Castaways escrita por Lissa G Konzen


Capítulo 2
II- Struggling


Notas iniciais do capítulo

Vocês acreditam que eu tenha voltado a escrever aqui? Tá meio difícil, não é? Meninas, o que eu tenho a dizer é que muita coisa aconteceu durante esse período. Muita mesmo. Estou feliz em poder retomar esse xodozinho e espero que vocês se deliciem tanto ao lê-lo quanto eu ao escrevê-lo. Espero que possam me perdoar.



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Podia sentir a claridade através das pálpebras que descansavam fechadas. O forte aroma da brisa salgada, a pele que queimava. Ao fundo, o som das ondas ao se movimentarem e chocarem umas com as outras. Havia também súplicas distantes de algum animal. Pássaros, concluiu. Se cantavam ou choravam, não sabia ao certo. Seu corpo era embalado por balanços leves e descompassados. Estava agarrada em algo macio, confortável e quente. Não se tratava de algo, no entanto. Uma presença, um corpo, alguém que também a envolvia e se aconchegava contra o seu próprio corpo.

Como se arrependera amargamente do momento em que, assustada, abriu os pobres olhos. Ou pelo menos tentara. Era tudo tão claro, sabia que não seria capaz de enxergar pelos próximos segundos.

Em outra tentativa, ela o fez lenta e cautelosamente. Virou na direção contrária daquilo que a havia deixado praticamente cega, encontrando o tecido claro e liso da camisa do homem com quem havia compartilhado as últimas horas mais angustiantes de sua vida. Sabia muito bem de quem se tratava. respirou rapidamente contra o peito de Edward antes de apioar-se em seus cotovelos para conseguir uma melhor visão de tudo ao redor. Não conseguiu desviar os olhos da presença masculina. Ele não parecia nem um pouco incomodado pelas mesmas coisas que a haviam despertado, embora soubesse que não permaneceria daquela mesma forma por muito tempo. As sobrancelhas apertadas o denunciavam.

Era tão bonito! Não que já não houvesse percebido antes mas, horas atrás, tudo não passava de um divertido jogo de sedução. Podia analisá-lo por completo naquele momento. A claridade lhe garantia uma melhor espiada, podia desfrutar de todos os traços masculinos de seu rosto. Fora tão corajoso. Deus sabia o quanto sentia a necessidade de retribuir-lhe, agradecer-lhe de alguma forma. De aconchegar-se contra seu corpo novamente. De unir seus rostos e beijá-lo. Profunda e apaixonadamente. Desejava sentir seus lábios como nunca havia feito antes, repetir os doces segundos que juntos vivenciaram antes de se atirarem ao mar.

Sabia, no entanto, que aquele não era o momento para se perder em tais pensamentos. Como era incômodo o calor sobre sua pele alva! Levantou os olhos, encontrando toda a imensidão do mar azul esverdeado, tão claro que mal podia definir onde terminava e onde começava o céu, a linha, o encontro de ambas as imensidões. Sabia antes mesmo de abrir os olhos que ainda permaneciam no bote inflável, mas estranhou o fato de estarem parados. Era como se estivessem estacionados. Ele não se movia e, ao olhar para trás, duas grandes rochas amarronzadas fizeram-se presentes. O pequeno bote estava encalhado entre as duas.

Olhou ao redor por mais alguns instantes, de volta para Edward e, então, para os três ou quatro pássaros que por ali sobrevoavam. Decidiu procurar um pouco mais além. Embora com medo, insegura e desconfortável, tentou permanecer tão quieta quanto pôde ao levantar e caminhar desajeitadamente sobre a lona. Não queria que o bote se desprendesse e voltasse a velejar, pelo menos não por enquanto. Também permitiria que Edward descansasse por mais algum tempo. Bella escalou com dificuldade o vale entre as pedras e, apoiando uma perna em cada uma delas, erguia-se cada vez mais sobre as rochas. Os olhos quase pularam para fora no momento em que conseguiu enxergar através delas.

“Edward!” Gritou. Mal podia acreditar no que via. “Edward! Edward! Edward!”

Apressada, Bella quase pulou de volta para o bote, porém decidiu que teria de fazê-lo de forma mais prudente ou terminaria fora dele. Desceu pelas rochas, desajeitada. Ao pousar os pés novamente sobre o tecido, mal pôde evitar atirar-se sobre o moço. Ela não só assim fez como também continuou a gritar seu nome. Desnecessário. Edward acordara desde a segunda ou terceira vez que sua voz desesperada passara a gritar seu nome. As mãos femininas batucavam contra a pele do seu rosto e ele ergueu as suas para segurá-la e impedi-la de continuar com aquilo.

“Edward, abre os olhos! Você precisa ver isso!”

“É claro... Quando você parar de me apertar lá embaixo! É o seu joelho, não é?”

“Porra!” Moveu-se.

“Obrigada... Me sinto bem melhor agora.” Ela riu, movendo os dedos para abrir suas pálpebras.

“Ai, Bella!”

“Desculpa. Eu estou falando tão sério, Edward... Você. Precisa. Ver. Isso!” Ele finalmente abriu. E não se arrependera nem por um segundo. Seus rostos estavam a centímetros um do outro. Os olhões súplicos de Bella brilhavam, o chamavam. Ele lhe sorriu e moveu as mãos para apertar-lhe as bochechas. Fora a coisa mais segura que lhe veio a cabeça a fim de espantar os demais pensamentos.

“Para com isso!”

“Desculpa. Eu estou falando tão sério... Você. Continua. Me. Apertando!” E tudo o que ela fez foi se mover novamente, dessa vez, levantando-se e estendendo a mão para ajuda-lo. Ele a aceitou de bom grado e, da mesma forma como Bella havia feito anteriormente, tentou equilibrar-se ali em cima.

“Você me fez voltar a essa realidade doentia apenas para ver duas pedras gigantes?”

“O que tem atrás delas, bobo.”

“Não pode simplesmente me dizer?” Ela apertou os lábios antes de sorrir novamente.

Aye, capitão, tem terra ali atrás! Muita terra. Estamos na praia! E tem tanto verde também... precisamos chegar até lá, não é longe...” Ele não esperou que ela concluísse. Repetiu os mesmos movimentos que a moça havia realizado alguns minutos atrás, porém, com muito mais habilidade e exímio.

Aye, capitã! Terra a vista!” Sorriu-lhe de lá de cima.

❀❀❀

Escute aqui: Yesterday- The Beatles.

Estavam exaustos! Haviam alternado o caminho até a praia entre braçadas e corridas. E ainda arrastaram o pequeno bote com eles! De fato, não demoraram muito para chegar até ali, assim como ela havia presumido. A determinação e vontade de chegar serviram como combustível. Agora, jogados na areia fofa e branca mal podiam ouvir o som da respiração do outro. Seus próprios ofegos os impediam. Bella cobria o rosto com o antebraço enquanto a outra mão repousava sobre o abdômen liso. Edward estava deitado sobre a barriga, braços e pernas estendidos e largados ao seu redor.

O cansaço se dissipava aos poucos. O tempo que ali passaram em silêncio permitiu que pensamentos voltassem a rondar suas mentes já tão sobrecarregadas. Inevitável era relembrar os últimos acontecimentos. As últimas horas a deriva, envolvidos pela escuridão de um céu negro, sombrio, sem estrelas. Bella não conseguira encarar o oceano por muito tempo. O medo e os olhos encharcados a impediam. Sentia como se houvesse chorado o suficiente para uma vida inteira, havia secado por dentro.

Ou talvez não.

Definitivamente não.

Sentia as malditas retornarem aos seus olhos, implorando para serem libertadas mais uma vez.

O que seria dela? De Edward? O que seria de ambos a partir dali?

O que, de fato, havia acontecido?

Não era idiota. Lembrava-se de toda a agonia, de todo o desespero, da tempestade que se aproximara, dos dois lutando por suas vidas, da explosão... Não conseguia entender o motivo. Por quê? Por que ali? Naquela embarcação, naquele momento, com todas aquelas pessoas, as famílias, as crianças... com ela? Edward?

E agora estavam presos ali. Não sabia por quanto tempo mais. Dias. Semanas. Meses. Se um dia, sequer, dali sairiam. Como sobreviveriam. Eram tantas perguntas, sentimentos... Estava tão aflita. Seu peito doía e sabia que já não era mais devido ao cansaço.

Suas mãos cobriram os olhos. Chorava novamente e, dessa vez, se fez audível. Lembrou-se do marido e das demais pessoas que deixara para trás, pensou que talvez jamais voltaria a vê-los. Não amava Jacob, mas isso não o tornava uma pessoa má... Havia casado com ele! Como não se importaria? E ele também esteve lá... Havia sobrevivido? Não conseguiu prosseguir com aqueles pensamentos. Doía demais.

Seu pai. O amava tanto. Mesmo depois de tudo o que a havia feito passar, depois de toda humilhação... Era sua garotinha, como ele mesmo havia afirmado tantas vezes. A amava com todo seu coração. Assim como sua mãe. Sua louca, adorável mãe. Seu maior refúgio, sua maior professora, aquela a quem mais devia pela mulher que havia se tornado. Alice, sua irmãzinha do coração... Implorava a Deus silenciosamente, pedia que os cuidasse e protegesse. Já sentia tanto a falta deles!

Sentiu o movimento ao seu lado, as mãos sendo afastadas para longe dos olhos e o rosto vermelho de Edward preencher sua visão. Estava igualmente contorcido e molhado, ela sentiu seu coração quebrar mais uma vez. Abaixou a cabeça dele para aperta-la contra seu peito, ao mesmo tempo em que ele lhe envolvia com os braços e ali derramava o restante de suas lágrimas.

“Não consigo parar de pensar neles, Emmett e Jasper. São meus irmãos! Meus irmãos! Me sinto tão culpado... Devia ter esperado um pouco mais, procurado mais, talvez estivéssemos todos juntos agora.” Sua voz era abafada e falha, Bella nada respondeu, apenas apertou os braços ao seu redor. “Não consigo aceitar que algo tenha acontecido a eles, não posso... Não... Dá...”

“Edward...” Ela chorou.

“Me abraça.”

“Eu estou.” Seus olhos apertaram uma última vez antes que pudesse tomar fôlego novamente. Precisava libertar aquilo. “Fui tão fraca, tão idiota... Nunca me senti tão perdida, deveria ter tomado alguma iniciativa, deveria ter ido atrás do Jacob também...”

“O que está dizendo?”

“Eu era tão inútil! Não conseguia pensar em nada, apenas concordar com tudo aquilo que você dizia e me pedia pra fazer. E não me entenda mal, por favor, Deus sabe o quanto eu sou agradecida. Sou tão, tão agradecida, Edward. Eu sei que foi a coisa mais prudente que pude fazer, talvez nem mesmo estivesse viva se tivesse tomado minhas próprias decisões, eu só... Queria ter tomado pelo menos uma. Te ajudado de alguma forma, sido útil...”

“Cala a boca!”

“Desculpe?”

“Quero dizer... Mas que merda, Bella! Não pode estar pensando essas coisas de si mesma depois de tudo!” Ele segurou seu rosto entre suas mãos. Exigia seus olhos nos dele. “Você foi incrível! Nunca olhou pra trás e lutou comigo até o último segundo. E olha isso aqui, olha onde estamos! Você encontrou esse lugar, sei que não é a melhor das situações, mas acredito que prefira isso a morrer agonizando, queimada ou sufocada. E eu vou parar por aqui, já existe tragédia demais dentro da minha cabeça, pessoas queridas que...” Ele nunca concluiu. Ela nunca pediu que ele o fizesse.

Continuaram a chorar juntos por aquilo o que pareceu uma eternidade. Tantas preces foram ditas silenciosamente.

As mãos de Bella dançavam carinhosamente pelos fios bronzeados na cabeça do rapaz que ainda descansava sobre o seu peito. Ele ergueu o rosto, procurando pelos mesmos olhos escuros nos quais já estava tão acostumado a se perder. Onde mais poderia encontrar o mínimo de conforto em um momento como aquele? Não conseguia pensar em qualquer outra coisa.

O ruído exigente, o mesmo capaz de fazer sua barriga tremer contra a dela, discordava.

“Culpado!” Ele riu. Os cantos da boca da moça também se ergueram.

“Bem, você não é o único.”

“Hora de encarar a realidade, senhorita.” Ele tocou a ponta do seu nariz antes de se afastar e se sentar sobre os joelhos.

“O que? Eu vou procurar as bananas e você vai escalar algum coqueiro?” Bella se apoiou sobre os cotovelos enquanto o encarava, sobrancelhas erguidas em questionamento. Ele sorriu.

“Na verdade, era exatamente sobre isso que eu estava pensando.”

“Tá certo...”

“Você sabe que vai ser assim daqui pra frente, não é?” Os olhos dela caíram. Moveu-se para cruzar as pernas, desconfortável. De fato, sabia que assim seria, mesmo que se esforçasse para afastar os pensamentos negativos.

Hora de encarar a realidade, senhorita.

“Não por muito tempo, se tivermos sorte.” Edward alcançou seu queixo, sorrindo. Ela assentiu, embora desacreditasse tanto quanto ele. Bateu as mãos, erguendo-se e pousando-as sobre os quadris.

“Ok, o plano é o seguinte: Você tenta conseguir alguns peixes, as bananas e os cocos. Ou qualquer outra coisa que pudermos comer. Eu vou escrever o pedido de ajuda na areia.”

“Okay.”

“Legal!” Bella virou-se para correr em direção a algum ponto específico ali na praia.

“Espera ai, o que?!”

“Tente não se perder!” Foi tudo o que ela gritou em resposta.

❀❀❀

Bella terminava de arrastar pela areia a grande vara de bambu que havia conseguido há algum tempo. Secou a testa com o antebraço, encarando o trabalho que acabara de finalizar. Observou as poucas frutas que havia conseguido coletar por ali, acumuladas sobre uma pedra qualquer. Uma fogueira baixa e discreta, porém não menos inaproveitável, descansava ao lado. Apoiou-se em sua vara ao escutar os passos discretos de Edward que se aproximava.

“Olha, preciso te dizer, você me saiu melhor do que a encomenda!” Ele lhe sorriu enquanto estendia um dos cocos em sua direção. Indicou a fogueira com a cabeça.

“Escoteira por quatro anos. Deus abençoe a minha mãe.” Ela tocou seu coco no dele em um brinde. Lutava contra os próprios olhos, os mesmos teimavam em espiar o peito desnudo e másculo do parceiro, sem sucesso. Ele havia se despido da camisa azul clara e a envolvido ao redor da cabeça.

“Não se esqueça de não jogá-los fora.” Ele ergueu a própria fruta. “Vamos usar o óleo da polpa como protetor solar. E podemos usar as cascas depois, fazem ótimas tigelas.”

“Protetor solar?” Ela o acompanhou no gole. A sensação do líquido que escorria pela sua garganta era divina. Nem ao menos se preocupou com o fato de não estar gelado, na verdade, sentia-se sedenta por mais, como um bezerrinho. Não havia se dado conta do tamanho da sua sede até aquele momento. “Isso é muito inteligente, Dr. Cullen.”

“Você ainda não viu nada!” Ele apontou. Seus olhos passearam pelos rabiscos que a moça deixara na areia. “Socorro!” Ele leu. “Muito... Original.”

“O que? Prefere que escreva toda a nossa história? Talvez assim eles se mobilizem mais...” Edward ergueu as mãos em defesa.

“Está bom assim. Com alguma sorte, talvez, alguém possa ler. Eu vi que você conseguiu algumas amoras?” Ele apontou em direção às frutas que ela havia coletado, desviando a atenção do assunto. Caminhou naquela direção com Bella em seu encalço.

“Não acredita que iremos embora daqui algum dia, não é?”

“Essas aqui estão bem gostosas, você tem que experimentar...”

“Edward!”

“Não! Eu não acredito nisso!” Ele disparou. Bella engoliu em seco enquanto o observava, de costas para ela novamente, preocupado apenas em remexer por entre as frutas. Ela cruzou os braços, e então os descruzou. Passou as mãos pela cabeça. Capturou novamente o pedaço de bambu mas rapidamente o liberou. Não sabia, de fato, como agir. Não esperava tamanho “apoio” vindo do parceiro. Bastante animador!

“Você quer saber? Ainda há chances enquanto houver esperança!” Ela apontou o indicador, virando-se para caminhar na direção oposta. Ele suspirou.

“Bella, eu não...”

“Vou escrever todos os dias pela manhã.”

“Você sabe o que...”

“Todos os dias. Sempre a mesma coisa. E no mesmo lugar!” Ela bateu o pé. “Pelo menos eu estarei tentando de alguma forma nos tirar daqui...”

“Droga, Isabella!” Edward se levantou de repente, movendo-se para alcança-la. Seu rosto era duro e as sobrancelhas estavam apertadas. “Você viu o que aconteceu com aquele navio? Ele explodiu! Já era! Aqueles que não morreram afogados foram arremessados para longe e em chamas. Você sabe quais são as chances de escapar? Bem, nós sabemos. Estamos aqui, afinal. Mas eles não acreditam nisso. Tudo o que tiverem de fazer será feito naquela área. Quem iria imaginar que alguns sobreviventes poderiam conseguir escapar e se refugiar em alguma ilha deserta? Não sabemos nem onde estamos! Perto ou longe... Eu não sei! E você também sabe que eles não se importam, não irão se preocupar em nos procurar. Ai dentro, bem ai dentro, você também sabe disso.” Ele tocou com o indicador sobre o seu coração.

“Eles vão fazer as buscas...”

“E não irão nos encontrar! Por favor, preciso dizer o quão mais cômodo é simplesmente dizer que os nossos corpos estão carbonizados, estraçalhados e em pedaços pelo mar?” Ele respirava tão forte que mal pôde formular as frases. O queixo de Bella tremeu por alguns segundos, mas ela não permitiu que qualquer lágrima voltasse a escorrer pelo seu rosto. Também não sentia a necessidade de compartilhar o pouco que havia conseguido absorver com apenas algumas palavras dele, pelo menos não naquele momento. Assentiu com a cabeça, perdendo-se no tecido rasgado e sujo do vestido branco.

“Eu entendo.”

“Eu só não... Deus, o que estou tentando fazer?” Edward passou a mão de forma quase agressiva por entre os fios do cabelo, voltando-se para agarrar-lhe os ombros. “Esqueça! Esqueça toda e qualquer coisa que eu tenha acabado de falar. O que eu estava pensando?”

“Eu entendo, de verdade...”

“Tem um coração tão bonito e tão cheio de esperanças! E eu aqui, com tanta coisa na cabeça, tão cheia problemas e pensamentos inconvenientes.”

“Acha que também não os tenho?”

“Eu só não quero tirar isso de você! Acha que consegue encontrar alguma forma de me perdoar? Me desculpe, Bella, mas nunca consegui ser a pessoa mais otimista do mundo... Dizem por ai que tenho tendência a exagerar sobre as coisas.”

“É claro.”

“Você vai continuar escrevendo todos os dias. E eu vou te ajudar. Até o último dia.” Ela apertou os lábios antes de sorrir-lhe em resposta. Fraco, ainda que fosse um sorriso. “Enquanto houver aviões no céu eles ainda conseguirão enxergar tudo aqui em baixo!”

“Você sabe que eu não acredito em uma palavra que tenha dito, não é?” Ele riu.

“Espero que sinta com estou verdadeiramente arrependido. E que consiga me desculpar... Por que isso é de verdade, Bella. Eu sinto muito.” Bella conseguiu capturar toda a sinceridade em suas palavras, embora não tenha perdido a oportunidade de estreitar os olhos em sua direção. “Ah, vamos! Estamos sozinhos e presos nesse lugar. Não posso suportar o seu desprezo! Você tem que encontrar uma brechinha pra mim nesse coração.” Esperava que ele não tivesse sido capaz de escutar a batida que o seu coração perdeu ao ouvir as últimas palavras.

“Eu ainda vou conseguir fazer a sua cabeça...”

“Você já está fazendo isso, querida!”

“E Edward?”

“Sim, amor?”

“As melhores coisas vêm de cima!”

❀❀❀

Escute aqui: Bubbly- Colbie Caillat.

O azul vivo do céu claro e límpido havia começado a contrastar com as incríveis cores do fim de tarde há algum tempo. Juntos, Edward e Bella haviam conseguido incentivar as brasas da fogueira ainda mais e, agora, tinham calor suficiente para mantê-los aquecidos e protegidos. Agradeciam por estarem satisfeitos depois de algumas mordidas nas amoras, nas bananas, na carne e na água dos cocos que conseguiram. Que ele havia conseguido. Havia, inclusive, duas frutas-pão e umas três mangas, ambas encontradas ali mesmo na região costeira. Combinaram de adentrar um pouco mais a ilha pela manhã. Talvez conseguissem encontrar novos tipos de frutas e materiais que pudessem coletar. Pedras mais afiadas, galhos, folhas grandes o suficiente, mais bambus, cipós... Quem sabe pudessem construir uma pequena cabana, algo no qual pudessem se proteger e descansar, sem se preocuparem com o calor do sol queimando suas peles claras o tempo todo. Edward havia garantido que podia construir, mas Bella não deu muita credibilidade. Ela jamais diria, no entanto.

Ficou encantada pela determinação do rapaz em garantir a sobrevivência de ambos, apesar da pequena discussão que compartilharam mais cedo. Não queria nem pretendia trazer mais nada daquilo a tona. Decidiu que o ajudaria em qualquer coisa que precisasse e, junto a ele, lutaria durante cada novo dia naquela ilha. Não desistiria. Como também não havia desistido da ideia de escrever na areia da praia pelas manhãs.

Observou enquanto ele tentava afiar ainda mais a ponta de um bambu com uma pedra. A camisa ainda estava presa ao redor da cabeça e ela não pode evitar achar graça daquilo. As labaredas faziam sombras nos montes macios dos seus braços leitosos e flexionados. Os sons da fogueira que queimava, dos objetos que ele roçava um contra o outro e das suas respirações eram tudo o que podiam ouvir durante aquele pôr-do-sol silencioso.

Como se pudesse sentir os olhos da moça lhe queimarem a pele, ele levantou a cabeça apenas para encontrar a cômica cena onde ela tentava retirar os fiapos de manga que haviam entre os dentes. O calor rapidamente tomou conta de toda a sua face e ela quase a escondera atrás das mãos. Ele riu alto. Poderia ser tão graciosa? Tão mulher e, ao mesmo tempo, tão menina? Deus sabia o quanto era tentado por cada pequeno movimento, cada ação que ela realizava. Seu simples caminhar o atraía. Sua risada e sua fala. Era, naturalmente, uma criatura sensual. Inclusive ali, enquanto tirava fiapos de manga dos dentes, com as pernas estendidas e cruzadas a sua frente, o vestido elevado mostrando mais do que deveria das coxas bem feitas. Uma das finas alças do seu vestido havia despencado e deixava o ombro completamente desnudo. O cabelo caia ao redor do seu rosto e o emoldurava. Era adorável. E tão linda.

“Oh, por favor, continue!” Ele riu e ela simplesmente lhe mostrou a língua.

“O que acha de dormirmos no bote de novo? Podemos arrastá-lo até aqui.”

“Qualquer coisa é melhor do que a areia.” Ele garantiu. “Acho uma boa ideia.”

“Ok.” Respondeu simplesmente, voltando a cantarolar enquanto roía a unha do dedão. “Precisamos de uma boa noite de sono. Principalmente o senhor. Será um grande dia amanhã! Mal posso esperar pra ver o grande doutor Cullen assumir o papel de engenheiro e nos construir um ninho fofo e seguro.”

“Ah, é claro que você vai ver!” Ele apontou o bambu em sua direção. “Não apenas isso, você vai me ajudar também, mocinha. Por que eu sinto como se estivesse zombando de mim o tempo todo? Deus abençoe o Discovery channel, Isabella Swan. Você verá do que, juntos, somos capazes.”

“Você pensa tão pouco de mim...”

“Olha quem está falando agora!”

E eles riram. E daquela mesma forma continuaram até que pudessem se aconchegar novamente dentro do pequeno bote. Não havia escrúpulos ou timidez. Nunca houve, na verdade. Ele gostava de tê-la envolvida em seus braços. Ela gostava de passear e traçar linhas imaginárias com as pontas dos dedos sobre a pele do seu peito forte. Debaixo da camisa que ele havia há pouco retirado da cabeça e estendido sobre ambos, os corpos se encontravam unidos, suas pernas entrelaçadas.

“Você sabe que, como médico, posso recomendar que retiremos toda a nossa roupa porque isso facilita a troca de calor, não é?”

“Você não é o meu médico.”

“Ai!”

Touché!” Riram.

“Isso é sério... O que acha de um quintal amplo e com um gramado verdinho em nosso ninho fofo e seguro?”

“Só se pudermos colocar um trampolim nele.”

“O que você quiser, meu bem.”


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Notas finais do capítulo

Me deixem um comentário. Me motivem, preciso saber que vai valer a pena prosseguir. E eu também amo conversar com as minhas leitoras, coisas lindas!!

Lissa G. Konzen



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