“Sangria!” Pediam.

E Tenten tentava lidar com o stress de servir toda a gente.

“Só quero uma cerveja!” Pediram.

Aquilo era mais rápido. Tenten largou o copo de vodka preta meio acabado em cima do balcão para pegar uma cerveja.

Mas quando ia dar a cerveja ao homem impaciente, o seu braço tocou no esquecido copo de vodka, que acabou por cair para as calças da mulher morena que olhava a multidão.

Oh não. Oh não. Pensava Tenten.

“Peço imensa desculpa minha senhora!” E curvou a cabeça demasiado baixo para pedir desculpas. “Não era minha intenção!”

Tenten voltou a levantar a cabeça para olhar a mu… homem, que se tinha virado com cara de ofendido.

Pânico. Pânico. Pânico. Porque isto tinha de lhe acontecer?!

Saindo pela porta do balcão para buscar as garrafas, Ino viu-se mais livre para pensar.

Depois daquele olhar, Gaara não merecia que Ino pensasse se quer nele! Mas… que culpa tinha ele de ela não saber cozinhar?

Talvez ter ficado o dia todo sem aparecer em casa e sem lhe dizer nada não tenha sido muito boa ideia.

Oh, boa. Agora Ino estava deprimida e arrependida ao mesmo tempo.

Pegou nas garrafas e voltou para a confusão daquele bar o mais rápido que conseguiu.

Neji encarou a menina muito atrapalhada atrás do balcão. Primeiro entornava a vodka para o colo dele, e ainda o chamava de “minha senhora”?

Aquele, de certeza, não era um dos seus dias.

“Peço desculpa. Peço desculpa. Peço desculpa!” Tenten baixou, mais uma vez, demasiado a cabeça.

Ele deu um suspiro. Nem valia a pena chatear-se com coisas dessas. Tinha trabalho a fazer.

“Esqueça. Traga-me um Whisky.”

“É para já!” E Neji observou a morena a afastar-se.

Ino entrou e deparou com aquela cena. Clientes aborrecidos a falar cada vez mais alto, Tenten curvada perante um homem de cabelos compridos e vodka derramada.

Ok, nunca mais iria deixar a Tenten sozinha.

“Ino, leva aquele senhor um Whisky.” Pediu Tenten.

“Porque não acabas tu de o servir?” Perguntou Ino acabando de servir os shots que deixara a meio.

“Porque eu… chamei-lhe minha senhora.” Seria boa altura para Ino rir? “Depois de lhe ter derramado vodka para as calças.”

Inevitável, Ino riu demasiado alto.

“Pára com isso! Ele vai perceber!” Tenten exaltou-se. “E não tem piada!” Tenten tirou a garrafa que a Ino tinha das mãos. “Agora vai servi-lo, eu trato deste lado.”

Ino chegou a casa já era duas e meia da manhã. Entrou muito devagarinho para não acordar Gaara.

Talvez ela devesse pedir desculpas.

Mas não era hoje. Hoje ela só iria tomar um banho para tirar o cheiro a tabaco do cabelo. E iria por as roupas para lavar.

Os planos dela foram interrompidos pelo barulho do seu estômago. Tinha fome.

Antes de ir tomar banho, iria comer.

Espantou-se ao ver a panela que ela tanto tentara esconder em cima da mesa.

“Onde estiveste?” Sobressaltou-se ao ouvir a voz dele.

“Comeste o meu arroz?!” Ignorou o que quer que fosse que ele tinha dito.

Gaara suspirou. Ino olhava incrédula para ele.

“Ele estava horrível… e mesmo assim comeste?!” Ino disse.

Um sorriso formou-se nos lábios de Ino. Porém, ficara ainda mais arrependida.

“Onde estiveste?” Gaara perguntou de novo.

“Eu… desculpa! Não devia ter saído assim.” Ino surpreendera-se consigo mesma. Estava a dar-lhe uma justificação? “Estive a trabalhar.”

“Até estas horas?”

“É um trabalho nocturno.”

“Hum.” Ele não disse mais nada. Saiu da cozinha deixando-a sozinha.

Ino correu para alcança-lo e, sem pensar, agarrou-lhe a camisa com os dedos. Ele parou. “Desculpa se te deixei preocupado…” Ela disse.

Preocupado? Preocupação?

Então era isso que… ele estivera a sentir?

Virou-se para trás e encarou a loira, que já lhe havia largado a camisa. Estivera realmente preocupado? Levantou a mão com o objectivo de tocar na face dela. Parou a meio.

Ino agarrou a mão dele com as suas. E terminou o percurso para a sua face. Gaara sentiu o coração a bater depressa de novo quando as suas peles se tocaram. “Está tudo bem… eu estou bem.” Ino disse, deslizando pelos dedos pela mão de Gaara.

Gaara retirou a mão e afastou-se da loira. Como é possível que o peso que restava em seu coração tivesse desaparecido quando ela referiu aquelas palavras?

Ele estivera realmente preocupado.

“Eu… não estava preocupado.” Disse, voltando a criar a barreira entre ele e ela.

Voltou-lhe as costas e dirigiu-se para o seu quarto.

Por mais que lhe custasse admitir… ele estava a sentir.

E ele tinha receio desses sentimentos.