O Preço de Amar Um Malfoy escrita por BlissG


Capítulo 32
Breathe


Notas iniciais do capítulo

No começo fiquei com raiva, achei que ela não pensou em mais ninguém quando desapareceu. Só nela mesma. Mas a gente nunca pode julgar o que acontece dentro dos outros. (Caio Fernando Abreu)



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A Mansão Malfoy permanecia em completo silêncio há horas. Quem visse, pensava que a casa estava completamente vazia mas aquele não era o caso, dezenas de pessoas viviam e passavam por ali. E para elas o silêncio era, na verdade, ensurdecedor.

Harry estava sentado na pequena ponte de madeira que havia no lago de frente para a mansão. Já estava horas ali, sem acreditar em tudo que tinha acontecido em menos de uma semana. Em um momento eles estavam com a esperança de destruir as horcruxes, lutarem e, quem sabe, saírem vitoriosos. E no outro, as duas pessoas que mais importavam para ele e que o estimularam a seguir em frente durante todos esses anos eram tirados dele num piscar de olhos. A realidade era tão ruim que ele esperava acordar a qualquer momento e se descobrir em um dos seus piores pesadelos.

Aquilo ainda não tinha acontecido.

Ele ouviu passos se aproximando e limpou rapidamente as lágrimas que tinham teimado escorrer pelo seu rosto.

Gina se sentou ao seu lado.

- Ei... – ela murmurou – Estava procurando você há um tempo...

- Me encontrou... – ele sussurrou, sem olhá-la.

Eles ficaram em silêncio por alguns instantes, apenas encarando a água calma do riacho.

- Eu quase posso ler seus pensamentos... – Gina falou.

- Como? – perguntou, confuso.

- Eles fizeram uma escolha, Harry. Sabiam o que isso significava quando se tornaram seus amigos. Não é sua culpa que eles te amavam.

- É minha culpa que todas as pessoas que me amam acabam mortos, Gina.

Ela hesitou por alguns instantes.

- Isso não é verdade. – falou sem encará-lo – Eu estou aqui.

Ele a surpreendeu com um abraço e a ruiva sentiu sua dor aumentar ao perceber que ele estava chorando.

- Vai ficar tudo bem, Harry... – ela falou com a voz embargada, mesmo não vendo jeito nenhum daquilo ser verdade no momento – Eu prometo.

***

Lucas estava há um bom tempo sentado no chão de um dos inúmeros corredores da Mansão Malfoy. Mais precisamente, estava na frente do quarto de Pansy, escorado na porta trancada da garota.

- Pansy, abre a porta... – ele pediu pela milionésima vez. – Me deixa ficar com você... Por favor...

Como era de esperar, não houve resposta. Ele já estava falando com a porta há tanto tempo que não esperava mais nada, talvez somente que ela o estivesse ouvindo.

- Uma hora você vai ter que abrir...

A garota estava lá sem falar com ninguém há horas, mais precisamente desde o momento que ela encontrara Hermione... Ela tinha saído pedindo ajuda para todos e eles chamaram médi-bruxos mas não havia nada que ninguém pudesse fazer... Hermione tinha tomado uma dose muito maior do que o saudável da sua poção para controlar os poderes e não tinha resistido.

Ninguém acreditou. Nem mesmo depois de vários médi-bruxos dizerem, depois de verem o corpo da garota sem vida no chão do quarto... ninguém acreditava. Ainda mais porque... por Merlin, ela tinha errado na dose da poção?  Aquilo era absurdo, Hermione não faria aquilo. Ela não tomaria a dose errada por erro. E perceber isso foi o pior de tudo. Não havia sido um erro. E era por isso que mesmo agora, horas depois de tudo que tinha acontecido, ninguém acreditava ainda. Ela tinha se matado? Nem pensar, ela não faria isso. Bom, ao que parecia, ela tinha feito.

Cansado de ficar parado ali sem fazer nada, ele fez o que já devia ter feito há muito. Foi até seu quarto, pegou sua vassoura e voou até a janela do quarto de Pansy.

Ela estava deitada na cama, de costas para a janela, e deve ter ouvido o som dos passos dele porque virou o rosto quando ele passou pela janela e ele pôde ver o rosto dela encharcado de lágrimas. Em seguida, ela ficou de costas de novo.

Ele se deitou ao lado dela.

- Pansy... – ele colocou a mão no ombro dela – Fale comigo.

Ele achou que ela não fosse responder, mas ouviu um sussurro alguns segundos depois:

- Eu não quero.

- Por que?

- Você não entende. – foi tudo que ela disse.

Ele a puxou, fazendo-a se virar pra ele.

- Isso não é justo... – ele disse – Pansy, todos nós éramos amigos de Hermione. Estamos passando pela mesma coisa...

- Não é a mesma coisa! – ela falou um pouco mais alto – Você não entende, todos nós somos amigos de Hermione mas ela era a melhor e única amiga de verdade que eu tive! E agora... Ela morreu e eu deveria saber!

- O que você deveria saber? – ele perguntou confuso.

Ela se sentou na cama parecendo com raiva e Lucas a imitou.

- Eu deveria saber que ela estava tão mal a ponto de querer se matar, Lucas! Eu fui uma péssima amiga por não saber disso e agora ela está morta e é...

- Não é sua culpa! – ele falou, a impedindo de completar a frase – Não é...

Ela desviou o olhar e ele segurou o rosto dela, fazendo-a olhá-lo.

- Olhe pra mim. – ele falou – Eu não quero que pense nunca mais que foi uma péssima amiga pra Hermione, entendeu? Você foi a melhor amiga que Hermione pôde ter. A melhor amiga que qualquer pessoa poderia ter. Isso não é culpa sua.

Ela aquiesceu, respirando fundo enquanto encarava a colcha da cama. Depois de alguns segundos, levantou seus olhos para ele:

- Então por que eu sinto como se fosse?

Lucas a encarou, acariciando o rosto dela.

- Porque ao contrário do que muita gente pode dizer, você se tornou uma boa pessoa...

Ele se encostou na cama e sem dizer mais nada, Pansy se deitou ao lado dele, encostando a cabeça no seu peito.

***

Luna subiu até o último andar da mansão e foi até o terraço. Dali era possível ver toda a propriedade dos Malfoy... O lago, o campo de quadribol, tudo que estava perto o suficiente para seus olhos enxergarem. Ela viu Malfoy sentado na beirada e hesitou um pouco antes de se aproximar.

Eles não eram próximos e não sabia como estaria o temperamento dele naquele momento, mas ela imaginou que ele estaria se sentindo muito solitário. Sabia que ela estava.

Se sentou ao seu lado com cuidado e não disse nada por um tempo.

- O que você está fazendo aqui? – ele perguntou baixo, e ela não conseguiu reconhecer o sentimento por trás da voz dele.

Na verdade, olhando para ele, ela não conseguia descrever nada do que ele estava sentindo. Ela imaginou que era necessário conhecê-lo muito bem para saber o que ele estava pensando só de olhá-lo, ao contrário da maioria das pessoas que deixam seus sentimentos claros. Era por isso que muita gente dizia que Malfoy não tinha sentimentos mas Luna nunca acreditara muito naquilo... Ela costumava achar que ele passava muito tempo os encondendo mas agora ela achava que aquele também não era o caso... Ele não esforçava para esconder os sentimentos, era só o jeito dele... O jeito que tinha sido criado...

- Não sei... – ela deu de ombros – Só não estava querendo ficar sozinha...

Ele a encarou.

- E quando eu virei sua primeira opção em termos de companhia? Já parou pra pensar que, ao contrário de você, eu posso estar querendo ficar sozinho?

Luna não se abalou com o que ele disse. Ela simplesmente suspirou.

- Abaixa a guarda, Malfoy.

Ele desviou o olhar dela e passou a encarar o nada.

- Você não deveria ser capaz de prever tudo isso? O que aconteceu?

Ela deu de ombros.

- Não posso ver tudo o que quero... Não sei se sabe, mas já estou há algumas semanas tentando ver o paradeiro das horcruxes...

Ele revirou os olhos.

- Ótimo. E agora? Pode ver alguma coisa? Por que ela fez isso?

Luna balançou a cabeça.

- Não.

- E o que você acha? – ele perguntou, a deixando surpresa ao perceber que ele estava pedindo sua opinião.

- Acho que talvez ela tenha se cansado... – falou com delicadeza - Sabe, de tudo...

- Não faz sentido... – ele falou, como se já tivesse pensado naquilo – Ela estava melhor.

Luna assentiu.

- Eu sei. Acho que é isso que está confundindo todo mundo... Ela passou por coisas terríveis nos últimos meses, e quando parecia estar melhor, faz uma coisa dessas consigo mesma... Não faz sentido.

- Talvez ela não tenha conseguido lidar com a morte dele... – ele murmurou.

Luna franziu o cenho.

- De quem? Do John? – ela negou – Não, não foi isso. Ela não o amava.

- Como pode ter tanta certeza?

- Draco... – Luna suspirou – Não precisava ser nenhuma vidente pra saber que ela amava você... Então não, não foi isso...

- O que mais poderia ter sido? – ele perguntou, parecendo extremamente confuso.

Luna não disse nada, não tinha nenhuma resposta para aquela pergunta. Ela estava pensando em como daria a resposta que ela sabia que tinha.

- Eu estava no quarto dela até uma hora atrás... Acho que fazendo a mesma coisa que você aqui... Tentando entender... Me fazendo a mesma pergunta que você me fez. Por que eu não previ isso? – ela mexeu no seu casaco, tirando um longo pedaço de pergaminho – Eu encontrei isso...

Ela estendeu o papel pra ele.

- O que é isso, Lovegood? – disse, já olhando. Ele soltou o ar dos pulmões quando reconheceu a letra – É dela...

- É. Ela escreveu pra você... Ela tinha muita coisa pra dizer pra uma pessoa que não amava, não acha?

E dizendo isso, ela se levantou e saiu, o deixando sozinho.

Draco começou a ler com as mãos trêmulas.

Querido Draco,

Tenho tanto pra te dizer, não sei nem por onde começar. Acho que vou começar pelo mais importante e dizer que eu te amo. Que eu te amo e sinto sua falta. Sinto sua falta faz tempo. E tem tanta verdade nisso, que eu provavelmente poderia escrever milhares e milhares de páginas falando sobre o quanto eu te amo e o quanto eu sinto sua falta. Parte meu coração saber que você pode não acreditar nisso. Em uma das poucas coisas na minha vida que sobreviveu e continua sobrevivendo a tudo que tem acontecido. Eu cometi tantos erros, que eu só posso pedir um milagre para Merlin, assim talvez você possa ver como essa carta pra você é sincera. Sinto uma saudade absurda de você. E passei muito tempo fugindo dessa saudade. Não vou dizer que a sinto desde que nos separamos, porque eu prometi que essa carta seria sincera. No começo, eu não sentia nada. E foi por isso que eu fiquei feliz ao me dar conta de que sentia tanto a sua falta. A falta me fez perceber o quanto ainda precisava de você, e ver que aquilo não tinha mudado – porque eu sempre precisei de você – me deu esperança. Esperança de que talvez outras coisas em mim também não tivessem mudado... Que eu não tivesse mudado tanto quanto eu pensei... E quem sabe um dia, eu poderia voltar a ser tudo que eu era antes. Sentimentos começaram a aparecer aos poucos depois disso e eu passei a entender algumas coisas. A primeira coisa foi que, acho que por realmente não estar sentindo nada, foi que eu consegui dizer aquelas coisas para você e ir embora. Porque olhando para trás hoje, eu sinceramente não sei como eu tive a coragem de fazer aquilo. Coragem não, covardia. Quando eu fugi de você, não foi só de você. Foi de tudo. Não honrei a grifinória naquele momento. Na verdade, não tenho honrado há um bom tempo agora. E depois, quando eu finalmente percebi que as coisas não estavam tão no meu controle quando eu achava que estavam, eu simplesmente não soube o que fazer. Fiquei sem saber o que fazer quando percebi que tive absolutamente tudo que eu sempre quis em minhas mãos e joguei fora. Isso ainda é dificil de aceitar. Na verdade, eu ainda estou sem saber o que fazer. Eu ainda estou na mesma de antes, com a exceção de que não estou mais me enganando. Agora posso ver com clareza como tudo está bagunçado. A segunda coisa foi que eu percebi que não estava exatamente na escuridao como eu achava que estava... era mais como se eu tivesse ficado de olhos fechados por todo aquele tempo... E foi por tanto tempo, que estou morrendo de medo de já ter perdido tempo demais. E estou com medo de machucar outras pessoas, agora que estou vulnerável denovo. Estou com medo da guerra, de Voldemort e de tudo que ele pode fazer contra nós. E acima de qualquer coisa, estou com medo de já ter se passado muito tempo pra nós dois. Estou morrendo de medo de você não me amar mais. Tanto medo está me sufocando.

Esse tempo aqui na mansão está me fazendo bem. Passo bastante tempo conversando com a Gina, e é bom ver que estamos bem de novo. Ela logo vai poder voltar a andar e essa notícia me deixou mais feliz do que eu poderia dizer. Passo algum tempo com a sua mãe também, ela tem sido muito doce comigo e me ajudado com meus problemas, devo muito a ela. E passo muito tempo sozinha, o que também é bom. Principalmente para colocar meus pensamentos em ordem. E como você deve saber, eu tenho muitos pensamentos para colocar em ordem. Uma boa parte desses pensamentos são sobre você, e essa é a razão para eu estar escrevendo essa carta.

Quando fui embora daqui aquela noite, jurei que não voltaria mais. Então é meio surpreendente que eu esteja conseguindo me libertar aos poucos justamente aqui. As coisas tem sido tão surpreendentes pra mim ultimamente, que eu meio que decidi parar de criar expectativas. Então eu quero que saiba, caso algum dia você venha a ler isso: não espero nada de você depois dessa carta, só estou escrevendo porque tanta coisa deixou de ser dita desde que a gente se separou... E essas coisas que eu penso sobre nós... sobre o que eu tenho sentido... São coisas que eu acho que você deveria saber.

Quero que você saiba também que eu sinto muito. E dessa vez eu estou dizendo do fundo do meu coração. Eu sinto muito por tantos motivos... Mas principalmente por ter causado mal ás pessoas que me amam e só queriam meu bem. Eu sei que você é muito orgulhoso para admitir isso, mas eu vou dizer do mesmo jeito: me desculpe por ter te machucado. Eu não acreditava que eu pudesse fazer qualquer coisa que fosse magoar seus sentimentos, por isso eu não acreditava que você realmente se importasse com o que eu tivesse feito. Eu sabia que você me amava, mas não sabia que você me amava tanto. Acho que eu sabia na minha cabeça, mas não no meu coração... Você tinha acabado de sair de um feitiço, não achava que você me amava quanto eu te amava... Se eu acreditasse, talvez eu não tivesse feito tudo o que eu fiz. Sinto muito pela dor que isso tudo te causou. Eu espero que um dia a gente possa, talvez, mesmo que demore dezenas de anos, encontrar o caminho de volta para o que a gente tinha.

Com todo meu amor e minha saudade de sempre,

Hermione

***

Na manhã seguinte, Draco estava deitado na sua cama, encarando o teto como tinha estado a noite inteira. Tinha lido a carta de Hermione três, cinco ou quinze vezes, tinha perdido a conta. Já a tinha praticamente decorado. A cada vez que pensava nas palavras dela – o que acontecia o tempo todo – ele se sentia pior.

Quando começou a ouvir um movimento anormal na mansão, soube mesmo sem olhar no relógio, que estava chegando a hora. Todos iriam para o cemitério em Hogsmeade, aonde aconteceria o enterro... Aonde eles deveriam dizer adeus. Mas Draco não iria, ele tinha decidido naquela noite. E qualquer pessoa poderia imaginar que um motivo psicologicamente complexo estava por trás disso mas o simples fato era que ele não queria dizer adeus. Ele simplesmente não acreditava que ele tivesse que fazer isso. Porque ele se recusava a acreditar que Hermione estava morta. Ele ainda não acreditaria se ele a tivesse visto ser assassinada por algum comensal porque sinceramente, ele não podia mais pensar em como seria viver sabendo que Hermione não vivia no mesmo mundo que ele então era perfeitamente justo que ele não acreditasse que ela tivesse se matado. Não quando, por mais que não tivesse admitido, ele tinha visto nos olhos dela que ela estava melhor e que aquela fase dela, ou o que quer que tenha sido, tinha ficado para trás. Não quando ela tinha lhe escrito aquela carta. E aquela não era uma carta de suicídio. Ela estava se desculpando... Ela queria que eles voltassem a ficar juntos um dia... Ela não estava se despedindo, então ele também não iria. E qualquer um podia dizer que aquela recusa a acreditar no que era óbvio era algum tipo de estágio do luto, mas para ele não era. Ele simplesmente não acreditava. Ele não acreditava psicologicamente porque talvez seu coração não quisesse aceitar mas ele sabia que o seu lado racional – a sua mente -  estava de perfeito acordo com seu coração, e aquilo era tão raro de acontecer que ele sinceramente iria dar um crédito para eles. Então era assim que ele sabia que alguma coisa estava terrivelmente errada.

Horas se passaram com a mansão em profundo silêncio. Passou-se muito tempo até que ele pudesse ouvir algum som que indicava que todos estavam de volta. Imaginou que eles tinham voltado em silêncio, tristes demais para falar algo a respeito. Não havia mais o que dizer.

Ele ouviu a porta do seu quarto se abrir e já estava pronto para gritar com quem quer que fosse quando viu Taylor.

Ela tinha lhe enviado cartas desde que as notícias chegaram até Hogwarts mas ele não tinha se encomodado em responder. Então ela estava ali, vestida de preto e parecendo extremamente triste – mas não pelos motivos que uma pessoa vindo de um enterro estaria – e ele sabia que já tinha levado aquela história longe demais. Ele precisava seguir o exemplo de Hermione e começar a ser sincero diante de toda a situação. Ele não amava Taylor e os dois dificilmente tinham algum futuro juntos. Ele amava Hermione e provavelmente a amaria para sempre. Ninguém ia poder apagar isso. Na verdade, agora ele não acreditava que tinha sido tão estúpido gastando tanto tempo e energia fazendo isso acontecer. Hermione era uma parte dele. Ponto final. Não havia como apagar isso.

Ele se sentou na cama e a garota se aproximou, se sentando ao seu lado.

- Taylor... – ele começou a dizer, mas ela o interrompeu.

- Tudo bem, Draco. – ela sorriu tristemente – Eu entendo... Você não precisa dizer em voz alta...

- Você estava certa o tempo todo. – ele disse – Me desculpe por não ter te ouvido e só ter te magoado durante esse tempo... Eu só... Ela é muito importante pra mim. Eu fui estúpido agindo como se ela pudesse ser substituída... E fui mais estúpido ainda tentando te colocar no lugar dela.

- É o que se faz quando se está machucado... – ela esperou mas ele não disse nada – Ei, você não negou... estamos fazendo algum progresso, hã?

- Não sei... – ele deu de ombros – Tudo o que eu consigo pensar é que comparado ao que eu estou sentindo agora, o que eu estava sentindo antes não era nada...

- Acha que algum dia vai sentir por alguém o que sente por ela?

Draco desviou o olhar e não respondeu imediatamente.

- Não. – ele balançou a cabeça – Provavelmente não.

Taylor suspirou.

- Isso me faz gostar mais de você... – ela falou desanimada – O que é deprimente porque eu realmente gostar menos.

- Você vai seguir em frente e achar alguém que te mereça, Taylor... - ele disse, porque achou que seria uma coisa apropriada a se dizer. Sinceramente, ele só queria terminar aquela conversa o mais rápido possível.

- Com certeza. – ela falou apesar de não soar convincente.

Deu um beijo na bochecha dele e se levantou, se afastando.

- Te vejo por aí, Draco.

***

Era de madrugada quando ele apareceu.

A casa estava em completo silêncio mas quando se está em uma mansão com dezenas de pessoas e bem no meio de uma guerra, era bem difícil não ter ninguém pra te receber. Principalmente quando você era o melhor amigo de Harry Potter, que estava desaparecido há dias.

Lupin, Moody e o Sr. Weasley estavam na cozinha, conversando sobre a guerra embora não houvesse nada de realmente novo para se dizer quando ouviram a porta da Mansão se abrir e logo em seguida, passos no hall de entrada. Os três se entreolharam e empunharam a varinha, rumando para fora da cozinha desconfiados. Tecnicamente, ninguém que não fosse da Ordem seria capaz de sequer passar pelo portão de entrada dos terrenos da mansão, mas depois dos últimos acontecimentos inesperados e por causa do que estavam passando, precaução nunca era demais.

Eles encararam o menino ruivo parado de frente para as escadas, parecendo confuso, e ficaram paralisados por alguns segundos.

- Meu filho! – Arthur foi o primeiro a sair do estado de choque e correr para abraçar Rony – Filho, o que...? Como...?

Ele não tinha tido um segundo para abraçá-lo até que Moody se aproximou, afastando-o e o empurrando de modo que ele caiu sentado em um sofá ali perto.

- O que você está fazendo? – Arthur perguntou, apavorado.

- Pergunte á ele alguma coisa pessoal, Arthur! – Moody ordenou.

- Por quê? É ele! – Sr. Weasley olhou para Rony, que ainda parecia extremamente confuso e assustado, como se não acreditasse que ele estava mesmo ali – Ele voltou!

- São as regras, Arthur... – Lupin disse de forma branda.

Sr. Weasley suspirou, tentando desesperadamente pensar em alguma coisa rápido, assim eles poderiam finalmente aproveitarem o fato de Rony estar ali e estar vivo.

- Rony, o que aconteceu na primeira vez que você jogou quadribol na Toca com os seus irmãos?

Houve um silêncio e Rony demorou tanto a assimilar do que aquilo tudo se tratava que os três homens já estavam começando a ter dúvidas de que ele ia responder a pergunta.

- Eu caí da vassoura, quebrei o braço e a perna e Fred e Jorge ficaram de castigo por um mês porque eu tinha quatro anos e não deveria subir numa vassoura.

Arthur soltou o ar dos pulmões e começou a gritar, subindo as escadas.

- MOLLY! RONY ESTÁ AQUI! NOSSO FILHO VOLTOU!

Enquanto Arthur anunciava a volta de Rony não só para Molly mas sim para a mansão inteira, Lupin olhou preocupado para Moody.

- O que pensar disso? – ele perguntou.

- Não sei. – Moody olhou para Rony como se ainda não acreditasse que ele era ele mesmo – Alguma coisa está errada. Muito errada.

- Rony! – Molly desceu as escadas correndo, o que uma mulher da idade dela não deveria fazer, e abraçou Rony com tanta força que ele achou que fosse morrer – Rony, meu filho, você está bem??

Os olhos da mulher estavam molhados de lágrimas mas Rony estava prestando atenção na conversa de Moody e Lupin.

- Como assim? O que há de errado? – ele perguntou – Alguém pode me explicar o que está acontecendo??

- Rony! – Luna apareceu também – Rony, o que você está fazendo aqui?

Rony franziu o cenho.

- Eu não deveria estar aqui?

Luna começara a chorar.

- Claro que deveria! – e dizendo isso ela o abraçou, o sufocando mais ainda já que Sra. Weasley ainda não tinha largado dele.

E foi assim por um longo tempo, seus irmãos apareceram e todos o abraçavam e agiam como se não acreditassem no que ele estava fazendo ali, mas ninguém realmente explicava o porquê daquela comoção toda. Finalmente, ele decidiu ficar em silêncio e aceitar os abraços, até todos se acalmarem o suficiente para explicar o que estava acontecendo.

Depois do que pareceu uma eternidade, ele viu Harry sentado no topo da escada parecendo atônito. Malfoy, Mason e Parkinson estavam por ali também e agiam exatamente como Moody, como se alguma coisa estivesse errada e ele fosse algum tipo de bomba relógio que ia explodir e matar todos eles a qualquer segundo.

Quando os ânimos de acalmaram, Lupin o encarou de forma muito séria.

- Rony, onde você esteve?

Todos ficaram em silêncio olhando para ele com expectativa.

- Eu não sei. – ele respondeu – Mas pelo que eu vi da atitude de vocês, aqui não foi, não é?

- Do que você lembra, Weasley?

Rony forçou a sua mente a se lembrar do que tinha acontecido. O problema é que ele não achava que havia do que lembrar...

- Eu estava na missão, atrás da horcrux no Leeds Castle. Comensais apareceram e nos atacaram e então... – ele franziu o cenho – E então eu estava encarando os portões da mansão alguns minutos atrás, me perguntando o que eu estava fazendo do lado de fora. Mas isso não é possível, eu... O que aconteceu?

- Rony, querido... – Sra Weasley o encarou – você foi sequestrado pelos comensais da morte. Nós não temos notícias de você há dias... Nós estávamos começando a... – ela não conseguiu terminar a frase, caindo em um choro incessante.

- Mas... – ele balançou a cabeça, como se tentasse colocar os pensamentos em ordem – se eles me tinham, então o que eu estou fazendo aqui?

Ninguém respondeu de imediato, então Draco o fez.

- Essa é a pergunta na cabeça de todo mundo, Weasley.

- Seu tom faz parecer que você tem uma teoria, Malfoy. – Harry falou pela primeira vez e todos olharam dele para Malfoy – Dá pra falar logo? O que você acha que faria Voldemort colocar Rony na nossa porta desse jeito?

- Se quer saber minha opinião, Potter, a única coisa que faria ele entregar seu melhor amigo de volta é se ele tivesse alguma coisa melhor em mãos... Mas isso não faz sentido porque mesmo que ele tivesse uma coisa melhor em mãos, ainda não haveria motivo para ele abrir mão de te torturar através do Weasley... Então eu acho que ele foi obrigado a fazer isso. Obrigado a fazer uma troca...

- O que seria melhor para ele do que Rony em mãos? – perguntou Lupin, mas não foi Draco quem respondeu.

- Ter Hermione em mãos... – Harry respondeu baixo.

- Isso não faz sentido. – Pansy disse de forma amarga – Hermione está morta.

- O quê? – Rony praticamente gritou, mais pálido que o normal.

Algumas pessoas olharam para ela de cara feia.

- Ele tinha que saber uma hora, não é? Ele iria notar sua ausência... – e dizendo isso ela subiu as escadas, indo para o seu quarto.

- Isso... – Rony parecia prestes a ter um colapso, era muita informação para lidar – isso é verdade?

- Rony... – Luna o encarou tristemente – nós vamos explicar tudo para você... Pelo menos o que sabemos, ok? Vai ficar tudo bem, eu prometo.

Mas Rony sabia que esse “vai ficar tudo bem” era aquele tipo de promessa que se fazia para acalmar alguém, sabendo muito bem que não era possível cumpri-la.

***

Ninguém sabia no que pensar ou no que a volta de Rony ou a teoria de Draco poderia significar. Eles sabiam muito menos o que fazer dali em diante.

Naquela noite, Draco estava tão exausto por causa de tudo que ele finalmente, depois de noites em claro, conseguiu dormir. Não durou muito, mas por boas razões.

Ele sonhou com Hermione, o que era completamente normal diante de tudo que vinha acontecendo, com a exceção de que não era nenhum pouco normal.

No sonho era como se ele olhasse para ela de cima, e ela usava um vestido vermelho completamente diferente do tipo de roupa que ele a tinha visto usar e andava de um lado para o outro, parecendo estar perdida. Ela estava numa floresta e dava para dizer que ela estava apavorada. E ela gritava por ele.

Ele queria muito gritar de volta e dizer que estava ali mas não conseguia. Não era nem que ela não pudesse lhe ouvir, era ele que não conseguia falar.

- Draco! – ela olhava em volta como se ele fosse aparecer a qualquer momento na frente dela – Draco! Você está aqui?

Ele apenas a observou em silêncio enquanto ela continuava olhando em volta e passava a mão no cabelo, como se aquilo fosse ajudá-la a se acalmar ou a não perder a cabeça.

- Draco! Por favor! Se você puder me ouvir, por favor... Eu preciso que você venha aqui e me encontre porque sem você aqui eu estou completamente perdida!

Ele não dormiu o resto da noite, pensando que aquele sonho não era um sonho normal. Mas se não era um sonho normal, aquilo só podia significar que Hermione estava lhe pedindo ajuda. E aquele pensamento fez ele começar a ter sérias dúvidas sobre a sua sanidade. Sim, ele tinha se recusado a acreditar que ela tinha morrido, mas daí a acreditar que ela estava lhe pedindo ajuda através de um sonho era meio doentio...

Mas não parecia ser. E aquele lugar onde ela estava... por que ele sonharia com ela numa floresta? E não era uma floresta qualquer... Ele podia jurar que já tinha estado ali antes... Então ele pensou no Weasley e na hipótese da troca... E tudo começou a se encaixar perfeitamente na sua cabeça... como algum tipo de quebra-cabeça sem sentido... E então ele sabia que não podia ficar ali se perguntando se aquilo podia ser verdade ou se era algum tipo de conclusão maluca que a sua mente desesperada estava forçando-o a chegar. Ele simplesmente não podia arriscar ficar ali parado quando a vida de Hermione estava em risco.

A vida de Hermione. Aquele pensamento era tudo que ele precisava para se decidir. Tinha que ir embora. Ir para o castelo de Voldemort.

***

Luna estava deitada no seu quarto que dividia com Pansy e Gina na mansão olhando pela janela enquanto o sol nascia. Tinha passado a noite inteira assim, sem pregar os olhos. Tinha visto quando, em um certo ponto da madrugada, Draco saiu. Ela não sabia o que ele iria fazer, mas não o impediu. Tinha a sensação de que ele estava fazendo a coisa certa. Todos iam surtar quando ele não estivesse lá, mas ficar presos naquela mansão não iria ajudar nenhum pouco no andamento da guerra. E ela sabia que aquilo estava chegando ao fim, apesar de não saber como iria terminar.

Em um momento ou outro, seus olhos se fechavam por alguns segundos mas ela sabia que não iria dormir. Não era nem porque não estava com sono mas porque ela sentia que deveria fazer alguma coisa. Foi só na quinta ou sexta vez que aconteceu que ela começou a prestar atenção no que podia significar.  Ela ficava vendo essa imagem, de novo e de novo, de um lugar enorme, feito de pedra, com um imenso lago em volta. Lentamente, se sentindo confusa e ansiosa ao mesmo tempo, ela pegou o livro que ela folheava todo dia, com a intenção de sentir alguma coisa – qualquer coisa – sobre um daqueles lugares em particular. O livro que listava os castelos da Grã-Bretanha, contando suas histórias e mostrando suas fotos. Ela demorou a perceber mas achava que já tinha visto aquela imagem antes. Demorou um pouco mas finalmente a encontrou. Bodiam Castle.

Ela encarou a imagem por alguns minutos ainda, como se para ter certeza.

E então se levantou, indo até a cama de Pansy.

- Pansy. – ela só precisou tocar no ombro da sonserina para acordá-la, ela vinha tendo um sono muito leve ultimamente.

- O que foi?

- Eu preciso que você vá chamar Lucas, ok? Traga ele aqui. Eu vou chamar Harry e Rony.

- Pra quê? – ela perguntou, se levantando.

Ela já estava indo para a cama de Gina.

- Eu vou explicar logo. – ela deu uma pequena sacudida na grifinória – Gina, acorde...

Não demorou muito para os garotos estarem ali com idênticas caras de sono.

- Posso saber o que estamos fazendo aqui, Lovegood? – perguntou Lucas.

- Gente, eu acho que eu sei aonde está uma das horcruxes. – Luna disse, mostrando a foto do castelo no livro.

- Você teve a visão? – Harry perguntou, agora completamente acordado.

- Sim, mas não foi exatamente do jeito que eu imaginava... – ela falou – Eu achei que iria saber o nome do castelo e ver exatamente aonde a horcrux estava mas eu simplesmente vi uma imagem do castelo. Só isso.

- Luna, - Rony falou delicamente – tem certeza disso? Não é simplesmente porque você queria muito ver?

- Eu não sei, Rony... E eu sinceramente não tenho certeza nenhuma... Como eu disse, isso não aconteceu do jeito que eu esperava... Mas é tudo que eu tenho... – ela fez uma pausa - O que vocês acham?

Eles se entreolharam e então foi Gina quem tomou a iniciativa.

- Temos que ir. – ela disse.

Luna assentiu e indo até a sua cômoda, tirou de lá a bússola de Hermione. Todos a encararam.

- Eu peguei do quarto dela... Achei que iriamos precisar...

Foi Lucas que cortou o silêncio que se instalou.

- Não deveríamos chamar o Draco? – ele perguntou.

- Vou falar com ele... – Pansy fez menção de sair mas Luna a impediu.

- Malfoy não está aqui. – ela disse – Ele foi embora no meio da noite.

- Embora? – Pansy a encarou – Embora pra onde? Ficou louca?

- Eu não sei... O que eu sei é que ele vai fazer o que deve. Assim como nós. – todos eles hesitaram – Olhem, eu sei que isso parece loucura... Não pensem que eu não tenho completa noção disso. Mas eu sinceramente acho que é a coisa certa a se fazer... Como eu tenho a sensação que pra onde quer que Draco tenha ido, é a coisa certa a se fazer.

Harry balançou a cabeça.

- Ok. Olhem, nós não podemos ganhar uma guerra dessa mansão... Então quem está dentro?

- Eu não perderia isso por nada... – Rony disse com uma falsa animação.

Pansy e Lucas se entreolharam.

- Nós vamos... – Lucas disse.

Harry os encarou.

- Vocês tem certeza?

- Claro que sim, Potter. – Pansy respondeu – Draco está por aí, e nós não vamos ficar aqui enquanto vocês pegam a diversão toda só pra vocês...

- Agora, - Rony disse olhando para Luna e Gina – vocês deveriam ficar.

Gina riu.

- Muito engraçado, Ronald.

- Sinceramente, Rony... – Luna revirou os olhos – Fui eu que tive a visão...

- Mas...

- Chega. – Harry falou – Rony... Elas não vão desistir de ir, não importa o que você diga. Vamos nos encontrar no terraço daqui a meia hora. Vamos de vassoura.

Eles começaram a se movimentar para sair do quarto quando os chamou.

- Pessoal? – ela falou hesitante – Peguem o máximo que puderem e coloquem numa mochila. Não acho que nós vamos voltar logo...

Ninguém respondeu.

******

Mais ou menos 24 horas antes, longe dali, nas proximidades de Hogsmeade, a neve derretia devagar, enquanto os sinais da chegada da primavera começavam a apontar. Metros embaixo da terra recém colocada, dentro de um caixão de madeira, Hermione abriu os olhos. E percebeu que ao contrário do combinado, tudo que via era a madeira fria um palmo de distância do seu nariz. Percebeu que ainda estava enterrada. Percebeu que tinha caído numa emboscada.


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Notas finais do capítulo

N/A: Muuuuito obrigada por todos os comentários! Adoro quando vocês comentam bastante, é muito bom ver que vocês continuam aqui depois de 31 capítulos! Obrigada de verdade
Aaaah, esse capítulo foi 99% desprovido da presença da Hermione, mesmo que ela ainda tenha sido o assunto principal... Mas capítulo que vem vocês vão saber exatamente o que aconteceu, tim-tim por tim-tim... Enfim, me digam o que acharam...
Então... Isso é tudo, pessoal! Aaaah, desejem inspirações pra mim... Tô precisando... Tô assistindo tanto filme, seriado... qualquer coisa relacionada a ficção pra ajudar a terminar a escrever a fic, que vocês não tem noção... Hahaha! E não deixem de dizer o que acharam do capítulo! Muitos comentários são um ótimo gás pra inspiração também! Aaaaah, o nome do capítulo é por causa da música da Taylor Swift, Breathe.
XOXO



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