O Preço de Amar Um Malfoy escrita por BlissG


Capítulo 34
Mantenha seus olhos abertos


Notas iniciais do capítulo

E a pior parte é que antes de ficar melhor, nós vamos para um precipício (Paramore Turn It Off)



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- Estou com um péssimo pressentimento. – Hermione sussurrou.


Draco revirou os olhos.


- Desde quando você é tão negativa, Granger?


- Desde quando você é tão positivo, Malfoy?


- Não é questão de ser positivo, é questão de aproveitar oportunidades. – tentou explicar pela milionésima vez, o mais paciente que pôde. Não entendia porque ela estava tão receosa quanto aquilo. - Nós não vamos ser de utilidade nenhuma presos nesse lugar, quantas vezes eu vou ter que te dizer isso?


Ela não respondeu.


- Eu não posso fazer isso sozinho, Hermione. – disse ele, quando viu que ela não ia falar nada - Você precisa colaborar comigo pra nós conseguirmos dar o fora daqui. Você vai fazer isso?


Ela o observou por um segundo, sem saber se sentia raiva ou orgulho pela atitude corajosa dele.


- Eu estou aqui, não estou?


Não era o que ele esperava, mas pelo jeito não iria conseguir nada melhor.


Depois de andarem pelo castelo por alguns minutos, tinham encontrado uma escada que dava para o porão do lugar. No porão havia um alçapão que dava para a floresta e agora precisavam escolher um bom momento pra fugirem. Mas na medida em que o tempo ia passando, ficava cada vez mais claro que o bom momento nunca ia chegar. Muito pelo contrário. Parecia que quanto mais o tempo passava, menor ficava o tempo em que eles teriam para escapar.


Havia alguns poucos comensais – em comparação ao número perturbador que andava pelo castelo normalmente - espalhados do lado de fora do castelo e alguns poucos comensais vigiando as portas do lado de dentro. Seria impossível sair sem serem vistos. O que eles tinham que fazer era conseguir chegar em algum ponto em que seus poderes funcionassem, aí sim talvez tivessem a oportunidade de uma luta justa.


- Nós temos que ir. – Draco disse – Você está pronta?


Ao dizer isso ele estendeu a mão pra ela e Hermione a aceitou. Ela achava que aceitaria se ele estivesse lhe oferecendo a mão pra se jogar com ela de um precipício, depois repreendeu o seu próprio pensamento, pensando em como soara como uma idiota dramática.


Eles não conseguiram correr nem 100 metros sem serem vistos.


Continuaram correndo enquanto ouviam um dos poucos comensais restantes no castelo sinalizarem para os dementadores que sobrevoavam o lugar com uma espécie de assovio assustador e quando Hermione sentiu aquela sensação terrível ficar ainda mais forte do que nos últimos dias, ela não precisou nem olhar pra trás pra saber que eles estavam perto.


Sabia que aquela tinha sido uma péssima ideia, que não havia escapatória para eles ali. Mas agora que estavam do lado de fora, ela também sabia que precisavam tentar até o final. Mesmo que o final muito provavelmente significasse a morte dos dois.


Seu coração batia forte, sua respiração estava completamente descompensada e tudo que conseguia pensar era nas pessoas que precisavam da ajuda deles e que iriam morrer por causa daquela atitude estúpida. Não sabia quando tinha ficado tão medrosa, mas sabia que já sentia culpa demais pra lidar. Nem percebeu quando seus pés deixaram de tocar o chão e um dos braços de Draco passou pelas suas costas enquanto o outro segurava a parte de trás dos seus joelhos.


Eles tinham conseguido. Pelo menos conseguiram alcançar a parte da floresta em que seus poderes tinham voltado a funcionar. Prova disso era que Draco, para a (in)felicidade de Hermione, tinha conseguido voar.


Draco estava tentando se esforçar ao máximo para voar o mais rápido possível, mas ele tinha estado completamente sem poderes durante muito tempo então ia demorar um pouco até estar em sua total forma, assim como sabia também que Hermione precisava esperar antes de lançar um feitiço nos dementadores já que eles precisavam que o feitiço fosse forte o suficiente para afastá-los de vez. Apesar de que, os poderes de Hermione eram a coisa mais sinistra que ele já tinha visto na sua vida. Talvez o patrono fraco dela, ainda valesse o de três aurores devidamente treinados para espantarem dementadores.


- EXPECTO PATRONUM!


Draco não olhou para trás, mas quando sentiu aquela sensação de desesperança passar, ao mesmo tempo em que sentia Hermione soltar o ar dos pulmões, ele soube que tinham um obstáculo a menos.


******


No silêncio de um castelo deserto, seis pares de pés batendo no chão de pedra do lugar parecia mais com uma manada de elefantes.


- Gina, e aí? – Harry perguntou á ruiva, que estava segurando a bússola agora.


- Estamos no caminho certo, vamos lá. – ela respondeu apertando o passo.


- Espera! – Luna segurou no braço da amiga, a impedindo de ir em frente – Conseguem ouvir isso?


Os outros cinco ficaram em silêncio e depois de dez segundos, encararam a garota com idênticas caras de interrogação. Ninguém ouvia nada.


- Tem mais gente aqui... – ela sussurrou começando a olhar em volta como se o que quer que fosse, estivesse prestes a sair de dentro das paredes do corredor onde estavam – Eu posso sentir.


- Gente. – Gina olhava assustada para a bússola nas suas mãos – Tem alguma coisa errada...


Eles se aproximaram da ruiva e viram os ponteiros da bússola começarem a girar como se tivesse enlouquecido.


- Vixe, deu tilte na bússola do centauro! – Lucas exclamou.


- O quê? – Pansy o olhou como se ele fosse louco.


- Nós a deixamos na água por um bom tempo, não é? – ele explicou.


Harry revirou os olhos.


- Lucas, eu não acho que o tal Phobos ia dar pra Hermione uma bússola que não fosse a prova d’água... – zombou.


Gina bufou.


- Vocês não veem? A droga da bússola está rodando assim porque ela não sabe pra onde apontar, porque ela não sabe em que ponto parar...


- Porque tem magia negra em todo canto do castelo agora... – disse Luna.


- Ai, Merlin... – Pansy murmurou - Isso só pode significar uma coisa.


- Tem comensais aqui. – Rony completou.


******


Esqueça as incontáveis vezes em que Hermione se viu á noite na Floresta Proibida ou a floresta do Castelo de Naworth, aonde ela teve que ir com Harry e Rony atrás de uma das horcruxes, aquela sim era a floresta mais fechada e assustadora que a morena já tinha passado na sua vida. E ela esperava, do fundo do seu coração, não precisar passar por nenhum lugar pior.


Eles estavam seguindo um rio que corria ali perto e que Draco achava que ia dar em algum lugar com pelo menos uma sombra de civilização.


- Por que nós não podemos voltar a voar? – ela perguntou. Não que fosse fã da atividade, mas no momento ela parecia bem tentadora. Agradeceu a Merlin por estar de dia porque se não se enganava, estava em época de lua cheia e a última coisa que precisavam era se preocuparem com lobisomens pulando neles a qualquer momento.


- Nós não queremos chamar atenção, Hermione... Esqueceu?


- Parecia mais seguro... E mais claro... Pelo menos a gente estava em cima das árvores... Nada podia tapar a luz do sol. Ai!


- O que foi?


Ela tinha tropeçado em um galho cheio de espinhos que estava no chão.


- Que droga! – se abaixou e olhou para a ferida recém-aberta. Dava pra ver pequenos espinhos na sua pele, em meio ao sangue que tinha começado a escorrer. – Outra coisa boa de estarmos lá em cima: nós podíamos enxergar onde estávamos indo...


Ela ficou de pé mas como se não bastasse, sua perna estava doendo muito.


- Desde quando você tem mais medo de escuro do que de voar? – ele conseguiu soar divertido apesar de tudo.


- Primeiro, eu não tenho medo de escuro. Segundo, eu não tenho medo de voar, eu tenho medo de cair. Terceiro, desde quando você é tão corajoso? – ela replicou, decidindo que a atitude dele a deixava com raiva, definitivamente.


- Algum problema com isso?


Sim, ela tinha. Odiava o fato de estar soando como uma donzela em perigo desde que chamara Draco para o castelo. Cada vez se arrependia mais de ter feito aquilo. A última coisa que precisava era parecer fraca na frente dele. Já não bastava todas as coisas que tinha feito e tudo que tinha acontecido e que tinha se mostrado incapaz de lidar durante os últimos longos meses. Devia ter arrumado um jeito de fazer isso sozinha.


Ao invés de dizer tudo isso, ela apenas ficou em silêncio.


- Vamos esperar anoitecer, ok? – ele tentou soar confortador - Vai ficar mais difícil de sermos avistados no escuro. Agora está mais sombrio aqui embaixo, então é por aqui que vamos.


Hermione queria reclamar mais mas somente deu de ombros. Ela, ao contrário dele, não tinha passado metade da sua vida dormindo em uma masmorra e a outra metade numa mansão fria e escura. Não tinha medo de escuro, mas qual o problema com lugares claros?


- Tanto faz. Eu preciso de água pra limpar esse ferimento e fazer um feitiço...


Com isso, ela apertou o passo e caminhou para a margem do lago.


Draco pensou em ir atrás dela, mas achou melhor ficar longe um pouco. Hermione estava com um péssimo humor e ele sabia o quão estranha era ela. Era melhor correr quando parecia pacífica.


Ela se abaixou perto do lago e lavou o rosto e ele respirou fundo, se perguntando o que seria deles agora. Se conseguissem sair dali, deveriam voltar para a mansão? Seus amigos não estavam mais lá então talvez não fosse uma boa ideia... Se ele e Hermione conseguissem escapar aqui e eles conseguissem escapar lá, eles teriam que dar um jeito de se encontrarem... A guerra estava quase no fim e por mais estúpido que seu pai achasse, ele queria muito estar com Lucas e Pansy quando o momento chegasse.


Distraído pelos pensamentos, ele só foi perceber que tinha alguma coisa errada quando ouviu o barulho de algo batendo na água. Arregalou os olhos quando viu Hermione caída na água rasa do rio.


Ele correu até ela mas antes que pudesse alcançá-la, um cavalo-alado pousou ao lado da garota e um dos comensais de antes a pegou como uma boneca de pano pela cintura, a colocando em cima do animal e a levando embora.


- HEY! – ele gritou já preparado para atirar um feitiço contra o animal mas tudo aconteceu muito rápido. No instante em que o seu feitiço estava prestes a ser lançado, um outro feitiço atingiu Draco no peito, o atirando contra o tronco de um árvore, e o mantendo preso lá, a metros do chão enquanto ele ouvia a risada dos comensais se afastando.


O loiro gritou em frustração e conseguiu se livrar do feitiço, mas quando seus pés bateram novamente no chão, o comensal que tinha levado Hermione em um cavalo-alado e os outros que tinham aparecido já estavam longe do alcance de qualquer feitiço.


*****


- Está muito quieto aqui... – Gina comentou enquanto eles andavam em silêncio pelo castelo, seguindo em direção ao lugar em que a bússola tinha apontado antes de começar a rodar sem parar.


- O que você queria? – Pansy perguntou – Nós destruímos uma parede do lugar!


- Eu não quis dizer isso... – a ruiva respondeu – Quer dizer, não é estranho que  ninguém tenha vindo atrás da gente ainda? Não é possível... A bússola não pode ter simplesmente pifado...


- Ah, não! – Rony exclamou – Por favor, estamos muito bem assim, obrigada! Da última vez que alguém reclamou da facilidade em pegar uma horcrux, nós quase nos afogamos! – ele lançou um olhar feio a Lucas, que revirou os olhos.


Continuaram indo na mesma direção mas acabaram chegando em um corredor sem saída.


- Será que passamos pela horcrux e não a vimos? – perguntou Gina de cenho franzido.


- Acho pouco provável... – disse Harry.


Os seis olharam em volta, como se o pomo fosse se revelar pra eles a qualquer momento.


Luna suspirou.


- Ela está aqui. – a loira disse – Só não nesse andar.


- Como você sabe disso? – Pansy perguntou.


Luna deu de ombros.


- É meio óbvio. A não ser que a bússola tenha mesmo dado defeito, e estava apontando pro lugar errado o tempo todo... Mas também não acho isso possível...


- Bom, ela pode ter voltado lá pra baixo... – Harry falou.


- Não... – Luna respondeu, olhando para o teto – Está lá pra cima...


- Mas esse castelo deve ter dezenas de andares! – Lucas exclamou – Você pelo menos sabe em qual andar está??


Luna parecia muito em dúvida.


- Acho que deve estar no último ou se não, algo bem perto disso... Não acho que estamos próximos dela agora...


Pouco antes de Luna terminar de falar, eles ouviram um barulho de porta abrindo e fechando logo em seguida e então aquela voz irritante que todos conheciam e odiavam:


- Querido Potty, uhuul! Adivinha quem chegou pra animar a festa!


Todos eles olharam em volta assim que ouviram a voz da Bellatriz Lestrange mas era impossível saber de onde vinha, ela devia estar usando um feitiço amplificador pra se fazer ouvir em todo castelo.


- Eu sei que você não está sozinho, então eu vim acompanhada também! E você não vai acreditar em quem está a caminho!


- Ai, meu Deus, ela está falando de Voldemort?! – Gina sussurrou pros amigos.


- Não diga o nome dele! – Pansy e Lucas sussurraram de volta.


- Ok. – Harry respirou fundo – Vamos todos ficar calmos.


- O que fazemos? – Luna perguntou. – Ele está vindo. Eu tenho certeza que está. E não vai demorar.


- Ah, disso você tem certeza? – Pansy ironizou.


- Ok. Vamos nos separar. – falou Harry - Luna e Gina, vocês vem comigo, vamos tentar encontrar a horcrux de uma vez por todas. Rony, Pansy e Lucas tentam distrair os comensais.


- Distrair como? – Rony perguntou.


- Eu não sei, Rony... – Harry se sentiu mal por colocar todos eles naquela situação - Mas acho melhor evitarem confronto, eles podem ser muitos...


- Reconfortante... – Lucas murmurou.


- Sinto muito... – Harry abriu a bolsa e tirou sua capa de invisibilidade de lá – Aqui, tomem...


Rony a pegou enquanto Lucas ria.


- Então Draco estava certo... Você tem mesmo uma capa de invisibilidade!


- Podemos nos apressar? – falou Rony, desesperado.


- Só tentem ganhar tempo, ok? – Harry disse a eles, começando a se afastar.


Luna deu um beijo em Rony e os dois trios saíram em direções opostas.


*****


Draco voou o mais alto que pôde e tentou avistar os comensais com Hermione ao longe. Eles eram três, e o que levava Hermione era o do meio. Assim que os viu, tentou ir em sua direção o mais rápido que podia. Ela ainda estava desacordada, amarrada precariamente na parte de trás do cavalo alado.


Ele passou na frente dos três animais. Ou seis, se contasse com os animais montados nos animais.


- Indo a algum lugar?


Dessa vez ele não se deixou interromper. Lançou um feitiço no comensal que levava Hermione. Draco não o conhecia, o que quer dizer que ele era novo, o que era uma coisa boa. O homem desmaiou e caiu do cavalo, e o loiro contou menos um. Draco queria pegar o cavalo que Hermione estava e tentar fugir mas o comensal da direita estava mais perto e não perdeu tempo, se aproximou e tomou o controle do cavalo enquanto mandava o outro salvar o seu “amigo” que ainda estava em queda livre abaixo deles.


Eles estavam voando muito alto mesmo, Hermione ia começar a surtar no segundo em que acordasse.


Draco percebeu o que o comensal estava fazendo e se apressou em alcançar o cavalo, montando nele com dificuldade. Nunca tinha sido fã desses bichos. E nem esses bichos dele, levando em conta o incidente com o idiota do hipogrifo do meio gigante no terceiro ano. Depois de conseguir enfim tomar controle da situação, tentou avançar sobre o comensal que carregava Hermione, para tentar tirá-la de lá, mas assim que ele voou um pouco mais perto do homem, o outro que voava ao seu lado lhe lançou um feitiço. Draco conseguiu se desvencilhar mas ele pegou na droga da pata do cavalo alado em que ele estava montado, fazendo o bicho ficar ainda mais agitado do que estava por ter um desconhecido em cima dele. Levou algum tempo até Draco conseguir reverter a situação, já que depois disso o animal tomou o controle do voo deles, e quando ele finalmente venceu a estúpida luta contra o cavalo alado, os dois comensais já estavam bem próximos do castelo.


Draco voou tão rápido em direção a eles que o vento doía ao bater no seu rosto. Agradeceu a Merlin por estarem tão alto que o feitiço que o impedia de fazer magia no castelo e próximo a ele provavelmente não funcionava ali também.


- Hey, não tão rápido, pessoal! – ele gritou.


Tentou se aproximar do cara que carregava uma Hermione ainda desacordada mas acabou sendo surpreendido por uma luz branca vindo na sua direção. O outro comensal guarda-costas queria lhe atingir em cheio dessa vez. Sem tempo para desviar, Draco só levantou o braço se lembrando do que Hermione tinha feito com Bellatriz quando os comensais invadiram o castelo da primeira vez e esperando que aquilo não fosse uma exclusividade dela.


Não era. Assim que o feitiço bateu nele, voltou exatamente de onde veio, fazendo o outro comensal desaparecer. Draco franziu o cenho e olhou em volta desconfiado. Que droga de feitiço era aquele? E por que Hermione ainda não tinha acordado? Parecia que os truques de Voldemort e dos seus comensais estavam ficando melhores que nunca...


Mais uma vez ele tentou se aproximar do comensal e murmurou Enevarte com o braço estendido em direção a Hermione, pedindo silenciosamente pra o feitiço funcionar e ela acordar. E manter a calma quando o fizesse porque da altura que estavam, até ele estava um pouco receoso.


Ele pareceu ver as pernas da garota se mexerem lentamente mas podia ser só coisa da sua cabeça. Não acreditou que ela estava realmente acordada até ver seus olhos abrirem devagar, enquanto a compreensão começava a preenchê-los.


O comensal restante lançou-lhe alguns feitiços, dos quais Draco se desviou facilmente. O sonserino tinha que dar algum desconto pro cara, não era nada fácil voar naqueles bichos enquanto fazia magia, ainda mais quando se estava tentando lançar feitiços pra trás. Ele logo pareceu desistir dessa ideia e começou a voar o mais rápido possível, fazendo milhares de voltas no ar, dando cambalhotas, claramente querendo dificultar a aproximação de Draco e diminuir a sua capacidade de mirar, tornando impossível um feitiço atingi-lo.  


Hermione estava acordada e Draco não sabia como ela estava conseguindo não gritar. Aquilo era obviamente ótimo, já que o comensal pensava que ela ainda estava desmaiada mas Draco tinha que tirar um segundo pra admirar a garota. Hermione tinha mais medo de altura do que de qualquer outra coisa e ela estava conseguindo se manter calada e parada enquanto estava mal amarrada por finas cordas a sabe-se lá quantos metros acima do chão, enquanto o piloto era um psicopata que ainda por cima devia ter um fraco por montanhas-russas.


Eles estavam quase alcançando o castelo agora e uma vez que estivessem lá dentro, não tinha jeito de conseguirem sair de novo. Aquele plano de fuga despercebida tinha saído completamente pela culatra e situações desesperadas pedem por medidas desesperadas então abusando da súbita coragem de Hermione diante de alturas assustadoras, Draco fez sinal pra ela se jogar.


Ele não pôde ver claramente a cara que ela fez diante daquela “sugestão” mas a conhecia o bastante pra conseguir imaginar com precisão. A conhecia o bastante também pra saber que apesar de só estar consciente por poucos minutos, ela já estava ciente de toda a situação. Era agora ou nunca. E ela precisava saber também que ele não deixaria nada de mal lhe acontecer.


E apesar de Draco mesmo saber disso, ele não pôde deixar de sentir seu coração parar por um segundo ao vê-la soltando as próprias cordas por magia enquanto forçava seu corpo para fora do cavalo alado.


*****


- Pansy, será que você pode andar mais devagar? – Lucas tentou sussurrar e fazer-se ouvir por Pansy ao mesmo tempo, já que ela teimava em andar na frente.


- Vocês são muito lerdos! – ela disse – Nós temos que encontrá-los logo pra decidir o que fazer!


Ela ia virar para o próximo corredor quando colocou a mão na boca tentando reprimir uma exclamação de surpresa enquanto voltava e grudava seu corpo a parede.


- Eles estão aqui. – ela sussurrou para os meninos, que se juntaram a ela.


- Feliz? – Rony replicou.


- O que nós vamos fazer? – Lucas perguntou, preocupado.


Os olhos de Pansy caíram sob uma armadura ali perto e ela respirou fundo.


- Tenho uma ideia.


Ela explicou seu pequeno plano para os dois e eles logo estavam colocando-o em prática. Juntos, os dois derrubaram a armadura de ferro, fazendo um estrondo ensurdecedor no chão de pedra do castelo, e depois foram se apertar com Pansy embaixo da capa de invisibilidade de Harry.


Como esperado, os comensais vieram em direção ao barulho e quando só viram a armadura caída, continuaram andando, imaginando que eles tinham acabado de passar por lá. O trio observou em silêncio até o grande grupo de comensais desaparecer no final do outro lado do corredor e quando isso aconteceu, retiraram a capa e sorriram um para o outro. Uma pequena vitória.


- Sério? – eles congelaram e se viraram para ver Bellatriz Lestrange sorrindo de maneira psicótica para eles, ao lado de Lucio Malfoy – Vocês realmente acham que todos nós somos tão estúpidos assim?


Os outros comensais tinham voltado e agora eles estavam completamente cercados. Pansy olhou para Lucas e Rony e os três entraram em um consenso silencioso: pior plano de todos.


*****


Hermione até tentou não gritar para não chamar a atenção do comensal e talvez lhes dar alguma vantagem mas foi impossível. A sensação era horrível e tudo que ela conseguia pensar era que na velocidade que estava caindo, não tinha jeito de Draco conseguir pegá-la.


O loiro se adiantou na direção de Hermione, pedindo silenciosamente para o cavalo alado cooperar enquanto ele mergulhava no ar, tentando passar por baixo dela no instante exato para pegá-la, como naqueles filmes que ele tinha visto com Hermione no verão. O cara sempre conseguia fazer a coisa certa no momento crucial.


Tudo teria saído extremamente perfeito se sua mão não estivesse suada e escorregadia e ele não a tivesse deixado escapar dos seus braços um segundo depois de conseguir segurá-la. A sorte foi que Hermione se agarrou no seu tornozelo no último segundo, o que a deixou pendurada com as pernas pro ar.


- Draco! – ela gritou enquanto olhava dele para baixo, com a cara mais apavorada que ele já tinha visto Hermione fazer.


Do jeito que estava, ela podia cair a qualquer momento mas ele tinha a completa certeza de que o comensal ainda estava na cola deles, então tinha que fazer alguma coisa a respeito disso. Não tinham passado por tudo isso á toa.


- Aguenta firme aí, Hermione.


Com isso ele deu meia volta no cavalo-alado, o que jogou o corpo de Hermione pro lado contrário em que estava, como quando um carro faz uma curva que você não estava esperando. Ela gritou e suas mãos quase não tiveram força suficiente para continuar o segurando.


Assim que o cavalo estava na direção correta – ou seja, indo na direção oposta ao castelo e ao comensal – e voando rápido o suficiente, Draco puxou Hermione pelo braço, a colocando sentada na sua frente.


- Você tá bem?


Ela tremia como uma vara verde.


- Se eu estou bem? – ela praticamente gritou com ele, que só naquele momento percebeu que lágrimas escorriam pelo rosto dela – O que você acha?


- Se acalme, ok?


- Como você quer que eu me acalme? Nós ainda estamos há milhares de metros acima do chão! Eu estou olhando pra baixo e vendo nuvens há centenas de metros! Nós estamos voando acima das nuvens! Aquilo ali embaixo é um avião???


Ela estava surtando totalmente. Draco passou os braços em volta dela para tentar lhe passar um pouco de segurança.


- O quê? – ele tentou entender o que ela estava falando mas nem sabia o que era um avião. Achava que ela já tinha mencionado isso com ele, mas enfim... – Hermione, eu preciso que você fique calma, ok? Nós ainda temos um comensal nos perseguindo. Você precisa relaxar e fazer algum tipo de escudo para nos defender dos feitiços que ele vai lançar assim que estiver perto o suficiente. Você é melhor nessas coisas do que eu.


Ele sentiu que ela aquiesceu, que estava tentando ignorar a altura e focar no problema. Ele não parava de se surpreender com o fato de que ela já tinha passado por todo tipo de coisa, como morar debaixo do mesmo teto que o maior bruxo das trevas de todos os tempos, e não conseguia superar seu medo de altura.


Algumas coisas nunca mudam.


*****


- Mais rápido, gente! – disse Luna.


Assim que eles tinham subido a escada para o terceiro andar, a loira tinha começado a correr sem parar e Harry e Gina não podiam fazer nada além de tentar acompanhá-la.


- Eu já sei onde está! – ela falava – Eu vi o pomo claramente agora!


Quando eles chegaram no penúltimo andar, ela continuou correndo pelos corredores do castelo, sabendo exatamente para onde ia. Tinha ficado tão feliz que seus poderes tinham finalmente a ajudado em um momento em que realmente precisava... Talvez todos aquelas coisas que tinha feito para melhorar suas visões, incluindo o feitiço que Trelawney julgava muito perigoso (e que não tinha dado resultado nenhum), estavam finalmente servindo para alguma coisa.


Ela finalmente parou em frente a uma grande porta de madeira com uma fresta aberta e sorriu animada:


- Está aqui!


Harry e Gina se entreolharam preocupados com o que iria acontecer agora e os olhos de Harry acabaram caindo na janela que estava atrás da ruiva. Vendo uma movimentação estranha do lado de fora, ele se aproximou e seu coração quase congelou. Vendo a expressão do garoto, Gina se aproximou também e respirou fundo diante do que viu.


O castelo estava completamente cercado por comensais. Ela nunca tinha visto tantos juntos... Nem tinha achado que existiam tantos...


Olhou para Harry e o puxou pela mão, o afastando da janela:


- Vamos, Harry... Uma coisa de cada vez... Pensamos neles depois...


Os três se aproximaram da porta e Luna a empurrou.


O pomo estava lá dentro e assim que eles entraram, a bola voou em direção a porta. Quando estava prestes a sair, Gina a fechou rapidamente, causando um estrondo e fazendo o pomo bater na madeira.


- Immobilus! – Luna bradou com sua varinha apontada para a bola.


No instante em que a bola vacilou diante do feitiço – apesar de não ter parado exatamente como o esperado -, Harry pulou e conseguiu segurá-la.


- Droga!


As asas tinham começado a cortar suas mãos no mesmo instante e enquanto o sangue escorria livremente, começando a pingar no chão, Harry gritou:


- Gina, rápido!


Enquanto a ruiva pegava o dente de basilisco na sua mochila, Harry lutava contra o impulso de soltar o pomo e se abaixou, pressionando contra o chão, o prendendo.


Gina se aproximou e o perfurou. No segundo em que o dente ultrapassou a bola, saiu dela um balaço em chamas, indo com toda a velocidade em direção a Luna, que conseguiu se abaixar no mesmo instante. O balaço bateu na parede e se desfez em cinzas.


- Wow, essas horcruxes estão ficando piores... – Luna disse olhando as cinzas no chão – Essa fugiu e tentou matar... Não queria saber qual vai ser a última...


Ela olhou para Harry, que ainda estava no chão com as mãos sangrando. Gina fez um feitiço para cicatrizar os machucados causados pelas asas do pomo e em seguida, perguntou a ele:


- E agora?


Ele respirou fundo.


- Pegamos Rony, Pansy e Lucas e vamos dar o fora daqui o mais rápido que pudermos. – ele a olhou – Por acaso você não sabe abrir uma chave de portal, sabe?


*****


- Sabem, - Lúcio começou a falar calmamente, como se todas as pessoas naquele corredor não estivessem com as varinhas em punho – é até bonitinho vocês acharem que podem se esconder de nós assim... Adorável, de verdade. – ele olhou para Rony – Que desprazer te rever, Weasley... Onde está Granger pra te livrar da morte agora? – e então seu olhar caiu sob Lucas e Pansy – Bem, que decepção vocês dois... Nunca imaginei que Draco exercer tanta influência sob os dois seria uma coisa tão ruim... Eu realmente tinha alguma afeição por vocês...


- Por favor, Lúcio. – Lucas disse – Corta o papo furado.


- O garoto tem razão, Lúcio. – Bellatriz disse – Vamos direto ao ponto. Vamos ser sinceros, crianças... Esse castelo, assim como esse corredor, está completamente cercado. Não tem jeito de vocês saírem daqui, a não ser que nós deixássemos... Então, o que acha de fazermos um acordo?


- Nós não vamos fazer acordos com comensais! – exclamou Rony.


Todos eles, por algum motivo, se acabaram de rir até Bellatriz lhes lançar um olhar severo que os fez se calar.


- Infelizmente, Weasley, esse acordo não se estende a você. Agora... – ela se aproximou de Lucas e Pansy que estavam lado a lado – Parkinson e Mason, o negócio é o seguinte: o Lord está aqui. Ele está nesse exato momento do lado de fora esperando que nós nos livremos de vocês para que ele e Potter possam ter um tempinho a sós...


- Oh, - Lucas sorriu de lado – isso  soa meio pervertido, não?


Bellatriz cerrou os olhos.


- Como ousa...?


- Além disso, vocês estão fazendo o trabalho sujo primeiro... É o que dizem, os peões vão na frente.


Eles puderam sentir a raiva de Bellatriz emanar do seu corpo na medida em que ela ia ficando vermelha.


- Não abuse da sorte, garoto. Ouça com atenção: diga logo exatamente em que lugar do castelo o Potter está, nos poupando tempo e paciência, então talvez o Lord possa deixá-los sair vivos daqui. Pelo menos dessa vez, é claro.


Pansy riu.


- Haha. Boa tentativa.


- Isso é uma recusa? – a mulher perguntou, a encarando incrédula.


- Sim, é. – respondeu Pansy claramente – Veja bem, Lestrange, ao contrário do que eu pensei durante anos, nós não somos como vocês. Nós também podemos não ser perfeitos para a Ordem e usar buttons do Potter por aí, mas nós temos amigos lá. E o que nos faz diferente de vocês é exatamente isso. Nós não vamos traí-los pra salvar a nossa pele. Além disso, vocês mataram meus pais, qualquer acordo que eu poderia fazer com vocês morreu naquele momento. – ela olhou para Lúcio – E não quando Draco decidiu sumir de perto de vocês. Comigo o buraco é mais embaixo.


Bellatriz surpreendeu a todos quando, ao invés de lançar um feitiço em Pansy, levantou o braço e deu um tapa na face esquerda da garota. Pansy levou a mão ao rosto vermelho, chocada.


- Você enlouqueceu?! – Lucas a encarou furioso, se colocando na frente da namorada.


- Vocês dois são a escória da sonserina! Não vejo a hora de Dumbledore pagar por ter transformado Hogwarts no circo que é hoje! Aquele chapéu seletor com certeza não faz mais seu trabalho direito! Colocando traidores de sangue nas masmorras!


- Pessoas como nós? – Lucas riu – Então você se esquece que o Lord que você segue e que diz amar sangue puro é, na verdade, um mestiço! Nós não nos importamos com o que vai fazer com a gente, mas nós com certeza não vamos voltar pra lamber a bunda de um maluco hipócrita!


- Olha como fala do meu Lord! – a mulher gritou.


- Bellatriz. – Lúcio passou a frente dela e a olhou com repreensão – Já chega. Vamos acabar de uma vez com...


- Ei! – todos olharam para o lugar de onde a voz vinha e viram Harry parado no final do corredor – Tudo isso pra descobrir onde eu estou?


- Potter! – Lúcio lançou um feitiço, do qual Harry conseguiu se desviar no instante em que saia correndo. Todos foram atrás dele, deixando Rony, Lucas e Pansy sozinhos no corredor.


- Harry ficou louco? – Rony perguntou.


- Pessoal! – ouviram a voz de Luna gritando do outro lado do corredor – Venham! Rápido!


Eles saíram correndo também atrás da loira e foram parar novamente no hall de entrada do castelo.


- O que vocês estão fazendo? – perguntou Pansy.


Gina estava lá em pé, segurando sua sapatilha como se sua vida dependesse disso. Luna se juntou a ela, segurando o sapato também.


- É uma chave de portal. – a ruiva disse – Vai se abrir e nos tirar daqui em menos de um minuto. Então acho bom vocês segurarem também.


Eles o fizeram.


- Você conseguiu fazer uma chave de portal? – Rony perguntou.


Gina deu de ombros.


- Ser amiga de Hermione tem suas vantagens...


- E o Potter? – Lucas perguntou.


Gina suspirou.


- Ele tem que chegar aqui o mais rápido possível. Esse é o plano.


Eles ficaram em silêncio e os segundos se passavam com sensação térmica de horas. Nenhum sinal de Harry.


- Vamos, Harry... – ela murmurou.


E então ele apareceu correndo, com dezenas de comensais atrás dele.


- Rápido!


Ele pegou na sapatilha no instante em que tudo começou a rodar. Não puderam deixar de ouvir o grito de raiva de Bellatriz e a voz de Lúcio dizendo:


- Não vai poder fugir pra sempre como uma criança, Potter!


*****


Hermione saiu do banheiro público onde estava bem mais tranquila do que quando entrou. Nada como algumas mudanças na aparência para tirar a sensação de que ainda estava sendo perseguida por um dos sociopatas de Voldemort.


Ela tinha conseguido criar o escudo muito bem depois que conseguira se acalmar mas o mais difícil foi conseguir despistar o cara. É meio complicado se esconder quando você está andando por aí com um cavalo-alado... Eles tiveram que libertar o pobre animal para conseguirem se esconder e se misturar na multidão de Manchester, cidade aonde tinham ido parar. O pobre animal parecia feliz com sua liberdade.


Infelizmente, sua tranquilidade não durou muito porque quando ela foi procurar Draco no restaurante aonde tinham entrado, ele não estava em lugar nenhum em que ela podia ver. Já estava começando a surtar novamente quando, quinze minutos depois, ele apareceu.


- Onde você estava? Sua missão do dia é me matar do coração?


Draco revirou os olhos.


- Quantas vezes eu vou ter que te dizer? Relaxa, Granger... – e então acrescentou, sussurrando – Eu fui procurar um lugar em que eu pudesse usar meu patrono para enviar uma mensagem pro Lucas.


- Ele respondeu? – ela sussurrou de volta.


- Sim, eles conseguiram fugir dos comensais. Conseguiram destruir a horcrux também.


Hermione sentiu vontade de gritar de animação. Com certeza não era o dia de sorte de Voldemort. Será que as coisas tinham finalmente começado a dar certo pra eles?


- Sério?? E agora? Você contou pra eles que eu sei onde está a última? Você disse que eu estou viva?


- Não, Granger. – respondeu impaciente – Por mais incrível que pareça, não deu tempo de fazermos tranças e contar o que se passa no lugar mais profundo das nossas almas.


Hermione bufou.


- Mas ele disse onde estão. – ele completou.


- Aonde?


- Estão montando acampamento em uma floresta que faz fronteira com a Escócia. E nós vamos pra lá.


Hermione não discutiu. Não conseguia pensar em nada que quisesse fazer mais do que ver todos os seus amigos naquele momento.


******


Apesar de já estarem no meio da primavera, fazia frio naquela noite. Principalmente porque eles estavam no meio de uma floresta úmida, cercados por altas árvores e bem próximos a um lago.


Rony tinha acendido uma fogueira, assim ele e Harry ficariam aquecidos enquanto guardavam a porta da barraca que tinham montado. Tinham combinado que os dois seriam os primeiros a fazer vigília mas depois de alguns minutos lá fora sozinhos, Gina e Luna se juntaram a eles e, por incrível que pareça, Pansy e Lucas também.


Parecia que os dois tinham presenciado mais um daqueles momentos aonde você não pode passar por uma determinada situação sem se apegar a pessoa que estava lá com você. Não que eles admitissem que estavam apegados a sonserinos. Ainda não.


Luna tinha conjurado uma xícara de chocolate quente para todos eles e agora os seis estavam em volta da fogueira. Não estavam falando muito, mas também não estavam em completo silêncio. A fogueira crepitava e iluminava os rostos deles, enquanto falavam uma coisa ou outra entre longas pausas.


O dia tinha sido muito longo, mas também tinha dado esperanças para eles. Tinham conseguido pegar a penúltima horcrux. Com muito sacrifício, mas tinham. E também tinham conseguido ter notícias de Draco. Ele estava vindo ao encontro deles, e talvez tivesse notícias de Hermione... Talvez ele tivesse boas notícias...


Algumas horas se passaram quando Luna acordou ouvindo passos na floresta. Ela esfregou os olhos e se desencostou do ombro de Rony olhando para onde vinha o barulho, mas era difícil ver qualquer coisa por causa da neblina da noite. Olhou para seus amigos. Todos dormiam, um encostado no outro. Que bela vigilância estavam fazendo em plena guerra...


Ela se enrolou mais no cobertor que estava no seu colo e se levantou, se aproximando lentamente do dono dos passos nos galhos das árvores e esperando com todas as suas forças que fosse Draco. Quando foi reparar melhor, viu que não podia ser somente uma pessoa. E ela estava começando a ouvir vozes também. Já estaria ficando apavorada se não conhecesse aquelas vozes.


Ela sorriu pra si mesma entre descrença e felicidade e se virou para os seus ainda adormecidos amigos.


- Pessoal! – ela falou alto o suficiente para sua voz sobressair no silêncio da noite – Acordem! É Hermione e Draco!


Eles foram acordando lentamente enquanto Luna pôde começar a ver os rostos dos dois se aproximando e o sorriso no rosto de Hermione. No segundo que olhou para ela, pôde ver que ela e Draco deviam ter passado por poucas e boas para chegarem até ali. Hermione estava com machucados na bochecha, braços e em várias outras partes do corpo, a barra do vestido vermelho que usava estava toda rasgada e seu cabelo estava terrivelmente sujo. Mas ao contrário do que eles pensavam há apenas 24 horas atrás – mesmo que no momento parecesse que foi há uma eternidade – ela estava viva.


- Mione!


Ela correu até a amiga como uma criança quando vê a mãe chegando do trabalho e a abraçou o mais forte que pôde. Sentiu que Hermione retribuiu o abraço da mesma forma.


- Luna... Oi.


Draco desviou o olhar do abraço de Luna e Hermione e viu que os outros estavam olhando abismados também. Ele não tinha planejado não dizer que Hermione estava viva, mas ver a surpresa misturada com felicidade na cara deles era impagável.


Lucas se aproximou dele.


- Draco, seu idiota! – ele levantou o braço para Draco bater na sua mão e o loiro o fez – Você perdeu toda a diversão!


Draco revirou os olhos.


- Tudo bem, Lucas, nós nos divertimos também...


Harry e Rony abraçaram Hermione juntos depois de Luna e juntos tiraram seus pés do chão.


- Eu sabia que você não ia se matar! – Harry se gabou.


- Mas isso não te impediu de quase entrar em depressão, não é? – disse Gina enquanto se aproximava pra abraçar a amiga também.


- Foi você que fez Voldemort me libertar, não foi Mione? – Rony perguntou – O que você fez?


- É uma longa história, Rony... – Hermione respondeu.


Pansy se aproximou.


- Eu ainda estou decidindo se te abraço ou se te bato. Você nos deve desculpas, sabia?


Hermione sorriu.


- Me desculpe por ter feito vocês passarem por isso, mas foi necessário. Apesar de quê, eu admito que não teria conseguido sair do Castelo de Voldemort sozinha... – ela olhou para Draco – Malfoy conseguiu nos tirar de lá, num ato digno de um grifinório...


Draco arqueou uma sobrancelha.


- Eu salvo sua vida e você retribui me xingando, Granger?


- Ok. – Pansy suspirou – Então eu vou te abraçar.


As duas se abraçaram e por cima do ombro de Pansy, Hermione viu que Luna tinha dado um abraço quase tão forte em Draco quanto tinha dado nela, deixando o loiro extremamente sem graça e Harry e Rony tinham apertado sua mão, numa espécie de agradecimento mudo por tê-la trazido de volta. Eles eram um grupo tão estranho, Hermione pensou.


Quando se afastou de Pansy, ela olhou para todos os seus amigos ali juntos.


- Vou contar tudo que aconteceu pra vocês. E quero saber de tudo. E então vamos decidir o próximo passo juntos. Pra sairmos dessa juntos. Não vamos mais nos separar, ok? É melhor assim.


Todos concordaram e voltaram para perto da fogueira, onde passaram o resto da madrugada conversando e planejando para onde iriam depois dali.


Na manhã seguinte, quando Hermione acordou, o único de pé era Draco, que estava sentado do lado de fora da barraca encarando as cinzas que restaram da fogueira.


- Parece que não sou só eu que está tendo dificuldades pra dormir, né? – ele falou ao notar sua presença.


Hermione deu de ombros e se aproximou, se sentando ao seu lado.


- Dormir se tornou um luxo pra mim...


Ele franziu o cenho.


- Por quê?


- Sabe como é... Escolas sendo invadidas, casas pegando fogo, castelos horripilantes, armadilhas letais... – ela deu de ombros - O tipo de pesadelos que qualquer pessoa pode ter.


Ele riu do tom leve que ela tentou manter.


- O ano tem sido horrível.


Ela assentiu.


- Bem ruim. – ela concordou.


- Mas está acabando...


- Resta saber se vai acabar de um jeito bom... – ela hesitou – Tenho minhas dúvidas...


Foi a vez de Draco dar de ombros.


- Quem não tem?


Hermione fingiu estar abismada.


- Draco Malfoy tem dúvidas... Quem diria?


- Depois desse ano, muitas pessoas diriam... – ele riu debochado - Meu pai estaria tão orgulhoso...


- Se significa alguma coisa, eu acho que ele deveria estar. Você, Draco Malfoy, cresceu em um ano o que seu pai não conseguiu crescer em uma vida inteira.


- Eu sei. – ele falou – Eu não me importo mais com ele ou com o que ele pensa.


- Bom. – foi tudo que ela respondeu.


Ele ficou em silêncio por alguns instantes. Hermione sabia que ele estava se preparando para dizer algo.


- Nós podemos falar sobre a sua carta?


Ela sentiu seu rosto corar e desviou seu olhar, assentindo levemente.


- Você pretendia me entregar algum dia?


- Não sei... – respondeu com sinceridade - Talvez não. Realmente não sei dizer. Era mais um desabafo pra mim mesma, pra falar a verdade... Eu precisava colocar meus pensamentos em ordem... Meus sentimentos em ordem... Eu precisava admitir algumas coisas depois de tanto tempo contando mentiras pra mim mesma... – hesitou, mas decidiu continuar falando - Porque eu estava com muito medo. Nunca tive tanto medo... De tudo. Principalmente de mim, do que eu tinha me tornado... E eu sabia que eu precisava admitir pra você também... Então eu meio que fiz as duas coisas ao mesmo tempo... – ela colocou uma mecha atrás da orelha e levantou os olhos para olhá-lo – Isso faz algum sentido?


Ele assentiu. Se aproximou mais e pegou a mão dela delicadamente.


- Na carta, você disse que não tinha sido sincera comigo e eu quero que saiba que eu também não fui com você... Naquela noite, em que você me perguntou o que eu sentia pela Taylor... Eu menti e disse que a amava só pra te machucar. Me desculpe por isso... A verdade é que eu estava sendo egoísta... Você estava passando por uma fase difícil e eu só pensei em mim mesmo... No quando eu estava com raiva pelo que você tinha feito... Eu nunca parei pra sequer tentar entender o que você estava passando.


- Ninguém na sua posição pararia. – ela disse.


- Pansy parou. Lovegood e Weasley também... Todos eles pra falar a verdade.


- Eles não estavam na sua posição...


- Isso não importa mais... – ele olhou nos olhos dela - Eu ainda te amo. Isso nunca mudou pra mim também. Eu não acho que vai mudar algum dia...


- É tarde demais pra gente tentar de novo? – ela perguntou – Quer dizer, a gente passou por muita coisa mas... Você acha que podemos colocar tudo pra trás?


Ele balançou a cabeça.


- Eu não sei. Mas eu quero muito tentar.


Ela sorriu.


- Eu também...


Ele se aproximou mais e colocando um dedo no queixo dela, puxou seu rosto na direção do dele. Ela sentiu seu coração acelerar e sabia que o dele também tinha perdido algumas batidas. Ainda estava com medo mas sabia que eles tinham que tentar de novo. Porque eles se amavam e tinham que achar um jeito de deixar o passado no passado. Não podiam adiar mais, já tinham adiado tanto... O amanhã era tão incerto e eles não tinham mais nada a perder. Precisavam tentar.


Um calafrio percorreu seu corpo quando seus lábios se tocaram pela primeira vez depois de tanto tempo. Parecia que milhões de anos tinham se passado desde a última vez que ela sentira os lábios quentes dele sob os seus, a língua dele pedindo passagem na sua boca.


Merlin, como tinham perdido tempo...


Ela acariciou o cabelo dele, sentindo que tinha caído em um dos seus raros sonhos bons.


- Opa!


Eles ouviram a voz de Gina e se afastaram no mesmo instante. Luna estava logo atrás dela.


- Péssima hora, hum? – Gina sorriu amarelo.


- Deveria ter previsto isso... – Luna murmurou.


******


Mais tarde naquele dia, eles estavam levantando o acampamento, se preparando para seguir em frente.


Hermione e Draco estavam de volta com suas varinhas, tinham pegado roupas emprestadas e agora todos eles partiriam para o próximo e último castelo, que ficava numa cidade no norte da Inglaterra, chamada Carlisle.


Eles tinham discutido bastante sobre a ida ao último castelo na noite anterior. Especialmente porque Lucas e Rony achavam que deveriam esperar mais um pouco e adiar o inevitável. Os outros não concordaram... Lucas e Rony eram mais parecidos do que queriam admitir.


Luna estava com um mau pressentimento sobre essa horcrux. Isso não era novidade pra ninguém, mas quando os outros lhe disseram isso, ela disse que dessa vez era pior. Ninguém questionou mais depois disso, todo mundo tinha aprendido a demonstrar um certo respeito pelo dom de Luna, principalmente porque ele tinha salvado a pele deles mais vezes do que podiam contar.


Algumas horas depois, estavam chegando ao castelo sem nenhum ataque á vista ou qualquer outro tipo de problema. Seguiram o plano padrão e se misturaram na multidão. Entraram no castelo, indo para a direção que a bússola apontava.


Surpreendentemente, a bússola os levou a uma das principais salas do castelo.


- Será que é a mesma coisa do outro? – disse Rony, quando eles não viram nada fora do comum no lugar – Será que está em outro andar?


- Acho que não... – Luna parou no meio da sala, ainda olhando em volta - Está aqui... Ou pelo menos... Tem alguma coisa aqui...


Harry tentava prestar atenção em cada detalhe da sala, algo que lhes desse alguma dica, até que uma coisa lhe chamou a atenção. Ele se aproximou de um grande quadro no canto da sala, percebendo que ele era emoldurado por um emaranhado de cobras.


A figura do quadro não tinha nada de espetacular nem que significasse algo pra ele. Era a pintura de uma espécie de ilha, com uma floresta muito fechada dentro dela.


Ele continuou procurando algo que lhe desse alguma pisca, quando percebeu o quadro se mexer. Ou melhor, o conteúdo do quadro se mexer. Como se ele estivesse olhando por uma janela.


- Pessoal, olhem isso aqui! – ele chamou em um tom de voz moderado.


Os sete se aproximaram e encararam o quadro com cara idênticas de surpresa. Era uma chave de portal. E aparentemente, eles estavam olhando para o seu próximo destino, caso quisessem destruir a próxima horcrux.


- O que isso quer dizer? – Lucas perguntou, de cenho franzido.


- Não sei por que ainda me surpreendo... – Draco comentou se afastando – O Lord das Trevas é cheio de surpresas...


- Eu pensei que as horcruxes deveriam estar dentro dos castelos! – reclamou Rony olhando pra Hermione.


Ela deu de ombros.


- Tecnicamente, ela está.


O ruivo deu outra olhada no quadro.


- Esse lugar parece assustador...


- Ok, pessoal. – Hermione suspirou e olhou pra eles - Nós temos que acabar logo com isso. Essa é a última. Nós quase morremos umas dez vezes cada um mas chegamos até aqui, não é? Então seja o que for que esteja nos esperando nesse lugar – ela lançou um olhar duvidoso para o quadro -, acho que nós podemos lidar. – ela viu os garotos começarem a protestar e já imaginando o que viria, acrescentou: - Juntos. Todos juntos.


- Hermione tem razão... – Gina acrescentou.


- A gente pode fazer isso, pessoal! – exclamou Luna, tentando parecer encorajadora.


- Ok... Então vamos logo... – disse Harry – Todos prontos? – olhou para o grupo e lenta e hesitantemente, todos assentiram - No 3!


E sem dizer mais nada, eles fizeram uma pequena roda, se apertando em volta do quadro.


- 1... 2... 3!


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Notas finais do capítulo

N/A: Oiiie! Como andam? =)
Então, depois de escrever essa fic por anos e de escrever tantas cenas difíceis, eu posso dizer: nada é mais complicado do que terminar uma fanfic. Pelo menos na minha opinião. Eu sei que tem muitos escritores lendo a fic também, então eu queria perguntar se é assim pra todo mundo... Porque eu achei que essa seria a parte mais fácil... Sério, gente, que sufoco pra tentar fechar tudo direitinho e não deixar nada pra trás, não esquecer de nada... Meeeeeeeu, que tristeza! Esse capítulo e o próximo foram os mais difíceis de escrever EVER. Que agonia, cara... E o próximo ficou tão grande que eu vou ter que dividir em dois... Talvez eu poste os dois de uma vez, se eu conseguir terminar tudo essa semana como eu estou pretendendo... Além de tudo, eu não gostei muito deles também... mas foi o máximo que eu consegui alcançar depois de escrever e revisar umas trocentas vezes, então... Ouvi muito Eyes Open, da Taylor Swift, que ela escreveu para Jogos Vorazes e Turn It Off do Paramore e essas músicas me deram um empurrãozinho... Música SEMPRE ajuda. :)
Enfim, depois do meu momento chorando as pitangas rs... O que acharam do capítulo? Draco e Hermione resolveram tentar ficar juntos de novo e eu sei que vocês devem ter odiado a Gina e a Luna por atrapalhar o momento deles mas... pelo menos eles estão juntos agora, né?? Pena que eles estão tão intertidos na busca pelas horcruxes que não tem muuuuito tempo pra romance, mas podem deixar que eu estou providenciando isso... Todo mundo sente falta dos dois juntos e eu também! Na verdade, eu mudei meus planos (novidade ¬¬) porque tecnicamente eles não ficavam juntos nesse capítulo maaaas diante de algumas coisas que ainda vão acontecer... enfim... Digam o que estão achando! =)
Muito obrigada pelos comentz, pessoal! E me desculpem pela demora, eu pretendia postar muito mais rápido mas eu também pretendia escrever mais rápido então... =// Achei que já teria acabado a fic a essa altura e começado a continuação maaaaaaaas como eu disse, estou tendo muita dificuldade em terminar a fic... =// Mas tá indo... Devagar mas tá indo... =) Aaaaah, e eu estou tendo idéias pra uma nova dramione! (Ebaaaa!!!) Eu tô muuuito animada pra postar e dizer sobre o que é, mas vou tentar escrever alguns capítulos antes disso pra ter certeza que ela vai pra frente!
Vou ficando por aqui, bjux! *-*