Work Out escrita por Nyuu D


Capítulo 1
Identificando-se




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Mariko coçou a cabeça. Os cabelos estavam num rabo de cavalo alto, com vários grampos segurando os repicados. O corpo suava, por causa da corrida final na esteira da academia, e suas panturrilhas pareciam arder em chamas. Ela caminhou devagar até o vestiário para pegar suas coisas e descer para a lanchonete do clube, onde poderia comprar um inocente suco de limão para refrescar.

Ela vinha comendo demais—e quando digo demais, é demais mesmo. Foram dez quilos a mais em duas semanas. Seu tempo de exercício resumiu-se em ficar de pé, eventualmente, na floricultura, enquanto fazia arranjos de flores ou pegava buquês e vasos prontos para o cliente. No resto do tempo, ela ficava sentada, comendo alguma porcaria.

Tudo culpa da maldita de sua ex-namorada, infeliz, trocou-a por alguma velha maluca.

Mentira, a mulher não era velha. Mas, como já estava na casa dos trinta, Mariko implicava constantemente que ela era velha, sim. Além de ser uma girafona, com aqueles 1,88m de altura. Quando deu de cara com as duas num café próximo de seu local de trabalho, faltou um pouquinho para Mariko não fazê-las engolir as xícaras.

Robin e Kori. Kori e Robin. Não soava muito bem. Nunca ia soar. Aquela ruiva safada, como tinha coragem?!

Mariko fechou a pequena porta do armário do vestiário com violência, sobressaltando a mulher ao seu lado. Ignorou-a, colocou os óculos no rosto e saiu dali, roendo as unhas. Ah, as unhas. Ela sempre cuidou muito delas, porque Kori gostava. Depois que elas terminaram, Mariko destruiu todas, já estavam no sabugo.

Aliás, ela mesma estava um pouco destruída. Mesmo que fingisse que estava tudo certo, era mais do que óbvio para qualquer imbecil que Mariko não estava nada bem, mesmo depois de quase um mês do término do relacionamento. Além de engordar, e das unhas roídas, ainda tinham as olheiras arroxeadas em volta dos olhos. O que continuava intacto era seu cabelo, porque disso ela jamais largaria mão de cuidar.

Passou pela catraca da academia e desceu rapidamente as escadas, puxando a calça de ginástica para cima. Estava escorregando, por causa dos pneuzinhos laterais...

“Que merda”, ela pensou, ficando repentinamente irritada e com fome. Entrou na lanchonete e foi até o balcão. O rapaz que trabalhava ali já a conhecia, ela passou os três primeiros dias de academia entrando ali para comprar água, porque esquecia a garrafa em casa. Havia perdido o hábito rapidamente.

– Oi, Usopp, me vê um refrigerante, um sanduíche de frango, uma empadinha de palmito e um pedaço grande de bolo de cenoura com chocolate.

O rapaz fez uma expressão de dúvida. Não fazia muito sentido ela dizer que estava ali para emagrecer, mas comer aquele monte de tranqueiras assim que saía da academia. Ela estava com o rosto avermelhado por ter secado após lavá-lo, parecia cansada, ainda. Estava com uma expressão de dor.

– Ok, pode ir até a mesa, eu já levo pra você. – Ele disse e observou-a sair. Mariko sentou-se numa mesa para duas pessoas. Massageou a panturrilha e pegou seu celular, olhando se havia alguma mensagem. Ou qualquer coisa do gênero.

No fundo, bem lá no fundo, ela achava que Kori iria magicamente arrepender-se da grande idiotice que fez ao trocá-la por aquela girafa, e correria para seus braços novamente. Então elas se amariam loucamente no chuveiro como da primeira vez, e depois dormiriam juntas, abraçadinhas na cama baixinha que Kori tinha no quarto...

– Pff – fez Mariko ao jogar o celular novamente na bolsa. Era mais fácil porcos voarem do que isso acontecer. Ergueu os olhos verdes para uma das mesas, colada nas grandes janelas da lanchonete. Havia uma mulher de cabelos ruivos. Ruivo natural. Laranja. Incrível.

Ela estava mexendo no celular também, parecia compenetrada no que escrevia. Mariko ficou distraída olhando para ela por um instante. De repente, Usopp apareceu para entregá-la alguma coisa, mas aparentemente, era a coisa errada.

– Usopp, eu não pedi esse monte de coisa, acha que eu tô bêbada, é?! Eu pedi um iogurte e uma água!

– Desculpa, Nami. Eu me confundi. Espera.

Ele começou a recolher as coisas e Mariko levantou.

– Não vou pagar por isso, não, viu! Mesmo que você tenha que jogar fora! E vê se não cospe na minha comida, ou te parto no meio.

A loira ergueu as sobrancelhas para o tom insano daquela ruiva. Ela tinha uma aparência de sereia, mas aparentemente, se abrisse a boca, tudo o que saía fedia a peixe.

– Usopp, esse pedido é meu – interrompeu Mariko, pegando a bandeja da mão do rapaz. Ele pareceu aliviado ao vê-la. – Me dá.

– Aqui, obrigado, Mariko-san. Eu vou lá pegar o iogurte.

– E a água! Eu acho que você não devia me cobrar, depois dessa confusão toda.

– Não posso fazer isso, Nami. – Ele usou um tom de desespero. A tal Nami estava claramente o pressionando de uma forma bastante ousada, como se ele devesse alguma coisa para ela.

Mariko crispou os lábios e sentiu uma fagulha esquentar seu corpo quando ela soltou a fivela dos cabelos. Eram bem longos e ondulados.

– Deixa que eu pago, vai. – Ela disse. Nami ergueu os olhos castanhos na direção da loira, achando a proposta realmente muito interessante. Nem sabia quem era aquela maluca, mas se ela se propunha a pagar, qual o problema?

– Tá legal. Pode pagar, não me importo. – Nami se ajeitou na cadeira, arrumando os cabelos para trás e vestindo melhor a regata no corpo.

– Posso sentar, também?

– Pode. – Ela indicou a cadeira em frente com a cabeça.

Mariko acomodou-se na mesa e, de repente, ficou meio que com vergonha da quantidade de comida que havia em sua bandeja. Ela estava tentando emagrecer. Bem, fazia uma semana que havia entrado lá, mas a dieta tinha que valer. Seu último ataque de gula fora exatamente no mesmo dia em que começara a academia. Ela comeu tanto que achou que, se não começasse logo a se exercitar, ia acabar enfartando.

Suspirou e lembrou-se que ainda estava com fome e irritada, por isso, pegou a empadinha e mordeu. Nami continuou distraída com seu celular. Fez uma careta.

– Algo errado? – Mariko perguntou, de boca cheia.

– Nada. Tô falando com minha... Meu... Hum. – Torceu os lábios. Nami não tinha problemas com sua sexualidade, apenas não achava relevante falar disso para uma estranha. – Nada. Esquece. Terminei um relacionamento recentemente.

– É mesmo? – Foi dizendo a loira enquanto abria a latinha de refrigerante num estalo. – Eu também, bem recentemente. A maluca me trocou por outra qualquer. Quase que eu matei as duas e enterrei vivas. – Enfiou o canudo na latinha e bebeu um gole.

Nami a olhou com curiosidade. Achou estranha a total falta de coerência na última frase da loira, mas entendia esses erros de lógica causados pelo aborrecimento. Achou também engraçado que, ao contrário dela mesma, aquela mulher aparentemente não tinha problema em sair por aí falando que namorava outra mulher...

Usopp apareceu com o iogurte e a água de Nami, pedindo desculpas pela demora. A ruiva não deu muita importância, o que, no fundo, deixou Usopp bastante satisfeito.

– É... Bom. Eu estava falando com ela. – Nami continuou. Mariko estava com os olhos na comida. – Ela fala num tom que me irrita. Sabe, irrita de verdade. Como se nada tivesse acontecido, como se ainda pudéssemos ser amigas. Esse jeito dela sempre me deixou feliz, mas agora me irrita demais.

– Sei. – Mariko mordeu o sanduíche, porque já havia terminado de comer a empadinha. – Sei como se sente. Fui trocada por uma piranha qualquer, pior, da terceira idade.

– O quê?! – Nami ficou horrorizada.

– Não, é maneira de dizer. Ela não é tão velha assim. – Mariko corrigiu-se, voltando os olhos para Nami mais uma vez. Ela pareceu ficar aliviada. – Ela também não é uma piranha. Mas falar assim me faz sentir melhor.

Nami identificou-se imediatamente com aquilo.

– Sabe, sei que não é da minha conta, mas... – A ruiva analisou a outra com uma aparente frieza, olhando-a nos cantos visíveis dos seios para cima. – Por que está comendo tanto, se estava na academia?

Mariko olhou para o sanduíche em sua mão, depois fez um ruído de irritação e largou-o sem nenhuma educação sobre o prato na bandeja. Olhou para Nami enquanto batia os dedos uns nos outros, livrando-se dos farelinhos do pão. – Porque eu sou uma idiota, tá legal? Eu não fui sempre gorda desse jeito, eu já fui bonita assim que nem você, mas minha ex-namorada maldita me deixou tão deprimida que eu não consigo parar de comer. E fumar. É isso que você queria ouvir?

Nami ficou surpresa com a agressividade totalmente gratuita e repentina de Mariko, visto que ela havia perguntado de um jeito até que bastante educado para seus padrões costumeiros. Porém, parecia que a loira ainda estava muito afetada com o término do relacionamento, o que desencadeou essa reação infeliz. E, como se tratava de uma estranha, Nami não se compadeceu com o sofrimento dela, como faria normalmente.

– Você é maluca? Eu só perguntei.

– Pois não foi uma boa pergunta. – Mariko jogou a bolsa no ombro e pegou a bandeja, levantando-se para sair dali. Nami pensou em dizer alguma coisa, mas não sabia o que falar. Era melhor mesmo que ela saísse.

Se bem que...

– Ei. Você disse que ia pagar meu iogurte e minha água!

– Não me lembro de ter dito isso.

Nami trincou os dentes, vendo Mariko jogar a bandeja numa outra mesa qualquer e começar a devorar o sanduíche com mordidas enormes.

 Esfregou os olhos e olhou para seu celular. Uma mensagem nova havia apitado, mas ela não percebeu, porque se distraiu com a loira. Era Robin, dizendo que elas poderiam sair naquele fim de semana, para ver uma loja nova que havia aberto no centro da cidade.

Você está brincando, não está?, respondeu Nami. Depois, desligou o celular.

Guardou-o em sua mochila e começou a finalmente comer o iogurte, após abri-lo. Seus olhos inconscientemente iam até Mariko, que devorava a comida como se fosse sua última refeição, e empurrava tudo com o refrigerante. Parecia uma doida. Ela não ia conseguir emagrecer daquele jeito.

Nami ficou com pena, mas continuou irritada, porque havia perguntado na maior boa vontade. Sem ironias. Porque havia se identificado com o problema dela; a diferença é que, ao contrário de Mariko, Nami ficava sem fome quando ficava triste. Havia emagrecido dez quilos ao invés de ganhar, e perdera um pouco de suas curvas. Nem o sutiã ficava totalmente preenchido como antes.

Suspirou, olhando depressiva para seu iogurte na bandeja, com a garrafa de água gelada. Muito provavelmente não iria conseguir engolir aquilo, mas achou melhor pelo menos tentar. Ia acabar adoecendo caso não se hidratasse após duas horas de exercício sem parar.

Mariko já estava furando o bolo com o garfinho e levava pedaços generosos à boca, como se quisesse apenas terminar logo aquilo e ir embora de uma vez.

Depois de terminar o iogurte, Nami levantou-se para ir pagar. A loira já havia saído.

– Hum, a Mariko-san pagou, Nami.

– Ué? Ela disse que não ia mais pagar.

– Mas ela pagou – Usopp foi falando enquanto secava um copo. Ele não era do caixa, mas Nami sempre acabava acertando com ele, porque se conheciam de tempos passados. A ruiva franziu as sobrancelhas, não entendendo por que diabos Mariko mudaria de ideia na hora de pagar. Mas, de qualquer forma... Melhor para ela.

Quando saiu da lanchonete e foi para a rua, Nami viu Mariko parada no ponto de ônibus, fumando um cigarro. Ela começou a arrancar os grampos dos cabelos e soltou-os, sacudindo para que fossem para o lugar. Nami cruzou os braços. Também tinha que pegar o ônibus, então foi obrigada a ir até o ponto.

Parou meio longe dela. Mariko a olhou e fingiu que não viu. Nami fez o mesmo.

Pegou o celular e ligou, porque o desligara por pura infantilidade. Quando o aparelho conseguiu sinal, uma mensagem de Robin apareceu na tela.

Não estou, não, Nami-chan. Eu só queria sua companhia. Nós fomos amigas por muitos anos, por que não podemos continuar assim? Podemos nos encontrar na garagem do prédio mais tarde.

Nami pensou em responder de forma bastante grosseira, mas achou melhor não.

Ela e Robin moravam no mesmo prédio, o que fazia com que Nami estivesse constantemente evitando estar na presença da morena sob qualquer circunstância. Não entrava no elevador se visse que Robin estava lá, coisas do gênero, para não ter que ficar muito tempo ao lado dela. Mesmo assim, às vezes era difícil evitar.

Não respondeu a mensagem. De vez em quando, o silêncio é melhor do que qualquer resposta.

Quando Mariko chegou à academia no dia seguinte, Nami já estava dentro da sala de spinning. A loira parou na porta e espiou lá dentro, observando enquanto as pessoas se arrumavam para começar aquela aula. As seções aconteciam de 15 em 15 minutos, cada aula com 45 minutos de duração.

O professor observou a curiosidade de Mariko na porta e aproximou-se com um sorriso simpático.

– Quer participar? Você pode fazer uma aula experimental, se nunca fez antes.

– Tem custo adicional na mensalidade?

– Não – ele sorriu. – Só vir nos horários certos das aulas. É bom, trabalha o corpo todo, principalmente as pernas. Vamos, suba ali numa bicicleta.

Mariko suspirou, pensando que iria ficar exausta com aquilo, mas aparentemente dava bons resultados. Todo mundo naquela sala tinha corpos muito bonitos. Foi entrando e olhou as bicicletas, pensando se deveria pegar aquela livre bem ao lado de Nami.

Foi subindo as escadas que colocavam as bicicletas em sequência e colocou a garrafa de água no suporte.

Nem tinha um motivo específico para ir ficar perto dela. Talvez, apesar de ter se irritado muito com a conversa, ainda estivesse identificando-se com ela de forma que instintivamente se atraísse para perto da ruiva. Nami a olhou com uma expressão indiferente e voltou a concentrar-se no que quer que estivesse lendo num jornal. Parecia a editoria de economia.

Mariko subiu na bicicleta, depois desceu novamente para ajeitar a altura do banco. Só então se acomodou adequadamente e ficou esperando a aula começar.

Quando isso aconteceu, ela percebeu que cometeu um erro; seu corpo claramente não estava fisicamente resistente o suficiente para aguentar uma aula puxada de spinning. Ela estava suando tanto que sentia suas costas ensopadas grudarem na regata soltinha. E o suor do rosto pingava nos joelhos. A respiração estava pesada e exausta, suas pernas não aguentavam mais.

Ela normalmente mantinha o peso sem comer muito, o que não exigia exercícios drásticos além dos movimentos diários. Mas comer desenfreadamente desencadeou uma necessidade de fazer exercícios—além do problema do cigarro.

Nami olhou para o lado e viu que Mariko claramente não estava acompanhando o ritmo da aula. Seus cabelos ruivos estavam bem presos numa fivela, e ela suava sem muitos exageros. Estava acostumada com as aulas de spinning, embora fossem bastante cansativas. Mas parecia que Mariko iria desmaiar a qualquer momento.

– Ei, tá tudo bem aí? – Ela disse, fazendo a loira virar o rosto para olhá-la.

– Não sei, não. – Ela tossiu, pegando a garrafa de água para tomar um longo gole. Depois, soltou o ar com violência pela boca. – Acho que vou desmaiar.

– Não é pra tanto, spinning não é algo tão puxado assim.

– Mas eu—

Mariko perdeu a consciência e caiu para o lado na bicicleta, dando com as costas no chão. Nami deu um grito e pulou de sua bicicleta, indo ajudá-la a se levantar. Mas, ela estava mesmo desmaiada. O professor também correu para socorrer a aluna e a levar até a enfermaria da academia.

Quando Mariko acordou, Nami estava conversando com a enfermeira.

– O quê? – Disse a loira de repente, chamando a atenção das duas mulheres. – O que foi que aconteceu?

– Você jantou antes de vir pra cá? – Perguntou Nami com uma voz autoritária, cruzando os braços rigidamente. Mariko massageou as têmporas; estava com muita dor de cabeça.

 Olhou para a ruiva, que ainda a encarava com uma expressão irritada, como se Mariko fosse uma criança completamente sem juízo que merecesse uma boa lição de moral. A loira não respondeu; deitou novamente na pequena cama/maca que havia na enfermaria, e revirou os olhos antes de fitar o teto.

– Me responde, mulher!

– Eu não comi, não. Não comi nada!

– Você é maluca, é? Idiota?! – Nami foi até a cama e deu um tapa no colchão fino, fazendo Mariko se sobressaltar. – Sua imbecil, como fica o dia todo sem comer, depois vem pra aula de spinning?

A enfermeira olhou para as duas com uma expressão claramente horrorizada. A moça ruiva havia dito anteriormente que elas haviam se conhecido no dia anterior, não eram muito amigas, mas que ela queria ficar para esperar a outra acordar. E agora ela usava aquele tom absurdo com alguém desconhecido. Parecia até piada, quanta falta de educação.

– Não foi você que disse que eu estava comendo demais, não?

– Mas eu não disse pra você não comer nada! Tem que comer, só não precisa comer uma tonelada de coisas. Vamos agora mesmo na lanchonete pedir algo pro Usopp.

 Nami bateu palmas duas vezes, incentivando Mariko a se levantar. A loira empurrou o corpo para cima com a ajuda das mãos e fez uma careta de dor, porque sua cabeça começou a latejar ainda mais a partir do momento em que se levantou. Pôs as pernas para fora da maca e a enfermeira veio perguntar se estava tudo bem, se ela poderia ir mesmo até a lanchonete, ou preferia ficar ali um pouco mais.

Mariko afirmou que estava bem, queria apenas um remédio para dor de cabeça. A mulher deu a ela um copinho com o comprimido e disse para Mariko tomá-lo apenas após comer alguma coisa.

Assim que saiu da enfermaria com Nami, a loira desobedeceu as ordens da enfermeira e colocou o comprimido na boca, engolindo-o com água.

– Ela falou pra só tomar depois de comer!

– Que diferença faz? Eu vou comer agora, mesmo.

Nami revirou os olhos e apressou o passo. Às vezes sua benevolência desafiava sua paciência.

Na lanchonete, Nami pediu para Usopp trazer um sanduíche natural de atum e um suco de laranja. Mariko fez careta, e a ruiva trocou então por um sanduíche natural de peito de peru. Quando entraram em acordo, as duas foram sentar numa das mesas duplas.

– Você não precisa parar de comer para emagrecer. Basta comer direito.

– Pra você é fácil, é toda magrinha.

– Você me disse que já foi assim antes, então não tem que ficar falando besteira. Engordou porque quis, agora tem que querer perder os quilinhos a mais.

Mariko riu com sarcasmo. – Eu ganhei dez quilos em duas semanas. E ao invés de fumar um maço por semana, como de costume, tô fumando um maço a cada dois dias.

Nami apoiou o rosto na mão e ficou olhando para a mulher, que balançava a cabeça de forma negativa e fazia um bico de descontentamento, os olhos encarando o vazio.

– Eu perdi dez quilos em duas semanas, e não consigo comer. E também tenho bebido com mais frequência do que antes. – Nami ficou olhando para ela, embora o olhar não fosse retribuído. – Eu sou forte pra álcool, então tenho que beber muito para ficar bêbada.

– E daí? – Mariko a encarou. – Tanto faz. Beba vodka, não coma quase nada e faça exercícios. Vai emagrecer fácil desse jeito. Pelo menos você não devora uma pizza inteira sozinha só porque comer te faz esquecer as merdas que teve que ouvir e ver.

Nami ficou compadecida dessa vez. Não sabia o que dizer, porque no ponto de vista de Mariko, ela estava em vantagem – e talvez, até estivesse, se fosse olhar o contexto. Mas ser magra demais também não é saudável, então, ambas tinham um problema para resolver.

 – Quer ver por que tipo de mulher minha ex me trocou? – Mariko falou com um tom que revelava sua total falta de autoestima. – Aquela velha.

– Hum, pode ser.

A loira pegou o celular dentro da bolsa e começou a mexer nele rapidamente, procurando por alguma coisa. No meio tempo, Usopp trouxe o sanduíche e o suco de laranja. Mariko ficou bebericando no suco enquanto vasculhava o aparelho, dizendo que estava procurando pela foto na internet, na página da rede social de sua ex-namorada.

Nami puxou um pedaço de peito de peru picado de dentro do sanduíche e mastigou.

– Aqui. – Mariko virou o celular para Nami. – Essa aqui.

A ruiva pegou o aparelho e o trouxe para mais próximo do rosto a fim de olhar melhor. E aí, seu queixo caiu.

– R-R-Robin! – Nami exclamou, gaguejante, sem acreditar que estava mesmo olhando para o sorriso fechado e dócil de Robin na fotografia, ao lado da mulher de cabelos carmesim e sorriso esperto, um dos olhos verdes piscando para a câmera. – É a Robin! É a minha ex-namorada!

– O quê? – Mariko tomou o celular da mão da ruiva. – Essa mulher é sua ex-namorada?!

– É sim, é a Robin. Eu não acredito. – Nami segurou a cabeça com as mãos e apertou, engalfinhando os fios laranja nos dedos, puxando como se tivesse entrado em pânico. – Sua ex trocou você pela minha ex. E eu fui trocada pela sua. E por causa das duas vacas você está assim, e eu assim. Eu já tinha visto essa ruiva com ela, mas como que eu ia imaginar que era sua ex?! – Ela bufou grosseiramente. – Eu quero matar as duas!

Mariko ergueu as sobrancelhas em surpresa com a reação assassina de Nami, mas achou meio interessante.

Repentinamente, Kori nem fazia muita diferença—o fato de tê-la trocado pela ex-namorada de Nami parecia quase uma espécie de karma, ou simplesmente um grande sinal. O mundo era pequeno, Mariko sabia disso, mas não que fosse a esse ponto.

– Sabe o que você vai fazer, Mariko-san? – Nami bateu a mão na mesa e apontou para a loira. – Você vai perder esses quilos aí e vai ser a mulher mais gostosa que qualquer um já viu. E eu vou ganhar a massa magra que falta pra encher meu sutiã de volta e elas vão se arrepender de ter nos deixado sozinhas.

Mariko deu risada. Aliás, foi a primeira vez que ela riu sinceramente em quase um mês inteiro.

– Tá rindo do quê? Eu tô falando sério!

– Eu sei. Só achei engraçado, porque você de repente ficou bem decidida. – Mariko pegou o sanduíche e deu uma mordida. Tinha alface, tomate e um molho dentro do pão baguette. A cabeça ainda estava doendo bastante, mas seu humor parecia muito melhor. Talvez o fato de saber que não havia sido a única prejudicada na história tivesse feito bem para ela, embora isso fosse um pouco doentio de sua parte.

Mas, pelo menos, se ela não estava sozinha, Nami também não estava mais.

– Não quero saber. Eu vou controlar sua dieta e você vai emagrecer de novo. Vai ficar linda e deixar essa puta aqui arrependida de ter tirado a Robin de mim.

– Ela não é uma puta – Mariko soou ofendida.

– É sim! Ela te trocou por outra!

A loira fez uma expressão aborrecida. No final das contas, Kori ainda era sua Kori; e se havia alguém que podia falar mal dela no universo, era só ela mesma. As demais pessoas não podiam abrir a boca para ofendê-la, de jeito nenhum.

– Só uma pergunta, Nami-san. – Mariko deixou o sanduíche na bandeja. – Eu era magra quando estava com a Kori, e ela me trocou mesmo assim. O que faria ela mudar de ideia, só porque eu fiquei magra de novo?

Nami crispou os lábios para o lado e fez um biquinho de confusão, parecendo não muito satisfeita com a pergunta. Não havia pensado nisso, na realidade. Sua única ideia mental fora fazer com que Robin e a tal Kori se arrependessem de ter trocado duas mulheres tão bonitas uma pela outra... Mas, pensando bem, isso realmente não fazia muito sentido.

– Hum, vamos fazer elas ficarem com ciúme. – Nami gesticulou, como que tendo uma pequena epifania. – Eu sei onde a Robin normalmente vai, ela que sempre me arrastava naqueles bares esquisitos. Deve continuar indo lá.

– Ciúme do quê?

– De nós. Oras. Vamos fingir que estamos juntas.

– Que coisa mais clichê. – Respondeu Mariko após engolir o suco. A ruiva bufou com irritação. Aquela mulher bem que podia colaborar um pouco mais com seus planos vingativos infantis. Não importava que fossem clichês, o que importava é que, provavelmente, surtiriam um pouco de efeito. Pelo menos em Robin, talvez, visto que as duas realmente foram amigas por anos, logo, um sentimento forte ainda as ligava de alguma forma.

– Tanto faz. Mas, se a tal da Kori ainda se importa com você, ela provavelmente vai pensar alguma coisa, não vai?!

– Hum, não sei. A Kori é meio imprevisível. Mas, talvez fique sim meio aborrecida. Ela é bem possessiva.

– Então, minha querida. – Nami encostou-se e ficou olhando enquanto Mariko dava os ombros e mastigava o sanduíche. Ela parecia ter simpatizado mais com a ideia, o que deixou Nami bastante entusiasmada. – Temos um objetivo agora. E, se quer saber, para sua sorte... – Ela debruçou-se sobre a mesa e olhou para Mariko mais de perto. – A Robin mora no meu prédio, cinco andares para baixo.

– Nesse caso, acho que vou passar a frequentar seu apartamento.


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