Meu Trono escrita por Fan_s


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Fic escrita em Português de Portugal. Quem não gostar, não leia.



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Ele acordara sozinho. O Sol estava no meio do céu. Mas ele não o via, pois as cortinas estavam fechadas, impedindo que qualquer raio corajoso entrasse pela janela. Já fazia muito tempo desde que ele não o via. Sempre preferiu a noite. O Sol era traiçoeiro. Mesmo quando estando fraco, como naquela manhã de Inverno, o Sol sempre lhe queimava a pele e incomodava os olhos. Sim, ele realmente não gostava do Sol.

Levantou-se, e andou descalço pela casa escura, apenas com uma calça vestida. Desde que entrara naquela casa, aos sete anos de idade, raramente foram as vezes que saíra. E se saísse, era de noite, para cima do telhado de sua casa, para observar as estrelas. Ele entrara sozinho, e sozinho permaneceu. A única pessoa que entrara para além dele foi sua irmã Temari, para lhe entregar alimentos ou algo que ele necessitasse. E mesmo ela permanecia poucos minutos. Ela também o temia. E ele sabia disso.

Abriu o armário da cozinha e retirou algo para comer. O armário estava praticamente vazio. Temari deveria visitá-lo em pouco tempo.

Deitou-se no sofá, permitindo-se ouvir o silêncio a que tanto se acostumara. Não ouvia passos. Não havia risos. Não havia choros. Não havia cães. Não havia pessoas. Apenas o silêncio. O bairro em que ele vivia ficara vazio assim que os moradores souberam quem iriam ter como vizinho. E agora a única coisa que se ouvia era, de vez em quando, os ventos a baterem na janela, anunciando uma tempestade.

Mas aquela situação nunca fora estranha para ele. Ele sabia que onde quer que fosse, as pessoas fugiriam. Por isso é que não saía de casa, por isso é que era Temari a fazer as compras. Quando chegou ao bairro, com os seus sete anos, ele tinha esperança que as pessoas ficassem. Agora, no auge dos seus dezoito anos, ele percebera que ter esperanças era algo absurdo.

O Sol já desaparecera do céu, dando lugar à lua, que sempre aparecia mais cedo no Inverno. Gaara soube que aquela noite seria noite de tempestade assim que sentiu o vento forte balançar-lhe os fios vermelhos, despenteando-o ainda mais. Fechou a janela.

Aconchegou-se na cama e pegou no livro. Ele gostava de ler, ajudava-o a passar o tempo. Temari costumava trazer-lhe livros juntamente com os alimentos. Porém era difícil alguma história lhe agradar. Normalmente ele lia apenas por ler. Era suficiente para passar o tempo.

Já era madrugada. Gaara ainda estava com o livro na mão. Porém não era ao livro que ele dava atenção. Ele ficara a olhar a chuva cair. O barulho que os pingos furiosos faziam ao bater na janela era agradável ao seus ouvidos. Parecia que estavam a falar com ele… eram a sua companhia.

Estando todos estes anos sozinho, sem nenhuma visita, Gaara estranhou a campainha tocar. Principalmente àquela hora da madrugada. No início decidiu ignorar, mesmo que ele fosse abrir a porta, a pessoa fugiria assim que o reconhecesse. O toque continuava incessante, impedindo Gaara de se concentrar no barulho da chuva.

Levantou-se e caminhou descalço, só com calças até à porta, e surpreendeu-se ao ver que, mesmo depois de abrir a porta, a pessoa não tivesse fugido. Muito pelo contrário.

“Ah, está a ver que não!” Exclamou a mulher ao entrar-lhe em casa, sem a autorização dele. A mulher era loira e jovem, e estava encharcada. “Está uma chuva dos infernos lá fora.” Gaara observou-a com a expressão de indiferença inalterada, mas com um turbilhão de coisas a passarem-se por dentro, deixando-o confuso. Ela não aparentava estar com medo. Ela não aparentava temê-lo.

Ele nada disse. Ficou apenas a observá-la sacudir-se e tirar os sapatos.

“Bem, com esta chuva, parece que tenho que ficar aqui esta noite. Espero que não te importes.” Ela disse, virando-se para Gaara. Ao vê-lo, não pode deixar de notar como ele estava vestido. Sorriu ao ver o corpo do rapaz. Ele fechou a porta. Ela continuou a observá-lo, esperando que ele dissesse algo. Mas ele não disse nada, apenas ficou encarando-a, passando os olhos pelo corpo dela. “Oh… já percebi. Tu não falas…” Disse ela pensativa. Ele olhou-a confuso. “Bem, eu não sei linguagem gestual, mas eu posso tentar!” Ela disse.

“Eu falo.” Ele disse, estranhando a própria voz. Raramente a ouvi-a. Normalmente não precisava de usá-la.

“Ah, então se falas e não disseste nada é porque não te importas, certo?” Ela perguntou. Mas ele continuou a observá-la em silêncio. Ela estranhou a reacção dele. Ou a falta de reacção dele. Vendo que ele não ia dizer nada, ela continuou. “Eu sou a Ino, como te chamas?” Perguntou.

“Gaara” Ele disse.

“Então, Gaara, eu vou tomar um banho!” Ela informou e tomou a liberdade de andar pela casa, abrindo todas as portas à procura da casa de banho. Ele segui-a, observando todos os movimentos dela.

Quando finalmente achou a casa de banho, abriu o armário que lá havia e tirou uma toalha. Ainda com ele a observar, abriu a água.

“Vais ficar a observar?” Ela perguntou ao soltar os compridos fios de cabelo loiro, até há pouco presos, e sorriu ao notar a expressão dele. Estava… incomodado? Ele saiu e fechou a porta.

Os cabelos dela. Era o que ocupava o pensamento dele enquanto seguia para o seu quarto. Os cabelos loiros dela eram brilhantes. Pareciam o Sol. Mas não o queimavam.

Ele deitou-se na cama, aquela situação era estranha. Ele sentia-se estranho.

Ino enrolara-se na toalha, os cabelos enxugados não escorriam, mas estavam molhados. Ela abria as portas à procura do quarto dele. E sorria. Ele era interessante. Parecia tão… inocente. Olhava para ela como se não estivesse habituado a ver um corpo de mulher. Voltou a sorrir quando encontrou o quarto dele, e observou-o deitado na cama, com os as mãos debaixo da cabeça. Ainda sem camisa. Ino observou-o, ele tinha a pele branca… e era bastante desejável.

Gaara olhou para ela, indiferente. E depois voltou a olhar para o teto. Ino suspirou. Estava à espera de outra reacção. Normalmente não era indiferença que eles mostravam ao vê-la de toalha. Entrou no quarto e começou a mexer nas gavetas de Gaara.

Embora se mostrasse indiferente, algo na mente de Gaara mudou, e o coração começou a bater mais depressa. Desviou o olhar da loira, na esperança de acabar com o que quer que fosse que estava a acontecer. Ele não gostava de estar assim. Ela fazia-o sentir como se fosse fraco?... Era como se todas as barreiras que ele criou para se isolar desaparecessem  ao pé dela. Ele sentia-se vulnerável.

“As minhas roupas estão todas molhadas” Ela explicou “Vou utilizar as tuas até as minhas secarem.” Ele não desse nada. Apenas continuou fitando o teto.

Ela pegou numa camisa negra que, pelas suas medidas, lhe deveria cair como um vestido. Ela virou-se para Gaara, e ele continuava a fitar o teto. ‘O que é que aquele teto tem de tão interessante?’ Pensou ela. Retirou a toalha e vestiu a camisa, que como ela prevera, assentava-lhe como um vestido muito curto. Voltou a observar Gaara. Na mesma. Ele não ligara à sua nudez. Provavelmente nem sequer reparara.

“Existe outro quarto nesta casa?” Ela perguntou. E ficou à espera de resposta.

“Não.” Ele disse.

“Então hoje eu durmo contigo.” Ela disse, naturalmente e dirigiu-se para a saída do quarto. “Mas primeiro vou comer algo, estou esfomeada.”

Gaara observou-a sair do quarto. Ele realmente estava perturbado com aquilo. Pelo facto de ela não ter medo dele, e por aquele outro que ele desconhecia totalmente. Ino estava fazendo-o sentir coisas, e ele não sabia o que eram essas coisas nem como lidar com elas.

Levantou-se e seguiu até à cozinha. E observou Ino deliciar-se com alguns doces que Temari trouxera. Ele não os apreciava muito.

“Há quanto tempo não vais às compras?” Ela perguntou, lambendo os lábios. “Tens a cozinha quase vazia.”

Ele não respondeu, continuou a observá-la. A camisa dele que ela usava ficava-lhe como um vestido curto, e ele tinha uma visão privilegiada para as pernas dela. Gaara observou-as. Eram como uma armadilha que o chamava. Não só as pernas, toda ela o era.

Quando terminou, voltou para o quarto, e Gaara seguiu-a. Atirou-se para cima da cama de casal e colocou-se debaixo dos cobertores. “Vens?” Perguntou a Gaara, sorrindo. Ele não respondeu, mas caminhou até ela, receoso, e deitou-se ao seu lado na cama, mantendo sempre uma certa distância.

Ela suspirou. “Não estejas tão sério… eu não te vou morder.”

Gaara observou a loira e não respondeu. Até a voz dela o fazia sentir vulnerável. E Gaara não gostava de se sentir desprotegido. Mas a armadilha já o tinha apanhado, e por alguma razão ele não faz nada para sair dela. ‘O que é que ela me fez?’ Pensava ele. Os cabelos dela caíam sobre a cama que partilhavam. Cama em que ele sempre dormira sozinho.

Gaara não dormiu naquele dia.


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Notas finais do capítulo

Peço desculpa por qualquer erro que possa ter escapado ao meu olhos.


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