O Preço de Amar Um Malfoy escrita por BlissG


Capítulo 31
Não se esqueça de nós dois


Notas iniciais do capítulo

Estava com tanto medo de que ele se cansasse dela, de que o amor dele não fosse suficiente." (Archangels Kiss - Nalini Singh)



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Lucas acordou ouvindo passos apressados no corredor. A luz fraca do dia entrava pelo quarto e ele imaginou que o pessoal estivesse saindo para a missão. Ele lamentava que Draco ia morrer de tédio com os grifinórios e a corvinal mas depois da noite que passou com Pansy, ele merecia um descanso. E geralmente quando ele falava que Pansy lhe dera uma canseira na noite passada, ele se sentia extremamente feliz mas aquele não era o caso. Quem lhe dera.


~*~ Flashback ~*~


Assim que Lucas entrou no quarto de Pansy, se surpreendeu ao ver a garota encolhida na cama com o rosto banhado em lágrimas. Se surpreendeu porque Pansy não era do tipo que chorava muito. Pelo menos não na frente dele. E aquela horcrux não perdia tempo mesmo, porque não fazia nem dez minutos que Pansy a tinha colocado. Ele imaginou que durante essas sete horas, os sentimentos que o objeto iriam trazer só iam piorar e se preparou psicologicamente para, no mínimo, muito choro.


Se aproximou dela, deitando ao seu lado e a abraçando.


- Por que está chorando? – ele perguntou.


- Só pensando... – ela respondeu com a voz embargada.


- No quê?


- Em tudo que tem acontecido... Principalmente em tudo que aconteceu desde a morte dos meus pais...


Lucas ficou em silêncio por um tempo. Fazia tempo que Pansy não falava nos seus pais, apesar de ele não ser idiota o suficiente para achar que ela tinha simplesmente se esquecido disso. Não, ele sabia que ela pensava neles todos os dias. Só que, como todo bom sonserino, preferia esconder os sentimentos do que falar sobre isso.


- O que tem eles?


- Eu só estava pensando... que eu não acho que eles estariam muito orgulhosos de mim agora.


Ele suspirou.


- Claro que estariam, Pansy...


- Não, não estariam... Quem eu quero enganar, Lucas? Tenho uma sangue-ruim como melhor amiga e entrei para a Ordem da Fênix. Eles colocariam uma alerta em néon na minha testa escrito “traidora de sangue” em letras garrafais e me expulsariam de casa.


- Isso não é verdade... Você sabe que está fazendo a vontade deles... Eles não queriam que você ficasse do lado de Você-Sabe-Quem.


- Isso não é totalmente verdade. – ela disse – Eles não queriam que eu lutasse na guerra, não que ficasse contra o Lord das Trevas.


- Se eles estivessem aqui, eles saberiam que ou se está do lado de Você-Sabe-Quem ou se está contra ele.


Pansy não respondeu imediatamente.


- Pode ser... Mas mesmo assim, queria poder vê-los de novo...


- Você vai... Um dia...


Depois disso ela dormiu. E Lucas, vendo que ela parecia mais relaxada, se deixou dormir também. O que foi, ele admitia, uma coisa muito estúpida de se fazer.


Quando acordou, menos de uma hora depois, apalpando a cama a procura de Pansy, viu que ela não estava lá. Olhou em volta começando a ficar nervoso e viu a porta da sacada do quarto aberta.


Se levantou tão rápido que quase tropeçou na beirada da cama. Quando chegou na porta da varanda, viu Pansy sentada na mureta da sacada. Seu coração quase saiu pela boca.


- Pansy... – a voz dele soou muito cautelosa – O que está fazendo?


Seus olhos estavam inchados e seu rosto ainda estava encharcado.


- Pensei num jeito de ver meus pais... – sua voz quase não saiu em meio ao choro. Mas mesmo assim Lucas pôde perceber que ela não soava normal, não soava como Pansy... Sua voz combinava com a expressão no rosto da sonserina... ambos pareciam doentias...


- Pansy... – ele se aproximou devagar – Se você pular daí, você vai morrer. – disse ele, como se aquilo não fosse uma coisa óbvia.


- Eu sei... – ela olhava para baixo – É tão simples...


- Pansy... – ele tentou chamar a atenção dela mas ela não parava de olhar para baixo e aquilo o estava fazendo surtar internamente  – preste atenção em mim... Essa não é você... É a horcrux no seu pescoço falando. Acredite em mim, você não quer morrer.


- Eu quero. – ela olhou para ele somente por alguns segundos – Eu já tinha pensado nisso antes. Ia fazer tudo ficar mais fácil. Eu poderia, pela primeira vez na minha vida, ficar em paz.


- Exceto que não seria na sua vida, Pansy! Seria na sua morte! – ele gritou, e o olhar que ela lhe lançou o fez se arrepender instantaneamente.


- Que seja. – ela deu de ombros – Mesmo assim seria paz...


E com isso, ela se jogou.


Lucas prendeu a respiração sem acreditar no que ela tinha feito.


- PANSY!


Ele procurou sua varinha e deu graças a Merlin por não tê-la tirado das suas vestes. Fez um feitiço de levitação quando devia faltar um metro para Pansy atingir o chão.


- Lucas! – ele a ouviu exclamar em um lamurio.


Com muito cuidado para não deixá-la cair – porque aquilo seria muito idiota – ele a levitou para cima e quando ela chegou a varanda e ele abaixou a varinha, ela chorava desesperadamente. Tentava formular frases mas tudo que ela dizia era perdido em meio ao choro. Ele se aproximou e a abraçou a deixando chorar no seu peito enquanto ele respirava fundo, tentando se recuperar do susto.


~*~ Fim do flashback ~*~


***


Tudo estava pronto para saírem. Lupin, Narcisa e Moody estavam no pátio da mansão dando instruções para Harry, Rony, Draco, Luna e Hermione. Os quatro primeiros já estavam nas vassouras, Luna na mesma que Rony. Apenas Hermione ainda estava se preparando psicologicamente para a vassoura, adiando o momento que precisaria voar o máximo que poderia.


- A senhorita vai enfrentar coisas muito piores na guerra... – Moody falou.


- Pra mim, nada é pior que voar numa vassoura... – ela falou.


- Vamos, Hermione... – Harry a incentivou – Você vai comigo, não tem perigo...


Draco revirou os olhos.


- É, Granger... Vá com o Santo Potter... Se você cair, o salvador da pátria vai criar asas e te salvar...


Hermione o olhou de cara feia mas Narcisa sorriu pra ele.


- Draco, - disse a mulher – se não te conhecesse diria que está com ciúmes...


O sorriso debochado que Draco demonstrava desapareceu e ele bufou.


- Vamos embora de uma vez... – então ele deu impulso e se afastou.


- Ele sabe onde a Hermione mora? – perguntou Rony.


Hermione suspirou e subiu na vassoura atrás de Harry.


- Vamos logo, Harry... – e eles foram na mesma direção de Malfoy.


- Sinceramente, Rony... – ela se segurou bem no namorado – Você tem que parar de dar esses foras...


E então eles se foram também.


***


Não demoraram muito a chegar na casa de Hermione. Draco chegou primeiro porque, obviamente, tinha saído primeiro mas também porque tinha voado o mais rápido possível, não querendo que o alcançassem. Mas como os outros demoraram tanto para chegar, imaginava que Potter tinha mantido uma velocidade moderada por causa de Hermione.


Voltar naquela casa causou uma sensação estranha em Draco. Amarga mas também doce. Em um minuto, foi como se todas as coisas que aconteceram no verão passassem na sua cabeça. Ele fazendo o cabelo de Hermione ficar roxo; ele se coçando todo porque Hermione colocara um pó trouxa na roupa dele; Hermione o acordando ás seis da manhã porque estava ligada demais para esperar para lhe contar a brilhante ideia de ir acampar na praia, no meio de milhões de mosquitos...


Sacudiu sua cabeça tentando afastar os pensamentos. Não precisava se lembrar daquilo. Era passado e deveria ficar lá. Eles tinham uma guerra pela frente e se conseguissem chegar ao próximo verão, não haveria a cara de brava de Hermione quando ele a irritava, não haveria a risada descontrolada dela de quando conseguia tirá-lo do sério, ele provavelmente poderia dormir até a hora que quisesse sem ser perturbado e o pôr do sol na praia seria apenas uma lembrança. Haveria apenas os dois, cada um seguindo seu caminho. Separados.


Os outros chegaram. Hermione fez questão de não demorar muito no lugar. Abriu a porta da casa rapidamente e eles a seguiram até a garagem, aonde entraram no carro e saíram.


***


Hermione dirigiu o mais rápido que pôde e a viagem inteira foi em completo silêncio. Todos estavam começando a ficar nervosos, sem saber o que pensar do que quer que os estivessem esperando no castelo.


Quando finalmente chegaram a Kent e começaram a ver o enorme e belo castelo de longe, nem Luna fez nenhum comentário sobre como o lugar era bonito. O que foi estranho porque Luna não falava de outra coisa a não ser isso desde que Lupin mencionara o Leeds Castle para eles.


- Tudo bem, Luna? – Hermione perguntou notando uma expressão estranha no rosto da amiga.


- Sim... – ela disse vagamente.


- Que foi, Luna? – Rony perguntou. – Você viu alguma coisa?


- Era só o que me faltava... – Draco reclamou – Ir pegar um objeto das trevas enquanto Lovegood prevê a nossa morte!


- Cala a boca, Malfoy! – Harry exclamou.


- Eu não previ a morte de ninguém... – os olhos azuis dela encararam o enorme castelo á sua frente – Foi só um pressentimento...


Ninguém disse mais nada.


***


Na mansão, Lucas decidiu se levantar e tomar um banho, talvez assim se sentisse um pouco melhor antes de visitar Pansy. Além disso, precisava colocar algumas coisas em ordem na sua cabeça. Ver Pansy tão vulnerável na noite passada, e tão decidida a se matar a qualquer momento tinha feito ele encarar tudo que acontecera entre os dois naquele ano de forma diferente. Eles estiveram em perigo tantas vezes em tão pouco tempo e provavelmente ainda estariam mais algumas vezes até que pudessem descansar a cabeça no travesseiro em paz. Ele já tinha ouvido tantas pessoas falarem aquilo tantas vezes mas o significado das palavras tinha lhe atingido em cheio agora: a vida era muito curta. E as pessoas que você ama podem ser tiradas de você a qualquer momento.


~*~ Flashback ~*~


- Você vai ficar aqui! – Lucas arrastou Pansy quarto a dentro e a colocou sentada numa poltrona.


- Lucas... – ela começou com a voz cansada, como se não quisesse mais discutir aquilo.


- Eu não quero saber, Pansy! – ele se abaixou na frente dela, olhando nos seus olhos – Presta atenção: pode tirar qualquer plano suicida que você tenha na sua cabeça porque eu não vou te deixar morrer! Nem hoje, por causa de uma horcrux idiota, nem nunca. Estou sendo claro?


- Está sendo um imbecil... – ela respirou fundo, se encostando na poltrona – Só me deixa em paz então...


- Te deixar em paz pra quê? Pra você se matar?


- Sim, Lucas! – o tom dela foi baixo mas ainda incisivo – Exatamente...


Ele se sentou no chão, ainda de frente pra ela.


- Eu não entendo, Pansy... Achei que você tivesse mais controle sobre si mesma... Você não sabe que isso é só a horcrux no seu pescoço falando? Daqui há algumas horas, você não vai estar pensando em mais nada disso...


- Eu já te disse, Lucas... Essa sensação sempre esteve aqui... Escondida... – ela encarou o teto parecendo distraída - Eu vou continuar pensando nessas coisas... porque esses sentimentos não surgiram do nada...


- Mas você sempre lutou contra eles. Todo mundo se sente mal com a vida ás vezes... – ele replicou – Por que não pode lutar um pouco mais agora?


- Porque é muito difícil... - uma lágrima solitária escorreu pelo seu rosto - E eu estou cansada...


Lucas não respondeu e eles ficaram em silêncio por um tempo. O garoto pôde observar a expressão de Pansy ficar mais e mais pensativa.


- O que está passando pela sua cabeça?


Ela suspirou.


- Estou pensando na nossa bebê... – ela respondeu num sussurro - Acho que eu nunca te disse isso, Luke... Mas eu sinto muito que ela tenha morrido... Muito mesmo... Eu deveria ter te escutado e nunca ter começado a lutar... Eu fui idiota e irresponsável. Me desculpe.


- Não tenho nada para te desculpar, Pansy... Não foi culpa sua, foi o destino...


Pansy o olhou com estranheza.


- Não sabia que acreditava em destino...


- Nem eu... – ele respondeu – Mas é impossível acreditar que algumas coisas acontecem por acaso...


O silêncio caiu no quarto novamente mas dessa vez foi quebrado pelo som do choro reprimido de Pansy. Lucas queria dizer pra si mesmo que era a horcrux que estava fazendo aquelas coisas á ela mas ele mesmo não acreditava totalmente naquilo. Sim, a horcrux estava tornando as coisas piores... mas a vida da sonserina não tinha estado nem um pouco fácil nos últimos meses. A vida de nenhum deles estava.  


- Eu sinto falta dela. – ela tocou a própria barriga e sua voz soou embargada – Eu já a amava tanto. Eu não acho que ela sabia, mas eu amava...


- Ela sabia. – ele disse, depois de um tempo em silêncio – Você seria uma boa mãe, Pansy...


Pansy o observou.


- Acha mesmo isso?


- Tá brincando? – Lucas exclamou – Claro que sim. Você é muito maternal pra ser uma mãe ruim...


- Eu não sou maternal.


- Claro que é. Você cuida dos seus amigos... Dá sermão no Draco, na Hermione, em mim... Você sabe o que é certo e o que é errado, você é forte, você é boa... E quando a hora chegasse, eu também seria um bom pai... Eu estava pronto para te provar isso. – ele hesitou – Ainda estou. Nós seríamos uma boa equipe, Parkinson... Se você quiser ser uma equipe comigo um dia...


Ela deu um sorriso triste.


- Eu não seria uma equipe com mais ninguém além de você...


Ele sorriu pra ela e se aproximou mais.


- Pansy... Nós vamos sobreviver a isso. Eu juro. Eu sei que eu não te digo isso com frequência... mas eu te amo tanto. Eu não acho que você saiba o quanto eu te amo. E é porque eu te amo que eu prometo que nós ainda vamos ser muito felizes juntos. Eu sei que as coisas não estão fáceis agora, mas nós vamos ser muito felizes no futuro. Vou me certificar disso.


- O problema, Lucas... é que a estrada pro futuro é muito longa. E o amor nem sempre é suficiente... Olha pro Draco e pra Hermione... Tem alguma dúvida que eles se amam? E o que o amor deles trouxe? Pouca coisa além de dor...


Eles não soube o que dizer depois daquilo. Não era todo dia que ele se declarava e aquele não era o tipo de coisa que se espera ouvir depois de confessar seus sentimentos pra pessoa que você ama.


- Eu vou no banheiro, ok? – ela disse se levantando.


- Ok... – foi tudo que ele respondeu.


Não demorou nem cinco minutos para Lucas ouvir barulho de vidro se quebrando vindo do banheiro. Ele se levantou correndo e vendo que a porta estava trancada, demorou mais tempo do que deveria para achar sua varinha e conseguir arrombá-la. Quando conseguiu, Pansy estava desmaiada em meio aos cacos do espelho, com seu pulso esquerdo cortado.


~*~ Fim do flashback ~*~


***


Quando eles finalmente conseguiram estacionar o carro, pararam em frente ao castelo apreensivos. Mas quando Hermione tirou a bússola do bolso para saberem para que lado exatamente deveriam ir, não era para dentro do castelo que ela apontava.


Hermione soltou um som de satisfação.


- Como eu imaginava... – ela saiu andando e os outros não podiam fazer nada além de segui-la.


- Hermione! – Harry a chamou, tentando acompanhá-la – Pra onde estamos indo?


- Para o labirinto,  não é? – Luna pareceu entender o que Hermione quis dizer – É lá que a horcrux está. Na gruta.


- O quê? – Draco perguntou, impaciente por estar se sentindo excluído da conversa – Posso saber do que vocês duas estão falando?


- Há um labirinto aqui no castelo. – Hermione respondeu, sem diminuir o ritmo – No centro do labirinto, há uma gruta. Quando eu pesquisei sobre o castelo, isso me chamou a atenção...


Eles passaram ao lado de um muro de plantas e quando Hermione parou, os outros imaginaram que estavam na entrada do labirinto.


- Não gosto disso... – Rony comentou olhando para dentro do labirinto.


- Você não gosta? – Harry o olhou – Quem tem um histórico ruim com labirintos aqui?


- O pobre coitado do Testa Rachada! – debochou Draco.


- Parece tão... - Hermione começou.


- Confuso? – Luna completou – É pra ser...


- Esses trouxas parecem estar se virando bem... – Draco apontou com a cabeça para os turistas que saíam e entravam do lugar, parecendo se divertirem – Não deve ser tão difícil...


Hermione o olhou com cara feia.


- É pra ser difícil pra gente. – Luna explicou – Quando eu vim aqui com meu pai nós não fomos até a gruta exatamente por isso. É confuso pra nós.


Harry começava a entender.


- Voldemort foi quem se certificou disso.


Hermione assentiu, concordando.


- Vamos acabar logo com isso...


Com isso, eles entraram.


Não era assim tão difícil com a bússola. Mais uma vez, Hermione agradeceu mentalmente por terem aquele objeto.


No caminho para a gruta, eles não encontraram nenhuma cobra ou qualquer criatura que os impedisse de chegar á horcrux. Ao invés disso, eles encararam outro problema.


- Então, - Rony começou depois de poucos minutos de caminhada – quando sairmos daqui, que tal passarmos no restaurante do castelo pra comer alguma coisa?


- Acho que é uma boa ideia... – falou Hermione – Agora que você falou, percebi que a viagem me deu fome.


- A mim também. – Luna e Harry concordaram em uníssono.


- Por que não vamos agora? – Rony perguntou – Deixamos o que temos que fazer pra mais tarde...


- Boa ideia!


Os quatro já iam dar meia volta quando Draco exclamou:


- Ei! – ele olhou pra eles como se visse uma coisa muito estranha na sua frente – Vocês ficaram mais loucos que o normal??! Nós temos uma coisa importante a fazer aqui, lembram?


Eles se entreolharam e então Luna franziu o cenho.


- Não... – ela olhou para o sonserino parecendo muito confusa – O que é?


- Vocês estão de brincadeira comigo, não é? – Draco olhou para o trio grifinório e viu que não estavam – Por Merlin, nós estamos aqui pra...


E então ele se interrompeu.


- Pra quê, Malfoy? – perguntou Hermione, parecendo realmente curiosa.


Draco não se lembrava. Mas ele sabia que era importante. Sabia que era questão de vida ou morte. Mas se era tão sério, por que não conseguia se lembrar? A não ser que...


- Tem alguma coisa muito errada aqui... – ele disse.


Os cinco ficaram em silêncio apenas olhando uns para os outros, até que Hermione disse:


- Vamos continuar fazendo o que estávamos fazendo... – ela disse – Até nos lembrarmos...


- Ótimo! – Harry concordou – Ótima ideia!


- O que a gente estava fazendo? – Rony perguntou.


Mais silêncio.


- A bússola. – Hermione olhou para a bússola na sua mão – Nós devíamos estar indo para onde a bússola está apontando... Vamos pra lá...


Eles seguiram em frente.


***


Quando Lucas finalmente saiu do seu quarto, preparado psicologicamente para ver Pansy, ainda não sabia exatamente o que diria a ela. Estava nervoso mas esperava que na hora soubesse o que dizer.


~*~Flashback ~*~


Ele observava em silêncio enquanto Narcisa cuidava do pulso machucado de Pansy e tirava os pedaços de vidro que tinha entrado sem querer nos seus braços e pernas. A mansão agora tinha uma espécie de enfermaria e era para lá que ele tinha levado Pansy ao encontrá-la no banheiro.


- Quanto tempo até isso acabar? – perguntou Narcisa.


Lucas olhou no seu relógio de pulso.


- Três horas...


Narcisa deu um sorriso triste.


- Você está se saindo bem, Pansy... – ela disse á garota.


- Bem? – a menina perguntou sarcasticamente – Se Você-Sabe-Quem pudesse me ver agora, ele estaria se divertindo por uma pessoa tão fraca ter decidido destruir essa horcrux...


- Se você fosse fraca, já estaria morta. – Narcisa retrucou, simplesmente.


- Eu só não estou morta ainda porque Lucas é um pé no saco e não me deixou em paz.


- Se você não estivesse lutando contra isso, ele não conseguiria te impedir.


Ela não pôde retrucar contra isso e Lucas teve que concordar com Narcisa, apesar de não ter pensado nisso antes. Ele tinha achado que ela estava se deixando levar, mas por mais que não parecesse, Pansy estava lutando contra aquilo.


- Sabe, vocês não tem noção da sorte que têm... Nenhum de vocês...


- Sorte? – agora foi Lucas que riu. Se eles tinham sorte, queria ficar o mais longe possível de pessoas azaradas.


- Sim... Porque, apesar de ainda serem muito novos, vocês são as pessoas mais fortes que eu já vi. Tiveram que amadurecer muito rápido e mesmo durante esse ano difícil, mal ou bem continuam todos amigos.


- Nós não somos amigos dos grifinórios...


- Certo. – Narcisa pareceu rir de uma piada interna que só ela conhecia – Ainda não...


Lucas fez uma cara de horror tão grande que chegou a ser cômica.


- Vocês são um enorme grupo de desajustados que por mais que odeiem isso, estão muito ligados... Lucas, você é apaixonado pela Pansy e vocês dois são amigos de Draco desde sempre... Draco começou a namorar Hermione que, por mais incrível que pareça, ficou amiga de Pansy... Hermione é amiga de Harry Potter, Rony Weasley e Gina Weasley desde o seu primeiro ano em Hogwarts e o Weasley namora Lovegood, que pelo que pude perceber, faria amizade até com o Lord das Trevas se esse se mostrasse disposto a isso. Se acontece alguma coisa com qualquer um de vocês, isso de uma forma ou de outra vai afetar a todos. Não há como negar isso. Durante esse ano, todos vocês passaram por coisas difíceis e mesmo assim, continuam lutando... E algo me diz que essa força de vocês, vêm um dos outros... Estão longe dos seus pais mas são pessoas honestas e isso é porque diante de tantas brigas e desentendimentos, acabaram educando uns aos outros... Quando eu tinha a idade de vocês, á essa altura do meu sétimo ano estava escolhendo vestido para o baile de formatura e brigando com minhas suposta amigas sobre quem ia ser chamada pelo garoto mais popular da escola. Não aguentaria nem um terço da metade do que vocês estão passando... Queria que soubessem como isso é raro... Mas acho que um dia vão ter consciência disso...


Nenhum dos dois fez nenhum comentário e Narcisa terminou o curativo.


- Por que não vai se deitar um pouco, Lucas? Eu fico com a Pansy...


- Não... Eu posso ficar. – ele disse.


- Você não está com o jeito que vai conseguir ficar acordado... – Narcisa sorriu – Vá se deitar, prometo entregá-la sã e salva amanhã de manhã...


Ele olhou para Pansy e ela balançou a cabeça.


- Vá dormir, Luke... Está quase acabando...


~*~ Fim do flashback ~*~


***


Assim que eles entraram na gruta, saindo do labirinto, o motivo pelo qual eles estavam lá voltou. Se entreolharam, preocupados.


- Bom, isso foi estranho... – Rony comentou.


- Estranho, Weasley? – Draco revirou os olhos – Eu aposto que tem algum alarme nesse lugar! O Lord ia vir nos pegar enquanto desfrutávamos da sobremesa do restaurante do castelo.


Eles não replicaram. Hermione achou que tinham pensado a mesma coisa. Era melhor fazer o que tinham que fazer e ir embora rápido.


Olhando em volta, haviam mais turistas ali do que o esperado. Um guia falava sobre a gruta e algumas pessoas tiravam fotos. O lugar era escuro, úmido e assustador. Com certeza só não era mais horripilante porque o movimento de pessoas deixava aquilo parecer menos uma questão de vida ou morte do que realmente era. Havia um pequeno rio no canto da gruta e olhando para a bússola, Hermione viu que ela apontava pra lá.


- Na água? – Luna sussurrou – Isso é inesperado...


- Não mexam aí... – eles se viraram para ouvir um funcionário do castelo chamando a atenção de algumas crianças que mexiam na parede da gruta – É perigoso...


- O que pode ter de perigoso em um monte de terra? – uma mulher perguntou, devia ser a mãe das crianças.


- Bem... recentemente nós descobrimos que há coisas aqui na gruta que podem causar alguma intoxicação... – o funcionário explicou - Ou até levar á morte...


- Você quer dizer que elas podem ser venenosas? – Hermione resumiu.


Diante da expressão das pessoas ali perto, Hermione entendeu porque ele não queria usar a palavra “venenosa”.


- Humm... Sim...


- Era isso que o tal Phobos quis dizer. – Rony murmurou – Foi isso que ele quis dizer quando falou que o destino da pessoa que destruir uma horcrux seria inevitável. O destino é a morte.


- Alguém terá que morrer pra destruir a horcrux? – Luna parecia horrorizada – Isso é um absurdo...


- Odeio interromper essa reunião de vocês, - Draco falou – mas acho que nós temos que focar em um problema de cada vez, ok? Então, se pudermos pegar a horcrux e simplesmente dar o fora daqui, seria ótimo... Podemos resolver o problema de quem vai fazer o sacrifício do século amanhã...


- Mas como vamos simplesmente pular no rio com essas pessoas aqui? – Harry perguntou.


Draco suspirou e com um aceno de mão que mais parecia estar espantando uma mosca, todas as pessoas no lugar, com exceção deles, ficaram paralisadas como verdadeiras estátuas.


Hermione tirou um segundo pra ficar impressionada. Alguém além dela tinha andado praticando...


- Tudo bem, - Luna olhou pra eles – então quem vai entrar na água?


Pela milionésima vez naquele dia, eles olharam de um para o outro.


- Eu vou. – Harry se pronunciou.


- Ok...


Ele tirou os sapatos e em seguida o casaco e a camisa, entregando a Hermione.


- Você andou malhando? – Luna perguntou, deixando Harry vermelho.


- Luna! – brigou Rony olhando pra ela incrédulo.


- O quê? – ela deu de ombros – Eu não estou dando uma conferida nele... só apontando o óbvio... Não é, Hermione? – ela olhou para a morena, buscando apoio.


- Faz um tempo que eu percebi que nós garotas não damos tanto valor ao quadribol quanto deveríamos... – foi o que Hermione disse.


- Por favor, - Draco bufou – só entra nessa droga desse rio de uma vez por todas, Potter!


Hermione reprimiu um sorriso, se sentindo boba por ficar tão animada com a possibilidade de Draco ainda sentir ciúmes dela.


- Gina tinha que estar aqui pra ver isso... – Luna sussurrou para Hermione enquanto Harry rumava para o rio.


Ele colocou o pé na água e um segundo depois a tirou.


- O que foi? – Rony perguntou, se aproximando.


- Está fria... – ele respondeu.


Os outros olharam para Harry, incrédulo.


- Sério? – Draco revirou os olhos – Isso vai te impedir?


- Não estou brincando! – Harry falou, impaciente – Não está só fria, está congelante!


Hermione se abaixou e colocou a mão na água. Ela podia jurar que sentiu seus ossos doerem.


- Harry está certo... Isso pode ser um problema...


Rony empunhou a varinha e fez um feitiço que deveria esquentar a água. Hermione colocou a mão no rio novamente. Não havia funcionado.


- Não tem outro jeito. – Luna falou – Você tem que ser o mais rápido possível. Ou você pode morrer de hipotermia.


Rony revirou os olhos.


- Tão positiva... É por isso que eu a amo...


- Acho que a gente devia entrar também, Weasley. – Draco falou sério – Quanto mais gente procurando, mais rápido vamos encontrar.


E com isso, ele também tirou a camisa para entrar no rio.


Hermione piscou umas três vezes muito rápido como se nunca tivesse visto Draco sem camisa antes e Luna riu.


- Agora, isso é dar uma conferida, Rony. – disse a loira, apontando para Hermione.


- Luna! – a morena ralhou, desviando o olhar.


- Vamos acabar logo com isso... – Rony falou.


E então, os três mergulharam no rio.


Ele não era exatamente grande. Pelo menos não a parte que estava dentro da gruta. Mas ele se estendia para fora, dando talvez no enorme lago que eles tinham visto quando chegavam no castelo.


Hermione e Luna trocaram um olhar preocupado quando os garotos desapareceram na água e ela percebeu que o que estava pensando antes estava certo. A gruta parecia muito mais assustadora quando estava em silêncio.


Não se passou muito tempo até Harry aparecer novamente. Ele tremia de frio e carregava uma concha em suas mãos.


- Você está bem? – elas perguntaram ao mesmo tempo.


- O que é isso na sua mão? – Hermione tirou uma concha na mão dele – É ela?


- Acho q-que si-sim... – ele gaguejou.


- Meu Deus, Harry... Você está pálido, sua boca está branca! – ela conjurou um cobertor e o aqueceu com uma varinha, passando-o em volta do moreno depois de secar suas roupas. – Senta um pouco, ok?


Hermione teve um pouco de dificuldade em abrir a concha e quando a abriu, encontrou uma pérola. Ela franziu o cenho para o objeto. Parecia surpreendentemente comestível.


Rony apareceu em seguida, e parecia estar pior que Harry. Luna não demorou nem cinco segundos para lhe cobrir com o cobertor e esquentar suas roupas também.


Hermione guardou a horcrux na mochila que carregava e olhou para o rio.


- Onde está Draco? – perguntou, sentindo-se muito nervosa de repente.


- Relaxa, Hermione... – Rony falou baixo – Ele vai ver que não estamos mais lá e vai voltar...


- Já era pra ele ter voltado! – ela exclamou – Ele não vai aguentar ficar lá por mais tempo!


Hermione esperou mais uns dois minutos para ele aparecer e foram os dois minutos mais longos da sua vida. Nem sinal do sonserino.


- Eu vou entrar pra procurar por ele! – ela disse.


- Não, Hermione... – Harry disse – Malfoy sabe se cuidar...


- Você ficou maluco, Harry? Ele pode morrer congelado!


Nesse mesmo instante, Malfoy emergiu na água mas parecia tão fraco que provavelmente nem conseguiria chegar á beirada.


- Draco!


Hermione entrou na água para o arrastar para fora, e assim que o loiro estava em terra firme, desabou com tudo no chão. A garota se ajoelhou apavorada ao seu lado.


- Você está bem?


Ele não respondeu e aquilo a deixou ainda mais nervosa. Secou suas roupas também e não conjurou apenas um ou dois cobertores aquecidos para ele, mas três.


- Você está bem? – ela repetiu a pergunta. Ele estava acordado mas não falava nada então ela surtou – Malfoy, responde a minha pergunta agora ou então, se você sobreviver á isso, não vai sobreviver á mim!


Ele riu. Sim, riu.


- Eu estou bem, Granger. – ele falou – Só que você estava tão engraçada toda preocupada!


Hermione arregalou os olhos e Rony soltou um som de exasperação da onde estava.


- Seu idiota! – ela se afastou dele, mas não sem antes lhe dar um soco bem mais fraco do que merecido no braço.


***


Os elfos iam levar o café-da-manhã de Pansy na bandeja para a enfermaria mas Narcisa fez questão de fazer isso. Ela achava que precisava conversar com a garota depois do que acontecera na noite anterior.


Quando entrou na enfermaria, encontrou a menina acordada mas ainda meio sonolenta, como se fosse dormir novamente a qualquer momento.


- Trouxe seu café... – a mulher colocou a bandeja na cama, de frente para a sonserina – Está se sentindo melhor?


- Estou bem... – ela tocou seu pescoço e retirou o colar. O segurou com as duas mãos e o quebrou como se fosse feito de plástico. – Uma a menos...


Narcisa fez menção de pegar o colar mas Pansy o segurou.


- Será que eles vão se importar se eu ficar com ele? – a mulher franziu o cenho e ela completou – Noite passada significou muito pra mim...


~*~ Flashback ~*~


Quando Lucas saiu, Pansy pediu para Narcisa a ajudá-la a preparar um banho para ela. Disse que se sentia cansada e achava que um banho pudesse lhe ajudar. Narcisa tinha concordado mas depois de encher a banheira da enfermaria, lhe pediu para se banhar de porta aberta, assim ela poderia manter um olho nela.


Pansy tinha feito como Narcisa pediu, mas ainda estava completamente longe da sua visão.


Encostou a cabeça na borda da banheira e fechou os olhos. Suas mãos tremiam e as lágrimas que rolavam pelo seu rosto eram invisíveis uma vez que seu rosto estava molhado. Uma parte dela queria que o tempo passasse logo para aquela sensação passar porque sinceramente, não sabia mais quanto tempo daquilo iria aguentar. Mas a outra parte, a parte que estava ganhando a noite inteira, queria colocar um fim naquilo o mais rápido possível.


Ela se deixou escorregar na banheira e lutou para ficar imóvel, enquanto sentia o ar fugir dos seus pulmões. O ruim de uma morte demorada: você tem tempo de pensar na sua vida. Não era como se jogar de um prédio, algo que você fazia num impulso e estava acabado. Era lento e doloroso.


Pansy lembrou da voz da sua mãe gritando com ela quando ela tinha cinco anos e tinha sido pega brincando de boneca com uma menina trouxa que morava no vilarejo perto da sua casa. Se lembrou de quando dormiu na casa de Draco e Narcisa contou a eles histórias sobre Hogwarts... E de quando Lucas e Draco finalmente ganharam suas primeiras vassouras e a deixavam sozinha para jogar quadribol na mansão... Ela bateu nos dois uma vez por causa disso e realmente conseguiu machucá-los apesar de só ter 9 anos e os garotos serem obviamente maiores que ela, eles eram incapazes de levantar um dedo contra ela... E depois Lucas tentou lhe ensinar a voar mas a deixou cair de cinco metros e chorou como uma garotinha por longos minutos até Narcisa conseguir convencê-lo que ela não morreria... Se lembrou de receber sua carta em Hogwarts e depois de como foi chegar ao castelo e descobrir, com alívio, que ficaria na sonserina com Lucas e Draco... Se lembrou do seu primeiro beijo, com Draco. E de como ficou apavorada quando descobriu que estava apaixonada por Lucas. E do alívio que sentiu quando finalmente pôde conversar com alguém sobre isso... com Hermione... Se lembrou de quando teve que dividir a barraca com ela e as duas ficavam acordadas conversando até tarde e rindo tanto até se cansarem e caírem no sono... E quando descobriu que estava grávida, e a garota mentiu pra Draco só para protegê-la... Lucas, Draco e Hermione. Ela tinha um dos três nas suas melhores e piores lembranças... E mesmo que seus pais e sua filha não estivessem mais ali... os três estavam... E ela sabia que precisavam dela... Porque ela também precisava deles...


E então aquilo que estava fazendo parecia de repente a coisa mais sem sentido do mundo. E ela se sentou na banheira rápido, segurando as bordas e respirando alto, com dificuldade.


O som que fez ao se levantar chamou a atenção de Narcisa e a mulher se aproximou rápido do banheiro, olhando para Pansy assustada. A garota chorava desesperadamente, mas não eram mais lágrimas de tristeza... Era só olhar para a expressão da menina para saber que as lágrimas eram de alívio.


~*~ Fim do flashback ~*~


- Estou muito orgulhosa de você... – Narcisa disse enquanto a observava morder uma maçã – E eu sei que seus pais estariam também.


Pansy hesitou.


- Você acha?


- Tenho certeza. – ela a olhou – Quer falar sobre noite passada?


Pansy pensou por um instante.


Não, Pansy não queria falar sobre aquilo. Ela tinha entendido algumas coisas na noite passada e preferia guardar para si mesma. Tinha finalmente percebido que por mais que tenha achado que se “voluntariar” para destruir aquela horcrux na noite passada havia sido um erro, ela estava feliz que tenha feito isso... Porque tudo estava bem mais claro... E agora, pela primeira vez, ela se sentia pronta para o que quer que ainda estivesse por vir... E por mais que tenha havido muito sofrimento ultimamente e por mais que ela soubesse que as coisas não iam ficar bem tão cedo... Pela primeira vez ela se sentia forte pra lutar na guerra e estar lá para ajudar seus amigos quando eles precisarem... No meio de tanta coisa que tinha acontecido, isso ficou esquecido mas agora ela tinha esperança. Esperança que eles iam ganhar a guerra e que depois disso, tudo ia voltar para o seu lugar. E que todos eles ficariam são e salvos.


- Acho que não... – ela sorriu, se desculpando – Mas Narcisa, muito obrigada.


- Não tem o que agradecer, querida... Você é como uma filha pra mim... Sabe disso, não é?


Pansy assentiu.


- Termine seu café e volte a dormir, ok? Precisa descansar...


***


Sair do labirinto foi bem mais fácil que entrar.


Agora eles andavam pelo gramado do castelo, indo para o estacionamento em passos lentos, já que os garotos ainda estavam se recuperando do mergulho congelado deles.


Draco ia na frente, seguido por alguns metros de distância por Harry e Rony, que andavam lado a lado. Hermione e Luna iam um pouco mais atrás dos garotos.


- Você está bem? – Luna perguntou para Hermione.


Hermione sabia que a corvinal imaginava o que ela estava pensando. Draco tinha sido muito rude na caverna. Rindo da preocupação dela quando achou que tinha acontecido alguma coisa com ele... Ele não podia estar sendo mais frio e aquilo não passava despercebido por ninguém.


- Estou ótima.


Luna a olhou em dúvida e Hermione desviou o olhar, encarando as costas largas de Draco.


- Ele é um idiota. – ela falou forçando um sorriso – Nada novo, certo?


- Mione... – Luna sussurrou.


- O que eu podia esperar, Luna? Que tivesse alguma chance de ele continuar me amando depois de tudo que eu fiz? Ele não é assim...


- Dê um tempo pra ele... – Luna disse.


- Que tempo? Ele mesmo disse que não me amava mais, Luna...


- Nem ele sabe se isso é verdade, Hermione... E de qualquer forma, você vai ter sua resposta logo logo...


- Como assim?


Luna olhou para ela como se fosse óbvio.


- Se ele te amar de verdade, vai perdoar qualquer coisa... Ou pelo menos conversar como um adulto com você sobre isso... E não fazer essas criancices pra te magoar como ele está...


Mas a conversa delas foi interrompida. Os garotos tinham parado de chofre e elas acabaram dando um encontrão neles.


- O q...?


- Temos companhia. – Harry a interrompeu. Hermione desviou o olhar para um grupo de comensais que estavam aparatando mais a frente de onde eles estavam.


Draco se aproximou meio que os empurrando.


- Vamos para lá. – ele apontou com a cabeça para o lado contrário em que iam, aonde havia pessoas indo de um lugar para o outro. Provavelmente para um restaurante, já que era quase hora do almoço – Damos um jeito de achar o carro lá. Agora vamos nos misturar.


Eles tentaram andar o mais rápido que podiam sem parecerem suspeitos até se misturarem com os trouxas que falavam sobre banalidades como a beleza do castelo ou como estavam com fome. Hermione estava uma pilha de nervos. Só conseguia pensar em tudo que podia dar errado se eles os encontrassem. Podiam pegar a horcrux e eles nunca mais a veriam, destruindo todas as chances de derrotar Voldemort, já que só poderiam acabar com ele se todas elas estivessem destruídas. Ou pior, poderiam levar Harry para Voldemort matá-lo de uma vez, antes que eles sequer tivessem a chance de lutar.


No meio desses e outros pensamentos aterrorizantes que invadiram sua mente no pior momento para se ser pessimista, Hermione esqueceu de localizar seus amigos. Ela olhou em volta apavorada, percebendo que não os via em lugar nenhum.


Quase gritou quando sentiu alguém segurar sua mão mas suspirou de alívio quando viu Draco aparecer ao seu lado.


- Calma, Hermione... – ele falou notando a expressão dela. – Já está tudo planejado com Potter e Weasley... – ele sussurrou.


- O quê está planejado?


Ele deu de ombros.


- Fazer a única coisa que nos resta fazer...


- E o que é?


A multidão estava alcançando a porta do restaurante e Draco a puxou pela mão, saindo do grupo.


- Correr.


E foi o que eles fizeram.


- Ali! – eles não o viram, mas ouviram a voz inconfundível de Belatriz gritar.


Hermione correu o mais rápido que pôde, mas Draco era mais rápido então ele praticamente a arrastava. Rony, Harry e Luna apareceram perto deles e os cinco tentavam chegar ao estacionamento o mais rápido possível. Apesar de quê, ela não sabia como um carro trouxa poderia os ajudar a fugir do bando de comensais que pareciam estar mais próximo deles a cada segundo.


Eles viram várias vezes, clarões passando por eles de raspão e por mais que a ideia de pegar suas varinhas para se defenderem parecesse tentadora, aquilo só iria atrasá-los. Era estranho como os trouxas não pareciam estar cientes daquela movimentação toda mas Hermione só imaginou que os seguidores de Voldemort tinham se certificado de que aquelas pessoas não iriam se meter e atrapalhar os planos deles.


Eles finalmente chegaram ao estacionamento e Hermione e Draco foram os primeiros a entrarem no carro.


- O que a gente faz agora? – ela perguntou, completamente confusa.


- Só dirige. Deixa o resto comigo.


Hermione não sabia o que estava se passando pela cabeça dele então simplesmente ligou o carro e se preparou para sair assim que todos entrassem.


Harry e Luna foram os próximos a entrar então ela começou a mover o carro, achando que Rony pudesse entrar com ele em movimento, contando que estivesse indo devagar. Mas não foi isso que aconteceu.


- ESPEREM! – Luna e Harry gritaram em uníssono.


Hermione e Draco – que estavam na parte da frente do carro – olharam para trás e viram Rony ser pego por um comensal que eles não conheciam. Ele estava a um metro do carro, pronto para entrar quando o homem o alcançou e antes que eles pudessem fazer alguma coisa, simplesmente aparatou com ele.


- Merlin...


Os três estavam chocados demais para fazerem qualquer coisa além de encararem o lugar vazio em que Rony estava um segundo atrás.


O resto dos comensais continuava lá e Draco era o único que parecia perceber isso.


- Granger! – ele segurou o rosto de Hermione, fazendo-a encará-lo – Eles o levaram! Mas nós ainda podemos sair daqui! Dirige esse carro!


- Não! – Luna exclamou – Nós precisamos ir atrás dele!


Hermione tinha voltado a dirigir.


- Precisamos estar vivos para isso, Lovegood.


Depois disso, Draco pareceu fazer um esforço fora do comum para se concentrar enquanto segurava o carro o mais forte que podia. Então as rodas do carro saíram do chão e eles estavam voando.


Eles pareceram se surpreender com isso, mas ninguém fez nenhum comentário. Todos tinham o mesmo pensamento aterrorizante na cabeça.


Eles tinham levado Rony.


***


Quando Pansy finalmente acordou na enfermaria, já eram quase dez horas da manhã. A primeira coisa que ela viu quando abriu os olhos, foi Lucas sentado em uma cadeira ao lado da cama. Ele estava de cabelos molhados e especialmente lindo naquele momento. Ela sorriu, se sentindo fraca.


- Noite longa, hein?


Ele riu.


- Uma das mais longas de todos os tempos...


Eles se encararam em silêncio por um tempo.


- Eu não sei o que dizer... – ela falou, desviando o olhar meio sem graça – Não sei se deveria me desculpar, ou te agradecer ou os dois...


Ele a interrompeu.


- Você não tem que fazer nada, Pansy... Só estou feliz que está viva... – ele se aproximou dela com as mãos nos bolsos – Eu sei que isso pode soar meio brega, mas eu realmente não saberia o que fazer se te perdesse...


Ela fez uma pausa estranhando o fato de ele estar sendo romântico, em seguida riu.


- Tem razão, isso soou brega...


- Foi mal... – ele se desculpou rindo.


- Luke, - ela suspirou – eu não te respondi a altura noite passada... mas você sabe que eu te amo, não sabe?


- Humm... eu não tinha certeza, mas estava contando com isso já que ia pedir pra você casar comigo a qualquer momento.


Dizendo isso, ele tirou do bolso um dos anéis mais bonitos que Pansy já tinha visto e abriu a mão dela, o depositando ali. Ela só ficou olhando do anel pra ele com o queixo levemente caído.


- O que você acha disso? – ele perguntou, já que ela não falava nada.


Ela ainda demorou um tempo para se recuperar do susto.


- Sinceramente? Eu acho que você enlouqueceu.


- Pansy...


- Lucas, - ela parecia estar decidindo se brigava com ele ou o beijava – isso é por causa da noite passada? Você ficou com pena de mim?


- Não! – ele exclamou e a cara dele foi tudo que Pansy precisava ver pra saber que aquilo nem tinha passado pela cabeça dele – Eu não estou com pena de você!


- Então, o que é isso? Você ficou louco?? Nós temos 17 anos, pelo amor de Merlin! Nós não podemos!


- Claro que podemos, nós somos maiores de idades! Vamos nos formar daqui a alguns meses, se sobrevivermos até lá e não somos mais crianças...


- Lucas...


- Pansy, - ele olhou sério para ela – noite passada, você quase morreu várias vezes... E tudo o que eu conseguia pensar era que eu não ia saber o que ia fazer comigo mesmo se alguma coisa acontecesse com você. Eu amo você e não há outra pessoa no mundo com quem eu queira passar o resto da minha vida. Eu demorei tanto tempo pra me importar mais com outra pessoa do que comigo mesmo... Eu tenho certeza que não vou sentir isso por ninguém além de você. Exceto talvez só...


- Por um filho que a gente venha a ter... – ela completou. E por mais estúpido que sempre tenha achado quando casais completavam as frases uns dos outros, ela só sabia como terminar aquela frase porque sentia a mesma coisa.


- É. – ele assentiu, feliz que ela esteja entendendo – Então, não tem nada que nos impeça, nem razão pra deixar isso pra daqui há uns anos. Você só tem que querer. Eu quero.


Ela tapou o rosto com as mãos numa batalha interna.


- Ah, Merlin...


- Então... – ele pegou o anel e segurou a mão dela parecendo que não sabia muito bem o que estava fazendo. – Pansy Parkinson, você quer se casar comigo?


Pansy reprimiu um sorriso, pensando em como adorável aquela frase soou na voz dele. Ele mesmo parecia meio sem graça, como se nunca tivesse pensado em dizer aquilo em sã consciência. E depois ela se lembrou do menino que ele costumava ser há pouco tempo atrás e percebeu que ele, com certeza, nunca tinha imaginado dizer aquilo em sã consciência.


- Sim! – ela exclamou resolvendo deixar todas as dúvidas para o lado e, por mais estúpido que aquilo parecesse, seguir seu coração – Eu quero!


Ele arregalou os olhos.


- Sério?


Ela se esticou na cama e o beijou. Logo depois, o abraçou forte e quando ele passou os braços em volta dela, sentiu que poderia ficar assim pra sempre. Era isso então. Eles tinham se tornado um daqueles casais bregas e clichês que diziam ser a metade da laranja um do outro. Ela daria um jeito de acabar com aquilo logo se a sensação não fosse tão boa.


- Wow! – ele se afastou e colocou o anel no dedo dela parecendo surpreso com toda aquela situação, como se não fosse ele que tivesse feito a “sugestão”, pra começo de conversa... – Bom.


Ela colocou a mão no ar, admirando o anel.


- Bom, eu com certeza não tenho o que reclamar do diamante...


Ele arqueou uma sobrancelha.


- Eu sei que há um tempo atrás você sonhava com as joias da família Malfoy, mas os Mason também não são nada maus...


Ela riu.


- Não acredito que nós realmente vamos fazer isso...


- Não se anime escolhendo vestidos ainda. Só podemos nos casar legalmente quando a escola terminar...


- Bastante tempo pra organizar uma festa, então...


- Ah, Merlin... – ele revirou os olhos - No que eu fui me meter?


- Você nem imagina, Lucas Mason...


Ele se curvou e a beijou. Valeria a pena passar pela guerra, agora que eles tinham uma coisa para ansiar para assim que tudo estivesse acabado.


***


A Mansão Malfoy estava cheia, o que não era novidade nos últimos dias. Alguns membros da Ordem estavam lá e a pedido de Lupin, estavam procurando o máximo de apoio que podiam arranjar durante a guerra.


- Então, Carter – ele disse para um senhor de meia idade – confio em você para tentar um acordo com os aurores da França... E Stevie... – todos olharam para John, que estava sempre muito calado – estava me perguntando se você ainda tem algum contato com alguém na Itália... acha que pode ajudar?


Quando John abriu a boca para falar, eles ouviram um grito. Arthur Weasley se levantou da cadeira que estava sentado tão rápido que quase caiu, era a voz da sua esposa. Logo todos interromperam a reunião para saber o que estava acontecendo no saguão da Mansão Malfoy.


- Molly, - Arthur se aproximou – o que está acontecendo? – ele olhou em volta e viu que os garotos estavam de volta da missão. Mas não viu seu filho. – Onde está Rony?


- Ele não está morto. – Harry falou assim que a pergunta saiu da boca do sr. Weasley. Hermione o olhou, sabia que ele se sentia responsável... Ela também se sentia. – Eles o sequestraram.


Sra. Weasley chorava e Arthur a abraçou.


Hermione viu os outros Weasley’s se entreolharam em silêncio com idênticas caras de pura preocupação. Ao seu lado, Luna chorava em silêncio.


- Luna... – ela se aproximou da amiga colocando uma mão em seu ombro – Rony é forte... Nós vamos encontrá-lo... Eu prometo.


Pansy e Lucas apareceram de mãos dadas. Ao ver a confusão, eles se aproximaram de Draco.


- O que aconteceu?


- Os comensais apareceram lá... Nós conseguimos fugir a tempo mas eles levaram o Weasley...


Pansy viu Luna chorando abraçada a Hermione e se sentiu estranhamente triste pela garota. Ninguém viu, mas a sonserina tirou o anel que estava no seu dedo e o colocou no bolso.


- E a horcrux? – Lucas perguntou – Conseguiram trazê-la?


Draco olhou para Harry e viu que ele tinha ouvido a pergunta de Lucas. Potter tirou a concha do bolso.


- Está aqui...


Aquilo chamou a atenção de todos. Moody e Lupin se aproximaram.


- Pelo menos a missão não foi em vão... – Moody comentou, fazendo todos o olharem de cenho franzido – O quê? É verdade!


Harry se aproximou de uma mesa que havia no canto do saguão da mansão. Não queria ficar segurando aquela coisa por muito tempo.


- Como se destrói ela, Harry? – Lupin perguntou – Você sabe...


- Essa é simples. – ele respondeu. – E fatal... É só comê-la...


- Só isso?


- E esperar pela morte... – Harry completou amargamente.


O saguão ficou em completo silêncio depois disso.


Quem se oferecia para morrer? Era loucura...


- Talvez nós possamos fazer um dos comensais comerem... – alguém sugeriu – E matar dois coelhos uma cajadada só...


- E o que vamos dizer para o comensal? – Moody perguntou - Chegar na porta de Voldemort e dizer... “Olhem, trouxemos alguns biscoitinhos para vocês...” E esperar que eles sejam estúpidos demais para correr? Por favor...


A discussão se seguiu por mais alguns longos minutos. Ninguém realmente sabia o que fazer. Como entregar um membro da Ordem pra morte desse jeito?


Além disso, havia Rony... Apenas uma pequena parte da mente de Hermione e seus amigos estava pensando no assunto da horcrux. Independentemente do que acontecesse com as horcrux, eles precisavam resgatar Rony. Hermione tinha certeza que eles podiam ouvir a mente dela fazendo tic tac, pensando em milhões de maneiras de achar o ruivo – uma mais inútil que a outra.


Foi então que ela ouviu um barulho de algo atingindo o chão e literalmente deu um pequeno pulo de susto. Olhou em volta achando que apenas ela tinha se assustado porque sua mente não estava ali mas não, todos pareciam chocados. Ela seguiu o olhar dos outros membros da Ordem e seus olhos se arregalaram ao ver John caído no chão, parecendo estar prestes a desmaiar... e ele segurava a concha que eles tinham trazido. A concha vazia.


***


Eles levaram John para a enfermaria da Mansão Malfoy e como ninguém estava muito ansioso para ficar com ele no seu leito de morte, Hermione foi deixada sozinha com ele.


Ela ficou sem saber o que fazer, observando da porta do lugar enquanto era quase possível ver a vida escorrendo pra fora do corpo dele.


Ela se aproximou dele. Ainda estava lúcido mas parecia mais fraco e pálido a cada segundo. Ela sabia que não ia demorar muito tempo até o inevitável acontecer.


- Não era a despedida que você imaginava, hã? – ele falou baixo, sua voz fraca e completamente diferente do tom que fazia as garotas de Hogwarts derreterem todas as vezes que ele abria a boca.


Ela ainda estava chocada demais para manter uma conversa sarcástica e com réplicas inteligentes para ele. Ela tinha quase sido pega por comensais, Rony tinha sido sequestrado e ninguém sabia onde estava ou se estava bem e era de se imaginar que Hermione já estivesse acostumada com as catástrofes cumulativas que aconteciam de uma hora pra outra na sua vida mas aquilo não era o tipo de coisa que você se acostumava. Então tudo que ela conseguiu formular foi:


- Po-Por-q-quê?


Ele não olhou nos olhos dela quando respondeu e sim para o teto. Hermione percebeu que John não era o tipo de pessoa que olhava nos olhos. Ela tentou se lembrar de alguma vez que ele a tinha olhado nos olhos dela e só conseguiu pensar nas vezes em que ele usou a compulsão nela.


- Era uma questão de tempo...


- Questão de tempo? – ela franziu o cenho – Tempo de quê?


- Eu disse que ia tirar o feitiço de você, Hermione... – sua voz soava doentia e esganiçada, ela teve que se esforçar para entender o que estava dizendo - E eu tirei... Mas como você, eu também tive que pagar um preço...


- Qual foi seu preço? Ser morto por uma horcrux?


- Não. Desistir da coisa que mais importava pra mim.


Ela o olhou como se tivesse falado uma das coisas mais sem sentidos do mundo.


- Isso não parece um preço muito caro... – ela opinou.


- É pra mim... – ele sussurrou – O problema é que a coisa que mais importava pra mim, era a única coisa que importava pra mim. Vingar minha família... Matar Lúcio Malfoy... A única coisa que me restou depois que as pessoas que eu amava morreram... Eu não tinha nada além disso... Fiquei preso na escuridão... Vivendo com o propósito de esperar o momento em que eu finalmente poderia me vingar... Pensando em pouca coisa além do que eu faria assim que encontrasse Lúcio Malfoy na minha frente, imaginando as formas mais dolorosas que se poderia matar alguém... Eu deixei isso me consumir e cheguei a um ponto em que eu sabia que depois que eu conseguisse o que queria, não haveria mais nada a fazer com a minha vida. Tudo estaria acabado. E esse momento chegou...


- Mas você não pôde se vingar... – ela falou – Abriu mão disso... Pra quê?


- Eu devia isso a você, Hermione...


- Devia a mim? – ela estava começando a achar que ele estava delirando – Você não me devia nada, John...


- Devia sim... – ele balançou a cabeça – Eu conheci dezenas de pessoas no mundo todo durante esses anos... E você foi o mais próximo que eu fiquei de... não sei, acho que o mais próximo que eu fiquei de me aproximar... E eu te carreguei pra escuridão junto comigo. Não tinha o direito de fazer isso com você... Aquele feitiço estava te matando, Hermione... Você ia morrer... Você não é o tipo de pessoa que pode viver sem sentir nada. E eu... Mesmo que eu não tivesse tirado o feitiço de você, eu ainda teria esse fim. Você não. Você não merecia morrer. Porque assim que essa guerra acabar, Hermione, você vai ser capaz de deixar tudo isso pra trás e seguir com a sua vida. Eu nunca seria capaz de fazer isso... Então, minha vida pela sua? Me parece uma troca justa.


Hermione respirou fundo.


- Isso é loucura... – foi tudo que ela disse.


- Não é... – ele conseguiu sorrir – Eu nunca pensei que morreria por uma causa nobre, mas olha só onde estou agora...


Ela soltou um som de indignação.


- É. Olha onde está agora, morrendo aos poucos debaixo do teto do seu inimigo, por uma pessoa que não faria a mesma coisa por você...


- Meus pais estariam orgulhosos... – ele completou, como se ela não tivesse dito nada.


Ela cruzou os braços, sentindo raiva dele por lhe fazer isso. Mais uma morte nas suas costas de presente, Hermione, era basicamente o que ele estava dizendo, vamos lá, lide com isso. Coloque pra trás, sei que você consegue.


- Tenha uma boa vida, Granger. – foi a última coisa que ele disse antes dos seus olhos ficarem completamente sem vida, encarando o teto sem realmente vê-los.


Ela suspirou e com as mãos um pouco trêmulas, fechou os olhos dele.


- Adeus, John...


***


Estava congelante aonde eles deixaram Rony. O chão fazia tanto frio contra sua pele que estava começando a deixar de sentir suas pernas e braços, o que não era uma coisa ruim quando se estava recebendo crucios sem parar por mais de duas horas.


Ele estava fazendo o maior esforço que podia para não urrar de dor enquanto Voldemort lhe torturava. Não queria lhe dar mais esse prazer.


- Está doendo, Weasley? – Voldemort se aproximou dele – Destruir minha horcrux não te fez se acostumar com a dor da maldição cruciatus? Sabe, olhando pra você, eu não diria que aguentaria sete horas sem enlouquecer... Mas as pessoas não param de me surpreender...


- O que você quer? – Rony gritou.


- Ah... ele fala... – Voldemort sorriu, e era pior do que quando estava sério – Estou contente que tenha perguntado... É bem óbvio, pra ser sincero... Óbvio e simples. Eu quero a Granger do meu lado. E eu vou torturar e matar quantas pessoas eu puder até que ela venha até mim...


- Hermione nunca vai se aliar a você! – o ruivo exclamou.


Voldemort riu.


- Vamos ter que esperar pra ver quem está certo, então... Crucio!


No seu quarto na mansão Malfoy, Hermione abriu os olhos assustada, se sentando rapidamente na cama.


Passou uma mão no rosto tentando se recuperar do pesadelo mais real que já tinha tido na vida. Alguma coisa naquele sonho a fez sentir falta da época em que seus pesadelos eram apenas pesadelos. Porque ela sabia que não era o caso daquele.


Ela ouviu um barulho vindo do lado de fora e se aproximou da janela do seu quarto, abrindo a cortina. Ela reprimiu uma exclamação de surpresa ao ver uma coruja negra a encarando através do vidro. Pensou duas vezes antes de abrir a janela, mas sabia que se houvesse algo de ameaçador no animal, ele não teria conseguido chegar nem a 1000 metros de distância da mansão.


Ela viu que a coruja tinha um jornal amarrado a pata e assim que soltou o papel, ela se foi. Hermione abriu o jornal e não conseguiu conter um grito ao mesmo tempo que o largava no chão e recuava. Sangue tinha começado a sair sem parar das folhas que tinha segurado assim que desdobrou o jornal.


Ela olhou com o coração acelerado das suas mãos vermelhas de sangue para o jornal que ainda jorrava sangue, manchando o chão do quarto. Lutou contra todos os seus impulsos e se aproximou novamente. Havia letras na primeira página e eram delas que brotava todo aquele sangue. Ela leu com um pouco de dificuldade já que o jornal em si estava começando a ficar encharcado.


Massacre de trouxas em cidade da Inglaterra. Duzentos mortos.


Ela sentiu os joelhos ficarem fracos e acabou se ajoelhando no chão.


A mensagem era clara. O sangue daquelas pessoas estava nas suas mãos.


***


Os dias se passaram rápido para os moradores da Mansão Malfoy. Para Hermione, eles passavam mais rápido do que ela queria. Ela não tinha contado sobre o seu sonho para ninguém, nem sobre a ameaça silenciosa que tinha recebido depois, e muito menos que recebeu a mesma ameaça todos os dias desde então.


Ela sabia que não podia continuar parada, que tinha que tomar uma decisão. Mas não era como se ela tivesse escolha... Na verdade, até tinha... mas nenhuma delas levaria a uma saída fácil daquela situação... Se continuasse na Ordem da Fênix, os atentados a trouxas continuariam até... ela não conseguiria imaginar até aonde... mas sabia que não demoraria até Voldemort atingir sua família... seus pais... seus pais que tinham passado o ano todo fora do país, completamente desinformados sobre tudo que vinha acontecendo com sua filha. Ela acordava todo dia com medo de receber a notícia.


E havia Rony. Não tinha tido mais pesadelos com ele... Mas talvez isso seja porque ela não dormia há um tempo... Apesar de quê, imaginava que se Voldemort quisesse lhe dar algum outro aviso, não seria sua insônia que iria impedí-lo. De qualquer forma, algo lhe dizia que Voldemort o manteria vivo, para que ela tivesse um “estímulo” a mais para se juntar a ele.


Mas ela não podia simplesmente se juntar a ele. Seria o mesmo que assinar o atestado de morte de todas as pessoas que amava. Se Voldemort não os matasse agora, mataria durante a batalha final. A não ser que ela o fizesse pensar que estava do seu lado e desse um jeito de escapar depois... Mas aquilo era muito arriscado. Ela não podia ser inocente o suficiente em pensar que entraria por livre e espontânea vontade no castelo de Voldemort e depois conseguiria fugir sem problemas...


Tudo aquilo estaria resolvido, ela pensou em um dos vários momentos durantes aqueles dias em que o pânico tinha tomado conta da sua mente, se não houvesse Hermione para contar história. Ou melhor, se não houvesse Hermione para ficar do lado de alguém.


Tinha que haver uma saída, era tudo que ela pensava, só precisava pensar em alguma coisa.


E era isso que ela fazia. Pensar em uma saída. Ficava no quarto o tempo todo tentando pensar em uma saída. E isso preocupava os outros moradores da mansão, é claro. Mas eles tinham tirado suas próprias conclusões... Achavam que o comportamento fechado de Hermione tinha alguma coisa a ver com a morte de John... Ela os tinha ouvido falar, eles achavam que ela estava de luto... que gostava mais de John do que tinha admitido... Por mais que incomodasse a Hermione que eles pensassem isso – especialmente que Draco pensasse isso – ainda era melhor que começassem a desconfiar dos seus verdadeiros motivos. Não, ela precisava resolver o que iria fazer sozinha.


Ninguém tinha voltado para Hogwarts, com exceção de Taylor. Draco não tinha permitido que ela ficasse na mansão. A verdade é que, ao contrário de todos os outros, ela não tinha nada que a prendesse ali. E todos que tivessem a escolha de participar da guerra ou não deveriam ficar de fora... e não era exatamente uma escolha... Era a coisa certa a se fazer.


Antes mesmo de tomar sua decisão, Hermione se sentou na escrivaninha do seu quarto e começou a escrever uma carta. Sabia que precisava deixar que ele soubesse algumas coisas, independente do que acontecesse dali pra frente. Devia isso pra história deles... Na medida que ela colocava seus pensamentos no pergaminho, o que tinha que fazer ia ficando mais claro.


***


Naquela noite, Pansy bateu na porta do quarto de Hermione, pretendendo conversar com ela sobre os motivos da sua total reclusão desde a morte de John. Ela não atendeu, o que era novidade. Por mais que estivesse completamente fechada nos outros dias, ela ainda não tinha começado a ignorar a todos completamente. Especialmente á Pansy.


Retomando antigos hábitos que tinha largado depois de encontrar Hermione em uma situação constrangedora, Pansy simplesmente abriu a porta do quarto e entrou. Hermione não estava em nenhum lugar á vista e o quarto estava em completo silêncio, sem nenhum sinal de movimento.


Pansy começou a perceber que alguma coisa não estava certa ali.


- Hermione? – chamou, rumando para o banheiro.


Soltou uma exclamação de surpresa ao ver a garota caída no chão, perto da bancada do banheiro.


- Hermione! - ela praticamente gritou.


Pansy só percebeu a gravidade da situação ao se abaixar ao lado da amiga e ver que havia um vidro de poção derramado ao seu lado. Ela não era nenhuma expert no assunto mas resolveu cheirar o vidro para ver se reconhecia o cheiro da poção. Não, não conhecia. Mas nada que cheirava daquele jeito podia ser bom.


- Não pode ser... – murmurou.


Com medo do que descobriria, ela se curvou e encostou o ouvido no peito da garota. Não ouviu nada. Não havia batidas de coração.


- Não é possível!


Ela se levantou o mais rápido que pôde e correu para fora do quarto aos berros:


- ALGUÉM! AJUDA! – ela saiu nos corredores correndo o mais rápido que podia e chegando na ponta da escada ela gritou para todos que estavam lá embaixo – GENTE, É HERMIONE! – gritou apavorada.


- Pansy, o que foi? – Narcisa perguntou assustada.


Todos começavam a aparecer, cada um de um lado e Pansy a essa altura já tinha começado a chorar.


- Acho que ela está morta...


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Notas finais do capítulo

N/A: Dez milhões de desculpas pela demoraaa, gente :( Juro que eu ia postar antes mas eu ando sem tempo nenhum para escrever... Espero que vocês tenham gostado do capítulo, pra compensar pela demora... =/
Então, esse capítulo ficou bem grandinho também e a fic vai chegando ao fim... Serão 35 capítulos + o epílogo, que eu vou fazer questão que seja enorme e pro que eu estou fazendo muitos, muitos e muitos planos... Um desses planos já foi mencionado nesse capítulo, acho que vocês já sabem qual é... :)
Humm... por falar nisso... eu sei, esse final foi tenso... mas logo vocês entenderão direito o que aconteceu... Essa não fazia parte da idéia inicial da fic, mas... isso que aconteceu vai servir pra mudar um pouco o jeito de ver as coisas dos personagens da fic... Principalmente de um certo loiro que tem andado meio azedo ultimamente... ele meio que precisa se lembrar que está em guerra e que numa guerra, as prioridades das pessoas tem que estar em ordem...
Ah, antes que eu me esqueça de comentar sobre isso... John é carta fora do baralho agora... [ironia] me desculpem por fazer isso, gente, sei que todo mundo pediu explicitamente pra eu NÃO tomar esse tipo de providência mas é a vida né... Não chorem, ele é uma ótima pessoa, tudo vai ficar bem. Eu sei que vocês vão sentir falta dele perturbando o relacionamento do Draco e da Hermione mas era necessário... [/ironia]. Hahaha, me empolguei, gente, mas é que eu tenho que aproveitar, não acho que eu vá conseguir fazer nenhum outro personagem que seja tão [ironia] amado [/ironia] quanto John Stevie...
Ah, sobre o castelo, aqui está uma foto pra quem quiser ver: http://www.thelondonminibuscompany.com/images/5129leeds-castle-in-spring.jpg
Como a Luna disse, ele é lindo... dá pra ver pelas fotos... Eu pesquiser sobre o castelo pra escrever o capítulo. A gruta existe mesmo, mas eu não achei nada muito profundo sobre ela... Acho que o labirinto dá na gruta mesmo, mas não acho que tenha um lago lá dentro nem nada disso... Essa parte foi inventada mesmo... Então, muito obrigada pra quem comentou e esperou esse tempo todo pelo capítulo e por último, mas não menos importante, muito obrigada pra quem mandou mensagem, email, tweet, ask e etc pra perguntar quando eu ia postar... faz bem receber uns puxões de orelha de vez enquando... Podem deixar que mesmo que ás vezes o tempo fique muito corrido e não dê pra escrever por um tempo, eu não vou parar de escrever de uma vez por todas nunca... e eu posso dar completa certeza pra vocês de que eu vou terminar de escrever essa fic, ainda mais agora que falta tão pouco pro final. Eu também quero muito muito mesmo escrever a continuação porque eu estou tendo tantas idéias legais que eu quero que vocês saibam, assim como uma idéia pra uma Em Hogwarts nova em folha que já está formadinha na minha cabeça tbm... Aff, quem me dera ter mais tempo pra escrever...
Enfim, vou ficando por aqui... até a próxima... e espero de verdade que a próxima não esteja muito longe...
PS: O nome do capítulo é por causa da música da Demi Lovato, Don't Forget. Muito linda ♥
XOXO