O Filho do Alquimista de Aço escrita por animesfanfic


Capítulo 7
A Grande Noite - parte 1


Notas iniciais do capítulo

Nestes próximos dois capítulos especiais Winry e Edward vão ter momentos bem quentes.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/157159/chapter/7

Logo pela manhã Edward e Winry partiram da casa de Dr. Havier com todos as informações que precisavam sobre a doença da protética. Nada de exageros, nada de esforço em demasia. 

Chegaram ao terminal de trem uma hora depois, pois a casa do médico era relativamente longe do terminal. Aproveitaram para fazer uma refeição enquanto o horário ainda não havia chegado. Ao término da parada alimentar, sentaram nos banco à espera do próximo trem.

Ed – Está tudo bem de partimos hoje, não é? - Fitou os olhos da garota pela primeira vez depois da noite anterior. Aquele mar azul lhe penetrando a alma eram demais para sua cabeça, tomada de culpa.

Há um dia atrás, não passava nada em sua mente em relação à Winry, a não ser o fato da loira ser uma mulher bonita e proibida. A possibilidade de terem algo era tão remota que nem se atrever a cogitá-la, permitiu-se. Mesmo após lutar para não tocá-la, a atração que sentiu na noite anterior foi real e muito inapropriada. Edward jamais sucumbiria a esse desejo, pois tinha certeza que Winry só o via como um simples amigo de infância impaciente.

Estava convencido que a excitação que tivera fora somente um reflexo automático de seu corpo ao encostar em uma mulher fisicamente atraente. Poderia ser qualquer uma, até mesmo alguém que conhecia desde pequeno. Já viveu isso por muitas vezes e sabia qual era a sensação. Não havia nada a temer. Ele era um homem jovem, ainda que a fase dos hormônios pegando fogo já houvesse passado, tinha energia sexual acumulada pelos últimos meses sem ninguém. A garota era bonita e estavam sempre sozinhos. Sentir uma leve atração sexual por ela seria algo normal, se apenas deixasse isso ir embora. Ao menos queria assim acreditar. 

Saiu de seus próprios pensamentos quando a garota começou a falar, inconformada.

Winry – Estaria melhor se eu soubesse o real motivo dessa viagem. Sei que não me conta tudo sobre o que acontece com você e Al. – Fitou as montanhas que se formavam depois dos trilhos.

Ed - De novo esse assunto? - Arfou, já desgastado de explicar. - Nem que eu fale um milhão de vezes você vai entender.

A loira se desencostou do banco, levantou, deu alguns passos para lá e para cá, parecia mais nervosa do que de costume. 

Winry – E se eu tivesse um grande segredo que envolvesse vocês, gostaria que eu lhe escondesse? – Seu semblante era inquiridor.

Edward a observou por alguns segundos, quieto. Os braços estavam cruzados sobre o dorso, levemente inclinado a não dar corda para aquela conversa, a não ser pela última pergunta da loira.

Ed - Você o tem? - Arqueou uma sobrancelha, achando o rumo de tudo aquilo bem suspeito.

Winry - Quem sabe? - Colocou os braços da cintura. O alquimista franziu as sobrancelhas, desconfiado. Ela parecia realmente estranha, quieta e nervosa demais nos últimos dias.

Ed - Quer me contar algo? 

Winry - Por quê? - Soltou as palavras de forma rápida e trêmula. 

Ed - Tem alguma coisa que quer me falar e não sabe como? - A loira engoliu em seco. Tinha a nítida sensação de que se desse um passo em falso, todo o plano cairia corredeira abaixo. 

"E se eu contar tudo a ele agora?", cogitou. Passou as mãos nas têmporas. "Se ele souber, nada no mundo o fará consumir o ato comigo", olhou novamente o loiro. "Como irei despistar os homunculus? Não tem a menor possibilidade de conseguir fazer isso", coçou a cabeça. "Se eu conseguir contar tudo quando chegar a Central, talvez haja uma chance, mas ainda assim é arriscar muitas mortes por minha insegurança e falta de força". Martirizava-se por dentro.

Ed - Sou todo ouvidos. - A loira o olhou assustada, saindo de suas conjecturas. 

"Preciso inventar algo rápido antes que ele comece a desconfiar", bateu o pé, nervosa.

Ed - E então, qual o segredo? 

"Pense em algo rápido, Winry, rápido!", respirou firme, pensando em um cenário esdrúxulo que pudesse ser convincente, embora não conseguisse evitar sair as primeiras palavras de sua boca.

Winry - Eu fiquei com um cara, sabe? Mas não gostei. E agora ele está na minha cola o tempo inteiro, está me infernizando e não sei mais o que fazer. 

Ed - Um cara? - Levantou as sobrancelhas. 

Winry - Um cara. - Repetiu ela, não acreditando que tinha realmente dito aquilo. Era uma coisa completamente ridícula.

Viu o homem estufar as narinas, irritado. 

Ed - E o que eu tenho a ver com as suas desventuras amorosas? 

"Improvise, garota, improvise!", disse a si mesma mentalmente. 

Winry - Porque você é um homem, afinal. - Voltou a sentar no banco, próximo a ele. - Talvez pudesse me dar um conselho para me livrar desse cara.  

Ed - Quer mesmo o meu conselho? - Cruzou os braços, mas não a olhava. Fitava o horizonte de montanhas a sua frente. 

Winry - Sim, pode me dizer. - Não estava acreditando ter se enfiado naquele diálogo humilhante.

Ed - Já transou com ele? - A pergunta íntima e absurda fez a garota quase cair para trás. Aquilo não poderia ter saído da boca do seu melhor amigo. - Você disse que queria meu conselho, por isso estou perguntando. 

O cérebro da garota simplesmente parou de funcionar, nada vinha a sua cabeça para fazer saírem as palavras. Estava estática, petrificada.

O alquimista levantou, parecia dar de ombros para toda aquela conversa. Olhou os arredores procurando o trem, que já dava seus sinais ao longe. Colocou as mãos no bolso e virou para ela. 

Ed - Pela sua cara já transou, então apenas suma, que ele vai entender que odiou. Simples assim. - Deu de ombros, indo em direção ao trem que havia acabado de chegar.

O barulho do trem freando nos trilhos fez-la agradecer a Deus. Ao menos não precisava mais alimentar aquela conversa inútil e absolutamente constrangedora.

"Eu não tive essa conversa, eu não tive essa conversa", tentou repetir a si mesma, empoçada na lama da própria vergonha.

A viagem seguiu tranquila nas primeiras horas, apesar de saber que não estavam usando o trem do exército e por isso o deslocamento demoraria mais do que esperado. Os militares federais possuíam um trem de carga especial para levá-los de uma cidade a outra, o que não era o caso naquela viagem improvisada.

Winry já estava curada, embora o mal estar da vergonha que havia passado ao inventar um possível romance com outro homem permanecesse lhe chicoteando a mente. Saiu de suas próprias lamúrias somente quando o vigia dos vagões passou, antes do encerramento dos trabalhos, para avisar-lhes do horário que chegariam à Central, logo no amanhecer do dia seguinte.

Winry - Acho que durante esta noite vai fazer frio. Vou tentar conseguir com os funcionários um outro cobertor. Pode acender a lareira? - O homem assentiu e ela saiu do vagão em busca de alguém para lhe auxiliar. 

Andou pelo chão de madeira, distraída demais para notar que os dois vagões próximos aos deles estavam vazios. 

"Que estranho, quando reservei disseram que estavam todos cheios", matutou a garota, suspeitando daquela cena, depois de já estar perto da lavanderia do trem. 

"Será que...", começou a pensar na possibilidade de estar sendo seguida, mas logo ouviu um barulho atrás de si, fazendo-a virar como se fosse ser atacada. 

Lust - Oi, querida. - Escorou-se na porta de madeira, que havia acabado de fechar. - Quanto tempo. - Disse irônica. 

O coração da protética parecia sair pela boca, entalando qualquer chance de falar alguma coisa. O cobertor em suas mãos escorregou até o chão. 

Lust - Não precisa ficar com essa cara assustada toda vez que me vê. Só quero saber como está o andamento daquele servicinho que eu lhe pedi. 

Arfou, entendiada, quando reparou que a mulher estava empalhada a sua frente. 

Lust - Pelo visto nenhum progresso até agora. - Revirou os olhos. - Já vi que você é virgem, sei que está difícil, mas eu posso dar uma ajudinha. 

Winry - O quê? - As opções que a morena lhe dava eram umas piores que as outras. - Como assim ajudinha? 

Lust - Posso te ensinar um truque para você deixar aquele alquimista comendo na sua mão. 

Winry - Não me interessa isso! - Falou mais alto do que gostaria. 

Lust - Não grite ou vai me complicar a vida. - Bufou. - Eu deveria ter encontrado uma prostituta qualquer para fazer esse serviço, não uma virgem que fica com medo de tudo. 

Winry piscou várias vezes, enojada, chocada com a possibilidade de forçarem Edward a ficar com qualquer uma. A situação estava tão complicada que aceitar dar um filho para o amigo era um cenário mais aceitável que deixá-lo engravidar qualquer mulher desesperada por dinheiro. 

Colocou as mãos na cabeça, tensa. Pela primeira vez pensava na perspectiva de Edward. Estavam traçando o seu destino na paternidade e escolhendo com quem geraria uma criança, mesmo que ele jamais saiba disso. 

Lust - Você gosta dele, eu já reparei. Sei que o respeita e está lutando contra toda essa moral. Por isso mesmo tem que considerar que está sem saída, meu bem. Não é melhor para ele te ter como mãe do próprio filho em vez de uma prostituta de botequim? 

Winry - Ele jamais se aproximaria de uma mulher assim. 

Lust lhe lançou uma risada genuinamente divertida. 

Lust - Você é tão ingênua, menina. Ele é só um homem como qualquer outro. Basta um olhar certeiro, um bom par de peitos e as pernas abertas para eles aproveitarem. - Passou uma de suas garras perto do rosto da loira. - Gosto desses sentimentos nos seres humanos, mas querida, tem horas que é melhor agir por impulso. 

Winry tentou esfriar a cabeça. Precisava vasculhar esse plano para buscar uma brecha. 

Lust - Eu sei que você titubeou ali no terminal de trem. Cogitou contar a verdade para o Elric, não pense que me engana. - Fechou o cenho. - Eu não vou voltar para conferir se está conseguindo executar o plano, eu vou voltar a te ver para pegar o exame na minha mão. Entendeu? 

A ameaça era bem explícita, Lust queria que executasse aquele plano imediatamente.

Lust - Hoje a noite, faça hoje a noite. 

Winry - Não! - Disse, sem pensar. Não estava preparada para aquilo e tinha certeza que Edward não cederia sem sequer tê-la beijado ou recebido qualquer tipo de sinal de interesse amoroso. - Ele não está pronto ainda, vai me recusar. 

Lust -  Homem nenhum recusa uma garota bonita, seja mais segura. 

Winry - Se eu estragar a minha aproximação, não poderei consertar depois. 

Lust - Quer a minha ajuda? 

Winry - Que tipo de ajuda você tem a me dar? - Questionou tão rápido que não gostaria de ouvir a resposta.

Lust - Uma substância especial que eu tenho, faça-o beber, misture com alguma bebida alcoólica. Ele vai ficar tão excitado, que vai transar com qualquer mulher que aparecer na frente dele.

Winry - Não vou fazer isso com Edward, nem pensar. - Passou a mão trêmula sobre a testa, suava frio. 

Lust - Não complique as coisas, garota. - Fechou o cenho, agora irritada. - Se você se focar na sua missão e me entregar essa criança, vai poder viver em outra cidade sem nenhuma morte nas suas costas. Não seja burra! 

Winry não podia deixar de dá-la razão, mas suas palavras só funcionariam com alguém que não possuía moral ou princípios, coisas que a garota tinha de sobra. 

Winry - Como vou passar por cima dos meus princípios e fazer algo que eu jamais vou me perdoar? 

Lust - Os seus princípios já foram deixados para trás. Aproveite o que a vida está te oferecendo. Deite com aquele homem, entregue-se ao prazer que ele vai te proporcionar, torne-se mulher e aceite seu destino. Se debater contra o seu destino só causará mortes que pesarão nas suas costas. Você quem decide. 

A loira deu alguns passos para trás, escorando a cabeça na parede. Fechou os olhos, respirou fundo, sua situação era um beco sem saída. 

Lust - Cansei de ficar de palestrinha, garota. Não é um pedido, é a porra de uma ordem! Se não fizer isso hoje, acredite, vou matar sem dó todo mundo daquela cidade imunda. 

Winry - Não faça isso! - Arregalou os olhos para a mulher. 

Lust - Então abre logo as suas pernas para o Elric!

Winry - Está bem, está bem! - Gritou, desesperada com tantas ameaças. - Eu vou fazer. -  Engoliu o nó na garganta que estava cada vez maior. 

Lust - Muito bem. Sabia que você era do tipo que precisava de um empurrãozinho.

O silêncio pairou no ar.

Lust - Não precisa de tanto drama, menina. - Deu de ombros. - Faça o serviço direito essa noite e garanta a gravidez. Não deixe ele usar proteção. Assim você não vai precisar repetir o que não quer fazer. 

A loira não conseguiu dizer mais nada. 

Lust - Plano. Abrir as pernas. Hoje. Sem proteção. Gozar dentro. Filho. Entregar para mim. Estamos conversadas? - Contou nos dedos as situações como se fossem meros números.

 Winry deixou as lágimas caírem assim que a mulher saiu do vagão. Não fazia ideia de como ela havia chegado até eles, mas sentia-se encurralada e completamente sem alternativas.

Recompôs suas roupas e lavou o rosto para se livrar das lágrimas que caíram sem dó. Ficou pelo menos uma hora vagando pelo trem, sem coragem de retornar àquele vagão e ver o rosto do homem que era a razão de todo o seu tormento nos últimos dias.

Tomou coragem, precisava agir por ambos e evitar que o estrago fosse ainda maior. Poderia ela ser a mãe de um filho de Edward e não uma prostituta qualquer. O que lhe custaria uma noite, afinal? Era só seu corpo que seria usado. Se seguisse o plano poderia evitar que sua mente ficasse destroçada. Girou a maçaneta, adentrou no vagão, mas percebeu que Edward não estava sozinho. 

O alquimista conversava amistosamente com um homem de meia idade, vizinho de vagão, embora Winry soubesse que não havia ninguém por perto. Só poderia ser Envy em seu encalço, fingindo ser outro passageiro. 

Suas pernas tremeram quando o olhar traiçoeiro daquele homunculus disfarçado cruzou com o seu.

Ed - Winry, este é o Dr. Constantino, ele veio oferecer mantimentos.

A protética mal o cumprimentou com a cabeça, assustada demais para lhe dirigir a palavra. O homem logo foi embora, deixando-os com um terrível silêncio opressor. Ao menos para ela.

Ed - Ainda bem que ele veio trazer o cobertor. Você não encontrou nada, certo? 

A mulher tirou os dedos das têmporas e percebeu que havia voltado com as mãos vazias, mesmo tendo saído para buscar roupas de cama.

A loira apenas assentiu, voltando a se escorar na janela.

Ed - Ele trouxe também esse rum, parece que é costume da cidade dele agradar com bebidas. Achei muito pertinente, porque estou precisando desanuviar a cabeça. - Abriu a tampa da garrafa, que parecia não estar lacrada.

Olhou para a protética, que claramente não lhe ouviu. Deu de ombros, afinal ela estava estranha há muito tempo. Serviu a bebida em pequenas doses e tomou duas seguidas. 

O gosto era forte, com um leve amargor no final, mas ainda assim saborosa. Sentou-se satisfeito de ter algo para se distrair até chegar à Central. Serviu-se de mais uma dose. 

Winry - O que está bebendo, Edward? - O loiro saiu de seus pensamentos com o susto que levou pela indagação exasperada de Winry. 

Ed - Um rum que o Constantino me deixou. Você quer?

O olhar da mulher estava tão assustado, que ele recuou o copo, tomando a dose ele mesmo.

Winry - Não tome isso, por favor! – Pegou o copo da mão dele, não antes de conseguir impedi-lo de virar o restante do líquido em sua boca. 

Ed - Qual é o seu problema? - Falou irritado, quase engasgando com o bebida. - Está virando religiosa ou coisa do gênero? 

Winry - Não beba isso, estou te implorando! - Estava quase chorando, o que assustou o loiro. 

Ed - Calma, calma, não vou tomar. - Pegou o copo da mão dela. - O que aconteceu? Você parece que viu uma assombração. 

Colocou ela sentada no banco, mas a garota tremia e chorava ao mesmo tempo. 

Winry - Não beba isso, pelo amor de deus. - Sussurrou, embora Edward não entendesse que dramalhão todo era aquele por causa de um maldito rum. 

Ed - Parece até que você encontrou aquele "cara" nos corredores do trem de tão assustada que está. - Deu uma risada, tentando descontrair, mas Winry não pareceu achar graça. 

O loiro levantou, andou de um lado a outro do vagão. Estava tudo muito esquisito por ali. Talvez algum passageiro a importunou ou até mesmo o homem que ela havia se relacionado estivesse indo atrás dela.

Ed - Você está muito estranha, Winry. - Pousou o dedo indicador no queixo, pensativo. - Foi ameaçada por algum homem? Tem alguém te perseguindo? Pode me falar. - Agachou-se próximo a ela. - Por acaso esse cara que você me falou tentou te forçar a alguma coisa que não queria? E agora está com vergonha de contar? 

Winry parou de respirar. Olhou-o chocada, ele estava imaginando de tudo para entendê-la. Provavelmente devia ter visto coisas horríveis nas guerras para chegar a uma conclusão drástica como aquela. Alimentar seu pensamento com situações negativas não seria bom. Apesar das lágrimas, ela negou com a cabeça. 

Winry - Não se preocupe, se algo assim me acontecesse, eu mataria quem teria feito isso. - Edward sentou no chão, aliviado. - Só estou sensível, fora de casa, longe de todos, desculpe-me agir assim de forma dramática. 

O homem suspirou de forma profunda, ainda que Winry soubesse que ele não engoliria totalmente a sua desculpa.

Depois de toda aquela cena que Winry julgou desnecessária mais tarde, ambos permaneceram lendo, cada um em seu canto. O loiro parecia introspectivo, até mesmo mal humorado, algo nada bom para o que ela pretendia mais tarde. Perguntou-se se realmente a substância que Lust havia colocado na bebida teria dado algum efeito. 

"Certo, garota, a noite está caindo lá fora, você precisa pensar em alguma aproximação", fechou a mão uma na outra, tensa. Olhou de relance Edward, compenetrado na leitura. O cenho franzido, maxilar apertado. Parecia muito incomodado. 

Winry - Está tudo bem? Você parece meio irritado. 

Ed - Estou bem. - Falou, seco.

"Winry, pense em algo que conecte vocês, mantenha-o perto de si". 

Winry - Posso desmontar o seu automail? - Falou, em um rompante. 

Ed - Por quê? - Fitou-a, após mais de uma hora compenetrado no livro. 

Winry - Estou entediada. - Deu um meio sorriso. 

Dessa vez ela tinha acertado na desculpa, era perfeita e bem implantada. Estaria se aperfeiçoando na técnica de mentir? Sacudiu a cabeça para esquecer a culpa.

Ed - Tudo bem? - Analisando Winry colocar e descolocar o parafuso em seu braço. 

Winry - Tudo ótimo. - Deu um sorriso muito tentador para ele. 

Edward respirou pesadamente, olhou os lábios rosados da protética, engoliu em seco. Voltou a fitar o teto, tentando se distrair. Há pelo menos uma hora estava lutando contra uma ereção muito indesejada. Agarrou-se à leitura e torcia para não ter transparecido à garota estar quase urrando de tesão. 

Precisaria dar um jeito naquilo rápido, sentia-se dolorido de tanto inibir a sensação. Voltou seu olhar para o que a protética fazia e quase gozou ali mesmo. Ela limpava uma ferramenta cilíndrica com um pano em um movimento de vai e vem tão ritmado que o fez imaginá-la fazendo aquilo em seu membro. 

"Porra, estou no cio por acaso?", engoliu em seco de tanto puxar o ar pela boca. Não era mais um adolescente para passar por aquilo. Sabia um caminho que faria tudo acalmar: assuntos brochantes. 

Ed - Que tal falarmos mais sobre a sua relação com o tal "cara"? - Colocou a mão esquerda apoiando o queixo para parecer que estava calmo. 

Viu que Winry não gostou. 

Winry - Não tem nenhuma relação, Edward. - Bufou. 

Ed - Não tem? - Tirou a mão do queixo, surpreso. 

Winry - Não. Não quero mais tocar nesse assunto. 

Ed - Foi só uma noite e nada mais? - Deu um sorriso debochado. Talvez o caminho da conversa não fosse o melhor, pois ele estava começando a imaginar o que não deveria.

Winry trincou a ferramente no seu braço, fazendo-o estremecer. Mesmo com a dor, Edward agradeceu a agressão, pois a protuberância cedera um pouco na calça. 

Winry - E se for? Uma noite e nada mais? - A loira lhe fitou nos olhos de forma tão intensa, que Edward cogitou se a pergunta teria algum duplo sentido. - Você tem algo contra? 

Ed - Eu? - Abriu os lábios ligeiramente vendo aquele rosto lindo como diabo lhe olhando tão profundamente e tão perto. - Se tenho algo contra passar uma noite apenas?

Por que aquela conversa parecia uma pergunta direcionada a ele? Estava ela propondo uma noite e nada mais? O loiro sacudiu a cabeça, sabia que o sangue não estava em seu cérebro. Sentia tudo com uma conotação sexual que não existia.

Winry - Você não passaria uma noite apenas com alguém? - Seu olhos eram tão inquisidores, que ele respondeu rapidamente.

Ed - Eu passaria sim. - A loira sorriu, desviando o olhar. 

Winry - Afinal, é o que desejam os homens, não é? 

Ed - O que eles desejam, Winry? - A protética levantou o semblante e viu os olhos dourados ainda a focarem, sem piscar.

"Uma puta noite de sexo forte. Era tudo que eu queria agora", pensou ele.

Winry - Uma noite sem compromisso, não é isso? - Abaixou novamente os olhos, aparafusando o resto das peças no corpo de Edward.

O loiro viu a mão delicada enfiando cada vez mais fundo a peça roliça do parafuso no buraco e teve a certeza de que estava enlouquecendo por ficar com tesão naquele gesto ridiculamente cotidiano. 

Ed - Termina logo isso, Winry. - Ela assentiu, apertando o parafuso com mais força, fazendo-o gemer de dor. - Porra, cuidado! - A dor dos nervos pinçados era torturante, mas mesmo assim deu um sorriso. 

Aquelas agressões gratuitas estavam fazendo ceder seu membro cheio de sangue, dando o alívio que ele precisava para raciocinar e não cometer uma besteira.

A noite já havia chegado quando Edward decidiu se distrair com um livro sobre alquimia. Após conseguir, mesmo com muita dificuldade, controlar sua ereção indesejada, debruçou-se sobre um livro maçante para fazê-lo esquecer os pensamentos tão abjetos que lhe atormentaram até pouco tempo.

O irmão Elric analisou a obra com cuidado. Em um dos capítulos havia todos os círculos de transmutações já vistos. Arrastando os olhos superficialmente, deparou-se com o círculo usado por ele para selar a alma de Alphonse na armadura.

Respirou fundo, aquele também era um assunto indesejado e difícil de lembrar. Com uma das mãos, passou o dedo indicador sobre a imagem, pensou se estaria tudo bem com o irmão e Pinako. 

Winry - Não se preocupe, Al está bem. - Edward desviou o olhar para Winry, surpreso. 

Ed - Achei que estivesse dormindo. - Visualizando a protética entre a penumbra da única lamparina acessa no ambiente.

A loira sentou-se, encostando-se no vidro gelado da janela. Abraçou os próprios joelhos. Edward viu que a garota não estava nem um pouco afim de dormir. Ofereceu-lhe a dose de rum que havia abastecido em seu copo. 

Ed - Vai te fazer bem, toma um pouco. - A protética entreabriu os lábios, parecia estar diante de uma grande tentação. - Pode pegar, vai dormir melhor. 

Winry - Não tenho tanto certeza disso, Edward. 

Ed - Você precisa aprender a relaxar, não meça tanto as consequências das coisas, caso contrário nunca vai fazer nada na vida.

Winry o olhou, estarrecida. Aquelas palavras eram tão certeiras em suas dúvidas, embora ele nada soubesse de sua guerra interna. Viu a bebida brilhar com o reflexo da luz da lamparina. Seria melhor ter um estimulante a não ter nada lhe ajudando em sua missão. Sair de sua consciência talvez fosse uma boa alternativa. 

Pegou o copo e tomou a dose de uma só vez.

Ed - Muito bem, sente-se melhor? - Derrubou mais líquido sobre o copo, tomando em seguida. Winry não iria mais impedi-lo, não quando ela mesma havia se alimentada da luxúria que lhe invadiria daqui a poucos momentos.

Ed - Sabe quem me ensinou essa coisa de relaxar a cabeça? - Rodou a dedo indicador no copo. - Hughes.

"Sim, Hughes, alguém que sabia demais", pensou Winry, exatamente como ela.

Winry - Eu imagino o quão doloroso é pra você falar dele. Era um ótimo homem do exército, um ótimo marido, um ótimo pai. - Falou, arrasada por lembrar que compactuava com o mesmo tipo de gente que o matou.

Ed - Ele era um aficionado em todas as áreas de sua vida.

Winry - Você não gostava disso, lembra?

Ed  - Hughes era chato com tantas fotos da esposa e a filha, embora eu preferisse que continuasse daquela forma.

Winry - Ele tinha orgulho da família.  Você nunca pensou que poderia ser um pai assim?

Ed - Não tenho cabeça para ser pai ou ter uma família. - Aquelas palavras foram como um grande soco no estômago da protética.

Estava decidida a cumprir o acordo com Lust, mas aquelas palavras a fizeram titubear novamente. Não podia colaborar com o mesmo grupo que matou Hughes e ainda dar a Edward algo que ele jamais desejou. Não era justo.

Ed - Parece que você está pensando demais de novo, não está seguindo o conselho do Hughes. Beba e durma, não fique sofrendo com seus próprios demônios. 

Winry aceitou, bebeu mais duas doses e se deitou. Ao menos se fosse dormir, não sentiria o desejo sexual que sabia que seria arrebatador. Poucos segundos foram suficientes para apagar.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Bom, aí está mais um capítulo da história.
Quem quiser dar dicas e sugestões, ficarei agradecida.

Beijos, seus lindos!
E obrigada por estarem seguindo minha história! (: