Pokémon: Ano Sombrio escrita por Linkusu


Capítulo 23
Capítulo 22: Eureca.


Notas iniciais do capítulo

Desculpem pela demora de mais de meio ano entre o capítulo anterior e esse. Se alguém ainda se lembrar dessa história, agradeço caso comentem. rs



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               Ao entrar em casa, foi como se todos os acontecimentos recentes finalmente tivessem recaído sobre mim. Pela primeira vez eu olhava para a sala vazia, sem sinais de minha irmã assistindo a tv ou meu pai no sofá lendo seu jornal.  “Bem vindo de volta”, eles costumavam dizer... Mas não dessa vez. A única coisa que me cumprimentara foi o absoluto silêncio. Senti-me melancólico, mas não podia deixar isso me distrair agora. Já estava mais do que na hora de pôr um ponto final no caso dos assassinatos de Lavender.

               Eu e os outros nos sentamos ao redor da mesa localizada na sala e revimos tudo que nós sabíamos sobre o caso. O primeiro assassinato, de Mary L. Vonruchi, uma forte treinadora que morreu sem nenhum sinal de resistência. Por quê? Estava no meio da noite, ela certamente não sairia desprotegida.

               Três possibilidades imediatamente foram levantadas no debate: um conhecido, um parente ou uma autoridade que ela julgava como confiável.

               -Não acho que ela tenha algum parente por perto. – Angelo disse. – Pelo menos não havia nenhum na época em que fizeram as reportagens a respeito do caso quando ele começou. Se não me engano, a maior parte da família dela vem de Pallet e Viridian. Ao menos foi isso que eu ouvi alguém comentando na época.

               -De qualquer forma, eu não esperava que fosse um parente. Muito menos uma autoridade. As evidências me levam a crer que o assassino é alguém que Mary conhecia. Aliás, acredito que talvez seja alguém que nós mesmos conheçamos. – Eu revelei.

               Os outros trocaram olhares confusos entre si. Obviamente eles não sabiam do que eu estava me referindo... Havia dois motivos para eu acreditar em minha teoria.

               -Acompanhem meu raciocínio: a evidência usada para incriminar meu pai foi o fato de terem encontrado fios de seu cabelo entre os dedos da última vítima. Levando em consideração que o assassino não é meu pai, então como o cabelo dele foi parar nas mãos da vítima? Obviamente, existe apenas uma conclusão lógica: evidência forjada. Que maneira mais fácil de conseguir isso do que fazendo uma visita à nossa casa? Bastaria pegar a escova dele, pegar alguns fios de cabelo e deixa-los no local do próximo crime que ele cometesse.

               -Hum... Mas uma pessoa influente na polícia não poderia fazer a mesma coisa? Se essa pessoa trabalhar na divisão forense, creio que não seria tão difícil manipular os resultados... – Catarine retorquiu meu argumento com sua usual voz fria e serena.

               Realmente, aquele motivo por si só não era o suficiente para provar que o assassino tinha alguma ligação com Mary, então não é inesperado que alguém fosse levantar dúvidas quanto à minha lógica... Pois apenas eu sabia da existência da outra evidência.

               -Há outro motivo para eu acreditar que se trata de um conhecido... Foi há um tempo atrás, quando eu estava investigando os arredores do local onde nós encontramos o assassino naquela tentativa de assassinar a Catarine. Fiz isso poucos dias antes do incidente em Pewter. Num local perto de onde ocorreu o confronto eu achei uma foto de Mary com uma pessoa ao seu lado... O rosto dessa pessoa havia sido cortado da foto, mas provavelmente se tratava de um homem. O que uma foto de Mary estaria fazendo lá??

               -Huh? Você nunca nos mencionou isso antes. Você chegou a mostrar essa foto pra alguém ou ela ainda está com você? – Angelo disse curiosamente.

               -Não mostrei a ninguém na época, pois não sabia se poderia confiar em alguém para ficar com essa evidência... Esperem um pouco.

               Levantei-me da mesa para ir ao meu quarto e, após alguns minutos, retornei com a mencionada foto em minha mão, preservada dentro de uma embalagem plástica e ainda intocada desde que eu a havia encontrado.

               -Provavelmente, na hora em que ele fugiu pensando que eu realmente havia chamado os policiais, ele acabou derrubando essa foto acidentalmente. Agora entendem o que quero dizer quando falo que se trata de alguém que Mary conhecia?

               -Sim... Depois de ver isso, também acredito que seja. – Clara disse.

               -De qualquer forma, quem andou visitando sua casa ultimamente? – Angelo indagou. – Se soubermos isso, já ajudaria muito em nossa lista de suspeitos...

               -Essa pessoa provavelmente esteve aqui quando eu e Vivi estávamos na escola, pois eu não me lembro de ter visto algum visitante aqui além de vocês por aqui...                As visitas mais “recentes” que eu consigo me lembrar foram na época logo após o primeiro assassinato.

               -Mas seu pai não vai ao ginásio no mesmo horário que vocês saem para estudar? Então como ele poderia ter visitado a casa de vocês sem que estivessem aqui? – Clara perguntou.

               -Não necessariamente. Quando o ginásio não tem nenhum desafiante novo, ele não sai para trabalhar e fica em casa o dia todo. Deve ter sido um desses dias. Talvez se perguntarmos a um dos vizinhos consigamos descobrir algo.

               E assim nós fizemos, mas nenhum deles percebeu alguma visita diferente em nossa casa além do carteiro que vinha entregar correspondências de vez em quando. Tentamos investigar as pessoas da cidade perguntando se algum deles sabia de algo, mas não estávamos fazendo absolutamente nenhum progresso...

               A lúgubre névoa de trevas que engolia Lavender estava tão espessa àquela tarde que tivemos de cessar as investigações mais cedo do que o planejado. Pensando bem, com as condições estranhas pela qual a cidade estava passando agora, não era de se espantar que ninguém perceberia caso alguém diferente ou suspeito tivesse visitado nossa casa. As pessoas estavam abandonando Lavender em massa, e agora aquela antes pacífica e pequena cidade mais se assemelhava a um território amaldiçoado. O sinistro frio permanecia até mesmo nos dias mais ensolarados do ano onde os termômetros marcavam imensas temperaturas... Nenhum dos cientistas de Kanto conseguia explicar aquele fenômeno que, nos últimos dias, já havia se alastrado para Saffron e Cerulean, e já estava tomando conta de parte de Vermillion e Celadon. Diversas rotas já haviam sido afetadas e, apesar das afirmações sobre aquela névoa não conter gases nocivos à saúde, os pokémons selvagens pareciam estar cada vez mais inquietos e violentos. Apenas naquele mês, três casos diferentes de ataques às cidades conduzidos por pokémons em estado de frenesi haviam sido recordados.

               Os mais estranhos desses eventos, porém, eram o caso das pessoas adormecidas e o “comitê do apocalipse”. O primeiro citado se trata de um surto repentino de pessoas que entraram em estado de coma sem nenhuma explicação lógica. Seus cérebros registravam altos níveis de atividade, mas seus detentores permaneciam em um inexplicável estado de adormecimento profundo. Como se isso já não fosse bizarro o suficiente, exames não detectaram nenhum tipo de vírus ou infecção nessas pessoas, mas a maioria dos afetados demonstra sinais de sofrimento e febre alta. Isso estava causando grande rebuliço em Kanto e cada vez mais pessoas que vivem sob as cidades afetadas sentiam-se estressadas e com medo.

               O segundo caso citado se tratava de uma “organização” de pessoas levadas à insanidade pela névoa negra e que perambulavam as ruas balbuciando sobre conspirações, o fim do mundo, e em casos extremos cometendo atos violentos. Um deles ordenou que seu Magmar incendiasse um prédio inteiro sob o pretexto de “salvar a todos da terrível sina que se aproximava de Kanto”. Dezenas de pessoas saíram com graves queimaduras, e sete foram arquivadas como mortas. Toda a população de Kanto parecia preocupada com a expansão da névoa misteriosa, e a notícia já havia chamado a atenção da imprensa de outros continentes. Até agora, a única informação concreta sobre o ocorrido era o fato de que a névoa se expandia cada vez mais rapidamente com o passar dos dias.

                Apesar de intrigado com esses macabros acontecimentos, naquele momento minha atenção se concentrava exclusivamente no caso dos assassinatos, que havia sido completamente obscurecido pelas notícias da névoa. Muitos já o consideravam como acabado, mas não para mim. Ainda havia uma peça faltando... Uma importante peça que eu não encontraria caso apenas permanecesse em Lavender. Decidi deixar Vivi sob os cuidados da família de Angelo e Clara e parti de Lavender para a cidade natal de Mary: a cidade de Pallet. Aquilo sem dúvidas prejudicaria meu desempenho escolar, mas, sinceramente, aquela era a ultima de minhas preocupações. Levei o cartão de crédito de meu pai comigo para cobrir as despesas e fui aonde eu deveria ir.

                Examinando apenas o começo do caso e todas as evidências das quais eu tinha conhecimento, era possível supor que o assassino fosse um antigo colega ou conhecido de Mary. Ela foi a primeira vitima arquivada, apesar de ser uma grande treinadora ela não resistiu, e o responsável até mesmo mantinha uma foto dela consigo. As vítimas seguintes, a irmã de Catarine junto com seu namorado, seriam alvos óbvios já que haviam sido testemunhas do assassinato. As próximas vítimas é que não faziam nenhum sentido... Por qual motivo o velho Luiz havia sido escolhido para morrer na mesma noite que Catarine? E as vítimas seguintes, que não tinham nenhuma relação com as vítimas anteriores? As únicas possibilidades que eu conseguia enxergar eram: A – eles sabiam de alguma coisa ou estavam relacionados ao assassino, ou B – foram escolhidos aleatoriamente como vítimas para confundir as investigações.

                Como a polícia não havia chegado a lugar nenhum investigando as vítimas, assumi que a alternativa B fosse a mais provável. Por isso, concentrar-me no background da primeira vítima pode ser a chave para resolver esse mistério...

                Conduzi investigações com parentes e antigos contatos de Mary na cidade. Perguntei a um deles se ele já havia sido interrogado previamente e, para minha surpresa, aquela era aparentemente a primeira vez que alguém da polícia conduzia um interrogatório a respeito do caso do assassinato de Mary. Levantei minha suspensão de descrença e aproveitei-me da situação e de meu cargo como ajudante de meio-período na polícia para agir como se estivesse conduzindo uma investigação oficial sozinho.

                De seus parentes, como eu imaginava, não consegui nada muito valioso além do nome das escolas onde ela estudou, alguns locais que frequentava e amigos e conhecidos. Pesquisei meticulosamente sobre todos, me focando principalmente em um detalhe: se algum deles havia se mudado para Lavender, Saffron ou alguma outra cidade próxima. Apenas duas pessoas que estudaram com ela se encontravam nessa categoria, e nenhuma delas era particularmente próxima de Mary. Ainda eram possibilidades, mas foi outra pessoa quem mais me chamou a atenção...

                Fioletovy, o filho do antigo campeão de Kanto, Red. Ele e Mary haviam estudado na mesma sala e, de acordo com alguns depoimentos, até mesmo tiveram uma breve relação amorosa. Entretanto, ele desapareceu repentinamente após concluir a escola e desde então ninguém mais ouviu falar de seu paradeiro. Era como se ele tivesse evaporado no ar...

                Atiçado pela curiosidade, decidi investigar mais a fundo, e fui até a casa de sua mãe para termos uma conversa.

                -Ah... Fioletovy. Faz bastante tempo desde que me perguntaram sobre ele pela última vez... – A senhora falou, com uma clara melancolia em seus olhos. Tinha pouco mais de 50 anos, mas suas feições delicadas lhe davam uma aparência mais jovial do que sua idade sugeria.

                -Sinto muito ter de fazê-la lembrar sobre acontecimentos tão dolorosos, mas eu gostaria de saber mais sobre as circunstâncias de seu desaparecimento...

                -Está tudo bem, após esse longo tempo a ferida em meu coração já cicatrizou... – Ela disse com um sorriso esvaído.

                E então, ela começou a explicar tudo em detalhes. De acordo com seu depoimento, Fioletovy já estava passando por dificuldades na época. Ele sempre havia se sentido extremamente pressionado por ter de viver debaixo da sombra de seu pai e com grandes expectativas postas em seus ombros, e o fim de seu relacionamento com Mary deixou-o ainda mais arrasado. Foi no meio dessas circunstâncias quando seu pai morreu em um trágico incidente enquanto visitava outro continente. Na mesma semana em que eles receberam a notícia do óbito de Red, Fioletovy simplesmente desapareceu e nunca mais foi encontrado. As únicas coisas que ele levou ao partir foram seus dois pokémons, um Pichu e um Dragonair, e a carteira de treinador de seu pai.

                Três meses se passaram desde que eu havia saído de Lavender para ampliar minhas investigações. Nesse intervalo de tempo, pesquisei intensamente sobre todas as pessoas próximas à Mary. Agosto já havia chegado e a névoa negra já cobria quase o continente inteiro, deixando apenas Viridian e o Planalto Indigo livres, mas no ritmo em que estava, certamente os cobriria em breve. O assassino fantasma de Lavender havia desaparecido completamente do consciente popular, e o processo judicial do caso estava em seu estágio final. E mesmo assim eu ainda não havia construído um caso sólido contra ninguém naquele período de tempo... Tudo que me restavam eram vagas suspeitas e, como eu não tinha os mesmos meios que a polícia, era difícil conseguir fazer investigações mais profundas.

                Pus-me num expresso a caminho de Saffron, frustrado. Será que aquilo foi apenas uma gigantesca perda de tempo? Tudo que me restava a fazer era tentar investigar as duas pessoas que haviam se mudado para Saffron... Caso nenhum deles conseguisse me oferecer uma pista, aquela seria minha dura e amarga derrota...

                Sentado no vagão semivazio, eu observei a paisagem passar com um olhar distante. Os ruídos e vozes ao meu lado se tornavam cada vez mais distantes na medida em que eu me isolava em meus pensamentos. A ideia de ser derrotado naquele momento me assombrava como um fantasma persistente. Eu não conseguia aceitá-la de maneira alguma, e revia metodicamente tudo que eu havia aprendido até aquele dia. Será que eu não estava dando atenção direito a uma parte essencial? Há alguma coisa em que eu estou esquecendo de focar?

                Um conhecido... Alguém que poderia ter visitado nossa casa sem causar maiores suspeitas... Uma pessoa que teria facilidade em conseguir incriminar o meu pai, assassinar Mary e despistar a polícia... Todas as pessoas próximas foram liberadas pela polícia, sobrando apenas os conhecidos mais distantes, mas essa pessoa não poderia estar tão longe... Uma peça ausente... Uma peça ausente...?

                Fechei os meus olhos e comecei a flutuar no rio de minha consciência, fluindo calma e suavemente. Desde o momento em que cheguei em Lavender, quem poderia ter sido o responsável? Qual a possibilidade mais concreta? Onde as peças se encaixam de maneira melhor? Recordei-me dos eventos que presenciei, das pessoas que conheci, das conversas que tive... E foi nessa longa imersão nos confins de minha mente quando eu tive o maior momento de epifania de minha vida até então. Meus olhos se abriram repentinamente, arregalados.

                -A peça ausente...!

                Como eu pude ter negligenciado uma informação dessas?! Repentinamente, o quebra-cabeça começou a se arranjar e a formar uma imagem coerente. Era uma teoria louca, mas se eu conseguisse fazer com que a polícia investigasse a fundo, o caso poderia estar finalmente em minhas mãos...! Em uma descarga de adrenalina, abri minha mochila o mais rápido que pude e disquei o número do celular de Angelo. Cada toque parecia passar tão lentamente quanto uma década. Eu estava extremamente impaciente quando Angelo finalmente atendeu o celular.

                -Alô, Neil? – A voz de Angelo ressoou do outro lado da linha, fazendo com que eu o respondesse instantaneamente.

                -Reúna todo mundo na delegacia de Saffron, rápido! Eu vou chegar aí em menos de uma hora!

                -Ei, pra que toda essa euforia? Ainda nem...

                -Eu descobri! – Eu disse confiantemente, deixando Angelo mudo por alguns instantes.

                -Descobriu? Não me diga que você está falando da...

                -Sim. – Eu dei um sorriso de triunfo. – Eu já sei quem é o assassino fantasma de Lavender.


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