Pokémon: Ano Sombrio escrita por Linkusu


Capítulo 27
Capítulo 26: Memórias perdidas.


Notas iniciais do capítulo

Vocês já devem estar cansados de ouvir minhas desculpas pelos meus atrasos, mas... Peço desculpas de novo. lol
Estive muito ocupado com a Universidade, e admito que as ideias para a história não estavam fluindo. Mas agora que eu consegui arrumar tudo direitinho, acho que estou pronto para encaminhar a história ao seu final. Espero que apreciem a "temporada final". Boa leitura!



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—Pelo amor de Arceus! Vocês fazem alguma ideia do estresse que me causaram? —Disse a voz de Edward pelo comunicador do carro da polícia, extremamente irritado conosco. Como já esperado, eles estavam nos levando de volta à delegacia. —O que eu faria caso vocês acabassem mortos ou feridos? Já não bastasse a confusão que houve na delegacia e um criminoso nas ruas, ainda tenho que servir de babá a você, James?

—Eu sinto muito, mas você sabe que eu tenho contas a ajustar com esse maldito. —James respondeu com frieza.

—Não quero saber! O que você pretende fazer é um crime, e eu jamais deixaria um amigo meu se rebaixar a esse ponto. Um assassinato é um assassinato, independente de quem seja a vítima. Nosso objetivo não é satisfazer vendetas pessoais, e sim trazer criminosos à justiça! Deixe isso conosco e não interfira.

—Engraçado... Quando fui à guerra 25 anos atrás, eu matei centenas de pessoas. Jovens que poderiam ter tido grandes futuros, homens e mulheres brilhantes, donos e donas de família, pessoas honradas que lutavam por aquilo que acreditavam. Eu os matei indiscriminadamente e fui aplaudido como um herói. Recebi honrarias militares pelos meus serviços à pátria e apertei mãos com aqueles no topo do governo. Eu me odiava por fazer aquilo. Eu sabia que havia deixado inúmeros órfãos, viúvas, pais e parentes desconsolados. Sempre me questionava se valia a pena causar tanto sofrimento sob o pretexto de estar lutando por morais e objetivos tão vagos... Mas ninguém jamais me questionou naquela época. E agora, aqui estou eu, levando sermão pelo rádio de uma viatura de polícia sobre como é errado tirar a vida de um bandido. Sobre como isso me “rebaixaria” ao nível dele. É irônico, você não acha? Principalmente se levarmos em consideração que, no final das contas, eu já matei muito mais pessoas do que esse homem que vocês estão perseguindo. —Apesar da aparente calma em suas palavras, era possível sentir a sutilidade de sua revolta. Edward manteve-se em silêncio por alguns segundos antes de responder.

—Não misture as coisas, essas são duas circunstâncias extremamente diferentes... Não estamos em uma guerra, o governo não requisitou seus serviços, e não há um bem maior sendo defendido aqui.

—O que há de tão diferente?! Eu não sabia que agora matar era como uma temporada de caças, não é crime desde que seja feito nas datas certas! Então me diga, quando eu vou poder matá-lo e ser julgado como um herói novamente, Edward? Vou ter que esperar outra maldita guerra?!

—Chega! O que você quer que eu faça? Mude as leis da sociedade para você? Eu sou apenas um homem, James! Eu sigo as regras, não fui eu quem as fiz! Você pode argumentar o quanto quiser, pois nada, absolutamente nada que você disser justificará seu assassinato perante a lei! Sequer tente, pois eu não vou deixar você chegar perto de Fioletovy.

—De nada servem leis que punem os justos e protegem os vilões. Tenho certeza que você entende minha indignação e dor. Não foi por isso que você entrou para a polícia? Pois então me deixe punir este homem! Ninguém precisa saber que você consentiu. Apenas faça parecer ter sido acidental, ninguém vai chorar pela morte de um assassino!

—Mas o que? —Dessa vez Edward falou com genuína indignação e choque. —Será que você consegue se ouvir? O que você está me pedindo é insano! Você está deliberadamente planejando um assassinato e quer que eu seja cumplice nessa sua fraude? Ficou maluco?! Eu entendo sua raiva, mas nada justifica o que você está me dizendo agora! Não é não, e essa conversa acaba aqui. Jamais esperaria ver um homem como você não apenas considerando atos tão sujos, como também arrastando crianças junto com você nessa jornada tola por vingança! Até mesmo seu próprio filho! Basta dessas insolências, quero ver você aqui na delegacia agora. — E assim sendo, ele cortou as comunicações com o rádio da viatura. Meu pai deu um profundo suspiro de descontentamento e abaixou a cabeça.

Edward era sem dúvidas um homem de valores inabaláveis. Em todos os seus mais de 20 anos de carreira, jamais fora pego envolvido em alguma fraude e nunca aceitara subornos. Alguns o chamavam de incorruptível. Eu sei disso porque pesquisei um pouco sobre ele quando ainda estávamos atrás da identidade do assassino fantasma, mas essa foi a primeira vez que pude presenciar pessoalmente o quão firme ele é em suas convicções morais.

Alguns minutos se passaram e nós chegamos à delegacia. Mal pusemos os pés lá dentro e já pudemos avistar um policial entregando um relatório ao Edward.

–... Utilizamos uma estratégia simples deduzindo as possíveis rotas de fuga do carro e cercamos três ruas com barricadas de gelo. Bombardeamos o carro com ataques para enfraquecer a barreira da Proteção e, sem o auxílio aéreo de Charizard protegendo o fugitivo, conseguimos pará-lo definitivamente.

–Então, a captura só foi possível pela derrota de Charizard? Hum... –Edward deu uma rápida olhada em nossa direção, como se dissesse “ainda não aprovo o que vocês fizeram, mas foram de grande ajuda, então obrigado”. Olhou de volta para o policial logo em seguida. –E então? Prenderam Fioletovy?

–Negativo, senhor. –O policial respondeu com pesar na voz. –Ele não estava na viatura.

Mas hein?

–O que? –Edward perguntou indignado. –Por céus, então quem estava dirigindo aquele carro?

–Um Espeon, senhor. Estava usando seus poderes psíquicos para controlar o carro enquanto recebia ordens por um comunicador.

Deixei escapar um sorriso em meus lábios. Não consegui evitar. Não apenas havia aquele Espeon sido capaz de manusear um carro com poderes psíquicos como também defendê-lo ao mesmo tempo. De fato, apenas um Pokémon daquele calibre poderia ter executado os assassinatos de maneira tão eficaz. Mais importante que isso é o fato de ter sido esse mesmo Espeon o que nós encontramos aquele dia na floresta quando nos deparamos com Fioletovy pela primeira vez. Ele estava prestes a matar Catarine. E se naquele dia o assassinato do velho Luiz ocorreu no mesmo horário em que estávamos enfrentando Espeon, então ainda falta descobrirmos quem é o outro Pokémon psíquico sob controle de Fioletovy. Estamos quase completando o quebra-cabeça... Só falta uma peça.

–O maldito fez com que perseguíssemos a viatura roubada enquanto ele fugia a pé para outra localização... E para dificultar ainda mais o nosso trabalho, deu ordens para que Charizard e Blastoise ficassem de olho na situação. O bastardo é bom no que faz. –Edward disse como se contemplando a astúcia de seu próprio adversário.

Eu não podia culpá-lo, também estaria empolgado se estivesse no encalço de um inimigo à altura. O fato de eu não poder participar pessoalmente daquela operação me frustrava mais do que tudo. Afinal, era por minha razão que eles sequer conseguiram chegar ao assassino. Se ao menos eu pudesse fazer algo...

–Alguma ideia onde ele possa estar? –Edward o questionou.

–Negativo, senhor. Mas nossas viaturas afirmam que ninguém entrou ou saiu da cidade desde que a perseguição começou, então ele ainda está dentro dos perímetros de Saffron. Estamos reforçando a busca por ele, começaremos nos grandes prédios comerciais, centros Pokémon e hospedarias e partiremos daí para baixo.

–Bom. Já conseguiram alguma informação sobre o culpado pelo blecaute mais cedo? –Ao fazer essa pergunta, ele lançou um olhar de soslaio em nossa direção. Pude sentir os pelos de meus braços arrepiarem e desviei o meu olhar para dois oficiais tomando café ali perto. Edward sabia que tínhamos alguma coisa a ver com a falta de energia que ocorrera mais cedo na delegacia.

–Nada ainda, senhor. O culpado fugiu sem que pudessemos identificá-lo. Ainda estamos no caso.

–Bom. Dispensado.

O policial fez uma continência e voltou ao seu trabalho. Edward deu um suspiro e se dirigiu até nós com uma expressão carrancuda. Estava claramente exausto devido à noite corrida e a dor na sua perna parecia incomodá-lo bastante. Ele franziu a testa e, como um pai decepcionado com o filho, dirigiu-se a nós da maneira mais fria e distante possível.

–Uma viatura irá levá-los de volta para casa. Colocarei guardas para vigiar suas casas enquanto a confusão não acabar. –E então se virou e foi mancando até seu escritório.

O resto da noite consistiu em todos nós cabisbaixos demais para discutir sobre alguma coisa. Entramos na viatura e, um a um, fomos despachados para nossas casas. Obviamente, isso não duraria muito tempo. Como uma mariposa atraída pela luz, eu não conseguia parar de pensar no caso. Estava completamente obcecado. Queria saber os motivos de Fioletovy, seus métodos exatos. Desejava descobrir o motivo dos pokémons de Red estarem cooperando com aqueles atos inexcusáveis. E, acima de tudo, queria terminar aquele caso com minhas próprias mãos. No fundo eu sabia que, quando aquilo tudo acabasse, eu ficaria insatisfeito qualquer que fosse o resultado final. Eu era jovem, impulsivo e extremamente tolo. Talvez ainda seja, um pouco, mas gosto de imaginar que eu tenha progredido nos anos que se passaram desde então. De qualquer forma, uma semana após o início dessa perseguição frenética, eu me encontraria face a face com Fioletovy novamente. Mas isso não é o mais importante.

http://www.youtube.com/watch?v=jZ7QV1G3zEQ

E é aqui quando minhas memórias começam a ficar mais confusas. De todos os detalhes do caso do assassino fantasma esse é o que, até hoje, permanece um completo mistério para mim, e uma de minhas maiores dores de cabeça que, anos depois, voltaria a me assombrar. Foi quando a névoa de Lavender começou a ficar tão espessa que enxergar qualquer coisa a uma distância a mais de 3 metros tornava-se cada vez mais impossível. Toda a região de Kanto estava envolta pela inexplicável névoa negra, fazendo pairar uma silenciosa atmosfera de medo, pânico e loucura. Casos de pessoas ficando insanas tornaram-se cada vez mais frequente na mídia. Pokémons até então dóceis começaram a atacar seus treinadores, e relatos de hordas de pokémons ensandecidos invadindo e atacando cidades começaram a correr como o vento. Kanto estava envolta em caos, como um continente esperando sua inevitável condenação. Meus pesadelos começaram a se intensificar e, algumas vezes, misturavam-se à realidade. Tinha medo de dormir e não ser mais capaz de acordar. De fato, casos de pessoas que adormeceram e nunca mais abriram os olhos começaram a aparecer nessa época. Os “moribundos adormecidos”, como ficaram conhecidos nos noticiários. Foi mais ou menos a partir daí, também, que surgiram os “mensageiros do apocalipse”. Mas isso não é relevante... por enquanto.

Eu peço pela sua compreensão em ter de interromper a narrativa desta forma insatisfatória, mas eu verdadeiramente não consigo recordar de nenhum detalhe do que se passou nessa semana. Bom, isso é parcialmente mentira: eu tenho algumas lembranças desconexas de eventos tão abstratos e bizarros que eu não os consigo encaixar em momento nenhum de minha vida. Imagino, então, que eles tenham feito parte dessa semana esquecida.

Um homem de cabelos brancos e vestes vermelhas sentado à margem da rota 12. Eu sei quem ele é, e tenho vagas recordações de ter ficado assustado ao encontrá-lo pois eu o julgava como morto até então, mas não me recordo sobre o que conversamos.

Duas crianças entrando e saindo constantemente da torre de Lavender. Havia algo de errado em seus semblantes. Algo... Quase macabro. Elas estavam acompanhadas por pokémons que eu jamais vira na vida. Pokémons que sem dúvidas não pertenciam a Kanto. Passou-se quase uma década até eu descobrir, finalmente, que pokémons eram aqueles, mas até hoje não sei a identidade dessas crianças e nem que papel elas tiveram no caso do assassino fantasma.

Um Hypno e um Gengar rondando constantemente os arredores de minha casa, como cães de guarda. Eu os observava pela janela e, sempre que nossos olhares se cruzavam, eles começavam a rir e eu adormecia. Lembro-me vagamente de Vivi seguindo-os em direção à floresta e aparecendo morta no dia seguinte, e eu a enterrava nos fundos do quintal de casa. Mas isso não pode ter sido realidade, pois Vivi nunca morreu.

Lembro de um homem com um sobretudo e luvas negras. Ele parecia preocupado com algo, e estava constantemente olhando para a torre enquanto conversava com alguém em um celular. Mas eu não posso tê-lo encontrado nessa época, pois nosso primeiro encontro ocorreu apenas 10 anos mais tarde, e ele não parecia ter envelhecido nem um ano. É possível que seja uma memória que criei posteriormente.

Lembro-me de uma roda de pessoas e pokémons entoando em uníssono uma melodia sombria nas ruas de Lavender. Seus rostos eram pálidos e suas expressões mórbidas. O réquiem me causava calafrios.

As outras lembranças são mais vagas ainda. Um brilho verde extremamente intenso. Uma risada familiar. O choro de um pokémon. O grito de uma pessoa. Um diálogo obscuro. Uma fria sensação de sufocamento. Por mais que eu me esforce, não consigo recordar de mais nada. Os documentos que tenho a respeito dessa época não são de grande ajuda, e diversos deles que supostamente falam sobre esse período mais detalhadamente sumiram bastante recentemente. As pessoas que sobreviveram também não sabem me dizer com firmeza o que transcorreu. Nem mesmo Vivi, que possui uma memória melhor que a minha, lembra-se dos eventos que descrevi acima.

E, finalmente, o confronto com Fioletovy. É a partir desse ponto que os acontecimentos começam a se reorganizar em minha cabeça. A partir do momento em que eu o olhei nos olhos pela primeira vez após aquela semana. Estávamos em uma construção abandonada.

–Bem vindo, Neil. -Ele sorriu. -Eu estive te esperando.

–E eu estive lhe procurando.

Nosso confronto final ocorreria bem ali.


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Notas finais do capítulo

Capí­tulo 27: Cai a cortina.
Estréia: Reta final de outubro.



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